Já estava com a lista de tudo que
eu precisava na mala. Só que não. Me atentei só no momento que estava esperando
Richard, o novo taxista muso, me levar até Congonhas. Isso porque eu só tinha
descoberto que era Congonhas no dia D. Juarava que seria em Cumbica. Entreguei
a Deus e desencanei. Fui tomar uma ducha com o vinil de hits do Paul Maccartney. No máximo!
Richard mandou um whatsapp
avisando que já estava me aguardando. Como me restava 10 minutos para o horário
combinado, dei meu grito de guerra ao som de Clara Nunes. E pra lá do
Mundo de Alice
Com uma camiseta linda que
comprei de Nossa Senhora de Guadalupe, me colei e desci com minha bagagem featuring mochila e bolsinha a tiracolo
para levar todas as minhas bugigangas. Levando 3 livros a tiracolo:
“Consciência Planetária”, que ganhei de meu tio Mauro e aborda questões sobre
espiritualidade, sob a visão espírita; “Ilusões Perdidas”, do Balzac: comprei
há um bom tempo e já está mais que na hora de encarar uma história de 600
páginas; e terminando de ler “On the road”, do Jack Kerouac. E me degladiando
com as personagens que, numa situação real, preferiria que fossem gansos para
eles engolirem ração até morrerem e virarem foie
gras. Estou em discussão sobre essa obra na terapia. Mas o livro eu comento
durante as férias.
Cheguei na frente do prédio e... cadê o táxi
preto? Sim, aderi agora ao táxi preto. Não sei por quê, mas não me sinto muito
à vontade ainda com o Uber. Descobri o táxi preto justamente com Richard, que
parou quase em frente minha casa, um dia desses, para me encontrar com Nelson
Valência na praça Vilaboim. Super simpático, me ofereceu água, caso quisesse e
fomos batendo um papo até o destino final da corrida. Queria ver se era (risos)
“bem apessoado”. Trocamos contato. E vi que na foto ele era uma graça. Percebi
que o carro estava um pouco distante e Richard estava me aguardando do lado de
fora. Como ele não me via, fui em direção a ele. Só quando nos aproximamos e
ele percebeu que “eu” era o Lira, ele se pegou de surpresa. “Nossa, achei que o
prédio era esse” e eu retruquei “E você percebeu agora que não, né”? Começpou mal, com um ponto negativo (risos). Ele prontamente
pegou minhas bagagens. Quis marcar às 18h como precaução. O vôo partia às
21h25. Com o trânsito de sexta, deduzi que chegaria em uma hora e meia.
Colocamos o cinto e Richard deu a largada. Rumo ao mar de Milagres.
O trânsito estava um pouco
carregado e comecei a me estressar. Ele tomava iniciativa de jogar algum
assunto, mas eu não queria papo. Só fui relaxar quando saímos da 23 de maio. Aí
a conversa fluiu. Por mais que você não conheça, você acaba meio que
forçosamente, a estabelecer um clima de intimidade a ponto de dividir assuntos
de sua vida pessoal. Falei com ele que estava de saco cheio da novela angolana
que era minha família e que estava no “mode off” sem estabelecer contato com
nenhum deles. Tive a sensação quando ele me olhava de que ele estava
desaprovando, quando ele fita meus olhos e diz: “Tô a fim de fazer a mesma
coisa com a minha”. Não é pra casar? (risos).
Cheguei às 19h30 em Congonhas
(táxi centro até aeroporto: R$50,00). Do lado de fora, Richard foi tirando
minhas bagagens. E foi aí que eu vi que o muso tem um conjunto completo:
charmoso, muy guapo, bom papo, não tem medo de te olhar no olho e
(risos) sistemático como eu. Semelhante realmente atrai semelhante nesse mundo.
Sem essa de que os opostos se atraem.
Fiz o check-in no totem
eletrônico da Gol. Quer dizer, você tem que fazer isso primeiro, antes de
despachar sua mala. Aí ele pede para
você escolher o assento, mas se você escolher o assento, a Gol vem com uma
punheta de papo de que a escolha faz parte do “Gol conforto” e para isso você
precisa “apenas” desembolar mais
R$49,00. Como não queria ir para o fundo da aeronave, que é onde realmente te mandam
caso você não pague a módica quantia para esse desgosto de companhia aérea, paguei
para ficar no corredor da fila 5.
Fui comer na Casa do Pão de Queijo (dois paninis, pastel de forno e chocolate quente grande: R$18,00). Comprei
revistas – a edição especial da Superinteressante sobre comida e a Lounge, com
o Ney Matogrosso na capa. Entrei na sala de embarque para passar pelo”
triturador de carnes” do raio x de bagagens. Foi rápido dessa vez. O portal de
metal não deu nenhuma pinta comigo.
Aguardei no piso inferior no
portão 18 um bom tempo para ouvir, depois de meia hora que o vôo iria atrasar e
que o embarque seria feito no portão 7, andar superior. Eu estava bem colocada
para ficar reclamando (risos). Vi aquele monte de gente cheirando Seiva de
Alfazema, no desespero para subir. Pareciam um bando de refugiados no Mediterrâneo (risos).
Demoramos mais um pouco para
embarcar e decolar. Na fila 5 estava um senhor que não parava de conversar com
a esposa. Quer dizer, brigar com a distinta. Não sei como homem tem paciência
para aturar mulher, que na essência é um bicho neurótico. Ficava pensando
novamente no ganso virando foie gras.
Seria tudo tão prático não?
Duas horas e meia depois,
devorando as revistas e o mundo insano de Kerouac, o avião chegou num vôo super
tranquilo. João Carlos, o motorista da pousada, me aguardava junto com outro
fofo que não perguntei o nome. Tinha terminado de chover. Mas só de respirar
outros ares, minha cabeça se conectou facilmente com o ambiente de acolhida que
recebi. A viagem já estava com outra cor, outro cheiro. E pronto para aguardar
o que São Miguel dos Milagres me reservava.