Finados sempre me pareceu um
feriado insosso. Lógico que é ótimo poder folgar, descansar ou dar pinta, se
preferir. Mas acho que o hábito de ir a um cemitério, fazer sua reverência e se
lembrar dos entes queridos, tem se perdido a cada ano que passa. Pelo menos
aqui em São Paulo tenho essa impressão.
Quando era criança, lá no Rancho
chamado Ribeirão Preto, seguíamos todos os anos no ritual mórbido de visitar os
túmulos de meus avós maternos e de meu avô paterno, que infelizmente eu não
conheci. Meu pai sempre zelava pela lápide de meu vô, deixando o túmulo um
brinco. Eu me importava mais em ficar brincando no cemitério de esconde-esconde
com meus primos, até me enjoar de ficar por lá e começar a fazer uma cena a la
Stanislavski, fazendo cara de ânsia de vômito e me contorcendo para ver se
minha mãe se sensibilizaria para irmos logo embora. Lógico que ela dava
um “caguei”. Por pura provocação, eu revidava: vendo ela chorando pela perda de
minha vó (eu também senti muito, era grudado com ela), eu ficava na frente –
mas não muito (risos), dela, dando um belo sorriso cínico, dizendo “como a
senhora é boa atriz”. Lógico que tudo isso de forma apenas telepática (risos).
Ela me aleijaria, caso percebesse com um simples olhar de quina , se eu teria a
pachorra de olhá-la dessa maneira. Cemitério pra mim, hoje, só com open bar,
acompanhado de “Alicinha Cavalcanti”, numa rave. Pra lá do Mundo de Alice, ouvindo bem alto Paco de Lucía.