sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015



A semana tem sido bem exaustiva e eu estou contando as horas para descansar no fim de semana. Ainda não folheei os guias culturais, mas não sei se terei tempo hábil para fazer muita coisa. Amanhã acompanharei uma gravação do projeto que estamos viabilizando na TV, o Filosofia Pop, com a Marcia Tiburi. Ela tem se saído muito bem na condução do programa, tem estado bem à vontade com os convidados e a plateia. E se algo a incomoda na discussão, ela faz questão de apimentar mais a discussão. Vai ficar uma série bem bacana.

Um assunto que tem sido comentado na telinha é a volta do apresentador Gugu Liberato. Eu ainda me pergunto o que faz uma pessoa perder o tempo e a energia dela em assistir o circo de horrores que Gugu comanda com tanta maestria na tv. Eu prezo e admiro apresentadores de tv que tenham o mínimo de originalidade. É o caso de Chacrinha, Sílvio Santos e Faustão nos áureos tempos do Perdidos na Noite. Gugu inaugurou o que eu chamo de a era dos genéricos televisivos. Seguindo a cartilha “somos eternos colonizados”, o apresentador surgiu inspirado no bom mocismo dos entretainers norte-americanos dos anos 80, acredito eu, orientado pelo seu então patrão Sílvio Santos. Ok, não posso deixar de mencionar que Gugu aprendeu muito no rádio, assim como seu colega e rival Faustão. Com uma ambição peculiar, o apresentador construiu uma imagem de ser imaculado para cair nas graças do público. A fórmula até deu certo. Gugu conquistou o carinho do público e a audiência. É bom lembrarmos que ele foi responsável por sucessivas derrotas na Globo na guerra pela audiência aos domingos. Mas fazendo uma retrospectiva em sua história como comunicador, sempre o achei extremamente oportunista, calculista, se importando apenas com números do ibope. Acho que seu programa é extremamente baixo, querendo dar destaque a fatos que eu, particularmente, não acho necessário destacar. Com a entrevista dada a Suzanne Richtoffen, conseguiu consolidar a liderança no horário, em sua semana de estreia. Quer dizer, quis armar uma tenda de palco italiano para fazer seu show de horrores em abrir espaço para uma réu confessa no assassinato de seus pais. E eu questiono: temos realmente que dar espaço ainda a esse tipo de história?  


E será que nosso Rasputin midiático dará espaço em seu freak show de quadros que foram sucesso em seus programas? Era surreal ver em pleno domingo à tarde, nos anos 90, ele colocar duas gostosas e dois marombados para se degladiarem numa piscina cheia de lama. Homoerotismo em plena tarde familiar dominicana. Com a caretice que assola nossa sombra ultimamente, imagino a insurreição que será causada, caso ele ressuscite essa atração. E só para relembrar: credibilidade é algo que Gugu não carrega muito em seu currículo.  Ou ninguém se lembra do episódio de uma “entrevista” com o PCC em seu Domingo Legal, no SBT. Só para registrar: descobriu-se que a matéria era forjada. Pra ver um programa desses, só tomando anti-depressivo em dose cavalar. Mas se Gugu quer fazer um programa de conteúdo medíocre para potencializar a mediocridade do telespectador, quem sou eu para questionar. Em matéria de freak show, prefiro o American Horror Story. É mais original.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015



Recebi algumas mensagens, a respeito do texto que escrevi da cerimônia do Oscar (se ainda não leu, é só clicar http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/por-mais-cafona-que-seja-e-sempre-bom.html) indagando que eu não comentei nada a respeito da performance da atriz e cantora Jennifer Hudson em sua apresentação, fazendo uma homenagem àqueles que faleceram em 2014. Aí lembrei que durante o Oscar eu fiquei deveras irritado com o seu número.  Não sei por que ainda a convidam para se apresentar. De que adianta ter a potência vocal que ela tem, mas não sabe usar? Ela carrega demais no vibrato. Tive que abaixar o som da tv durante sua apresentação. No velório show de Michael Jackson, ela interpretou a música “Will you be there” e foi um tremendo fiasco. Ela conseguiu tornar a música insuportável de se ouvir. É muito estridente. Quem sabe não utilizam a técnica vocal dela para outras finalidades. Acho que ela ganharia uma boa grana em patentear sua voz como sirene de ambulância do Samu (risos).

Saí correndo ontem do expediente de trabalho para o show de Bethânia, no Sesc Pinheiros. Combinei com Jorge de nos encontrarmos às 20h30. Mas com o dilúvio que deu ontem a cidade, pra variar, mais uma vez fica refém da chuva, sem estrutura para suportar os estragos ocorridos na Pauliceia. O metrô funcionava com velocidade reduzida e pra ajudar o tempo de parada nas estações era maior. O maquinista dizia que “por questões de segurança pública (??) na estação Palmeiras Barra Funda”, o tempo de parada nas estações era maior. Pronto. Com a ansiedade corroendo em chegar a tempo, tentei me entreter com o 3G da Claro. Só que não funcionava. A partir da Sé, o metrô se normalizou e consegui chegar na linha amarela no tempo hábil para não me atrasar para o show.

Chegada no Sesc Pinheiros, fui pegar meus convites. Jorge já estava me aguardando. Ficamos num lugar bem bacana. Encontrei alguns colegas queridos, fiz um flash com eles e entrei no Teatro. Comecei um tricô básico com Jorge, que não via há tempos. Aliás, ficar num hiato sem ver os amigos é bastante saudável para amadurecer a relação.


As luzes se apagam após a gravação sobre as normas de segurança terminar. Dois músicos já estavam prontos no palco para recepcionar a Abelha Rainha. E alguns ilustres compondo a bancada de convidados para o evento. E quando se anuncia o show, Bethânia entra com seu terno branco, sua calça em tom púrpura e seus óculos para brincar com as palavras. Um colega que trabalha no Sesc Pinheiros me disse que ela pediu para colocar em seu camarim só móveis brancos. Apesar das apresentações acontecerem até domingo, ela não faz show nas sextas. É Bethânia em seu ritual exponencial.    


Para aqueles que procuraram um show para assistir, estejam preparados. O evento “Bethânia e as Palavras” nada mais é do que uma imersão da artista na literatura. Ela reverenciou seus grandes mestres através das declamações poéticas, escolhidas a dedo pela cantora. Entre uma poesia e outra, a narrativa era costurada por trechos de algumas canções.  Para mim, o projeto não passou de uma colcha de retalhos, onde Bethânia pincelou fragmentos de seus shows anteriores e condensou em um único evento. Não teve nada de ineditismo. Teve algumas escorregadas dos músicos que acompanhavam a baiana: entre um acorde e outro desafinado, Bethânia simplesmente dava uma olhada de quina, mas continuava o espetáculo. Fiquei pensando se ela daria algum piti, mas foi super tranquilo. Quando os músicos passeavam pelas notas musicais com mais empolgação, Bethânia apenas levantava a mão para eles abaixarem o volume. Por mais déjà vu que tenha sido, foi lindo ver a plateia toda saboreando o trovão que é a voz de Bethânia ecoar pelo Teatro.

No fim de sua apresentação, Bethânia agradeceu o público, se agaixou, deu duas batidas com a mão no palco e se retirou. O público foi todo abaixo, até a boca de cena do teatro aguardando a Abelha Rainha voltar. E Bethânia volta, agradecendo mais uma vez a todos que compareceram àquela conversa intimista. Como se não bastasse, uma beasha começou a gritar o nome dela, pedindo atenção. Ele gritava para ela realizar um sonho dele. Bethânia olhou para a criança em busca de luz na escuridão e com a mão na cintura perguntou: “Qual é o seu sonho, sonho meu (risos)”? E ele começou a falar seu nome – que era Josimar, o por quê dele ter tido esse nome e aí foi toda uma ladainha de Nossa Senhora das Drags. Tudo isso para dizer que ele queria tirar uma foto naquele momento. E Bethânia, numa sutileza herodiana disse: “você quer foto agora? Mas agora eu estou no palco!” Resumindo, pediu pra bee aguardar que ela tiraria foto com ele. Emendou “Reconvexo”, de Caetano e foi cumprimentar o público. Quando chegou em direção a Josimar, a beasha, muito afoita, já tirou a máquina para tirar a foto. E mais uma vez, Bethânia olhou fixamente para ele, estendeu sua mão e falou: “Como vai? Tudo bem?” (risos) Acho que a babanska freedom não se tocou que ela não foi educada com a cantora e que aquele não era o momento para tirar foto, como ela havia falado com ele. Mas ela aproveitou para pegar as flores brancas que a bee comprou pra ela. E como uma colombina contemporânea, lindamente se retirou. 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015



O Facebook virou o divã nosso de cada dia. Fico impressionado com a quantidade de pessoas que usam a mídia social como forma de vomitar todas as suas insatisfações. Até aí, morreu Neves. Temos o nosso direito, sim, de reclamarmos e protestarmos sobre aquilo que nos incomoda, nos irrita. Só não estamos dando conta da responsabilidade que temos ao jogar, em forma de dardo explosivo, informações que sequer foram averiguadas sobre a sua credibilidade. Falta moderação e discernimento de nossa parte.

Passeando pelo Face, vi uma amiga postar um vídeo do estado Islâmico que eu nem perdi meu tempo em abrir, afinal, o que eles mais querem é nos amedrontar. Mas o que me deixou curioso é que, junto ao vídeo, tinha um texto escrito por algum analfabeto político “informando” que a nossa presidenta “Vilma” é defensora do EI. Francamente, fico perplexo tamanha à falta de informação. Eu, como cidadão brasileiro tenho muitas críticas na forma que a Vilma vem administrando o país, com todo o lamaçal que envolve a corrupção na Petrobrás, aumento da gasolina, escolha duvidosa de (vários) ministros e sua intransigência e falta de traquejo em lidar até com aliados. Ficar a mercê do Congresso, chefiado pela mãe e puta da política brasileira – o PMDB, é mostrar incompetência como gestora. Mas, mesmo com toda minha ressalva com Dilma, é necessário deixar claro que a presidenta não compactua com o terrorismo no mundo. Não vi nenhum pronunciamento dela a respeito de sua adesão ao fundamentalismo extremista do Estado Islâmico. Confesso ficar bem apreensivo com as mentiras colocadas nas mídias sociais, sejam favoráveis ao governo ou não. Não foi à toa que Gonzaguinha sabiamente compôs uma música com o nome de Grito de Alerta: “São tantas coisinhas miúdas, roendo, comendo, arrasando aos poucos o nosso ideal”. Aos equivocados, dá tempo de mudar de atitude.


E já que o assunto são coisas nocivas, li que a câmara dos deputados (assim mesmo, em minúsculo, para relacionar o quão pequeno é o nosso legislativo) aprovou...deixa eu corrigir: a câmara "reajustou" (mais) benefícios para os diletos deputados. Cada um pode gastar entre R$27 mil e R$41 mil com despesas como: auxílio-moradia e passagens aéreas. Ah, as mulheres dos parlamentares também ficam incluídas no pacote. Ninguém vai se manifestar a respeito?

E a Procuradoria Geral da República abriu inquérito contra o presidente nacional do DEM(ente) Agrippino Maia, acusado de cobrar propina para permitir esquema de corrupção. Só para refrescar: o DEM(entes) é um partido que já foi PFL nos anos 90, PDS nos anos 80 e..surprise!!!...foi o ARENA, partido que apoiou a Dita Dura. Ninguém vai se manifestar a respeito?


Salvo o desabafo no texto de hoje, compartilho uma notícia boa. Depois de muito rezar, consegui convites para o show de Bethânia hoje. Mais uma vez terei a chance de prestigiar essa grande intérprete da nossa MPB. Combinei com Jorge, ex-estagiário e amigo, de nos encontrarmos direto no Sesc Pinheiros. Isto é, se a chuva deixar. São Paulo virou um piscinão com a cidade alagada em vários pontos. E a lei do processo contínuo reverbera. Sempre tivemos problemas com os alagamentos e a Prefeitura de São Paulo não toma providência alguma em um problema que dura décadas. E para o bem da sensatez alheia, sem jogar a culpa nas administrações anteriores, por gentileza.  

E sabe o que eu acho das ciclovias? Uma ótima ideia. Mas infelizmente temos o hábito de trabalharmos dentro de uma cultura de remendo, ou seja, não se planeja nada antes de concretizar algo. Fico indignado com a forma de se jogar, sem planejar, as ciclofaixas pela cidade. É a favela da urbanização.


Postei uma música que adoro no Facebook: Bill Whiters e seu clássico "Ain´t no Sunshine". Tenho o hábito de marcar algumas pessoas para compartilhar com elas aquele momento de descontração. Acabei marcando o namorado da minha sobrinha, o Felipe. Aí ele postou que já tinha escutado a canção, mas com um rapper e me marcou para ver o clipe. Dei uma olhada e era um vídeo do rapper norte-americano DMX tendo como base a canção que postei. A música é tema de um filme com o Steven Seagal, um “ator” de filmes de ação. Eu nem me lembrava que essa angústia de celebridade ainda estava na ativa. Perguntei para o Felipe em qual asilo o resgataram. Ninguém vai se manifestar a respeito (risos)?

 

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015




Por mais cafona que seja, é sempre bom assistir a cerimônia do Oscar. Me programei para não perder esse espetáculo. Pode criticar o que for dos Estados Unidos, mas em matéria de entretenimento, eles são hours-concours. Tudo preparado para ver o show business da sétima arte: banho tomado, comida pedida por delivery, recados para ninguém me atrapalhar durante a premiação. E as mídias sociais a postos para os comentários.

E a diversão já começou no tapete vermelho. Bennedict Cumberbatch estava usando smoking branco, fugindo à regra do preto básico, mas se eu trombasse com ele na festa iria achar que era o copeiro; David Oielowo, injustiçado por não concorrer por sua atuação em Selma, foi o mais ousado com um terno incrível num tom sutil de vermelho; a Marion Cottilard estava ótima vestida, super original com seu vestido de plástico bolha (risos); Lupita Nyong'o simplesmente soberba com seu vestido bordado com apenas 6 mil pérolas. E olha a surpresa boa: foi confeccionado por um brasileiro, o mineiro Francisco Costa. Ele já foi assistente de Tom Ford na Gucci. Perguntada se as pérolas criavam incômodo no vestido, a atriz disse que a roupa era super confortável. Com 6 mil perólas, até eu faria ficar confortável. É o sacrifício pelo mundo fashion. E por mais esquisita que ela sempre quer ser, não entendi o conceito da roupa usada por Lady Gaga. Numa primeira impressão, achei que estava (risos) vestida de jardineira, por causa das luvas que ela usou como acessório. Mas durante sua entrevista no tapete vermelho, cheguei a conclusão de que sua vestimenta foi feita para homenagear as confeiteiras de bolo. Teve um momento saia justa no tapete. Uma atriz de tv – a protagonista da série Scandal que eu não sei o nome, foi cumprimentar a repórter que estava fazendo a cobertura do Oscar. Na verdade, ela queria era aparecer mesmo. A repórter deu uma olhada incineradora, pediu licença dizendo que conversaria com ela depois pois precisava andar pelo tapete para entrevistar outras celebridades, ou seja: queria falar com pessoas mais interessantes de se ver (risos).


Neil Patrick Harris conduziu de forma linear a cerimônia. O que significa que não houve deslize. Ele era protagonista da série “How i met your mother”. É uma série que fez sucesso na tv norte-americana. Tão interessante que eu nem perdi meu tempo em assistir. Abriu fazendo um número musical e não fez feio. Fez umas tiradas interessantes, principalmente enaltecendo os injustiçados do Oscar. Em um dos momentos de descontração, o mestre de cerimônia foi até a plateia e aproveitou para conversar com David Oielowo. Elogiou seu terno e todo mundo aplaudiu. Aí (risos) ele disse: “Agora vocês gostam dele, né?” Em outro momento, em que duas mulheres ganharam o Oscar – e eu não me lembro em qual categoria, ele disparou sobre o vestido de uma delas: “Tem que ter coragem pra usar”.


Os números musicais não fizeram diferença na premiação. Adam Levine, do Marron 5 cantou de forma sofrível em seu número musical. Ele já tem uma voz tão mínima. Ver sua performance só me fez reforçar que ele é apenas um guapo interessante. Desafinou demais. Ele é do tipo de cantor que é melhor ouvir na tecla “mute”. A performance de John Legend com Common, que deu a eles o troféu consolação de melhor canção por Selma, foi comovente. Uma apresentação digna de levar o prêmio. Mas sem dúvida nenhuma Lady Gaga roubou a cena. Ela interpretou clássicos do filme Noviça rebelde, que comemora 50 anos de idade. Para aqueles que tinham dúvida sobre o talento de Gaga, podem dar o braço a torcer. Elas mostrou técnica e personalidade em sua performance. Cantou com uma emoção ímpar. Eu fiquei impressionado. Com essa interpretação, Gaga mostrou sua evolução no meio musical. Foi ovacionada em pé por todos. E pra coroar de vez, Julie Andrews entrou no palco após a apresentação, muito emocionada, e agradeceu pela sua tocante interpretação. Vendo a cantora se apresentando, me deu até vontade de rever o filme. E olha que eu detesto Noviça Rebelde.  E que tipo de argamassa colocaram na cara do John Travolta no palco? Eu fiquei bem assustado em vê-lo (risos).


Fazendo um gancho com som, vale registrar que a transmissão da Globo era horrível. A imagem estava péssima, comprimida demais. E o aúdio estarrecedor. Fiquei vendo na TNT, apesar da falta de traquejo da Domingas Person em falar de cinema. Titubeava demais. Não sei se ela ficou nervosa em comentar sobre o Oscar ao lado do Rubens Ewald Filho. Agora, o mínimo que se espera de um crítico de cinema é que ele esteja afiado em falar sobre todos os envolvidos na disputa pela estatueta. E Rubens não viu vários filmes que concorriam. Ele tinha a obrigação de assistir. Fora os comentários preguiçosos, sem embasamento algum em suas análises.

Sobre a premiação: torcia para o Edward Norton ganhar a estatueta em vez de J.K.Simmons (minha opinião a respeito de Whiplash? É só clicar http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/acordei-no-ultimo-domingo-e-ja.html ). Achei o papel de Norton mais difícil, mais delicado na composição do personagem; Simmons fez uma boa atuação, mas com um texto tão cheio de clichê. E não acho que teve tanto esforço; Patrícia Arquette merecidamente conquistou a estatueta de melhor atriz coadjuvante. Nas boas surpresas, O Jogo da imitação ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Para quem não viu, aproveite que está em cartaz (quer que eu te convença a ver? Dê uma lida sobre minha opinião a respeito do filme - http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/abrindo-uma-excecao-regra-tive-uma.html). É uma trama muito bem costurada. Você entra achando que já sabe o desfecho, até porque é baseado em fato real, mas no decorrer você descobre que há uma outra trama, que começa a correr na paralela e vai descobrindo aos poucos que elas se “encontram” no final do filme. Mérito total do roteiro; Ida foi outra bela supresa, ganhando o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. É um filme bem doído de se ver, tanto na trama como no formato “quadrado” bem claustrofóbico utilizado pelo diretor na exibição do filme na tela, potencializando uma situação desconfortável no espectador.

Gostei dos 4 prêmios dado a Grande Hotel Budapeste, nas categorias técnicas; Julianne Moore, até que enfim, foi reconhecida como a melhor atriz. O filme dela ainda não estreou por aqui, mas pelo conjunto da obra, com 5 indicações no currículo, já estava mais do que na hora; e com toda a expectativa que estava em ver Michael Keaton ganhar seu troféu, o Oscar de Melhor Ator – na minha a opinião, a categoria mais concorrida, foi parar nas mãos de Eddie Redmayne. A Teoria de Tudo é um novelão bem feito. E só. Achei a interpretação desse menino um tremendo blefe. Só porque ele interpretou um tortinho? (risos). Postei minha indignação pelo seu prêmio. Betina concordou e escreveu; Trukiii (risos). Mauro escreveu que achou um “puta trabalho”. E eu complementei: trabalho de conclusão de curso de graduação, né (risos)?


Apesar do desrespeito a Keaton, Birdman se consagrou: Melhor Fotografia (aquele clima sombrio fantástico, na criação de um ambiente de desolação); Melhor Roteiro Original (uma bela sacada no culto à decadência); Melhor Diretor para o talentoso Alejandro Iñarritu, que teve a proeza de me fazer sequer piscar na condução da trama; e com todo esse conjunto mais a ousadia criada na construção narrativa, Birdman levou o Oscar de Melhor Filme (também escrevi a respeito de Birdman, dê uma olhada: http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/depois-da-caminhada-durante-tarde-e-um.html).

Final de premiação e minhas pálpebras caindo. O glamour ideal do fim de domingo sai de cena para a entrada da vida real. Mas nada que uma boa dose cavalar de Floral não ajude a colorir o cinza da vida moderna. And the Oscar goes to...bed!.

sábado, 21 de fevereiro de 2015


Eu realmente (quase) fugi de qualquer coisa que remetesse ao carnaval. Excesso de gente fedendo cerveja barata, caminhando como párias bêbados, caídos, brindando a nossa vulnerabilidade e inutilidade no mundo. E os inventos criados para garantir o excesso de luxúria nosso de cada dia? Criaram até uma cápsula, em formato de calmante – ou melhor, estimulante, para o casal que quisesse ficar num clima mais, digamos, íntimo. Mas com tempo cronometrado para gozar (risos). Dionísio deve ter exclamado lá do Olimpo: “Tiveram a devida educação. Trepem, meus filhos”! Quem sabe no próximo carnaval eles televisionem os 15 minutos de fama do casal. Ou não (risos). Com o teor alcólico lá nas alturas, imagino que o bofe vai demorar muito para conseguir enfiar o pau dele em algum buraco. E quando encontrar o tal orifício, uma voz divina ecoará: “Tempo esgotado”! (risos). E uma curiosidade sobre a cápsula: será que eles dedetizam quando um casal termina de fazer o “serviço” para entrada do próximo casal, que se estapeou com vários por sua senha dionisíaca? No carnaval, o Brasil escancara a sua alegoria de “Sodoma e Gomorra Reloaded”.

Apesar dos vários blocos percorrendo a cidade, o máximo que me permiti em entrar no espírito carnavalesco foi assistir aos desfiles. E seus derivados. A TV Cultura reprisou uma entrevista histórica (foi assim que a emissora divulgou o programa) com Joãosinho Trinta, no Roda Viva. Apesar do filme sobre ele ter sido mediano, foi interessante ver o critério que o carnavalesco utilizou para revolucionar o desfile do carnaval carioca. Ter como base de construção de um enredo uma ópera é no mínimo genial. E que entrevista grandiosa. Profissionais de revistas que nem existem mais. E Joãosinho não se intimidou com as perguntas: se degladiou com todos, sempre mantendo uma classe britânica. Não se fazem mais programas de entrevistas como antigamente. O próprio Roda Viva se pasteurizou.

Aqui em São Paulo vi o desfile impecável da Mocidade Alegre, homenageando Marília Pêra. Acompanhei também a Gaviões da Fiel, que sempre coloca o desfile pra cima; Rosas de Ouro sempre luxuosa. Acho saudável a alternância de campeã entre as escolas. Apesar do brinco que foi a Mocidade, a Vai-Vai empolgou muito mais o público e fez um desfile com raça, com samba no pé. Lógico que teve alguns deslizes, mas achei louvável a escola homenagear Elis Regina e mostrar a maior cantora do país a um público que ainda não conhece a obra da artista. Há controvérsias a respeito do samba-enredo, pois mostrou uma colagem de vários sucessos da cantora. A Unidos do Peruche, depois de um longo período, volta ao grupo especial, junto com a escola da Vila Madalena, a Pérola Negra. Tom Maior e Mancha Verde caem ao grupo de acesso. Aliás, a Mancha Verde mostrou com muito realismo a história do Palmeiras. Até o seu rebaixamento (risos).


 No Rio, vi a Unidos de Viradouro e a Mangueira no primeiro dia de desfile e não me empolguei. A chuva atrapalhou bastante o desfile das duas escolas. Minha expectativa estava no desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel, com a estréia do carnavalesco Paulo Barros. O tema foi propício: o fim do mundo. Pegando uma carona de inspiração na letra de Paulo Moska, o enrendo questiona o que você faria em seu último dia de vida? Apesar da morbidez, o carnavalesco soube ousar, com um deboche sutil sobre o tema em questão. Apesar dos lindos efeitos, achei que a escola ficou confiante demais na vinda de Barros e em toda pirotécnica que faltou algo essencial no desfile: o samba no pé; Vi pouco o Salgueiro, mas senti a imponência da escola. Ela entrou na avenida querendo ganhar.

No segundo dia, para mim só deu Portela. Se a Salgueiro entrou querendo ganhar, a Portela entrou pra ganhar. Foi a primeira escola a ser ovacionada pelo público gritando “é campeã”! A entrada dos paraquedistas anunciando a escola foi incrível. A águia drone já se tornou parte da escola, fazendo as honras de anunciar a entrada da Águia de Madureira. E o que foi aquela Águia-Cristo? Quando ela se abaixou para passar pela marquise da Sapucaí e conseguiu passar, houve um coro em uníssono gritando “Gol”! Foi de arrepiar. E fazia tempos que a Portela não me empolgava com um samba-enredo envolvente. Achei pouco ela ter ficado em 5º lugar.

E a Beija-Flor mereceu ganhar? Respondendo com pouca empolgação, mereceu, sim. E antes de ser apedrejado, acho importante ressaltar: todas as escolas de samba recebem recursos de traficantes, bicheiros, contraventores para colocar o desfile em pé na avenida. Somos coniventes com isso há anos. E agora vem um discurso por causa do patrocínio feito pelo governo ditatorial de Guiné? Sabemos que essas ações são erradas há décadas. E ninguém nunca se pronunciou a respeito. Por um lado, o dinheiro sujo. Mas por outro, eu vi a comunidade toda de Nilópolis se doando com garra, dedicação em defender a escola. Eles literalmente suaram a camisa. Acho que a ressaca moral de muitos vai se prolongar até a Quaresma.

  

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015



E Maria Bethânia está com tudo e não está prosa. A Abelha Rainha, que comemora 50 anos de carreira, fará shows em São Paulo. Um deles será no Sesc Pinheiros a semana que vem. Serão 4 apresentações no Teatro Paulo Autran. Programar um artista do porte de Bethânia, teve-se todo cuidado com a venda de ingressos. Cientes da procura, o Sesc liberou uma semana antes, ou seja, ontem,  o sistema de ingressos pra venda dos shows. Na correria, acabei me lembrando tardiamente da venda e fui correndo, feito um dragão da Tasmânia, para comprar. Quando entrei no saguão da Administração Central do Sesc, a fila tinha acabado e eu fiquei a ver navios. Num estalo, vendeu-se tudo. Não sobrou uma sombra de lugar como fio de esperança.


Com Maria Bethânia é 8 ou 80. Quem ama, a idolatra. Quem odeia, a trata como um boneco de vodu. Tenho amigos nas duas situações. Alguns que a amam fazem declamações que beiram o insuportável. Já ouvi dizeres do tipo “ela é tão maravilhosa, tão mesopotâmica”! Fazer uma relação da artista com um dos berços da civilização é para poucos. Mas o que me diverte são os comentários maldosos dos que a detestam. Dizem que ela tem o pé cascudo (risos), que ela deve entrar pro Guiness como a artista com mais tipos de piolhos no cabelo, tamanha é a quantidade de cabelo que ela tem. Já falaram que o cabelo dela parece fio de alumínio. E Bethânia é pura lenda urbana. Os pitis que ela dá no palco se tornaram sucesso na internet.


A última vez, pelo que me lembro, que a cantora fez show no Sesc foi em 1999, no Sesc Pompeia. Dizem as más línguas que a caminho do Teatro do Sesc, ela infernizou o motorista para que ele não passasse próximo ao cemitério. Dando asas à imaginação dessa possível lenda urbana, o motorista não só passou próximo, como passou em frente a um. Acho que Bethânia nesse momento devia estar fazendo escova em sua cabeleira (risos) e não se atentou a isso. Durante o show, a cantora estava super à vontade, passeando como sempre na ponta dos pés, feito Nureyev, quando de repente ela tombou no palco. O acidente foi rápido, pois a artista deu uma cambalhota e voltou a ficar em pé e cantarolando com cara de paisagem, como se nada tivesse acontecido (risos). Ritualística como ninguém, ela se recusa até hoje a pisar no palco do Sesc Pompeia. Um colega meu do Sesc Belenzinho me informou que ela praticamente tinha fechado o show pela zona leste, quando ela descobriu que atrás do Sesc Belenzinho tem....bingo, o cemitério da Quarta Parada. Respiratória (risos). E ela declinou o convite.

Sou suspeito para falar dela. Minha primeira referência da Abelha Rainha foi em um programa infantil produzido pela Globo nos anos 80, chamado Plunct Plact Zumm. Ela aparecia no programa como uma entidade, vestida toda de branca, cantando uma música que se tornou um clássico e toda a vez que ouço, reverbera em minha memória afetiva bons momentos de minha infância. Eu me lembro que ela me dava um pouco de medo (risos) quando a via em algum programa de televisão. Tinha a sensação de que ela era intocável, que poucos apenas conseguiam chegar perto dela. Com o gosto pela música clássica, depois o jazz e o rock na minha pré-adolescência, a MPB ficou um pouco de lado de minha audição. Só fui resgatar os discos de Bethânia no meio dos anos 90, quando saíamos eu, Eliane e meu finado e amado amigo Valmir – Mima, para os íntimos, de carro pelas adjacências de Ribeirão, escutando numa fita cassete (sim, ainda existia nessa época) as canções do disco “Âmbar” e “Imitação da Vida” . O melhor eram as performances que fazíamos a cada canção, lindamente interpretada por ela.

Tive o privilégio de assistir mais de uma vez o show dessa grande artista da música brasileira. Tudo em Bethânia se transforam em Arte. Até o seu temperamento iansãniano (risos). Para os que apreciam um show bem produzido, tem a obrigação de assistir um show dela. Àqueles que conseguiram o ingresso, ficarei aqui, com a minha inveja cazuziana, torcendo para que vocês consigam entrar nesse universo tão particular, tão intenso de Maria Bethânia. É pra lavar a alma de qualquer um.  



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


Abrindo uma exceção à regra, tive uma companhia no sábado de carnaval para perambular pela cidade em busca de um atrativo cultural. Não que eu não goste de uma companhia para ir ao cinema, ou teatro, mas tenho adorado curtir a solitude. De vez em quando é saudável ficarmos no nosso mundo, sem a necessidade de  compartilhar algo com alguém. Não é egoísmo e, sim, estado de espírito. Minha mãe veio para São Paulo ficar uns dias e quis me ver. Sugeri de nos encontrarmos no último sábado e marcamos horário para darmos start no nosso roteiro. Depois que nos falamos, fiquei me perguntando se teria paciência de andar com ela. Será que deveria aumentar a dose do floral?

O resultado foi mais agradável do que eu esperava. Foi um belo tapa na minha face. Minha mãe chegou pontualmente às 11 horas, conforme combinado. Estava terminando de preparar meu café da manhã. Ela perguntou o que eu estava preparando, pois o cheiro estava ótimo. Fiz ovos mexidos, com tomate, azeitona, cebola, manjericão, orégano, queijo ralado e quase nada de sal. Preparei o centro de mesa para colocar o ovo mexido, junto com as torradas. Ficamos proseando um pouco. Minha mãe estava com um vestido bem pop, alegre, festivo. Bem moderno, eu diria. 
Começamos a “bater salto” pegando um táxi com destino à FAAP. Dei algumas sugestões e ela escolheu ver “Retratos da Brasilidade”, na FAAP. Continuamos o gancho da conversa em casa. O taxista achou gentil de minha parte levar minha mãe para passear. Assim que descemos, para entrar na FAAP agradeci o elogio, que me respondeu com um belo sorriso. Pena que ele era banguelo de dois dentes.


Entramos e mostrei à minha mãe algumas obras expostas nos vitrais do saguão do Museu. Fomos orientados pela guia de deixarmos nossas bolsas no guarda volume. Minha mãe começou a fazer perguntas para a moça que estava no guarda volumes e percebi que ela não respondia nada. Ela começou a fazer alguns acenos e aí eu saquei que ela realmente não iria falar. Era uma atendente muda (risos). Guardamos as bolsas e fomos degustar a exposição.


Quando iniciamos nossa caminhada pela exposição, dei uma olhada dinâmica no espaço com as obras e me deparei na riqueza que a nossa cultura possui. Ou a riqueza de recursos que temos para atiçar a capacidade de criação dos artistas empenhados em mostrar essa multiculturalidade. Minha admiração foi mais com as pinturas geradas pela percepção de artistas estrangeiros, que vieram à convite do Brasil Império para diluir em sua criatividade artística a visão deles a respeito do País. Minha mãe ficou maravilhada de ver a precisão e os detalhes da flora, da fauna e da cultura popular, ilustradas como um belo recheio, nas gravuras de Johann Moritz Rugendas; nas telas de Lasar Segall e Emilio Di Cavalcanti; nas fotos emblemáticas de Pierre Verger. O que eu achei genial foi ver minha mãe analisando as diferentes formas de pintura. Mesmo tendo apenas a educação básica, ela demonstrou ter muita sensibilidade e com o pouco de informação que adquiriu, conseguiu decodificar as diversas maneiras de pinturas existentes na exposição. O que confirma minha teoria que a Arte é para todos. Você não precisa ser Phd em pintura. Precisa estar disposto a colocar a sua sensibilidade para trabalhar.


Da FAAP, fomos para a Avenida Paulista, assistir O Jogo da Imitação. Um filme de suspense baseado em fatos reais. A história retrata o período da 2ª Guerra Mundial, no momento em que os alemães estão no controle da situação. Com a desvantagem, os britânicos decidem montar uma equipe com a responsabilidade de desmembrar o Enigma, o famoso código que os alemães usam para enviar mensagens aos seus campos de ataque. Dentro dessa equipe está o matemático Alan Turing, um rapaz extremamente calculista e focado. No decorrer da história, você vai acompanhando todo o processo de destrinchar o sistema alemão, achando que esse é o único assunto a ser tratado no filme até que o filme começa também a compartilhar sobre a vida pessoal de Alan, que acaba se transformando numa trama paralela, junto com o processo de decodificação da máquina alemã. A partir do instante que ambas as tramas ficam atreladas no filme, comecei a ficar sem chão, pois comecei a achar, de forma intuitiva, que uma das histórias não teriam finais felizes. O roteiro foi pontual em saber trabalhar de forma impecável nas duas histórias, o que, a meu ver, é um risco. Benedict Cumberbatch está soberbo na construção do personagem Alan. Dos indicados ao Oscar, foi o personagem que mais quis me solidarizar. E graças a sua esplêndida atuação. Foi um filme doído de se ver. Quis chorar muito. Até gostaria de falar mais sobre o enredo, mas estragaria a surpresa do desfecho final. Para os desavisados, é bom levar um lenço Kleenex. Vocês vão precisar.

Saímos da sala de cinema. Mesmo sem chão, decidi não demonstrar a forma que o filme me deixou. Precisava respirar e jogar conversa fora. E nada mais propício irmos degustar um belo galeto, regado a um bom Pinot Noir. 


Informações sobre a exposição Retratos da Brasilidade, é só acessar: http://www.faap.br/hotsites/retratos_da_brasilidade/ 

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015



Decidi ficar em São Paulo no feriado de carnaval. Lógico que cheguei a me arrepender de não ter saído da cidade, mas com a decisão tomada, canalizei minha energia para colocar o roteiro cultural em dia e curtir a solitude. A ideia inicial era aproveitar o aconchego e conforto do meu lar. Colocar a leitura em dia, já que tenho uma fila de livros para ler. E eu tenho uma mania de ler alguns no mesmo período. Na prática, isso não rolou, pois decidi terminar de ler O Ateneu, já que estou enrolando com a história de Sérgio e seus colegas de internato. Apesar de sentir uma “barriga” em determinado momento no meio da história, me veio uma preguiça de não querer ir adiante. Medo de acompanhar o desfecho do jovem protagonista mancebo e questionador? Talvez, não. A narrativa me cansou? Pelo contrário. Adorei a sutileza cínica que Raul Pompeia, autor do livro,  emprestou ao personagem. Acredito que minha ansiedade de querer abraçar várias histórias, várias situações, tenha me custado um cansaço de não querer concluir o desfecho de várias tramas. Abri mão dos vários livros e me concentrei nos pupilos do inspetor Aristarco. Faltam 20 páginas para terminar. Acredito que essa semana eu termine.

Com a literatura condensada, mirei minha atenção no cinema e teatro. Consegui dois convites para ir à estreia de Puzzle D, na última sexta-feira. Chamei Elídia para ir comigo e ela topou. Nos encontramos casualmente na rua, próximo ao Sesc Vila Mariana, enquanto eu cumprimentava um colega. Ela está usando uma espécie de bengala. Acho tão fino usar bengala, não sei por que. Chegamos no Sesc e eu fui pegar nossos ingressos, enquanto Elídia conversava com alguns amigos. Alguns artistas foram prestigiar a peça: vi Eva Wilma, acompanhada de uma amiga. E pensar que a última vez que a vi no Teatro foi para ver uma peça tão sofrível. Isso porque o espetáculo marcava os 60 anos de carreira da atriz. Ela merecia algo à sua altura. Peguei os ingressos e fui ao encontro de Elídia, que me apresentou seus amigos. Um ator e um cavaleiro muito charmoso. A gente se encarou bastante enquanto nos cumprimentávamos. Elídia me chamou para voltar à Terra (risos) e irmos em direção ao foyer do Teatro. Entramos, dei um “oi” para alguns colegas do Sesc. Elídia quis saber a respeito de “Beije minha lápide”, com Marco Nanini e eu falei que achei fraco. Ela quis saber o motivo e eu falei que após o término da peça, saí do Teatro Anchieta com minha amiga Claudia, nos viramos e dissemos: “Vamos comer algo?” Quer dizer, se você assiste uma peça e depois do término dela, você não sai sensibilizado, a ponto de ter como reação pensarmos em qualquer outra coisa que não seja falar a respeito da peça, significa que a função do espetáculo foi de mero entretenimento. E Teatro para mim não é apenas um mero entretenimento. Não fui fisgado pela história, pelo elenco regular, pela montagem. Teve momentos que o iluminador comeu bola, com alguns deslizes técnicos. Mas ressaltei que mesmo com uma dramaturgia preguiçosa, a atuação de Marcos Nanini é válida, mesmo com o pouco que se ofereceu a ele como recurso para sua atuação. Depois dessa breve análise, ganhei de Elídia um livro com um texto dela, autografado. Mais um na minha fila de prioridade para ler ainda esse ano.


A montagem de Puzzle D vem com um atrativo a mais para esta temporada. A cada dia, um convidado participa da peça junto ao elenco de peso. Assim que entramos, os personagens já estavam no palco, com as cabeças cobertas de papel, cada um à sua maneira. Já para criar um estranhamento, um incômodo. Sentamos em nossas cadeiras, na fila B e fiquei tricotando mais um pouco com Elídia. Demos mais uma olhada nos convidados ilustres. Hélio Flanders, do Vanguart chegou acompanhado de uma garota, que acho que era atriz. Ela desfilava com ele, cheia de vaidade. São os excessos da juventude. E ela é bem mais alta que ele (risos). Antes da peça começar, Felipe Hirsch, diretor da peça, foi ao palco para nos informar que a Cida Moreira, convidada do dia para atuar em Puzzle D, tinha sofrido uma torção na perna  e não poderia participar na estreia. Em troca, ele acrescentou uma cena extra para a estreia.

E o espetáculo começa e sem chance para poder respirar. São tantas mensagens explícitas e codificadas que eu nem pisquei. Puzzle D é um roleta russa de assuntos que dilaceram nosso intelecto. O espetáculo faz uma reflexão sobre a cultura brasileira. E se analisarmos a fundo sobre tudo aquilo que está inserido na cultura brasileira atualmente, o quanto nos é imposto um tipo de cultura insossa, pobre e a peça mostrando esse contraponto com a riqueza cultural que temos em diversas linguagens e que são esquecidas. Aliás, contraponto é uma palavra que para mim, define a linha de base para a dramaturgia da peça. A atual cultura vazia que temos – ou que pelo menos não é difundida às pessoas – com o ufanismo exarcebado pelas “conquistas” e feitos que a Colônia Constante chamada Brasil acha que possui. E o que é bem sacado é o uso de diversas vertentes artísticas para contextualizar a dramaturgia. A música, a literatura, o cinema se misturam, como num autêntico café com leite matinal. E para aqueles que se julgam intelectuais, Puzzle D faz sua crítica a respeito do excesso de valores que no decorrer da História, surgiram como caráter de informação. E de discórdia também. A cena em que a personagem de Magali Biff começa a interpretar um texto fazendo essa pontuação sobre a geração de ideias, criadas por grandes pensadores e a real finalidade dessas ideias surtirem ou não um efeito intelectual nas pessoas, foi memorável. Enquanto ela se auto degladia, a personagem caminha de costas, numa reta transversal, vomitando sua loucura pelo excesso de informação armazenada. A crítica sobre isso vai muito além do armazenamento. Mais do que digerir a informação, a questão é de que forma, dentro do limite de seu entendimento, você regurgitará esse pensamento. O que deixa a personagem extremamente insana no palco. Foi um momento insofismável no espetáculo.


Término do espetáculo e eu ainda sentado na cadeira, junto com Elídia. Fiquei muito mexido com a montagem, a atuação matematicamente perfeita do elenco, que em apenas uma hora de espetáculo me fez ficar sem piscar, jogando como “fardo” em minhas costas Haroldo de Campos, Roberto Bolaño, Paulo Leminsky para minha digestão cultural. Descemos ao foyer e vimos que estava tendo um coquetel. Queria ir embora, pois estava muito mexido com que tinha acabado de ver. Elídia queria parabenizar seus amigos e atores da peça. Fiquei mais um pouco, fazendo uma social com colegas do Sesc Vila Mariana. Elídia me apresentou o filho da cartunista Laerte, que trabalha como assistente de produção da peça. Uma graça de pessoa. Falei para Elídia que eu “faria “ ele, mas supreendentemente Elídia ficou em pseudo-choque e justificou que ele “era casado e tinha filhos”. Eu disse que não teria problemas (risos). Acho que ela não entendeu que estava brincando. Realmente, humor de viado é para poucos. Fui ao toilete e em seguida mandei um whats para Elídia dizendo que estava indo embora. Como ela não me respondeu, saí à francesa em direção ao subway, com muitos questionamentos que estavam efervescendo minha cabeça. Foi uma peça que me deixou cansado, sem forças. Eu realmente precisava descansar. Coloquei meu Ipod pra funcionar enquanto viajava pelo metrô, a caminho de casa.  E pensar que esse tipo de densidade estava só começando no período de carnaval. 

Se você se interessou por Puzzle D, não perca a chance. É doído de se ver, mas vale a pena assistir - http://www.sescsp.org.br/programacao/53210_PUZZLE+D#/content=na-midia  


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015




Eventos políticos são sofríveis. Simplesmente cansativos. Mas acho praticamente impossível você ficar indiferente a todo o mise en scène em volta desse circo. Se bem que, quando você está disposto a entrar em cena, se torna pura diversão. Fui na cerimônia de abertura da SPCine, órgão municipal de fomento a projetos audiovisuais, que aconteceu há alguns dias na Praça das Artes, região central de Sampa, próximo à prefeitura. Quando cheguei, vi uma fila imensa para entrar. Por sorte conhecia a assessora de imprensa do evento e ela me colocou pra dentro. Mérito da Jô, assessora de imprensa que trabalha comigo na TV. Entramos, junto com meus dois chefes. Quando entramos na sala, aquele jogo de confetes com tudo e todos. Políticos importantes, cineastas, produtores e, sim, muitos chupa-cabras desesperados atrás de patrocínio. Vi alguns queridos por lá: Tadeu Jungle deu um oi e perguntou para meu gerente o que ele tinha achado da gravação do piloto que ele fez. Tadeu está com um projeto sobre e para velhos, na TV Cultura.  Meu gerente disse que tinha gostado e fez algumas observações; Tata Amaral estava lá, junto com sua filha Caru, que dirigiu um filme incrível ano passado – De menor. Foi sua estreia como cineasta. Mas no caso dela não quis fazer grandes elogios. Afinal, tem muito o que aprender nessa vida cinematográfica.


A cerimônia atrasou pouco mais de uma hora. Estava um calor dos horrores! As trombetas tocaram, ao som do mestre de cerimônias. Todos os pavões estavam a postos: o atual secretário municipal de cultura Nabil Bonduki teve a honra de abrir o cerimonial. Pra variar, como a maioria dos políticos, não foi assertivo. Fez um discurso inflado, mas pensei que ele poderia estar um pouco nervoso, por causa da atenção do público. Que estavam (risos) se abanando com o que tivessem na mão e dando a mínima para sua fala; em seguida o ex secretário municipal de cultura e agora presidente da SP Cine, Alfredo Manevy. Ele cumprimentou a todos na mesa, mas achei que ele foi um pouco indelicado com o secretário estadual de cultura, Marcelo Araújo. É que após mencionar os colegas de partido que estavam na mesa, criou-se um hiato e aí, sim, ele cumprimentou o colega secretário. E eu não conseguia me concentrar no que ele falava. É que toda a vez que eu o vejo, eu penso na hora no Alceu Valença (risos).



Aí o pavão-mor, Manoel Rangel, diretor da Ancine, teve seu momento de obra iluminista e começou a discursar. Ele discursava como se estivesse no exército. Era uma fala de imposição. Parecia Herodes. Com o dedo em riste. Que filme será que ele imaginou estar naquele momento? The Godfather? Como ele falava tudo e não falava nada, comecei a me distrair. Fiquei olhando para a cara dos outros componentes da abertura. O Marcelo Araújo devia estar em Plutão (risos). Estava com uma cara blasé segurando o corpo. Porque o espírito estava com certeza em outro espaço sideral (risos). Aí eu mirei no rosto do Haddad. Cara de menino mimado que não queria estar ali. Ele é realmente muito charmoso. Marcelo Araújo foi breve, suscinto e objetivo. É uma pessoa muito culta. Gosto de sua gestão como secretário estadual de Cultura. Minha amiga Bruna trabalhou com ele e disse que ele é uma pessoa muito íntegra. Observei que a organização do evento estava um pouco porca. Bem porca, eu diria. Eles colocaram um telão ao lado do palco para mostrar o vídeo de abertura da SP Cine. Mas toda hora passava a sombra de alguém atrás da tela. São pequenos deslizes como esse que fazem um belo estrago em solenidades como essa.     
  

O ministro Juca Ferreira prosseguiu no discurso, mas ele se movimentava demais. Ficava toda hora saindo do microfone e eu não entendia direito o que ele falava.  Fiquei novamente olhando pro Haddad. Era uma forma de me refrescar com o caldeirão de enxofre que estava aquela sala. Por fim, o prefeito falou sobre a SP Cine. Fez uma relação do nosso cinema com o cinema indiano, no aspecto de que os indianos tiram “leite de pedra’ e com pouco recurso – leia-se: dinheiro, conseguem produzir ótimos filmes. Esse "ótimos" é por conta do Haddad (risos).  E eu matutei em minha mente, pensando que realmente é um projeto bem bacana.        Quem sabe não surjam propostas interessantes para o cenário audiovisual paulistano. Até para fazer um contraponto com empresas como a Globo Filmes, que despeja seu lixo tóxico audiovisual com comédias chulas, tratando a gente como dementes.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015



O consumo desenfreado dos brasileiros me faz ter a triste conclusão de que somos e seremos eternamente seres colonizados. É só olhar as pesquisas e estatísticas. A maioria do povo brasileiro está colhendo os excessos desse consumo, ou seja, tornaram-se obesos. Estamos acima do peso, entenderam? Até nisso seguimos a cartilha junkie food ianque.

Vamos ilustrar a história. Desde o ano passado tenho seguido uma dieta que, a princípio, foi um pouco rigorosa, já que tinha que abrir mão de várias coisas que adorava comer. Foi detectado em meus exames gordura no fígado, com o excitante nome de esteatose hepática.  Fui na nutricionista, que fez uma entrevista comigo e em cima de nossa conversa, ela criou a dieta. Passados os meses, com uma nova batelada de exames, a gordura sumiu. O curioso foi que meu hábito alimentar mudou a ponto de não sentir falta de muitas tentações gastronômicas. Por exemplo, eu pedia comida por delivery à noite – lanche, pizza, china in box, pratos. São desejos como esses que não tenho saudades. Mas é lógico que, ocasionalmente, me dou o direito, pelo menos uma ou duas vezes na semana de comer junkie food. E é aí que o atual consumo da comida de gordura se torna assustador.

Fui dia desses no Pátio Higienópolis pagar umas contas e resolver um assunto a respeito do meu celular. É lógico que o problema com a Claro eu não resolvi, tamanha a incompetência deles. Aproveitei e subi na praça de alimentação. Durante o trajeto do metrô Marechal até o shopping, me veio o gosto do pedaço de pizza da Pizza Hut. Não sei por que veio, mas me deu a vontade. Eu não comia Pizza Hut há anos. Subi até a praça de alimentação e fui até o guichê da empresa. Enquanto vislumbrava o cardápio, fiquei atento às pessoas fazendo seus pedidos. Só gente obesa (risos). Mães gordas, flácidas, com filhos a tiracolo – gordos, flácidos e mimados chorando, mendigando excesso de comida. Queria entender o motivo de tanto drama infantil, mas continuei a escolher o que iria pedir. Me peguei em meu imaginário que se eu fizesse isso na época que era criança, eu tomaria vários tabefes de minha mãe na frente de todos.

Na hora de minha escolha, fui pontual. Pedi um pedaço de pizza de um sabor e a atendente disse que estava em falta. Acabei fechando em um pedaço de pizza de pepperoni. Quando eu vi o tamanho da fatia indo para o forno, fiquei me perguntando se conseguiria devorar tudo aquilo. A menina do caixa perguntou se eu queria refrigerante. Pedi um copo pequeno e a angústia de gente disse que eles trabalhavam apenas com copo de 400 ml. Quer dizer, eu sou obrigado a tomar um refri de acordo com a condição deles? Uma inversão de valores, concordam? Eu, como consumidor, não tenho mais o direito de escolha.


Acabei optando à minha revelia do refri de 400 ml e pedi para fechar, quando a garota do caixa me pergunta se eu não queria, além da pizza, de um acompanhamento. Eu olhei e perguntei: já não basta a pizza? Curioso, perguntei o que seria o acompanhamento. Ela abriu um sorriso robótico, maquiado, parecia que tinha incorporado algo e me falou sem nenhum peso na consciência que eu poderia escolher entre a polenta frita ou batata smiles. Quer dizer, eu já ia comer um trator de junkie food, dado o tamanho da fatia e ainda queriam que eu adicionasse mais gordura em minhas veias e artérias, como se fosse cobaia de cativeiro? Depois de um flash de segundos muito puto com o que a sociedade do consumo tem imposto às pessoas e elas, sem nenhum tipo de educação, acabam não tendo know how para questionar se isso faz bem à saúde e acabam sucumbindo a essas delícias dionisíacas, voltei à Terra e perguntei a ela se, como consumidora, também encararia esse projeto Combo de gordura? Ela sorriu de forma bem sem graça, ao lado de outra garota, que estava terminando de esquentar minha fatia. Aí eu olhei bem para ela e disse que não havia a necessidade de me responder. Peguei minha pizza e o absurdo de copo de 400 ml de coca-cola.  Fiquei pensando, a caminho de uma mesa para me sentar que realmente não seria necessário a dita cuja atendente me responder o que tinha perguntado, já que eu sabia da resposta.  Ela (risos) era bem gorda.

E para todos aqueles que estão dentro da cadeia do excesso de consumo, dêem uma olhada no vídeo abaixo. E boa digestão.