Música, televisão, cinema, artes visuais e devaneios da vida contemporânea
sexta-feira, 3 de novembro de 2017
Finados sempre me pareceu um
feriado insosso. Lógico que é ótimo poder folgar, descansar ou dar pinta, se
preferir. Mas acho que o hábito de ir a um cemitério, fazer sua reverência e se
lembrar dos entes queridos, tem se perdido a cada ano que passa. Pelo menos
aqui em São Paulo tenho essa impressão.
Quando era criança, lá no Rancho
chamado Ribeirão Preto, seguíamos todos os anos no ritual mórbido de visitar os
túmulos de meus avós maternos e de meu avô paterno, que infelizmente eu não
conheci. Meu pai sempre zelava pela lápide de meu vô, deixando o túmulo um
brinco. Eu me importava mais em ficar brincando no cemitério de esconde-esconde
com meus primos, até me enjoar de ficar por lá e começar a fazer uma cena a la
Stanislavski, fazendo cara de ânsia de vômito e me contorcendo para ver se
minha mãe se sensibilizaria para irmos logo embora. Lógico que ela dava
um “caguei”. Por pura provocação, eu revidava: vendo ela chorando pela perda de
minha vó (eu também senti muito, era grudado com ela), eu ficava na frente –
mas não muito (risos), dela, dando um belo sorriso cínico, dizendo “como a
senhora é boa atriz”. Lógico que tudo isso de forma apenas telepática (risos).
Ela me aleijaria, caso percebesse com um simples olhar de quina , se eu teria a
pachorra de olhá-la dessa maneira. Cemitério pra mim, hoje, só com open bar,
acompanhado de “Alicinha Cavalcanti”, numa rave. Pra lá do Mundo de Alice, ouvindo bem alto Paco de Lucía.
terça-feira, 31 de outubro de 2017
Não sei se é a volta à normalidade, depois de regozijar um
período de férias, mas ando com uma falta de vontade de otimizar meu tempo para
fazer alguma coisa. Me programar em fazer um roteiro cultural, por exemplo, era
algo primordial, até para não ter a sensação do final de semana de folga
ficar no vazio. Atualmente, minha vontade é de não fazer nada, curtir minha
casa ouvindo uns discos e lendo livros. Mas em alguns momentos acabo trocando a
companhia de um Bob Dylan e de uma Clarice Lispector por futilidades nas mídias
sociais. Trocar um poema de Rimbaud por vídeos mal feitos de pessoas se
sacrificando por um bom cachê, para ter seu momento de subcelebridade. Aliás, o
termo subcelebridade nunca foi tão implorado por esses anônimos sem conteúdo,
como agora. Minha nossa, sirene de pânico gritando. Preciso voltar à terapia e
a tomar Welbutrin. Urgente. (risos)
Neste fim de semana passado foi meu plantão de trabalho. Num
“toma lá, dá cá” de cena de série teenager
, entrei rapidamente na sala da administração – onde ficam todos os setores do
Sesc Osasco, bem no estilo redação de jornal, que eu adoro. Vi Khalfani dando
sua risada-mental-mas-contida-na-leitura-facial, apenas o observando, como uma
lince. Enquanto imprimia o texto de anúncio do espetáculo, que começaria dentro
de 10 minutos, Khalfani sorria pois estava meio passado com o que estava
assistindo. Sem delongas, perguntei qual era a graça e aí me mostrou o vídeo. Era o mais novo “youtuber” conhecido –
pelo menos para nós: Emerson, um colega de trabalho. Como estava na pressa, não
prestei atenção, apenas perguntei por ele e Khalfani me olhou surpreso na linha "oooi?" e falou
que Emerson tinha pedido demissão. Enquanto saía da sala, fiquei indagando se ele
tinha saído do trampo para investir em sua “carreira”, o que seria um atestado
de insanidade nos dias de trevas que estamos passando, economicamente e
politicamente falando.
Quando cheguei em casa à noite, entrei no Facebook na página de algum
amigo que teria a possibilidade de ter o Emerson como amigo. Procurei e achei. Acessei o vídeo: ele tem
um canal no youtube chamado “Bíblia, Arte e reflexões”. E pelo que entendi ele
fala de bíblia, arte e (risos) reflexões. Como ele destaca bem os caracteres do vídeo,
colocando o tema a ser discutido, vi um assunto que me interessava: os 500 anos
da Reforma Protestante. Dei o “enter” e comecei a assistir. Com uma chamada do programa produzida de forma caseira. E ele começa sua apresentação, dando o seu “a paz do Senhor” (Amém), com aquele “R” bem enjoado de
Tatuí (risos). Com a ajuda de um “mano” dele que participa no vídeo, dão um
breve histórico do início do cristianismo, com a Igreja Primitiva. Passam por meados do
século I, para contextualizar o surgimento da Igreja Católica por um decreto do Império Romano (só para registrar, o mesmo império que
matou, junto com os jud...quer dizer, fariseus, Jesus de Nazaré, grande ícone cristão...dos católicos). O catolicismo se institucionaliza como Igreja Católica,
Apostólica Romana, igreja que abraçou pra si as influências da igreja primitiva cristã e dopaganismo. Surprise! (risos)
Como estava “pra lá do Mundo de Alice”, dei um pause e refleti a respeito. Num sopro de vento cantante entrando pelo meu quarto, pensei no quanto na ICAR (preguiça de escrever o nome inteiro da igreja, sorry), dentro dos relatos da história mundial, os sacerdotes católicos em nome de Deus torturaram, queimaram, assassinaram multidões,
acusando-as de serem “pagãs” por não serem - e nem queriam ser, deduzo eu - católicas. Soa em meus ouvidos como uma ironia mórbida do destino, concordam? A Igreja
Católica realmente distorceu os princípios básicos do cristianismo e se batizou
no “lado negro da força”. Realmente uma pena Santo Agostinho ter abraçado a
causa. E São Benedito. E Santa Rita de Cássia. Deus Pai, por que eu não desato esses nós? (risos)
Continuei assistindo a conversa e a uma certa altura do
papo, até que enfim começou a se falar na Reforma Protestante, iniciada pelo monge
rebelde Martinho Lutero. Quer dizer, deu
a louca em Lutero em fixar na porta da Igreja várias "linhas de raciocínio", cutucando
com agulha de vodu a Igreja Católica, através de suas 95 teses. Digamos que uma
notícia daquela época se equipara com o lançamento de alguma bomba atômica em
algum lugar desse continente. Lutero encadeou uma (risos) grande explosão. Ele realmente tem o meu
respeito. O vídeo termina e eu fico com a sensação de fazer um adendo ao youtuber: ele deveria ter pontuado o
quanto é lastimável que do berço da igreja protestante e da distorcida igreja
católica, gerou-se em nossa atualidade uma lavagem cerebral que ocorre em
algumas igrejas featuring igrejas pentecostais, que beira ao ridículo e ao
assustador. Esses “pastores” nem
precisariam adquirir o “método da nova teatralidade proposta por Antunes Filho”.
São atores natos. Assim como a Igreja Católica, as igrejas evangélicas neo
pentecostais se beneficiam da ignorância do povo.
Ah, e um fato curioso que aprendi na sabatina dos meninos: a
reforma Protestante aconteceu no dia 31 de outubro de 1517. Ironia mórbida ou
deliciosa coincidência? (risos)
E ótimo Halloween pra nós!
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
Dei uma olhada na agenda e só
pepino para desenrolar. Me colei para resolver assuntos no banco. Passei na
lanchonete de Romero, na esquina da minha casa. Sempre muito cortês, educado.
Peguei um suco e um pão de queijo e saí correndo em direção ao subway. Mas continuava num estado
vegetativo. Acordar antes das 10h são só para os fortes. Porque eu acordei às
(risos) 12h30. Muito em slow motion,
ainda. Só conseguia pensar em uma coisa de cada vez. No vagão, lotado de
bípedes, não tinha como comer o breakfast.
E as portas do inferno abertas, de tanta gente feia ao redor. Pensava estar na
obra “As tentações de Santo Antão”, de Hyeronomius Bosch. Dêem um google, procurem esta obra e vcs saberão
o que estou querendo explicitar. (risos)
Para adentrar ao banco e chegar até Aleksandra - a assessora
do meu gerente, o Pergolo (sim, nome de vinho barato), tive que entrar naquele “tubo de ressonância” para me encontrar com a moça. Vontade de simular um ataque cardíaco e dizendo, aos berros, que tenho marca-passo, que tinha cometido um engano ao passar pela porta giratória, não falta (isso tudo passa pela minha cabeça, çim - pra me divertir um pouco). Nos
cumprimentamos e eu já fui direto aos dois assuntos que queria resolver. Meu
cartão foi clonado e, para minha infelicidade, durante meu período de férias.
Conversei com Aleksa apreensivo, pois precisaria dele para me
virar nas viagens. Como já tínhamos nos conhecido durante minhas férias, ela conseguiu deixar o cartão comigo usando
apenas o débito, apesar do cartão de crédito ter sido bloqueado pela Visa - para minha sorte, aliás. E o melhor, ela já tinha pedido um cartão novo. Foi só assinar um papel e metade de meus problemas já estava resolvido. A outra metade - e por isso minha ida novamente ao banco - foi uma compra indevida de algum
hacker mediano que conseguiu rastrear meu cartão e fez uma compra de mais de 1000 reais
nas Casas Bahia. Até pra roubar o
infeliz é simplório (risos). Aleksandra fez a contestação para a devolução do
dinheiro.
Com tudo solucionado, Aleksandra
quis me empurrar goela abaixo alguns planos de “investimento”. Mas eu estava
muito lento, sem paciência e pra piorar, ainda acordando. Ela começou a falar
de forma descompassada, parecia que tinha se jogado num “padê “(risos). Essas harpias de Vulcano
são espertas, foram adestradas para conseguir construir a narrativa, em uma
mesma frase e com muita agilidade de pensamento, os benefícios do plano; o
momento de questionamento, perguntando se
você entendeu - sem a mínima vontade de
te explicar do que se trata; e já emendam
com aquele sorriso de pin up: “é só
assinar nas duas vias” (risos). Começou querendo me vender um convênio para
compra de um carro, disse - com uma cara de bixa beeeem enjoada, que não me interessava. Ela me olhou, deu um
sorriso e começou a falar do convênio...do carro...de novo. Juro que se meu
olhar matasse, ela estaria um pó de mármore de desintegrada. Sutilmente brinquei e perguntei se ela estava
“colocada”. Como ela não conseguiu (risos) "decodificar" o que tinha perguntado, fui
educado e avisei-a desse deslize de não
prestar atenção ao me vender o mesmo plano duas vezes. De forma mais britânica. Quer dizer: agradeci as propostas,
disse que “iria pensar” e responderia por email. Deu um sorriso e nos despedimos. Mas
assim que virei as costas, ela deixou a letargia dela de lado e me gritou dizendo: “mas vc não tem meu email”! Quase que olhei para trás para acenar, dizendo: “então fale com a minha
mão”. Peguei minha bolsa e saí rapidamente em direção à avenida Paulista, para dar uma caminhada. E ouvindo Vaccines no talo.
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
É realmente duro voltar à vida
real depois de um período merecido de férias. E não tenho do que reclamar.
Tirei os 30 dias, além das horas que tinha para compensar. O resultado foi
desacelerar, despreocupar, me desligar por 42 dias. Me abster de rotinas, pessoas,
dar um tempo a mim mesmo em não ter que lidar com o processo contínuo da vida
decadente que temos. A cada dia que passa, tenho a sensação de ter menos tempo
para cuidar de mim. Nos impõem um tempo mínimo para respirar,
cuidar de nós, o que significa que férias é o mínimo prazer adquirido para
desfrutarmos. E o que me restou fazer, além de viajar, foi intercalar o roteiro
de viagem com um breve descanso pela Pauliceia. Nunca tinha ficado em São Paulo
durante minhas férias, mas confesso que foi prazeroso chegar ao ponto de ficar
na minha cama, ouvindo um disco, lendo um bom livro ou ficar sem fazer
absolutamente nada, bem Marília Gabriela. Sem saber de notícias, me desligar por completo. Mas isso ficou
na vontade porque na prática não conseguia deixar de acompanhar os rumos do
país e desse caótico mundo. Então eu decidi assistir a noticiários mais
manipuladores da informação: notícia relatada = credibilidade nenhuma. Quer dizer, funcionou pra mim como uma mera figuração. Ou aprendendo com eles a (risos) "nova teatralidade" proposta por Antunes Filho. isso foi
uma forma de desligar, não?
Fiz 3 viagens maravilhosas que
pretendo relatar aqui no blog (risos) doa a quem doer. Na verdade, seriam 4 mas
eu não contabilizo minha ida a Ribeirão Preto – cidade onde nasci, cresci e não
tenho saudade nenhuma. E olha que consegui sobreviver a 5 dias de calor intenso
e sem atrativo nenhum pra fazer. Consegui ver algumas amigas e levei minha mãe
ao cinema. Mas sobre isso eu conto depois.
Priorizei nas férias conhecer
lugares desconhecidos. Optei por Jalapão, em Tocantins e Chapada das Mesas, no
Maranhão. Mas queria incluir algum lugar na região Sul do país. Deixei o sul do país de nossos (risos) irmãos separatistas, de escanteio por anos. Decidi fazer um tour pelo Paraná, com paradas em
Curitiba, Morretes - num superestimado passeio de trem; Paranaguá – registrei fotos da bela arquitetura de uma das cidades mais antigas do país; e Ilha do Mel sem muita empolgação.Tem a sua beleza, claro, mas não me surprendeu.
Lugares de belas paisagens, preços razoáveis e um povo incrivelmente caricato (sim, isso é um sarcasmo). Preguiça inana
deles.
Os tocantinenses esbanjaram
simpatia. Os maranhenses agiam primeiramente de forma desconfiada, pareciam que
eles nunca tinham visto uma "mariposa do cerrado" (risos). Mas depois eles "relaxavam o
esfíncter". Nesse período todo conheci pessoas bonitas, equivocadas, burras,
insossas, limítrofes, interessantes, atraentes, preconceituosas, gostosas, que
de alguma forma, me ensinaram a entende-las e não julgá-las. Foi um exercício interessante de se fazer, mas que me fez despendiar muita energia (risos). Acho
que já fiz meu jejum para a Quaresma de 2018.