terça-feira, 31 de outubro de 2017



Não sei se é a volta à normalidade, depois de regozijar um período de férias, mas ando com uma falta de vontade de otimizar meu tempo para fazer alguma coisa. Me programar em fazer um roteiro cultural, por exemplo, era algo primordial, até para não ter a sensação do final de semana de folga ficar no vazio. Atualmente, minha vontade é de não fazer nada, curtir minha casa ouvindo uns discos e lendo livros. Mas em alguns momentos acabo trocando a companhia de um Bob Dylan e de uma Clarice Lispector por futilidades nas mídias sociais. Trocar um poema de Rimbaud por vídeos mal feitos de pessoas se sacrificando por um bom cachê, para ter seu momento de subcelebridade. Aliás, o termo subcelebridade nunca foi tão implorado por esses anônimos sem conteúdo, como agora. Minha nossa, sirene de pânico gritando. Preciso voltar à terapia e a tomar Welbutrin. Urgente. (risos)



Neste fim de semana passado foi meu plantão de trabalho. Num “toma lá, dá cá” de cena de série teenager , entrei rapidamente na sala da administração – onde ficam todos os setores do Sesc Osasco, bem no estilo redação de jornal, que eu adoro. Vi Khalfani dando sua risada-mental-mas-contida-na-leitura-facial, apenas o observando, como uma lince. Enquanto imprimia o texto de anúncio do espetáculo, que começaria dentro de 10 minutos, Khalfani sorria pois estava meio passado com o que estava assistindo. Sem delongas, perguntei qual era a graça e aí me mostrou  o vídeo. Era o mais novo “youtuber” conhecido – pelo menos para nós: Emerson, um colega de trabalho. Como estava na pressa, não prestei atenção, apenas perguntei por ele e Khalfani me olhou surpreso na linha "oooi?" e falou que Emerson tinha pedido demissão. Enquanto saía da sala, fiquei indagando se ele tinha saído do trampo para investir em sua “carreira”, o que seria um atestado de insanidade nos dias de trevas que estamos passando, economicamente e politicamente falando.





Quando cheguei em casa à noite, entrei no Facebook na página de algum amigo que teria a possibilidade de ter o Emerson como amigo. Procurei e achei. Acessei o vídeo: ele tem um canal no youtube chamado “Bíblia, Arte e reflexões”. E pelo que entendi ele fala de bíblia,  arte e (risos) reflexões. Como ele destaca bem os caracteres do vídeo, colocando o tema a ser discutido, vi um assunto que me interessava: os 500 anos da Reforma Protestante. Dei o “enter” e comecei a assistir. Com uma chamada do programa produzida de forma caseira. E ele começa sua apresentação, dando o seu “a paz do Senhor” (Amém), com aquele “R” bem enjoado de Tatuí (risos). Com a ajuda de um “mano” dele que participa no vídeo, dão um breve histórico do início do cristianismo, com a Igreja Primitiva. Passam por meados do século I, para contextualizar o surgimento da Igreja Católica por um decreto do Império Romano (só para registrar, o mesmo império que matou, junto com os jud...quer dizer, fariseus, Jesus de Nazaré, grande ícone cristão...dos católicos). O catolicismo se institucionaliza como Igreja Católica, Apostólica Romana, igreja que abraçou pra si as influências da igreja primitiva cristã  e do paganismo. Surprise! (risos) 


Como estava “pra lá do Mundo de Alice”, dei um pause e refleti a respeito. Num sopro de vento cantante entrando pelo meu quarto, pensei no quanto na ICAR (preguiça de escrever o nome inteiro da igreja, sorry), dentro dos relatos da história mundial, os sacerdotes católicos em nome de Deus torturaram, queimaram, assassinaram multidões, acusando-as de serem “pagãs” por não serem - e nem queriam ser, deduzo eu -  católicas. Soa em meus ouvidos como uma ironia mórbida do destino, concordam? A Igreja Católica realmente distorceu os princípios básicos do cristianismo e se batizou no “lado negro da força”. Realmente uma pena Santo Agostinho ter abraçado a causa. E São Benedito. E Santa Rita de Cássia. Deus Pai, por que eu não desato esses nós? (risos)




Continuei assistindo a conversa e a uma certa altura do papo, até que enfim começou a se falar na Reforma Protestante, iniciada pelo monge rebelde Martinho Lutero. Quer dizer, deu a louca em Lutero em fixar na porta da Igreja várias "linhas de raciocínio", cutucando com agulha de vodu a Igreja Católica, através de suas 95 teses. Digamos que uma notícia daquela época se equipara com o lançamento de alguma bomba atômica em algum lugar desse continente. Lutero encadeou uma (risos) grande explosão. Ele realmente tem o meu respeito.  O vídeo termina e eu fico com a sensação de fazer um adendo ao youtuber: ele deveria ter pontuado o quanto é lastimável que do berço da igreja protestante e da distorcida igreja católica, gerou-se em nossa atualidade uma lavagem cerebral que ocorre em algumas igrejas featuring igrejas pentecostais, que beira ao ridículo e ao assustador.  Esses “pastores” nem precisariam adquirir o “método da nova teatralidade proposta por Antunes Filho”. São atores natos. Assim como a Igreja Católica, as igrejas evangélicas neo pentecostais se beneficiam da ignorância do povo.


Ah, e um fato curioso que aprendi na sabatina dos meninos: a reforma Protestante aconteceu no dia 31 de outubro de 1517. Ironia mórbida ou deliciosa coincidência? (risos)

E ótimo Halloween pra nós!