sábado, 30 de julho de 2016



São Miguel dos Milagres – Praia do Toque. Comecei a ler compulsivamente “On the Road”, na praia. Sempre amei ler livro na praia ou embaixo de um coqueiro. Entrar na história de outras pessoas, ouvindo o barulho do mar e se permitir ao menos servir de figuração na trama, sem aparecer. O problema é que essa obra prima de Kerouac – apesar de vários críticos defender de que On The Road não é “A” grande obra do autor, me deixa um tanto quanto irritado. Mas confesso estar careta demais para entrar no desfiladeiro que é a relação de Sal e Dean, dois amigos com nenhuma preocupação a demonstrar com as adversidades da vida. Se aventuram às vezes no rumo de nada só pelo simples ato de inconsequência necessária na vida daquela juventude pós-(segunda)guerra, em pleno desolamento em torno da falta de perspectiva de vida.

O problema é que desde o princípio, quando o autor decide protagonizar a figura de Dean e descrevê-lo como ele é – um rato oportunista, interesseiro que só se preocupa com o próprio umbigo, decide criar atrativos para que você seja seduzido por esse peculiar ser: uma figura ímpar, sendo referência a todos os seus amigos, incluindo o escritor - subserviente demais ao tal truqueiro Dean. Quer dizer, esse é um tipo de perfil – o tal Dean, que me faria já ficar como gato escaldado. Eu tenho evitado esse tipo de gente. Odiei Dean desde o primeiro parágrafo. E eu não consigo entender o que faz as pessoas amigas desse lunático e lacônico ser ficarem tão reverenciadas a ele. É um tipo de gente que não me acrescentaria em nada. Mas só para terminar, a narrativa condutiva de Kerouac te dá uma sensação de ouvir, mentalmente falando, um jazz sincopado. Não tem como ler o livro, sem escutar um bom jazz. E a vibe estava ótima para adentrar, com certa resistência, ao estranho mundo on the road.


Pausa para mais um mergulho, agora sem dar pinta (sim, eu dei pinta, dêem uma olhada: http://omundodelira.blogspot.com.br/2016/07/sao-miguel-dos-milagres-praia-do-toque.html). Me enxuguei e fui continuar a ler a saga de Kerouac. Enquanto ficava compenetrado com a leitura, levei um susto ao ouvir uns “esfregas” atrás dos pequenos arbustos que há na praia. Era voz de mulher. Quando resolvi me atentar a ver o que estava vindo em minha direção, vi saindo o “casal” – eram duas sapatonas. Tinha a macha caminhoneira recém entrada na classe média, com short amarelo limão e top verde limão. Achei que era a atendente da pousada (risos) dando uns amassos na amada. A outra estava mais comportada, se despedindo da macha para cair na água. A sapa macha ficou me olhando e eu fingi não olhar pra ela. Continuei lendo a revista. Estava mais interessante.


 Depois de algum tempo, vejo sair do arbusto uma criança, correndo em direção ao mar. Rebolava muito, mas ignorei, afinal praia é um lugar livre. A outra sapa saiu da água e se encontrou com o “marido”. Ficaram namorando ao  meu lado. Só no momento que ouço alguma criatura gritar: “Maaiiiiiinha”! Aí vejo o menino, saindo saltitante do mar, dando uma pinta linda e deixando os casais “normais” perplexos. Gritava de forma bem afetada: “A senhora exxxxxtá lascada, vice”? (risos). Impressionante como “elas” têm se iniciado mais cedo. Adorei a linha “nem tô” que ela fez.  E o que você faz numa ora dessas? Gargalha, oras. (risos)


Depois de horas apreciando a praia, Brenno se despede, avisando que tiraria uma hora de folga. Agradeci a ele pela acolhida e perguntei o preço do côco que eu queria acertar e p jovem galante simplesmente responde: “Fica por minha conta”. Decidi retribuir a gentileza e convidá-lo para tomar um drink na Pousada do Sonho. Ele disse que passaria por lá.  Não é ´pra casar de véu e grinalda? Me despedi e fui caminhando de volta a Porto de Rua, bairro de São Miguel onde estava hospedado. Parada para comer no bar do Enildo (peixe ao molho de camarão mais suco de maracujá: R$53,90). Fiquei sentado contemplando a orla e aguardando meu prato, quando fiquei escutando com meu ouvido de tuberculoso alguns seres nulos enaltecendo a ditadura militar. Pela cara deles, deduzi terem trabalhado na era de chumbo da nossa política. Nada muito diferente aos dias de hoje. A energia ficou um pouco pesada, mas de repente, com aquele mar na minha direção, respirei fundo para entrar na história de Dean e Sal novamente. Estava precisando de um pouco de loucura naquele momento. Me matei de comer um suculento peixe ao molho de camarão e segui meu trajeto, rumo à pousada. 

quinta-feira, 28 de julho de 2016




São Miguel dos Milagres – Praia do Toque. Que sensação boa ao colocar os pés nas águas da Praia do Toque. Branda, cristalina. Tinha me esquecido do quanto o litoral alagoano é uma relíquia. Fui entrando na praia, até ficar revestido com o manto do mar em meu peito. E quis, sim fazer a linha Isadora Ribeiro (risos) dando altos mergulhos, como se estivesse sendo fotografada para o clipe da Garota do Fantástico. Meu processo de desaceleração foi realmente ao entrar nesse mar azul esmeralda. Não sei o por quê, mas de repente passou por mim a música “Nem um Toque”, da Rosana, em minha mente.


Soltinho no mar, pra lá do Mundo de Alice, quando avisto três frangas com uma prancha enorme entrando na orla. Uma delas resolveu “ensinar” as outras duas a surfar. Sempre tem que ter uma pavoa no meio da turma, não é mesmo?. Quando ela , aos poucos, resolveu entrar na prancha, primeiro ajoelhada e levantando devagar para tentar pegar o equilíbrio, as (risos) perninhas delas começaram a estremecer. E aí veio uma musiquinha na minha cabeça. Quer dizer, o Hino Nacional Brasileiro como música incidental, compondo minha mente permissiva, enquanto aproveitava o embalo da música do hino e cantava: ”Tomara que caia, tomara que caia, tomara que caiaaaaa” (risos). Mas com aquele sol escandaloso, decidi não sabotá-la mentalmente e desencanei de observar as rachas. Continuei nadando, observando o lugar, o entorno, as pessoas. Por um instante até pensei que o ser humano  ainda tem salvação. Mas foi um breve momento de devaneio. Voltei à Terra para pegar um bronze. Assim que cheguei em direção das meninas, a esportista estava feliz de estar firme na prancha e gritava para as colegas a façanha que tinha tido. Pena uma onda bater sem querer na prancha e a dileta menina cair de bunda na água. Pelo jeito, Iemanjá não estava a fim de dividir o brilho dela com ninguém (risos).

Assim que saí do mar, Brenno me aguardava ao lado do meu guarda sol. E olha a grata surpresa inusitada do dia.: estava com uma água de côco gelada, me aguardando chegar da praia. Lógico que eu iria pagar, mas  é sempre bom fantasiar uma cena romântica, não acham? Aí reparei os traços lindos que ele tem. Feições de um belo guapo do Oriente Médio com aquela rustidez peculiar de um bom macho nordestino. Batemos um longo papo, mas ele teve que atender os hospedes do hotel. Bonito, charmoso, simpático e gayfriendly. Não é pra casar?


Fui folheando a revista Superinteressante, que  trazia em sua matéria de capa o assunto Smart Food, o guia inteligente de cozinha. Antes fui ler uma reportagem sobre a dura jornada de um sanduíche em seu organismo. Confesso que desanimei em ficar comendo um saboroso cheese bacon, depois do processo desgastante de digestão dele. Tinha também uma matéria sobre pratos feitos com insetos. Quase que a água de côco não desceu essa hora. Mas o que me chamou a atenção foi o assunto dieta. Num determinado momento da matéria, que focava o excesso de comida que ingerimos, não para saciar nosso apetite, mas por uma simples questão de consumir e eu fazendo aquela cara de conteúdo, concordando com a opinião do jornalista, veio aquele chá de realidade, quando a reportagem nos dá um pé no freio e nos alerta sobre as expectativas, dizendo que não dá para ser a Fernanda Lima quando o espelho sempre mostrou uma (risos) silhueta de Preta Gil. Parei nesse exato momento, para fazer um breve flash do meu corpo, com uma barriga com uma pseudo esquistossomose e me entristeceu um pouco. Mas confesso que depois que vi ao meu redor as mulheres cheias de celulite e gordura daquelas que dá pra fazer toucinho na banha frita, olhei para o céu e agradeci imensamente a Deus. Por fazer a minha autoestima voltar (risos).  


terça-feira, 26 de julho de 2016



São Miguel dos Milagres. Fiquei surpreso com o tamanho do recuo que o mar fazia com a maré baixa, durante a caminhada até a praia do Toque. Até me animei em andar um pouco para ver o mar lá adiante, mas a preguiça bateu e decidi seguir meu rumo.  Corpo protegido pelo protetor solar nosso de cada dia e ansioso para chegar a meu destino final.

Assim que pisei na praia, aquela decepção de ver o recuo do mar também por lá. Caminhei mais um tanto, atravessando um pouco mais da metade do Toque. Decidi levantar acampamento, deixar minhas coisas na canga e adentrar mar adentro para um “meio” mergulho.



Quando voltei para pegar um bronze e retocar a maquiagem com o protetor, surge a primeira boa surpresa do dia: percebi que vinha caminhando um menino uniformizado, acenando em minha direção. Fiz a linha Kátia –“ não tô vendo nada”, aproveitando o escudo do meu óculos de sol a la Bono Vox, vermelho. Beeeeem discreto (risos). Quando ele chegou perto gritou: “’seu’ Lira, tudo bem?” Era Brenno, um garoto que tinha conhecido no dia anterior. Era amigo de Elvis, o gerente da pousada do Sonho, onde estava hospedado. Disse que já tinha me avistado e acenou para que eu o visse, mas sinceridade, não prestei atenção. Ele trabalha em uma das pousadas, que ficam em frente à praia do Toque. Foi gentil e me ofereceu uma cadeira da pousada para poder me refestelar como um calango no sol. Fiquei com receio e perguntei se não iria trazer problemas a ele, mas Brenno insistiu para que eu aceitasse o convite. E nessas horas, o importante é não se fazer de rogado. Aceitei e fui caminhando até a cadeira e o guarda sol. E Brenno estava uma graça com seu uniforme. Estava parecendo o guarda florestal do desenho do Ze Colmeia misturado com Tatoo, da Ilha da Fantasia. (risos)

 

Quando começo a entrar em estado alfa para pegar o bronze, a primeira provação-para-me-tornar-um-ser-melhor-e-garantir-meu-latifúndio-no-céu: um jovem senhor de idade estava com um grupo de crianças na água. Ficava repreendendo os meninos com qualquer coisa que faziam no mar. Aos berros. Era a família dó-ré-mi-fá-sol-lá...stimavel. Quer dizer, não havia necessidade de ficar gritando feito uma lavadeira de rio, como ele estava fazendo. Devia dar exemplo, concordam? O mais gozado era ele chamando os meninos com aqueles típicos nomes que só tem no nordeste: “Para de ficar jogando água no Joeldson, Adejanílson!” (risos); “Olha aqui, Claíslon, se continuar com essa palhaçada, te afundo os ‘zolhos’”. Um chilique desnecessário. Já estava até visualizando o destino dessas crianças, como (risos) bombas humanas do Estado Islâmico. Com essa cena de barraco de favela, só me restou adentrar ao “Mundo Encantado de Alice”. E a partir daí, a brisa começou a ficar realmente boa.


Chamei Brenno para perguntar por que o hóspede estava tão agitado e ele respondeu que o senhor estava bêbado. Também me corrigiu, informando que o jovem senhor era morador de São Miguel dos Milagres. Enquanto Brenno me explicava, comecei a ter um acesso mental de riso, me lembrando de todos os nomes que tinha escutado, mas desconfio que Brenno sacou algo. Quando dei por mim, estava de verdade sorrindo com aquele sarcasmo peculiar. Comecei a ficar mega-pra-lá do Mundo de Alice, pedi licença a Brenno e me levantei para mergulhar. A maré já estava alta e o mar estava cheio.  E eu comecei a ter uma vontade absurdamente louca de entrar naquela água, como se estivesse naqueles clipes “Garota do Fantástico”. O mar realmente não estava só pra peixe. Mas a praia ainda iria me reservar bons momentos, com mais histórias e personagens pra lá de interessantes.

sexta-feira, 22 de julho de 2016



São Miguel dos Milagres. Fiquei feliz com a acolhida dada pelos habitantes de Milagres. Os meninos da pousada não queriam que eu passasse por nenhum tipo de problema ou situação que não fosse resolvido. Antes de caminhar em direção a praia do Toque fui conversar com Elvis sobre algumas dicas de passeio e demonstrar minha preocupação em como chegar a praias mais distantes, mas ele me tranquilizou. Adorei a sacada rápida em me responder com aquela malemolência charmosa alagoana: "problema, a gente desenrola" (risos). Preparei minha sacola com o kit de protetor solar - para o rosto, corpo e labial. Me arrumei e iniciei as mesas de trabalho, rumo ao Toque.

A caminhada estava atrativa: caiçaras retornando de seus trabalhos, com uma leva considerável de peixes e dando aquela olhada de quina, inquietos e desconfiados. Dei meu bom dia festivo e eles retribuíram, rindo entre eles da "gazela saltitante" pela praia. Quase na metade do caminho, me lembrei que anda não tinha passado protetor nenhum, mas me lembrei de uma reportagem que li que dizia que o corpo deve ficar pelo menos 15 minutos exposto ao sol, para depois passar o protetor. Parei para o "retoque na maquiagem".

Assim que entrei na praia do Toque, fiquei me lembrando na tranquilidade do vôo para Maceió, até porque fico um pouco apreensivo quando permaneço mais de duas horas dentro de um avião. E me lembrei de relatar ao Diário um, digamos, pequeno inconveniente. Eu fiquei a maior parte do tempo lendo "On the Road" e nem prestei atenção no meu entorno, até passar por mim uma senhora muçulmana. Quer dizer, deduzo que seja por estar com uma semi-burca colorida. Ela passou por todos para ir ao toilette na dianteira do avião. Enquanto aguardava o banheiro ser desocupado, ela ficou conversando com o comissário de bordo. Fiquei observando sua relativa elegância, quando percebo os olhares dos passageiros em direção a ela. Achei graça a princípio, pois infelizmente as pessoas de um modo geral não possuem mais o hábito de se informarem a respeito de outras culturas. Vi que os passageiros ficaram ressabiados com a muçulmana, cochichando entre eles na possibilidade dela (risos) ser "elemento de risco" ao vôo. Quando ela entrou, senti um frenesi deles. "Será que eles acham que ela vai explodir o vôo?" pensei. Depois de uns minutos, ela saiu e acredito que todos relaxaram o esfíncter (risos). 

Mas a saga jihadista não parou por aí. A muçulmana continuou conversando com o comissário na qual ela tinha desenrolado um papo. Eu me atentei novamente a leitura, quando ela (risos) decide voltar ao toilette. E aí eu senti minhas mãos suarem de desespero. "Meu Deus, será que ela tem uma bomba no corpo"? "Será que ela é do Estado Islâmico e nos fará de refém"? "Sim, com certeza acontecerá algo, está calmo demais pra ser verdade". Todos esse lamaçal mental saindo da minha mente. E nessas horas, eu apelei a Deus, a Alah e até a Abraão, afinal de contas ele é o culpado de tudo, não acham? E sabem o pior? Ela demorou ainda mais no banheiro. Quando vi a luz do marcador ficar verde, informando que o banheiro havia sido desocupado, suspirei de alívio e mirei no toilette, vendo a tenra madame sair, com (risos) todos os pedaços do corpo intactos. Passou por mim com a cara fechada, como se fosse telepata e me dissesse: "Eu sei muito bem o que você pensou, infiel" (risos). Exatamente nesse tom, como um belo tapa de luva pelica. Ou de burca, se preferir.

terça-feira, 19 de julho de 2016



São Paulo-Maceió-São Miguel dos Milagres. Estava bastante cansado com a viagem. Cheguei por volta de meia noite e meia em Maceió. João Carlos, o motorista, junto com seu assistente que esqueci o nome,  me aguardava no aeroporto. O percurso até São Miguel levaria mais duas horas para chegar. Pedi para ele passar no posto para comprar água e petiscar besteira. No caminho, falamos de vários assuntos e política não poderia ficar de fora.  Num flash rápido, ele me contou que quem manda realmente em Alagoas é o Renan Calheiros. Aquele coronelismo básico que todos sabemos como é. Perguntei sobre a morte de PC Farias, porque dia desses saiu uma reportagem dizendo que ainda não havia indícios do mandante do crime, mas João Carlos pontuou que “todos em Alagoas sabem quem matou, mas o dono de Alagoas abafou o caso”. Perguntei sobre Lula e a opinião se dividiu: João Carlos defendeu o ex-presidente e seu pupilo assistente criticou o populismo de Lula e a ganância do PT. Aí eu vi que o menino assistente resolveu existir. E (risos) não parava mais de tagarelar. Achei ótimo. Ele acabou me falando que iria casar, que seu filho já estava pra nascer e que ele se sentia bem com responsabilidade de cuidar de uma família. Aos 20 anos, apenas. Disse no meu ponto de vista que nessa idade ele deveria mais era curtir a vida. Espero não tê-lo desanimado.

Chegada na Pousada do Sonho às três da manhã (http://www.pousadadosonhoalagoas.com/). Fui recebido pelo vigia. Me despedi de João Carlos agradecendo o papo. Quando estava prestes a entrar em meu quarto, ouvi um barulho de mar e o vigia percebendo minha euforia avisou que a praia estava logo atrás da pousada. Pedi para ele me levar até o mar e o visual me arrebatou. Com a Lua banhando as águas de Milagres, fui dormir, ansioso para chegar o dia.


Acordei bem disposto e fui tomar meu café. A pousada tem uma maneira peculiar de servir o breakfast. Há um cardápio com várias opções. A atendente chega, marca seu pedido e vai providenciar o desjejum. Achei interessante essa maneira de servir o café. Pensei que seria uma dinâmica de não se desperdiçar comida. Ponto pra eles. Me apresentei para o gerente da pousada, o Elvis. Tem apenas 23 anos e extremamente responsável, uma graça de menino arisco. Pedi dicas do que fazer pelo dia nas proximidades da pousada. Ouvindo ele falar, veio um sorriso em minha mente, me encantando com o sotaque peculiar alagoano. Um charme escutar. Acabei optando por caminhar até o rio Tatuamunha, que acaba desembocando no mar. No caminho, vi um menino fazendo um treino e fui me dirigir a ele para perguntar se estava perto do rio. Ele me olhou com olhar desconfiado e percebi que ele não era da região. Não soube me responder. É jogador de futebol e estava treinando na areia. Tinha um leve sotaque europeu. Me despedi e fui até o rio me banhar.


Fiquei horas tomando sol, curtindo preguiça e dando início ao processo de desaceleração. A cabeça ainda estava um pouco ligada com algumas questões que preciso resolver quando voltar, a ponto de mentalizar situações corriqueiras de como resolver alguns impasses. Aí me levantei da canga, dei um belo mergulho para desovar problemas, stress e vãs preocupações. Estava mais do que na hora de me dar o direito de aquietar. Na volta, decidi estender a caminhada até chegar no restaurante Eco para almoçar (caipirinha, água com gás mais entrada e prato principal: R$92,00). Voltei pela praia com a grata surpresa de ser presenteado com um pôr de sol maravilhoso.




segunda-feira, 18 de julho de 2016




Já estava com a lista de tudo que eu precisava na mala. Só que não. Me atentei só no momento que estava esperando Richard, o novo taxista muso, me levar até Congonhas. Isso porque eu só tinha descoberto que era Congonhas no dia D. Juarava que seria em Cumbica. Entreguei a Deus e desencanei. Fui tomar uma ducha com o vinil de hits do Paul Maccartney. No máximo!


Richard mandou um whatsapp avisando que já estava me aguardando. Como me restava 10 minutos para o horário combinado, dei meu grito de guerra ao som de Clara Nunes. E pra lá do Mundo de Alice



Com uma camiseta linda que comprei de Nossa Senhora de Guadalupe, me colei e desci com minha bagagem featuring mochila e bolsinha a tiracolo para levar todas as minhas bugigangas. Levando 3 livros a tiracolo: “Consciência Planetária”, que ganhei de meu tio Mauro e aborda questões sobre espiritualidade, sob a visão espírita; “Ilusões Perdidas”, do Balzac: comprei há um bom tempo e já está mais que na hora de encarar uma história de 600 páginas; e terminando de ler “On the road”, do Jack Kerouac. E me degladiando com as personagens que, numa situação real, preferiria que fossem gansos para eles engolirem ração até morrerem e virarem foie gras. Estou em discussão sobre essa obra na terapia. Mas o livro eu comento durante as férias.

Cheguei na frente do prédio e... cadê o táxi preto? Sim, aderi agora ao táxi preto. Não sei por quê, mas não me sinto muito à vontade ainda com o Uber. Descobri o táxi preto justamente com Richard, que parou quase em frente minha casa, um dia desses, para me encontrar com Nelson Valência na praça Vilaboim. Super simpático, me ofereceu água, caso quisesse e fomos batendo um papo até o destino final da corrida. Queria ver se era (risos) “bem apessoado”. Trocamos contato. E vi que na foto ele era uma graça. Percebi que o carro estava um pouco distante e Richard estava me aguardando do lado de fora. Como ele não me via, fui em direção a ele. Só quando nos aproximamos e ele percebeu que “eu” era o Lira, ele se pegou de surpresa. “Nossa, achei que o prédio era esse” e eu retruquei “E você percebeu agora que não, né”? Começpou mal, com um ponto negativo (risos). Ele prontamente pegou minhas bagagens. Quis marcar às 18h como precaução. O vôo partia às 21h25. Com o trânsito de sexta, deduzi que chegaria em uma hora e meia. Colocamos o cinto e Richard deu a largada. Rumo ao mar de Milagres.


O trânsito estava um pouco carregado e comecei a me estressar. Ele tomava iniciativa de jogar algum assunto, mas eu não queria papo. Só fui relaxar quando saímos da 23 de maio. Aí a conversa fluiu. Por mais que você não conheça, você acaba meio que forçosamente, a estabelecer um clima de intimidade a ponto de dividir assuntos de sua vida pessoal. Falei com ele que estava de saco cheio da novela angolana que era minha família e que estava no “mode off” sem estabelecer contato com nenhum deles. Tive a sensação quando ele me olhava de que ele estava desaprovando, quando ele fita meus olhos e diz: “Tô a fim de fazer a mesma coisa com a minha”. Não é pra casar? (risos).

Cheguei às 19h30 em Congonhas (táxi centro até aeroporto: R$50,00). Do lado de fora, Richard foi tirando minhas bagagens. E foi aí que eu vi que o muso tem um conjunto completo: charmoso, muy guapo,  bom papo, não tem medo de te olhar no olho e (risos) sistemático como eu. Semelhante realmente atrai semelhante nesse mundo. Sem essa de que os opostos se atraem.


Fiz o check-in no totem eletrônico da Gol. Quer dizer, você tem que fazer isso primeiro, antes de despachar sua mala.  Aí ele pede para você escolher o assento, mas se você escolher o assento, a Gol vem com uma punheta de papo de que a escolha faz parte do “Gol conforto” e para isso você precisa “apenas” desembolar mais  R$49,00. Como não queria ir para o fundo da aeronave, que é onde realmente te mandam caso você não pague a módica quantia para esse desgosto de companhia aérea, paguei para ficar no corredor da fila 5. 


Fui comer na Casa do Pão de Queijo (dois paninis, pastel de forno e chocolate quente grande: R$18,00). Comprei revistas – a edição especial da Superinteressante sobre comida e a Lounge, com o Ney Matogrosso na capa. Entrei na sala de embarque para passar pelo” triturador de carnes” do raio x de bagagens. Foi rápido dessa vez. O portal de metal não deu nenhuma pinta comigo.

Aguardei no piso inferior no portão 18 um bom tempo para ouvir, depois de meia hora que o vôo iria atrasar e que o embarque seria feito no portão 7, andar superior. Eu estava bem colocada para ficar reclamando (risos). Vi aquele monte de gente cheirando Seiva de Alfazema, no desespero para subir. Pareciam um bando de refugiados no Mediterrâneo (risos).

Demoramos mais um pouco para embarcar e decolar. Na fila 5 estava um senhor que não parava de conversar com a esposa. Quer dizer, brigar com a distinta. Não sei como homem tem paciência para aturar mulher, que na essência é um bicho neurótico. Ficava pensando novamente no ganso virando foie gras. Seria tudo tão prático não?




Duas horas e meia depois, devorando as revistas e o mundo insano de Kerouac, o avião chegou num vôo super tranquilo. João Carlos, o motorista da pousada, me aguardava junto com outro fofo que não perguntei o nome. Tinha terminado de chover. Mas só de respirar outros ares, minha cabeça se conectou facilmente com o ambiente de acolhida que recebi. A viagem já estava com outra cor, outro cheiro. E pronto para aguardar o que São Miguel dos Milagres me reservava.     

sábado, 16 de julho de 2016



É sempre bom poder voltar às raízes e retomar o contato e relação com amigos. Amigos com A maiúsculo, mesmo. Digo que os grandes amigos fazem parte da família que eu escolhi. E graças a Deus, sei que são para uma longa caminhada na minha vida.

Me encontrei com Betina para colocar os assuntos em dia e para ela me contar sobre sua estadia em São Miguel de Milagres, um dos destinos que já tinha escolhido como sugestão para tirar o stress do couro. Nos falamos pelo whatsapp e dei a ideia de jantarmos no Delapaix. Pensei no bistrô para rever uns queridos que trabalham por lá. Betina passou no condomínio, desci e fomos caminhando pela Alameda Barros, pra dar uma refrescada na cabeleira e afiar a língua.

Fomos andando tranquilamente e Betina falando o quão maravilhoso foi ficar em São Miguel dos Milagres. Enquanto percorríamos nosso trajeto, vinha passando a passos largos um “cara” juro-que-sou-hetero. Quando nos aproximamos e entrecruzamos nossos olhares, ele nos olhou com uma cara fechada. Assim que ele passou por nós, Betina, sempre atenta às personagens do cotidiano, parou imediatamente de falar o que estava conversando, olhou pra mim e abriu um parênteses dizendo: bixa, né? (risos). Eu fico impressionado porque essas beashas juram que  enganam fazendo essa linha hetera, mas no fundo a gente sabe que elas amam engatar a ré sem vaselina (risos).



Chegamos no Delapaix e reencontramos Janice, ex-gerente do bistrô. Estava dando uma força por lá porque os meninos – Régis e Valmir, saíram de lá. Ficamos um pouco decepcionados porque estávamos com saudades. Digamos que vê-los por lá é um atrativo a mais (risos). Janice nos contou que os dois abriram negócio próprio.  Betina quis abrir o coração e disse a Janice que tinha uma queda por Valmir. Perguntamos a ela se ela tinha tesão em algum deles e ela disse que não. Ficamos em devaneios dizendo que a gente queria casar com eles, cada uma de nós com um. Sem brigas. Eu emendei e falei que adoraria ter tido a oportunidade de fazer DP com eles e ela disse: o que é DP? (risos). Ficamos gargalhando um bom tempo, mas explicamos a ela o significado das iniciais.


Com o bloco de notas a tiracolo, fui pegando todas as dicas de Betina. Pronto. Informações, contatos, preços dos passeios, tudo no caldeirão turístico necessário para o início de minha desaceleração. E minha viagem tinha dado início. Na paisagem da minha mente.