sexta-feira, 30 de outubro de 2015


Alter do Chão. O sol escancarou a sua magnitude. Acordamos cedo para aproveitar o dia ao máximo. Até porque estávamos no fim de nossa viagem. O bom é que em nenhum momento teve aquela sensação de ficar deprimido pelo fato das férias terminarem. Apesar de ter aproveitado apenas 15 dias das minhas férias, estava com a sensação de ter conseguido gozar bem do meu período sabático, adicionado com a licença que tive. Enquanto tomava café com Juçara, comentei com ela sobre um e-mail que recebi de uma pousada em Santo Antônio de Pinhal, cidade situada no Vale do Paraíba. Na verdade eu tinha enviado uma mensagem há um tempo perguntando sobre disponibilidade de chalés, pois a pousada estava promovendo um festival de jazz que iria acontecer por lá. O problema é que só vi o e-mail 10 dias depois. Continuamos a conversar durante nosso breakfast e planejando o que fazer no roteiro do dia. Resolvemos então passar o dia na Ilha do Amor, cartão postal obrigatório em Alter do Chão. Eliana, dona da pousada do caju, chegou para nos dar bom dia. Fizemos um tricô básico com ela. Seu marido Eduardo também apareceu para continuarmos a prosa. O papo se estendeu até percebermos que já era hora de batermos em retirada. Nos despedimos sem antes falarmos do nosso interesse em fazer algum passeio no dia seguinte. 

Aproveitamos a disposição de Eduardo, que nos levou até a praça de carro. De lá, pegamos um “táxi” – um barco que nos atravessou até a Ilha do Amor. Perguntamos ao taxista o motivo do nome, mas, pra variar, ele não sabia dizer. Ficamos com essa incógnita até a nossa volta. O delinear da ilha é bem convidativo, não via a hora de entrar numa praia de rio. Com a ressaca da festa do Çairé, que tinha acabado de terminar quando chegamos, apenas dois quiosques estavam funcionando. O suficiente para atender a todos que ainda estavam por lá. Foi o que pensamos a princípio.


A água da praia estava muito atrativa, não dava vontade de sair dela. Apesar de ser uma praia fluvial, havia ondas fracas, sem colocar medo. Eu me desliguei totalmente de vãs preocupações, como voltar de férias. Estava na vibe de vivenciar aquele momento. 

                                 Praia da Ilha do Amor

Apesar do estado de contemplação, tudo que é bom vira pouco, conforme os ditos populares faz questão de apregoar. Enquanto Juçara tomava seu banho de sol, incorporando (risos) a índia Iracema, leve e solta na beira da praia, estava dentro da água observando as pessoas ao redor, quando de repente vejo uma senhora saindo de sua mesa e de seu guarda sol com seus amigos e com a cara marrenta anda em direção à praia. Ela usava um chapéu imenso e hediondo. Olhando seu perfil, questionei como uma pessoa com um certo poder aquisitivo teria tanto mal gosto para ir a qualquer ligar com aquele chapéu. Ela entrou na água com um imenso bico de ornintorrinco, muito mal humorada. Aí meu sétimo sentido bixístico me alertou para prestar atenção nela, pois eu iria (risos) me divertir muito. Assim que ela decidiu ficar em ponto morto, feito uma pata choca na água, seu suposto marido entrou no rio e perguntou a ela se estava tudo bem. Foi a deixa para ela incorporar alguma personagem de (risos) “As bacantes”: “Lógico que não está tudo bem. Olha onde nós estamos! Que lugar é esse? Tudo me incomoda. Essa areia, esse ‘mar’. Esses bichos todos por aqui. Aqui não tem civilização.” Fiquei olhando para aquela cena e pensei que o marido dela realmente era um mártir. Por aguentar uma pessoa tão desprovida de sensibilidade. Só fiquei na dúvida em saber de quais bichos ela se referia. Pessoas desse tipo deveriam ficar trancadas em algum Sheraton da vida, convivendo com o mofo desses hotéis. Uma deselegante com PhD. Voltei pra areia para relatar a Juçara sobre o ocorrido. Ela estava sentada na barraca atrás da gente. Inconveniências sempre irão existir e pessoas como ela serão necessárias para compor a contradição de algo, no pior sentido da palavra. Uma pena ela não se sentir bem e à vontade de ver uma natureza daquelas estampando uma beleza tão única! Uma imbecil em potencial em não aproveitar aquele momento.
   


Mas nós aproveitamos e bastante a Ilha do Amor. Tomamos nossa caipirinha, pedimos um petisco. Ah! E tiramos boas fotos. Voltamos à cidade no meio da tarde para almoçarmos. Comemos um ótimo tambaqui, com uma guaraná Tuchaua para acompanhar.    

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Alter do Chão. Com o sol batendo na casa dos 40 graus, me recolhi para uma siesta, depois de Juçara e eu nos enfartarmos de tanto comer. Voltamos à pousada para tirar um cochilo. Como cheguei a relatar para o Diário, o nome da pousada que ficamos – Sombra do Cajueiro foi um dos critérios escolhidos para nossa hospedagem em Alter. Simples, mas extremamente aconchegante. Das pousadas que ficamos em nosso roteiro, foi o quarto que mais curti ficar. Ótima cama, ar condicionado funcionando sem excesso e sem falta. Wi-fi que funcionava no quarto, lista de lugares sugeridos  para você comer, além da sugestão de passeios e locais para se conhecer na região, algo que ficou devendo nas outras pousadas que ficamos. Fora o imenso cajueiro que ficava entre nossos quartos, exalando aquele cheiro de caju e oferecendo uma brisa boa em sua sombra.

Depois da cochilada, acordei para uma ducha. Já tinha combinado com Juçara de darmos uma volta por Alter para desbravar o lugar. Estava no pique de tirar fotos. Saímos da pousada e descemos reto em direção à praia. O sol já estava se pondo, quando chegamos para registrar aquele momento.

                                Fim de tarde em Alter do Chão

Fomos até a praça central, que fica em frente a orla do rio. Caminhamos por ela até dar fome. Voltamos para a praça e decidimos dar uma pinta no bar Arco Íris. Apesar do nome, não é um bar LGBT. O bar estava cheio, mas o esperto garçom já tinha nos visto e colocou uma mesa do lado de fora do bar. Ótima sacada dele, pois estava um fervo na rua. Sentamos e pedimos um suco de caju e um lanche. E bem relaxados, ficamos observando as pessoas ao redor. 


O clima estava propício para esvaziar a mente, quando chegou um mambembe, se apresentando às pessoas em voz alta, pedindo atenção de todos. Quando todos decidiram dar atenção ao moço, ele se apresentou como “artista” e começou a cantarolar. Só que depois de 10 segundos que começou a cantar, as pessoas perderam o interesse e voltaram à suas pautas de boteco. Eu fiz o mesmo, até porque estava inconveniente um som alto e ruim, se contrapondo com nossa agradável conversa. Quando o mambembe terminava de se apresentar, apenas um guapo de cabelos compridos aplaudia. Juçara achou que (risos) ele deveria ser o empresário do tal artista, já que só ele aplaudia. O guapo aplaudia de cara fechada, em ver a falta de vontade das pessoas em ouvir aquele barulho. Quer dizer, se o artista fosse bom, a situação seria outra, não é mesmo?


Vendo a reação das pessoas, o menino decidiu sair com dignidade, se despedindo e (risos) agradecendo a atenção. E nós aplaudimos por, até que enfim, ele ter parado de tocar. Quando tudo parecia ficar calmo, sem mais nenhum incômodo sonoro, eis que surge o guapo pedindo (risos) atenção de todos para sua “performance”. Pelo menos era mais interessante de se ver: pele morena, cabelos a la Jesus Cristo Superstar e falando em espanhol. Tinha pinta de neo hippie. Descobrimos depois com nossos ouvidos de tuberculoso que ele era da Venezuela e estava peregrinando pelo baixo Tapajós. Com a beleza em destaque resolvemos prestar atenção no moçoilo, até ele abrir a boca e gritar pra todo mundo ouvir: “Guantanameeera...” (risos). Quer dizer, demos atenção para o “artista” mostrar seu trabalho, pra ele começar seu repertório cantando algo tão previsível! Felizmente nossos lanches chegaram e continuamos nosso papo, sem perder o fio condutor da narrativa. Voltamos à pousada para guardarmos energia no dia seguinte.


terça-feira, 27 de outubro de 2015











Santarém – Alter do Chão. Eduardo atrasou um pouco, mas não se esqueceu de nós. Já estávamos no hall do hotel em que dormimos, antes de chegarmos ao nosso último destino cultural de nosso roteiro, Alter do Chão. Juçara e eu ficamos tagarelando os devaneios que soltamos em plena praia da Princesa, Algodoal. Incorporávamos nossos personagens antipáticos, criados para essa finalidade mesmo, quando trabalhávamos juntos no SESC Vila Mariana. Comentamos que iríamos (risos) pavimentar a areia da praia, para construção de um conglomerado de shoppings. E que (risos) os nativos só teriam direito a determinadNeja. Ah, e muito funk nos vários estabelecimentos que criaríamos na praia.  Pink, a persona de Jua parte na praia para diversão, se trabalhassem como (risos) mão de obra barata pra gente. E sem essa de carimbó, de cultural regional local. Traríamos para atrair público a (risos) nata da música SerTãoçara, reforçou que só entraria na sociedade se fosse para implantar vários (risos) MacDonald´s e Habib´s lá. Ainda bem que foi só um devaneio.


Eduardo chegou e já foi um gentleman conosco. Pegou nossas bagagens e nos convidou a entrar no carro. Me despedi de Beto, o rapaz que trabalhava no Açay Hotel e que me atendeu desde a primeira ligação. Muito atencioso. Mas adora procriar (risos). Tão novinho e já tem três filhas. Haja disposição pra cuidar das catarrentinhas.

                                   Ligue o play pra curtir a riqueza da cultura brasileira

A viagem foi rápida, levou 30 minutos. Eduardo é ótimo, adora papear. Uma simpatia. Nos falou das pequenas vilas nas beiras da estrada, em harmonia com a Mata que floreava nosso trajeto. Casado, pai de dois filhos, falou que era casado com Eliana, com quem eu falei para fechar os quartos em sua pousada. Nos perguntou como ficamos sabendo da pousada e eu comecei a viajar, dizendo que o nome dela tinha me conquistado desde o início. Eu realmente acho Pousada do Cajueiro um nome charmoso. Juçara contou a ele e a mim – pela enésima vez, sobre os filhos e o neto Joaquim. Mas Ju estava saudosa dos filhos. Sua filha Sofia estava num Congresso em Bogotá, na Colômbia. Isso me fez lembrar de algo que não escrevia aqui no Diário. No dia em que decidimos passar o dia para conhecer melhor a cidade de Salinas (rtxt), durante a caminhada pela Orla do Maçarico, tinham vários daqueles “orelhões” para telefonar. Juçara foi em (risos)  todos os orelhões para tentar falar com Sofia. Só que os orelhões não funcionavam. Juçara desencanava, mas quando ela avistava o próximo orelhão, ainda um pouco distante, ela cortava nossa conversa de forma abrupta quando chegava perto do aparelho. “Tudo bem, se não der pra falar com a Sofia, sem problemas. Então, sobre o que falávamos, também acho que estamos vivendo um período de intensa crise e daqui pra frente..........." (risos)...ficava aquele hiato. Ela já cortava, andando de forma apressada até o telefone pra tentar mais uma vez. As pessoas que passavam por nós, achavam que tínhamos algum TOC, com certeza.



Eduardo nos deu algumas dicas de passeio, do que fazer pela região de Alter. Tinha um que eu queria fazer muito, mas para chegar no local, dentro da floresta, teria que fazer uma caminhada de três horas e meia. Tive que declinar por conta da cirurgia. Mas também não encanei sobre o que fazer. Estávamos bem desacelerados.


Quando entramos no distrito, vi que o lugar era menos rústico do que eu visualizava. Deduzi que talvez fosse porque demorei muito para conhecer. Eduardo passou pela praça, referência do centrinho de Alter. Já nos falou de lugares para almoçarmos. Deu mais uma volta para nos mostrar a Praia do Cajueiro e outra praia onde tinha o porto de Alter. Já me deu aquela vontade de sair do carro para fotografar. Mas como o sol estava “quente de rachar mamona”, decidimos descansar um pouco na pousada. Assim que chegamos, já avistamos o cajueiro lindo nos dando as boas vindas. Eduardo nos deu as chaves, os quartos 2 e 4. Perguntei para Juçara qual ela queria e ela jaó foi gulosa dizendo que queria ficar no 4. Peguei o número 2 pra mim e foi pura sorte: no meu tinha, parafraseando (risos) “Robertão”, uma bela “rede preguiçosa pra deitar”.  Foi o convite para tirar uma boa soneca, depois que almoçamos um divino surubim frito, com uma porção de bolinho de piracuí, para abrir as mesas de trabalho em Alter. A tarde caía como luva para curtirmos muita preguiça.


sexta-feira, 23 de outubro de 2015


Santarém. Para não ficarmos naquela sensação de termos aproveitado pouco, fomos novamente até o Centro Cultural João Fona. Nossas preces foram ouvidas. Pegamos o ônibus, descemos na praça e o museu estava aberto. Entramos para contemplarmos um pouco a arquitetura do lugar. E conhecer um pouco da história e memória cultural da cidade. A sala central possui quadros de todos os prefeitos da cidade, desde os primórdios da república velha, com seus hábeis coronéis. Notamos que havia uma mulher que administrou a cidade nos anos 40 – algo ousado para a época. Enquanto Juçara adentrava a sala das relíquias de escultura de Santarém, fui conhecer a parte mais contemporânea, com pinturas de artistas mais recentes da cultura local.  Nunca vi tanta natureza morta concentrada num só lugar. Já acho um porre ter que apreciar natureza morta. E pra ajudar, as obras eram de muito mal gosto, não dava pra salvar nenhum artista desse Juízo Final Pós-Moderno.

                                   Foto da cidade antiga de Santarém

Quando entrei na sala das relíquias e esculturas, entrou uma monitora que prontamente foi educada. E só. Comecei a perguntar sobre as pedras, de que época era e ela não sabia responder. Para mim, um tremendo deslize de quem quer trabalhar em museu. Eu até não incomodaria se tivesse nas placas de informação pelo menos o ano em que elas foram encontradas. Perguntei sobre quais povos foram responsáveis na criação dos vasos e ânforas expostas e a defunta cultural não soube me responder. Fiquei olhando ela com cara de merda e ela veio com a desculpa, colocando a mãozinha meio defeituosa na testa e se justificando que ela estava com a “cabeça variada” pois tinha feito “o concurso da Basa” no dia anterior (Basa é um banco do Estado do Pará). Que justificativa mais furada. E eu com isso? Juçara chegou no momento e leu meu pensamento, quando disse para a monitora que num centro cultural é primordial ter o ano das peças de exposição. A "cabeça variada" deu um sorriso amarelo, de quem tinha se lambuzado do caldo do tacacá. Para tentar compensar sua falta de atenção, nos levou a uma sala, dentro do centro cultural, onde está ambientada a sala do prefeito da cidade. Vários prefeitos cumpriam a gestão nessa sala. Nos contou que um dos prefeitos foi assassinado e naquela sala. Falou que a sala tinha acabado de passar por uma restauração e os pisos tiveram que ser retirados. Segundo a defunta, ainda há sangue do prefeito assassinado embaixo do piso. Juçara olhou para mim com aquela cara de (risos) “vamos cair fora”.


Assim que saímos da sala mal assombrada, paramos para tirar algumas fotos. E aí veio mais um deslize dos funcionários que realmente não sabem zelar por um patrimônio cultural. Alguém ou alguns deixaram uma porta aberta, com restos de café da manhã, baldes e vassouras. Essa sala ficava num ponto muito visível de qualquer lugar que você estivesse, dentro do museu. Juçara deu um toque, de forma bem (risos) cartesiana que achava muito deselegante a vassoura e o balde ficarem ali obstruindo passagem e a visão do belo lugar. A monitora deu um sorrisinho e concordou. Só que a defunta mor do baixo Tapajós não fez nada. Quer dizer, se eu fosse essa distinta, iria imediatamente retirar o que estava atrapalhando o visual e fecharia a porta, certo? Ela não fez nada, ficou estática feito um Aracu. Realmente, eu não dou conta de gente lerda.


Pegamos o ônibus de volta ao hotel. Recebi um whats de Eliana, dona da pousada Sombra do Cajueiro, avisando que seu marido Eduardo atrasaria um pouco para nos pegar no hotel. Mas nosso tempo era outro. Aliás, o tempo para nós, nem existia.  

quinta-feira, 22 de outubro de 2015


Santarém. Se o inferno tivesse um nome, por ironia do destino, se chamaria Santarém. Fiquei impressionado com a panela de pressão que as pessoas vivem na cidade. Como agradeci a Deus em ter um potente ar condicionado no quarto. Juçara e eu ficamos hospedados no Hotel Açay. Na verdade, Santarém foi uma escolha no roteiro por pura logística. A idéia inicial era ficarmos 5 dias em Alter do Chão, mas a pousada que fechei só tinha disponibilidade para 4 dias. Como as boas pousadas de Alter estavam todas ocupadas, e eu já tinha comprado a passagem Belém-Santarém jurando que iria conseguir fechar Alter por completo, não tive escolha em ficar um dia em Santarém.


Quando chegamos no hotel de madrugada, com a temperatura na casa dos 30º,  só pensávamos em dormir para aproveitar o dia. Acho que o gerente que fez as nossas reservas devia estar um pouco de mal humor, pois ficamos em andares diferentes: eu fiquei no 4º andar, com direito a uma sacada e Juçara ficou no 5º andar, com uma vista melhor que a minha. Dormimos, para levantarmos às 8h. Cheguei primeiro para tomar café e pedi para a recepcionista chamar Ju. O serviço de café estava muito bom, com tudo que tínhamos direito. E se quiséssemos, poderíamos pedir tapioca feita na hora. Estava uma delícia curtir preguiça, sem pensar em nada, em ninguém, curtindo um certo silêncio. Sim, para mim em algum momento do dia, silêncio é essencial. Acho sadio, principalmente para você não se incomodar ou se irritar com o outro. Imaginei, em algum momento do café, que Ju poderia achar estranho esse tipo de comportamento, mas não dei tanta bola. Até porque Juçara é uma camaleoa nata. Se adapta fácil ao habitat do momento.

Fui ao quarto para me banhar em protetor. Todos possíveis. Não sei que louca que me deu em querer passear num calor daqueles. Chegando à recepção, encontrei Beto, com quem tinha conversado e fechado nossa estadia. Ele nasceu no Sul, mas não me lembro onde. Veio para Santarém por causa de uma mulher e acabou se casando. O que uma “chave de buça” não faz, não? Perguntei a ele quais eram os atrativos que a cidade oferecia e ele nos falou que naquele momento, só haveria a orla de interessante e o mirante da cidade. Dei uma olhada na Trip Advisor e vi uns Museus que queria conhecer. Assim que saímos do hotel, aquele vapor barato de calor insuportável. Levei em minha bolsa protetor e fiquei passando toda a hora, para não perder o bronze que peguei em Salinas. Uma funcionária saiu junto conosco e nos explicou onde era o ponto. Assim que atravessamos a avenida, chegava uma linha de ônibus, que nos levaria até a orla. E o motorista foi amável, nos esperou enquanto chegávamos do outro lado da avenida.

Depois de uns 10 minutos, descemos numa praça. Sem verde nenhum, sem nenhum cuidado. A Casa de Cultura João Fona – uma das dicas da Trip, estava fechada. Como assim, em pleno domingo, numa cidade de 300 mil pessoas e o Museu fechado? Sem ter muito que fazer, caminhamos até o Mirante. Uma vista bacana do rio Tapajós. Quando chegamos no Mirante, depois de se ter subido uma epopeia de escadas, tinha um menino que estava lá tirando foto. Quando o vi, disse “Bom dia” e ele me olhou e não me respondeu. Deve ter se assustado (risos) com a fauna que acabava de chegar. Novamente desejei bom dia e ele me respondeu. Enquanto contemplávamos a paisagem, outro bofe subira até o Mirante e Juçara demonstrou insegurança no momento. Quer dizer, acho que ela pensou que seríamos violentados pelos dois, mas o que me incomodou foi o fato dela não ter disfarçado muito o seu medo. O bofe sacou que ela teve medo. Aí eu fiz a linha “To 10 pra ficar louca” e disse para Juçara descer comigo. Mas precisei ficar em silêncio e ignorá-la um pouco, pois tinha achado uma indelicadeza da parte dela desconfiar do moço, que queria apenas tirar uma foto. Pausa para retocar o make up.


Passamos num bar, compramos água. Ah, e guaraná Tuchaua, típico refrigerante do Pará. Paramos numa Igreja com uma árvores tortas, mas que contrastou super bem com a igreja para tirar fotos. Andamos mais um pouco até chegarmos numa espécie de point de pescaria onde vimos vários bofes se divertindo, pegando peixes. Demos um pouco de pinta e decidimos voltar para nosso ponto de chegada. Dei uma olhada em alguma indicação de restaurante e para nossa sorte, a poucos metros de onde estávamos, ficava o restaurante Piracema. E o sol nos transformando em ceras. A fome chegou junto com nossa chegada. Entramos, nos alojamos e ficamos analisando a decoração do lugar. E uma matuta santista apareceu de manso para colocar sua voz instigante em ação, na programação musical do restaurante.


Pedimos de entrada croquetes de aviú com geleia de cupuaçu picante. Enquanto a gente tricotava, uma mulher nos observava querendo pegar amizade fácil. Quando elogiei o set list de músicas que estava tocando, ela entrou no papo concordando. Seu nome é Marilena e tinha acabado de se mudar para Santarém. Ela é de Campinas. Sua filha tinha sido transferida para trabalhar em Altamira – cidade que eu chamo carinhosamente de “Terra de Ninguém”. Marilena estava com a filha e seu neto – bem gordo pra idade dele, por sinal, mas simpático. Estavam pagando a conta e nos despedimos. Depois da entrada, para nos enfartarmos de vez, costela no tambaqui com crips de jambu, com tudo que tínhamos direito. E tudo muito bem acompanhado de uma bela caipirinha.

Comemos, pagamos, pedimos para chamar um táxi. Não demorou muito para chegar. Quando entramos, pedi para ele deixar o ar condicionado ligado no turbo hi fi plus advantage. Um menino absurdamente lindo. Seria um ótimo modelo se quisesse.

À noite, um presente para brindar a vibe boa da viagem: a visão imponente da super lua, meio eclipsada e beeeem vermelha. Fiquei com os pêlos de meu corpo em riste, tamanha a energia que estava radiando naquele momento. Que sorte não ter tido ninguém por perto para devorar (risos). Me contentei em ver, da vista do hotel, algumas putas, na beira da estrada, ralando para garantir o pão suado de cada dia.


segunda-feira, 19 de outubro de 2015



 Salinas – Belém – Santarém. Acordamos para seguir viagem, rumo à Belém. Tomamos nosso café e nos encontramos com o dono da pousada, Benivaldo. Na verdade, tínhamos nos visto na noite anterior, quando saímos para jantar. Toda prole de Benivaldo reunida na mesa, jantando. Me senti como se estivesse no seriado da Família Waltons (risos). Foi muito educado, nos perguntou sobre Algodoal e respondemos que tínhamos amado o lugar. Estava com muita preguiça para bater perna e dar uma volta. Ficamos na pousada até o momento de partir. Ruth, mulher de Benivaldo, pediu para seu filho Ramón nos levar até a rodoviária. Ramón é um encanto, nos levou em sua caminhonete. Tem um sotaque bem malemolente, além de ser um menino agradável. É hábito de quem mora no Pará chamar seus pais de “mamãe” e “papai”. Dependendo do assunto que conversávamos, ele sempre colocava esse tom carinhoso “Mamãe gosta muito de morar aqui” ou “Acho que papai não voltaria para Belém, não.” Nos deixou na rodoviária, desejou “tudo de bom” pra nós. Perfeito pra casar (risos).


Durante a viagem de ônibus, ficamos nos lembrando dos nomes peculiares que as pessoas colocam em seus estabelecimentos comerciais. Como, por exemplo, a farmácia “Deus é bom Pai” (risos). E também o açougue “Estouro da boiada” (risos). Para ilustrar a conversa, o motorista sintonizou um programa de rádio de remixagens de música brega. E o locutor gritando que a “sequencia de remix era do suuuuuper DJ Junior Considerado”. Considerado um porre. Vontade de ter um balde naquele momento. Para eu vomitar dentro. Depois melhorou um pouco: o motorista colocou um pen drive alternando música ruim com música boa. Tinha até Laura Branigan no set list dele. Bem surreal para o momento.


A viagem durou 3 horas. Ficamos alternando entre cochilar e observar a paisagem externa. Chegamos muito cansados na rodoviária.  Tentei falar com Jorge Mendes, pois tínhamos combinado de jantarmos em Belém, antes de embarcarmos. Não consegui falar com ele, desencanei e fomos para o aeroporto. Ficamos aguardando alguém da TAM chegar para fazer o check in, mas me informaram que o despacho seria a partir das 22 horas. Jantamos, vimos o jornal, a novela da Joana Emanuela e nos dirigimos ao check in. Embarcamos à 1h30 com destino à Santarém. Chegamos por volta de 2h15 da madruga. O aeroporto parecia Damasco bombardeada, uma zona. Perguntei a um funcionário se tinha táxi e ele foi muito atencioso em nos levar até um. Em plena madrugada e a temperatura em Santarém estava em 30º. Chegamos no Hotel Açay. Fui para meu quarto, tomei uma bela ducha e tombei feito um corpo do IML na cama. Mas super ansioso para chegarmos em Alter do Chão, último atrativo em nosso roteiro cultural.




quinta-feira, 15 de outubro de 2015



Salinas. Como fomos na baixa temporada, Salinas não teve muitos atrativos. Lógico que cheguei a essa conclusão apenas quando deixamos a cidade. Três dias seriam perfeitos para aproveitá-la, já que muita coisa não abre por não ter tanto turista. Fiquei sabendo de passeios incríveis, em praias mais distantes, mas não tive a oportunidade de ir. Não só pela falta de gente, mas a maré baixa também não ajudou.

Tivemos que readequar um pouco o roteiro. Enquanto tomávamos café, decidimos abrir mão de irmos à praia. A ideia era desbravar melhor a cidade. O que me deu o “clique” para pensar nessa possibilidade foi no dia que fomos jantar no restaurante Praiano, quando chegamos de viagem. Quando pedimos a conta, aproveitamos e pedimos que o restaurante chamasse um táxi para nos levar de volta à pousada. Por sorte, tinha um senhor que estava com a família terminando de degustar uma pizza e se ofereceu a nos levar. Porém, como diz a minha avó, o carro era “puxado” de se usar. O banco estava rasgado e o vidro da porta não subia. Pra ajudar, fui na frente com o taxista, que parecia que tinha cheirado pó. Fora que ele ficava com um tic nervoso na boca. E ainda por cima, o coitado ruminava (risos). No rádio, aquele som brega eletrônico. E eu me perguntando mentalmente “cadê o meu rivotril”. Sorte que Juçara deu atenção a ele. Fiquei observando a arquitetura das casas, totalmente inspiradas nos anos 50. Sugeri então de passarmos pelas outras praias e tirarmos fotos da cidade. Batido o martelo, nos aprontamos para pegar o ônibus.


Enquanto saíamos do quarto em direção ao portão de entrada da pousada, não me atentei ao tremendo mal gosto do designer de obras que projetou o espaço. A pousada nada mais é que um grande casarão. Os quartos da pousada eram realmente bons, isso eu não posso reclamar. Mas assim que observei melhor o alpendre, o cartão postal de visitas do lugar, tive uma crise de riso. Eles colocaram uma espécie de grama para contrabalancear com o concreto do lugar (isso ok). Mas, em contrapartida, decidiriam (risos) colocar bichos em forma de escultura para ter uma ambientação de uma fazenda (Eles não colocaram à toa o nome da pousada de Fazendinha). Mas fiquei pensando que o tal designer tem problemas sérios de espacialidade. Ele fez a vaca (risos) menor que os cães. Será que mal gosto é algo realmente inserido na cultura paraense? 


Pegamos o ônibus e fomos até a Orla do Maçarico. Vi umas casas antigas lindas e tirei fotos. Entramos por um acesso até a praia do Maçarico. Uma praia selvagem, sem estrutura, como a de Atalaia. Vimos uns garotos se arrumando para fazer kite surf, estavam se aprontando para entrar na água. Tirei fotos de umas formações rochosas interessantes e do hotel de Salinópolis. Caminhamos até a praia da Corvina. Para entrar tivemos que passar por uma passarela construída pela atual administração municipal. Como é baixa temporada, a praia também estava vazia. Areia extensa. Ficamos um pouco por lá para tomar um sol.


                                                              Farol de Salinas

Voltamos à cidade e passamos pelo Farol, um dos ponto turísticos de Salinas. Tirei fotos, mas já estávamos um pouco cansados e decidimos almoçar.  Pausa no restaurante O Casimirão. Trip Advisor, ativar.

Juçara estava de bode por estar comendo apenas peixe a ela sugeriu que pedíssemos outra coisa. Quando viajo para qualquer região do Nordeste e, no caso, região Norte, não tenho problema algum em ficar comendo apenas peixe, mas perguntei  que outra coisa ela sugeriria comer, apesar de ficar preocupado com outra coisa. Ju sugeriu que comêssemos carne de sol. Apesar de achar um prato um pouco over para um dia de sol e clima abafado, concordei em pedirmos um prato para duas pessoas (Carne de sol com tutu paraense e macaxeira para duas pessoas: R$77). O prato deixou a desejar.


Esperamos o sol dar uma abaixada para conhecermos a arquitetura do lugar. E que bom gosto, afinal, eu via. Pra começar, a cidade não possui prédios altos, devido a uma lei de preservação que proíbe que a cidade construa aberrações que costumamos ver em qualquer capital ou cidade de médio porte. Ponto para Salinas. As casas possuem uma certa semelhança entre elas, e ao mesmo tempo cada uma possui sua identidade. Passamos por uma igrejinha antiga, mas estava fechada. Ficamos escutando o som de alguns instrumentos de sopro e fomos atrás do lugar que estava tocando a melodia. Em frente à igreja, uma escola de música onde os alunos estavam estudando do lado de fora da escola. Surpreendente e poético.




Continuamos a caminhada até uma rua com uma vista linda da cidade, tendo a praia como protagonista do visual. Ficamos um pouco por lá, contemplando a vista que nos cercava. Vimos estudantes de escola uniformizados. Fazia tempo que não via uma turma de escola à caráter. Nos lembramos da fonte de Caranã e caminhamos até lá. Vimos a fonte e tomamos de sua água. Depois desse tour, voltamos à pousada.

Assim que chegamos, acessei o wifi da pousada para checar mensagens, facebook e instagram. E aí chegou o purgante com açaí do Gabriel para chamar atenção.  Ele chegava todo animado para querer estabelecer uma conexão, mas eu não dava a mínima bola. Quer dizer, não dava bola porque ele devia ter algum problema de dicção porque eu não entendia absolutamente nada do que ele falava. Eu apenas concordava com a cabeça com todos os grunhidos que ele dava. Um (risos) autêntico curumim de Parintins.



   

quarta-feira, 14 de outubro de 2015



Salinas. No último dia de diversão em Salinas, fiquei sabendo de um lugar que tinham me indicado a conhecer e que eu não me arrependeria: a Vila de Cuiarana. É uma vila de pescadores, como toda cidade praiana brejeira possui. Ficamos na porta aguardando algum ônibus para lá. A família de Manaus que também estava hospedada na “Fazendinha” iria também pegar o ônibus, mas para ir para a praia do Atalaia. Elas queriam pegar amizade fácil, mas não estava disposto. Juçara foi mais simpática e estreitou a relação. Estava a mãe, sua filha e seu neto – o tal Gabriel. O menino era um pentelho de chato. Nos dias anteriores quando chegávamos da praia, ele vinha correndo para conversar com a gente. Durante o café da manhã ele veio e sentou conosco à mesa. Ele voou em nossa melancia. A avó, uma mulher bem larga de folgada fazia a linha “Não pega Gabriel”, mas sem esforço. Resumindo, uma família açaí com purgante.~


  
Elas nos perguntaram se iríamos para o Atalaia e eu sorri dizendo que “não” (risos). O ônibus chegou e nos despedimos. Enquanto isso, Juçara estranhou a demora do ônibus para Cuiarana, quando um jovem maranhense parou o carro e perguntou “para onde vão?”. Só que ele jurava que falaríamos Atalaia. Quando dissemos Cuiarana, ele fez uma tremenda cara de desânimo. Aí ele disse “R$20 a corrida”. Entramos e ele nos levou até lá. Viemos conversando e ele, pra variar, nos contou toda sua história sofrida de vida. Dei um play mental no foda-se até que a conversa caiu para o assunto política. Impressionante ver pessoas que ganharam poder aquisitivo na era Lula e agora estarem contra o governo. Eu acho ótimo pra provar ao PT que as pessoas não só ganharam poder aquisitivo como aprenderam a pensar, mesmo que pouco.  Nos falou que trabalhou em empreiteiras e viu a corrupção gritar na sua frente. Ele foi bem crítico ao governo da Vilma.



Quando chegamos em Cuiarana, a decepção bateu na porta do carro e disse: não tem lazer. Beijoooos (risos). Acho que foi praga da amazonense. O motorista chegou a perguntar num boteco se tinha algum passeio ou estrutura para os “turistas” aproveitarem. A menina, com aquela peculiar feição de semende de bucha – popularmente conhecida como aquela cara de “hã”? não soube nos responder. Fiquei impressionado o quanto as pessoas em Salinas não sabem de absolutamente nada. Acho que é por isso que há tantas igrejas da Assembléia de Deus proliferando por lá. A lavagem cerebral fica bem mais fácil. Passamos pelo restaurante Marujos, que meu amigo Jorge Mendes, de Belém, tinha recomendado, mas estava fechado. Essa é uma das desvantagens de se conhecer uma cidade de porte pequeno na baixa temporada: muita coisa não funciona. Ficam em processo de hibernação.



Não nos restava outra alternativa a não ser de irmos no Atalaia. O moço nos deixou, pagamos R$ 40 pela corrida. Ele nos deixou dentro da praia, literalmente. É hábito deles. Naldo, o garçom que já tinha nos atendido nos viu e montou nossa mesa com guarda sol e cadeiras. Ao nosso lado, um grupo de Belém com seu carro aberto e aquele som bafônico de mal gosto. E para terminar com chave de ouro e não podia faltar para completar nosso dia: a família amazonense estava bem perto da gente.

Tomei um pouco de sol e decidi ir fazer a simpática para as amazonenses , afinal estava de férias, desacelerado e não tinha motivo algum para ser deselegante. Mas deveria ter ficado no meu lugar. A "Miss Asilo Partintins" nos usou como terapeutas, contando sua vida sofrida e a vida sofrida de sua filha, que já é viúva. Ela não parava de falar. Aí acabei fazendo aquela cara de paisagem da Disneylândia: você olha, fica sorrindo o tempo todo fingindo prestar atenção na conversa, mas seus olhos se direcionam para coisas mais interessantes de se ver. Santo óculos de sol.


Ficamos até às 15h, nos arrumamos e pegamos o ônibus de volta à pousada. Descansamos um pouco até o cair da noite, quando nos arrumamos para jantar na Orla do Maçarico. Em torno da pousada, muitas igrejas evangélicas com aquelas pastoras que não falam português direito esbravejando em nome de Deus e cantando muito mal. Nessas horas, pensei em rezar um terço por elas. Para perderem a voz. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015


Estávamos ansiosos em saber o que nos aguardava em Salinas. O nome da cidade na verdade é Salinópolis, mas tanto os moradores quanto os turistas já absorveram a forma mais popular de divulgar o lugar. Como estávamos muito cansados com a viagem, no dia anterior, saímos apenas para jantar. Dei um google na Trip Advisor e fomos comer no Praiano, que fica na famosa Orla do Maçarico, um dos points mais badalados de Salinas. Badalado até a página dois. Quer dizer, na alta temporada ou feriados. Ficamos em frente à pousada para pegarmos um táxi, só que não passava nenhum. A pousada fica logo no trevo da entrada de Salinas, na avenida principal. Eu não tinha ideia de como era distante do centro da cidade. Depois de 10 minutos aguardando, um carro parou em nossa frente e perguntou onde iríamos. E não era nenhum taxista. Aí eu disse que queria ir na Orla do Maçarico. Ele então nos respondeu “Faço R$3 por cabeça” (risos). O distinto ser atendeu pelo nome de Alberto, um cara muito simpático. Nos levou até a orla, mas antes fez questão de fazer um tour conosco,  nos levando nos principais pontos turísticos da cidade: o Farol de Salinas e a fonte de Caranã. Falou com orgulho dessa fonte, porque lá existe de fato uma fonte de água potável e os moradores aproveitam para utilizar a água. E pensar que São Paulo está pigarreando pela falta dela.


São quatro praias que desenham o mapa da cidade. Decidimos ir então até a praia de Atalaia, a mais pop de Salinas. Como não tínhamos idéia da distância, perguntamos para Mathias, o caseiro da pousada como se fazia para chegar. Quer dizer, se a pousada se chama Fazendinha, então é um caseiro que administra, não? (risos).  Nos falou que poderíamos pegar um ônibus e antes que eu perguntasse onde ficava o ponto, ele respondeu que poderíamos aguardar em frente a pousada, para sinalizarmos para o ônibus parar. Essas são as vantagens de morar em uma cidade pequena. Um micro ônibus passou, Juçara sinalizou e entramos, em direção a Atalaia (ônibus R$2,50).

Apesar de se ter um sutil charme, Atalaia tem uma característica mais pop, diferente das praias de Algodoal, cheia de barracas. Me lembrou das praias em Sergipe, com uma areia extensa até chegar ao mar. Apesar de alguns buracos formados pela própria areia, é uma praia de água tranquila e bem quente. Uma delícia para se banhar. O ônibus nos deixou na entrada da praia. Assim que descemos, vimos os garçons desses quiosques pousando como urubus em cima da gente. Fomos abordados por Naldo, da barraca Verde & Mar. Veio com aquele 171 fajuto, mas queria logo me jogar numa cadeira de praia e tomar um sol. Comentei com Juçara que Naldo tinha uma textura de quem tem neca pesada. Nos jogamos no sol e aproveitamos o dia. Passei todos os protetores necessários para não queimar minha pele. Vim com o kit completo (risos): protetor solar corporal, labial, para cabelos e facial.

                              Praia do Atalaia


Não pude deixar de perceber um costume típico dos paraenses: enquanto colocávamos os protetores, vi vários carros entrando na praia. Achamos aquilo um absurdo, mas depois me lembrei que o dono da pousada onde ficamos colocou uma foto no seu whatsapp da praia lotada, com os carros empilhados um ao lado do outro. Um autêntico comboio de 4 rodas. Acredito que ele deva ter tirado em época de alta temporada. Sorte a nossa de estarmos na baixa. Os paraenses possuem hábitos sofríveis de engolir. Apesar da praia não ter me inspirado tanto como Algodoal, tirei boas fotos e depois me joguei na leitura. O dia passou de forma lenta, como queríamos. Tomamos refrigerantes, mas apenas os típicos da região, já que o Estado é produtor de guaraná. Pedimos um refri Cerpa e depois nos deliciamos com um peixe ao molho de camarão. 

quinta-feira, 8 de outubro de 2015


Algodoal - Marudá - Castanhal - Salinas. Acordamos com muita preguiça, mas sem ter o que reclamar. Algodoal deixava uma linda impressão de um lugar onde não se precisa ter muito para ser feliz. E pensar que muitas vezes reclamamos por tão pouco. Tomamos nosso café, acertamos com Sávio e ficamos na recepção aguardando nosso carregador, Alexandre. Juçara acertou o restante que estávamos devendo (diária: R$96 por pessoa, cada uma em seu quarto). Alexandre apareceu meia hora adiantado para levar nossas bagagens. Esqueci de mencionar que Alexandre tem um apelido na vila - Passarinho. Passarinho tinha passado pela pousada um dia antes para confirmar nosso horário e acabamos batendo um bom papo. Ele tinha acabado de sair da Igreja do Evangelho Quadrangular, onde segundo ele,  “atua” (risos) como cantor. Estava uma graça. Me fez algumas perguntas curiosas e respondi a todas. Por um instante, ficamos nos olhando e nos comendo com os olhos, mas num rápido ato reflexo, comentei com ele que também já tinha participado de grupo de jovens da Renovação Carismática. Ele me olhou com um olhar estranho, mas ao mesmo tempo ficou feliz com a informação. Eu realmente não sei dizer o que me fez jogar essa notícia, mas senti que não deveria ficar expondo ele e nem a mim. Quando falei que já tinha freqüentado uma Igreja, ele abriu seu coração, dizendo que (risos) "se prostituía com outros homens". Lavagem cerebral no seu melhor estilo.


Chegamos no porto e ficamos aguardando nosso barco. Aí vimos que os “downtons abbeys do brejo” iriam embarcar no mesmo barco (te ajudo a descobrir quem são: http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/09/o-dia-amanheceu-com-um-sol-lindoe.html). Ficamos sentados olhando a bela paisagem de Algodoal e já sentindo saudades da atmosfera do lugar. Vimos Frank chegar, mas ele não quis se aproximar. Timidez típica de um brejeiro morador da vila.  O barco chegou atrasado. Entramos para pegar lugares bons. Passarinho deixou nossas bagagens e se despediu. À medida que o barco se distanciava da Ilha, meu coração se apertava, já com muita saudade desse belo repouso da alma.


Durante a caminhada do barco até Marudá, Juçara teve enjôos. Joguei um pouco de água fria em sua nuca para ver se passava. Melhorou assim que chegamos no porto. Comprei uma água de côco para mim e uma coca-cola para ela. Mandei um torpedo para Nelyssa, a taxista,  avisando que estávamos em terra firme. Ela já estava por lá nos esperando.

De Marudá até Castanhal, cidade onde pegaríamos a van até Salinas foi uma viagem rápida (serviço de transfer: R$160). Nelyssa é muito agradável. Viemos conversando sobre vários assuntos. Tem dois filhos que moram em Belém. Tem orgulho em dizer que se desdobrou pela educação deles. Perguntei se ela tinha alguma religião, pois senti uma proliferação gigantesca de igrejas evangélicas pela região. Ela nos falou que faz parte da Assembléia de Deus e aí eu pensei “É, ela é quase perfeita” (risos). Decidi provocá-la e perguntei o que ela achava do Silas Malafaia. E aí veio a surpresa.  Nos confidenciou que não possui TV, não costuma entrar em internet e não saberia me responder sobre o dileto pastor. Não gosta de ficar informada para não ficar mais descrente no mundo. Mas com o que tinha de informações a respeito dele, acha que Malafaia abusa do poder que ele acha que tem. Apesar de ser da Igreja, ela é ciente que Deus olha o coração dela, portanto, não se abate com as regras impostas pela sua fé, como por exemplo, de mulheres usarem apenas saias. Ela inclusive estava de calça jeans dirigindo seu táxi. Também não está interessada em ter nenhum outro homem em sua vida. Segundo ela, o povo de Marudá acha que Nelyssa adora “amassar um Bombril”.


Como estávamos com fome, fizemos um pit stop na estrada no Ponto do Queijo. Nelyssa nos levou para comer a melhor coxinha feita com massa de macaxeira. Testado e aprovado por mim e Juçara. O curioso é que a coxinha no Pará pode ter recheio de vários sabores. Tive, por exemplo que pedir uma coxinha “sabor de frango”.

Nelyssa nos deixou num posto em frente a rodoviária de Castanhal. Ela já tinha avistado a van para Salinas. Descemos rapidamente, pegamos contato e nos despedimos. Não tivemos tempo para dar uma descansada. Entramos na van para chegarmos até Salinas (van para Salinas: R$20).

Como a van estava cheia, Juçara e eu fomos para o banco da frente, ao lado do motorista. Ju olhou pra mim e disse “Que bacana viajar aqui na frente, não”? Traduzindo para o modo Juçara de ser “Não acredito que a gente veio sentar neste lugar”(risos). A estrada de pista simples nos deu alguns momentos de diversão. Tinha vários outdoors de roupas íntimas, de um mal gosto tremendo, não só pelas vestimentas em si, como as poses das “modelos”. Nos perguntamos se faziam parte de promoção de uma loja de apelo popular que vimos em Castanhal com um nome, digamos, “original” para o nível do lugar: "Xepão" (risos). Ficamos rindo de todos os outdoors que passavam por nós, quando avistamos um digno de um filme pornô soft: um casal usando apenas calça jeans, o bofe deitado, com um dos braços apoiando sua cabeça, fazendo uma pose deus grego e a menina (risos) cavalgando em cima dele. E sem sutiã. Em (risos) plena estrada. Acredito que seu book de modelo vai fazer sucesso. Em algum bordel de Belém. Eu não queria estar na pele dela.


Depois de 3 horas e meia, vendo cidades à beira da estrada, avistamos a placa de Salinas, aliviados. Mas esse alívio nos fez esquecer de avusar o motorista para nos deixar próximos à pousada que iríamos ficar. Acabou nos deixando num posto de táxi, que nos deixou na Pousada Fazendinha (táxi: R$20)

E até que enfim, vimos uma filha do Pará que não poderíamos deixar de esquecer e prestigiar. Que sorte que ela não estava fazendo pornô soft no outdoor.


quarta-feira, 7 de outubro de 2015


Estávamos apaixonados por Algodoal. Uma vila pacata, bucólica, sem carros, sem preocupação com a vida. Chegamos para tomar nosso café, os primeiros a chegar, mas a mesa não estava totalmente preparada. Sávio foi às pressas para a cozinha para tentar se virar com o que tinha, mas Baiana chegou para montar o restante da mesa. Coisas de cidade pequena. Conversamos sobre as impressões que Algodoal estava nos deixando e acompanhando a chegada dos outros hóspedes para o coffee break. Nos atentamos à duas pessoas que não tínhamos visto no dia anterior. Não quiseram se entrosar com ninguém. Ela estava vestida de forma um tanto ousada para o momento. Digamos que ela parecesse uma prostituta sudanesa. Batom vermelho intenso, shortinho de rendinha enfiado no rêgo e um topzinho bem justinho. Ele eu resumo em apenas uma palavra: monstro. Até que (risos) eles formavam um belo “casal”.


Nos aprontamos e fomos em direção a Ouro Velho. Fizemos a mesma caminhada até a Praia da Princesa, atravessamos a praia toda até chegar ao nosso destino. Quando entramos na Princesa, vimos o casal que conhecemos dias antes, quando fomos curtir o primeiro dia de praia, Solange e Mateus. Tinham uma barraca logo no começo da praia da Princesa. Durante o nosso papo, fiquei curioso em saber que livro ela estava lendo. Era um livro sobre psicologia e ela nos contou que estava com um projeto de contação de histórias para crianças da Ilha. Ficamos felizes com a iniciativa dela. Ficamos de doar alguns livros.
  
 Durante o trajeto pelas barracas na Princesa, um homem rústico e simpático nos parou perguntando se queríamos ficar por lá. Perguntei a ele se tinha cadeira de sol e respondeu positivamente. Disse que ia caminhar mais um pouco e pensar a respeito. Quando chegamos em Ouro Velho vimos que nada mais era que uma praia selvagem, extensa com um mar bem revolto. Me lembro de Frank ter nos dito que caminhando por toda Ouro Velho chegaríamos à Praia de Fortalezinha (Se quiser saber quem é Frank, entre no texto para conhecer essa doçura de pessoa - http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/09/o-dia-amanheceu-com-um-sol-lindoe.html ). Demos uma pinta, tiramos poucas fotos e resolvemos voltar à Praia da Princesa. Escolhemos a barraca do ser rústico que tinha nos abordado com um som de radiola, pra variar, mas isso não nos incomodava. Estava feliz em ver que na Ilha de Algodoal, havia uma harmonia musical que conversava com a identidade cultural do lugar. Depois de algum tempo, o repertório mudou drasticamente e um arco íris musical se formou pela praia.


E quando se pensava que nossa alegria poderia durar pouco, a boa vibe da música pop continuou a dar suas cartas. Vimos nosso estimado atendente fumando uma marijuana, sem preocupação nenhuma com o momento. Estávamos em plena Ilha de Algodoal, pacata, formosa, celebrando a liberdade.


Aproveitei para continuar a leitura, com livro e revistas. Ju e eu tricotamos por alguns momentos, mas realmente estava no pique de ficar em silêncio, contemplando o verde balanço do mar, em sintonia com a bela seleção musical que pairava em nossa audição.

  
Almoçamos pela praia, comemos um belo peixe fresco, contemplando a paisagem da Princesa. Assim que fechamos a conta, avistamos um “táxi” para nos levar até a pousada. Nós ainda não tínhamos passeado de charrete. Pagamos nossa conta e entramos no táxi. Me senti como se estivesse no século XIX. Voltamos à pousada, tomamos uma ducha e novamente saímos para assistir a um lindo pôr do sol. Ficamos sentados num momento introspectivo, pensando no que aguardava nosso próximo destino: Salinópolis.