segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Domingo tem sempre essa chatice de prelúdio de fim de festa. Acordei com um barulho de chuva e resolvi curtir preguiça na cama. Mas aí me lembrei que deveria sem falta comprar um novo carregador para meu celular, pois o cabo do meu Xperia já estava com mal contato. E para poder aproveitar o pouco do que restava do fim de semana, dei um Google para ver onde tinha uma loja Sony. A mais próxima era no Shopping Bourbon e shopping é algo que eu evito ao máximo de entrar. Pronto. O sacrifício foi devidamente escolhido ao Holocausto.


Saí de casa e a chuva deu uma trégua de apenas cinco minutos e voltou animada. Sorte de já estar perto da padoca Gratinatti. Mal fechei o guarda-chuva e uma senhora veio em minha direção falando sem dar pausa. Como estava no mundo interior de dentro de mim mesmo com o Ipod, não percebi que ela queria falar comigo. Tirei meus fones e entendi que ela queria que eu a levasse ao carro de sua amiga, pois ela não poderia se molhar. Abri novamente o guarda-chuva e fui conduzindo a folgada, quando entra sem brecar o carro da tal amiga. Era um grupo de velhas que estavam no carro. Velhas e cegas também. Ela começou a alterar a voz dizendo que não poderia se molhar e me pediu para levá-la ao banco de trás. Como estava me molhando, a velha reclamando e ninguém para abrir a porta, voltei para a padaria deixando a larga da velha gritando que não poderia se molhar. Quer dizer, você permite se passar por idiota até a página 2, certo?


Entrei e pedi um pão de queijo e uma média com leite. E que atendimento péssimo. Você tinha que ficar escutando, como se você fosse obrigado, os funcionários resmungando e discutindo entre eles. E pra piorar a chuva se intensificou. Acho que eu queimei alguns karmas depois de tomar  café por lá. Fora o clima de uti que a padaria possui. Saí rapidamente, em direção ao ponto de ônibus.


Fiquei embaixo do Minhocão e nenhum ônibus a passar. E muita gente medonha em volta, além da ciclovia colocada de forma tão porca pelo Haddad. Pior é você ver ciclistas andando fora da ciclovia e desrespeitando os pedestres. O ser humano precisa urgente entrar em extinção.



Enquanto a linha Terminal Lapa atravessava a avenida Francisco Matarazzo, vi uma fila enorme naquele curral de lugar, o Villa Country. Fiquei surpreso com uma fila imensa em pleno clima chuvoso na balada sertaneja. Não imaginava que o “celeiro” abria para matinê e com uma quantidade considerável de “vacas nelores”  por lá (risos).



Desci em frente ao Parque Allianz e uma horda de palmeirenses cercava o estádio. Tratei de apressar o passo e entrei no shopping. Assim que comprei meu carregador, a chuva novamente se acentuou e achei melhor pegar um cine, antes de almoçar, já que a área de alimentação estava cheia. Depois de muito pensar, decidi em ver “Chatô – o Rei do Brasil”.



Depois de décadas de embargos, envolvimento com dívidas, entre outras receitas para se fazer uma boa novela, o filme dirigido por Guilherme Fontes debuta em cenário nacional e não faz feio. Está tendo críticas consideráveis a favor de “Chatô” e a bilheteria reproduz esse vento a favor: estreou em 2º lugar na arrecadação nacional, perdendo apenas para “Jogos Vorazes”, um blockbuster de marketing bem agressivo na sua divulgação. Adotar uma linguagem metalingüística no “julgamento” de Chateaubriand no formato de um programa de televisão, desses de apelo bem popular, tão atual na TV de hoje, foi uma bela sacada de Guilherme, que atuou, dirigiu e produziu o filme. E ele não seguiu a linguagem habitual de seguir uma ordem cronológica de contar uma história. E é importante ressaltar a atuação de Marco Ricca, como Chatô. Mas no final das contas, achei “Chatô” chato. Apesar dessas belas sacadas, o filme não me conquistou. E para um público que não se interessa por ler hoje em dia, é importante preparar as pessoas para explicar quem foi esse importante magnata da comunicação. Tudo soa muito confuso no começo da história.  Pior é pensar, depois do término do filme, de termos a obrigação de agradecer a um ser tão grotesco, chulo, vulgar, baixo, sem o mínimo de nível cultural e presunçoso, pelo advento da televisão nos lares brasileiros. Sabe o personagem Shrek? Agora eu tenho certeza quem o inspirou.

sábado, 28 de novembro de 2015



Para nãos dispendiar energia durante o dia em traçar algum programa cult pra fazer, decidi armazenar uma boa quantia para o espetáculo da noite – "O topo da montanha", com Lázaro Ramos e Taís Araújo, no Teatro da FAAP. Depois de ter lido a matéria que saiu no Caderno 2 do Estadão e Segundo Caderno, do Globo, fiquei encantado com a história que envolveu esse texto. Lázaro queria muito fazer o papel de Luther King, mas tinha encontrado em seu caminho textos fracos e muito previsíveis. Se cansou e quis se envolver em outro projeto. Um belo dia, Taís recebeu (ou comprou os direitos, não me lembro bem) o texto de Katori Hall. Ofereceu a Lazáro, que recusou num primeiro momento. Ela então decidiu ler e depois que terminou a leitura, quase o obrigou a ler pela emoção impactante quer o texto lhe causou. Lázaro continuou refutando, até ceder à pressão de nossa deusa Xica temporal. E o resto da história, você já deduz em como terminou.

Quis assistir essa peça com um amigo de calibre. Nada melhor do que chamar Nelson Valência. Fiquei tão empolgado que acabei comprando para assistirmos juntos duas peças. É isso que dá ficar um bom tempo sem ver um querido. Aí é obrigado a me engolir em overdose (risos).


A tarde estava agradável para fazer uma caminhada pelo Higienópolis, estava nublado e um pouco abafado. Me joguei no Ipod, pra lá do Mundo de Alice e fui visualizando pela calçada várias claves de sol, para poder abstrair o tempo cinzento que passamos. E nada mais combinativo para ilustrar o clima.


Como sempre, fui bem recepcionado pelos meninos que trabalham no bistrô Delapaix (bom atendimento, boa carta de vinhos e a lembrança de Paris. Se joga, Ariclê: http://delapaixbistro.com.br/ ) . Recebi um abraço carinhoso de Régis, que puxou minha orelha por ter falado que iria passar por lá e já faz (risos) meses que disse algo do tipo. Falei que não me lembrava. Quer dizer, (risos), mentira. Fingi  que não me lembrava. Valmir me deu um abraço apertado, Deus como ele é uma delicinha. Agora ele está como gerente do Delapaix. Fiquei do lado de fora, pois estava um mormaço, mas ao mesmo tempo passava um vento refrescante. Atrás de mim tinha uma mulher com um bando de crianças chatas. Bati o olho rapidamente e me assustei, pois tive a impressão de que ela tinha escaras. Pedi uma salada verde e um Filé a Prima Donna. E um vinho para harmonizar com a comida e o clima. A surpresa foi ótima: Valmir veio com um vinho argentino branco, com ingredientes cítricos. E foi impressionante a química feita com o prato. Depois, para fechar com chave de ouro a insofismável torta de suspiro com chocolate belga e creme de amoras por cima.  Antes de ser rebocado para casa, um ristretto para sobreviver até a peça.



Caminhada até chegar em casa e pausa para um descanso. Só que não. Lucas me mandou um whats querendo “dar um oi” em meu apartamento. Pedi para vir, mas sem atrasos. E haja energia para um atendimento. Gente jovem exige muito da gente. No pós-after, fui tomar uma ducha, me preparando pra colar com um ótimo som de macho, para manter a testosterona em alta.



Queria que Paulo viesse me pegar, mas ele estava longe, na Rebouças. Peguei um taxista no ponto da Veridiana, perto de casa. Era uma graça, fomos conversando até o teatro da FAAP. Quando estava chegando ao saguão do Teatro, não tinha me lembrado o quanto aquele espaço é enfadonho e confuso. Quando descia as escadas, sem visualização por onde passar para pegar meus ingressos, percebi que as pessoas não conseguiam se locomover. É muito claustrofóbico. Cheguei na bilheteria, peguei os ingressos e mandei um whatsapp para Nelson. Ele respondeu dizendo que estava “embaixo, do lado da entrada do teatro”. Estranhei porque a entrada para o teatro fica bem longe. Decidi ligar e quando ele atendeu perguntei onde ele estava. Ele respondeu que estava do lado de fora do teatro....do Tucarena. Aí eu quase gritei: “meus sais, por favor”. Ele estava no teatro certo, porém (risos) na data errada. Tinha mandado mensagem avisando que “O topo...” seria no sábado. Falei para ele voar até a FAAP. Por sorte, graças a boa vontade dos funcionários, pude deixar o convite com o nome de Nelson para o orientador de público entregar. Entrei e fiquei aguardando, torcendo para que ele conseguisse. Há um tolerância de até 20 minutos do início do espetáculo, em que você pode entrar na plateia. Fui dar uma olhada nos e-mails e colocando o Google para trabalhar, oferecendo opções para comer depois da peça. E o universo realmente estava a nosso favor: Nelson chegara a tempo para ver o espetáculo.

                                 Último discurso de Martin Luther King. Dê uma espiada

Para se chegar até o topo da montanha, é necessário um tremendo esforço físico, mental e emocional que poucos seres têm a proeza de conseguir. Acredito que Lázaro Ramos deva ter se desgastado muito, com direito a insônias, incertezas, inseguranças, para poder se doar de tal modo a ponto de fazer doer nosso corpo, nossa mente e nossa alma. Imagino ele, como ator, ter se despojado ao máximo para (tentar) chegar a uma perfeição em sua composição e com uma finalidade: que o público saísse afetado pela perturbação levemente imposta de sua interpretação como Martin Luther King. Todo esse caldeirão de tópicos de ideias vem reforçar que além de atuar, Lázaro também dirige a peça. Todo esse excesso de drama carregado nesse parágrafo não é em vão. E a entrada de Taís na peça é a mola propulsora para Lázaro mostrar porque ele é um dos grandes jovens promissores atores de sua geração. Por um ato reflexo rápido de meu cérebro, me veio à mente sua atuação visceral na peça “A máquina”, junto com Wagner Moura e Vladmir Brichta. E sua composição para “Madame Satã” no cinema é soberba. Mas a grandiosidade de sua atuação como o utópico e conflituoso Luther King tem o mérito de Taís, como a camareira do hotel. Ela, aliás, tem grande responsabilidade em trazer o público para a história, criando um clima de intimidade com a plateia com humor rápido em textos curtos. Ela realmente me fez rir em momentos para amenizar a tensão. Neste caso, era totalmente justificável. Tanto no início como no fim, há uma bela projeção visual contextualizando grandes ícones negros e seu papel social na história. Foi realmente emocionante.

Terminada a terapia lacaniana na qual assistimos, fomos comer no Babbo Giovanni. Tinha pensado a princípio de levar Nel ao Prima Donna, mas quando chegamos lá, o garçom nos informou que o restaurante “iria fechar cedo, para dedetizar”. Quer dizer, em pleno sábado onde as pessoas costumam sair de seus casulos para pegar uma cor, eles decidem fechar mais cedo? Ele precisam de uma consultoria de gestão de negócios urgente. Chegamos no Babbo e aquele clima de “festa de criança na laje”. Entramos e vi que o ambiente tinha mudado drasticamente desde a última vez que passei por lá. Muito popularesco. Fora a cara de coveiros dos garçons, pareciam que estavam oferecendo buffet no velório. Mas abstraímos e pedimos uma pizza pois a peça nos desgastou e precisávamos repor as energias. Nelson estava incomodado com uma dor que ele sentiu 3 dias antes de voltar para o Brasil. Ele me disse que era consequencia de uma catapora que contraíra, quando criança. Na saída da pizzaria, olhei para uma branquela gorda que estava ao telefone. Acho que ela costuma me atender quando ligo para pedir delivery. Ela me cantou quando fiz um pedido delivery, perguntando se eu não queria "companhia" e eu disse automaticamente “Você quer que eu vomite”? (risos). Nelson me deixou em casa. Aproveitei a madrugada para ler.   

quinta-feira, 26 de novembro de 2015


Pior que sair atrasado de casa para o trabalho é você ter uma ajudinha da Lei de Murphy para tudo que está ruim ser pior. Regina chegou atrasada para trabalhar em casa e antes que ela ligasse seu gravador labial, fiz a linha “acabou, Jéssica?”, senão iria sair uma semana depois. Entrei no elevador e me encontrei com Karina, vizinha que mora no 16º andar. Estava bem produzida e com uma mala. Ia se encontrar com uma colega para fazer um trabalho juntas, mas a colega estava perdida no metrô. Quando ela ia emendar o assunto de combinarmos algo pra fazer, o elevador, graças a Deus, pousou no térreo. Disse que estava com pressa e não poderia esperar. Já combinamos algumas vezes de tomarmos um vinho, mas ela sempre arranja desculpa. Quer dizer, ela e a namorada sempre dão um truque.


Fui com pressa ao metrô, preocupado em não chegar a tempo para passar para meu gerente os relatórios que ele levaria para reunião com nosso diretor regional. Assim que desço a rampa de acesso à catraca, uma lentidão de gente congestiona o trajeto. E seria politicamente incorreto de minha parte apressá-los. O que fazer quando você tem um cego, um ajudante de cego, uma manca e uma maricona rebolando na sua frente, ouvindo fag music. E beeem alto (risos).


Não estava com muita disposição em ler no vagão. Joguei o Ipod no randômico e tive três ótimas canções. Não é todo o dia que Beatles, Bowie e Prince oferecem, em sequencial, um consolo para seus ouvidos. Trilha perfeita para entrar em alfa e esquecer os aborígenes em minha volta. Na saída do metrô Belém, mais uma grata surpresa musical, no caminho ao trabalho. Parada obrigatória para pegar um pão de queijo e um suco de laranja, enquanto Mick Jagger chora seu lamento sertanejo.


                                          Aprecie o texto com essa delícia de som

Chegada com atraso e meu gerente já tinha ido à reunião. Mandei um whatsapp avisando que mandaria os relatórios e dvds para apreciação do diretor. Enquanto organizava o kit, fiquei escutando um barulho de alarme insuportável que não parava de ecoar na sala de produção. E com aquele toque musical chinês cafona que beira o insuportável. Perguntei se alguém estava fazendo alguma massagem tailandesa. Na verdade era o celular de Jucimara que não parava de tocar e ela não estava na sala para desligar. Estava fofocando com a secretária. Nessas horas, bom senso é essencial para garantir uma boa convivência em grupo. Quer dizer, a pessoa sabe que o alarme soa nesse horário e ela não está no horário para desligar?


Estava olhando a caixa de e-mails e meu ouvido de tuberculoso ficou escutando o papo de Helô e Sílvia e eu gritei: “sem lesbianismo, por favor!” Aí Sílvia me perguntou se ela tinha perfil de sapa e eu gritei: “I don´t knoooooooow” (risos). Ela foi ótima, dissecou sobre o perfil de sapatonas que existem hoje em dia. “É complicado, elas ganham um beijo e no dia seguinte querem ir morar com você. E aí você se assusta e fala ‘querida, foi só um beijo. Estava bêbada ontem’”(risos). Adoro justificativa cafajeste.


Fui almoçar com Padilha e Jô no Sesc Belenzinho. O clima estava nublado, porém bem abafado. Meu gerente, Valter, chegou e acabou almoçando conosco. Depois do lunch, fomos tomar café e a pauta foi o episódio envolvendo a garota do tempo do JN, a  Maju e Willian Bonner. Padilha comentou que leu nos sites de notícias que Bonner bancou a ida de Maju para a conferência do clima, em Paris. Alguns jornalistas criticaram a ida dela por estar há pouco tempo na bancada do JN. Ficamos alfinetando Bonner, argumentando que ele deveria ter algum interesse por trás e Valter deu o golpe de misericórdia: “é lógico que Bonner está interessado, já que a esposa (risos) só tem engordado com produtos processados”. O que uma celebridade não faz por um bom cachê. 




terça-feira, 24 de novembro de 2015



Aproveitei o feriado para colocar o Teatro em dia. Nelson tinha chegado de recém viagem pela Itália. Ficou uns 10 dias por lá. Ele tinha combinado de ir junto com Mônica, uma amiga que temos em comum. Já tinham viajado juntos por Portugal e a experiência foi, segundo ele, “ótima”. Estava com saudades e querendo saber se ele estava a fim de assistir “O topo da montanha” e “A tempestade” no fim de semana. Ele topou e rapidamente comprei nossos ingressos pela Ingresso Rápido.

Antes, porém, tinha reservado o começo do feriado para assistir “Vendo GRITOS e palavras – um recital”, com Denise Stoklos, no Teatro Anchieta.  Combinei com Alê Campos, um querido que trabalhou comigo no SESC Vila Mariana. Hoje ele é coordenador de um grupo de professores, em alguma escola estadual da vida. O que significa que..sim, ele é um forte candidato a ser mártir (risos). Com a peça marcada para às 18h, cheguei quinze minutos antes, afobado e suando litros. Mas Alê é tranquilo, estava super de boa sentado, observando as perigosas passarem. Tinha muita beasha por lá.

Cumprimentei alguns colegas que trabalharam comigo, quando trabalhava no SESC Consolação. Vi um baixinho que sempre é muito simpático, mas não lembro o nome dele. Vi Franklin por lá. Nunca vi ele trabalhar em outro SESC que não fosse lá.  Acredito que (risos) esteja  tombado como patrimônio histórico do Anchieta.



Entramos, pegamos nossos lugares na fila D. Pedi licença para a senhora que estava na quina e quando passei por ela, sem querer, me enrosquei em algo no chão e acabei chutando longe o material. Quando me dei conta, vi que o material chutado era a bolsa dela. Pedi desculpas e vi que ela continuou sorrindo pra nós, então percebi que ela (risos) não se atentou a esse fato. Sorte a minha.


Antes de começar o espetáculo, tricotei um pouco com Alê, perguntando a ele se precisava ir de coletes para escola. Ele está bem como coordenador, mas disse que sempre entra em conflito com a diretora porque ela “é muito burrinha” (risos). Com o método criar gado de  educação que estamos vivendo, não é de estranhar as secretarias e delegacias de ensino recrutarem gestores medíocres para o cargo. Nietzshe já profetizava a respeito: ele já observava que os historiadores contemporâneos a seu tempo vivenciaram grandes movimentos mas, na condição de interlocutores, eles “maquiavam” a situação, trazendo à tona uma maneira das pessoas serem educadas a não pensarem muito. Dado esse insight no texto, vamos voltar ao que interessa. (risos)


 Sempre assisti Denise Stoklos por causa de Denise Stoklos. Sua persona um tanto quanto faustiana me causava medo, quando a vi pela primeira vez na novela “Ninho da serpente”, da TV Bandeirantes. E isso já tem um tempão (risos). Ela entrando no seu quarto, olhando para o espelho e tirando a peruca,  era aterrorizante (sorry pelo excesso de gerúndio). Foi esse o fascínio que ela sempre causou. Vindo para São Paulo, tive o privilégio de vê-la e também de produzi-la. Só que esta foi a primeira vez em que fui assisti-la não por causa dela, mas sim, por causa de sua grande referência e sustento na realização dessa peça, o escritor argentino Júlio Cortázar. Tive essa percepção momentos antes de soar o terceiro sinal. Fiquei na imaginação indagando se era um presságio.

Denise entra em cena como o nada e, ao mesmo tempo, ocupando um bom espaço em nossa concentração. O texto é brilhante, pulsante e corrosivo – característica marcante do escritor. Denise vocifera em pouco tempo a banalidade da informação na qual somos escravizados e o quanto as pessoas se tornaram fúteis com o excesso da vaidade. Tudo para deleite de seus nobres capachos, sem piscar na plateia. Mas por um pequeno descuido do tempo, o monólogo só me preencheu até a metade da peça. Tentei manter o foco para conseguir decodificar a mensagem do texto, mas todo o esforço de Denise, para mim, foi em vão. Quando você usa aquele mesmo “padrão teatro físico stoklos de ser” e sua memória passa, num rápido flash seus últimos trabalhos e percebe que ela criou uma estável zona de conforto, você começa a não se interessar mais. Quer dizer, se chega num momento em que sua concentração consegue dar espaço a uma rápida ação de pensamento, te cutucando com seu tridente e fazendo você questionar no meio da peça: “isso não vai acabar logo”? (risos) é porque você sabe que esse angu não vai render mais.

Final de peça, depois de 1h30, fomos calibrar as energias na Bella Buarque e colocar o papo em dia.   

segunda-feira, 23 de novembro de 2015


Comprei ingresso para assistir ao concerto da Osesp e tive uma sorte grande na hora da compra: tinha um lugar, central, na plateia elevada da Sala São Paulo. Nem acreditava que teria uma visão bem privilegiada. Não quis chamar ninguém para ir comigo. Prefiro contemplar a música clássica curtindo a solitude. Só fiquei um pouco tenso com o ingresso, que chegou apenas um dia antes data do concerto. 

Saí um pouco mais cedo para poder tomar uma ducha e me arrumar. Me colei e sai para pegar um táxi, próximo a meu apê. O taxista era um daqueles velhos chatos que mais rulminam do que falam. Pegou a Duque de Caxias, mas ficou do lado direito da avenida. Por um lado foi bom pois do lado esquerdo tinha um congestionamento. Porém, ele precisou me deixar do outro lado da calçada da Sala São Paulo (táxi – R$10,50, mas paguei R$10). Aí tive que me atirar na avenida para os carros pararem, para poder atravessar. Já estava um pouco irritado porque já estava suando devido ao calor. E não havia uma maldito ar condicionado no carro daquele velho com lábio leporino. Estava com uma bolsinha para guardar celular e carteira, essas bem de menininhas (risos). Cheguei na entrada e pedi informação ao segurança sobre onde entrar e ele com um olhar desconfiado, deu a resposta me orientando a entrar e virar à esquerda. E a Sala São Paulo, como sempre imponente, impecável e de brilhante arquitetura.


Passei batido pelo café e fui em direção à livraria. E do nada vem aquela vontade desenfreada de comprar. Me atentei à biografia de Gustav Mahler e perguntei ao vendedor se ele tinha a biografia de Tchaikovsky que estou há séculos querendo comprar. Ele prontamente me mostrou o livro com uma foto linda de Piotr. E muito bem produzido: livro de capa dura, belo prefácio, uma beleza minimalista na contra capa, elementos que se utilizam da sedução para você se tentar a comprá-lo. Quando esquivo meu olhar em outra direção, outra tentação babilônica: o livro Alucinações Musicais, de Oliver Sacks. Mas segurei a onda, afinal de contas, não queria ficar com as mãos ocupadas.

O segundo sinal soou e fui me recolher em meu assento. Nem acreditava na visão que eu tinha. Olhei para o lado e vi uma senhora com o programa. E eu que não queria ocupar minhas mãos, indaguei em minha sã consciência: “Cadê o programa”? Fui correndo comprar um. Deu tempo de voltar a meu lugar e ainda dar uma lida na vida de Richard Strauss. O bacana de ver a orquestra executar as obras de dois grandes e distintos compositores da música clássica é que há um fio condutor na execução dessas peças: ambas retratam o herói romântico. E ver duas formas brilhantes e diferentes de execução sobre o destemido herói é uma oportunidade rara, que não dá para desperdiçar.

Antes de dar início na apresentação, o maestro Fabio Mechetti saiu um pouco do roteiro, executando com a Osesp uma obra de Camargo Guarnieri em homenagem ao povo de Mariana com aquela tragédia terrível do rompimento criminoso da barragem. E que até agora não há punição dura aos responsáveis, leia-se Vale e Samarco. Que Deus nos proteja. Feita a devida homenagem, só me restava fechar os olhos...e meditar.


Na primeira parte do concerto, uma obra baseada no incestuoso poema “Manfred”, de Lord Byron. Fiquei imaginando como deveria estar o estado de Schumann quando ele terminou de criar essa divindade sonora. Enquanto escutava atentamente o ecoar de cada instrumento entrando em minha audição, me veio à mente lembranças da minha infância, do quanto era duro sobreviver numa época de tamanha recessão. E esse herói romântico na visão de Schumann mostrando em cada acorde melancolia e serenidade. Fiquei com o corpo relaxado e a alma mansa. Intervalo para o café.

Na segunda parte do programa, pensei, enquanto tentava chegar ao meu lugar e com uma manca na minha frente. Fiquei me questionando se a calmaria proposta por Schumann fosse proposital a orquestra apresentar, como uma espécie de estratégia. Pois minha intuição não falhou.

Apesar de ser mais conhecido pelas suas óperas, sempre polêmicas e muito reconhecidas, Richard Strauss costuma proporcionar momentos de catarses, dada à sua forma inusitada intempestiva de compor. Strauss compôs o poema sinfônico “Uma vida de herói”, uma purgação desesperadora que mostra toda a vulnerabilidade e instabilidade do herói, visto pelo compositor. Foram 45 minutos de pura tensão. Não foi à toa que decidiram deixar Strauss por último. É uma obra difícil de degustar. Tanto que houve uma pequena evasão no início da obra. A audição teve a participação do violonista alemão Daniel Müller-Schott, um jovem muito talentoso e promissor. Assim que o concerto acabou, senti minhas costas contraídas, de tanta tensão que Strauss me deixou. Vi ligações de alguns queridos. Juçara tinha me ligado. De táxi até chegar em casa para retornar os telefonemas.


sábado, 21 de novembro de 2015



Esqueci de comentar ao Diário sobre a premiação do Festival Telas de Televisão, organizado pela Comverge. O SescTV estava concorrendo com dois programas da grade – o documentário Baré – povo do rio, na categoria documentário feature; e a série Arquiteturas, dirigida por Paulo Markun e Sérgio Roizenblitz na categoria documentário de série. Concorrendo com nomes de peso, como o Globosat. Tinha também alguns programas de outros países participando da competição.  Como estava marcado para às 19h, aproveitei e peguei carona com Jô, nossa assessora de imprensa, no táxi. Minha chefe também iria, mas como ela tem o hábito de sempre chegar atrasada, não a esperei. O taxista era muito charmoso.

A corrida foi rápida, não pegamos muito congestionamento, o que considero um milagre em plena hora do rush. Acho que a conversa com Jô rendeu um pouco até chegarmos no Auditório Ibirapuera. Não! Me lembrei agora: fiquei conversando mais com o taxista (risos).  Lógico que não perderia a chance de pegar o seu cartão. Que devo ter perdido em algum lugar.


Assim que chegamos, entramos na Oca, antes de irmos ao Auditório. Encontrei Adriana, chefe da Jô, com seu marido Yan. Deixei minha bolsa e fui andar pela Oca, ciceroneado pela Adriana. Passamos por alguns stands, a começar pela nova série do Porta dos Fundos, “O Grande González”. Tinha totens dos personagens. Pedi licença para Adriana pois queria ver de perto o cenário. E aproveitar para (risos) não ouvir sua voz. Quando ela engata a falar, ela deve olhar para o céu e gritar: “Duracell, ATIVAR”! Porque ela (risos) não para de falar. Vi a foto do João Vicente Castro. Como ele é um guapo. Além de inteligente e com aquela voz rouca super sexy. Afinal, pra quem já “trocou óleo” com a Sabrina Sato e a Cléo Pires deve ter um belo remelexo.

                                          Pelo amor da luz elétrica!

Fomos até o stand de uma empresa norte-americana, onde acontecia uma oficina de maquiagem. Fiquei fazendo cara de paisagem até avistar um querido que conheci através de meus amigos Max e Mila. Se chama Paulo, é editor. Quando me viu, ele gritou: “Jonathaaaaan”. Quer dizer, eu não me chamo Jonathan. Disse isso a ele e aí ele preferiu me chamar por Lira mesmo. Ficamos tricotando por ali, enquanto via as meninas observando o trabalho dos maquiadores. Renato Nery, da Comverge me viu e me cumprimentou. Nos conhecemos quando ele trabalhava na TV Cultura, quando a TV Cultura era um canal de cultura. Isso já (risos) tem bastante tempo. Perguntei a Paulo se ele iria participar da premiação e ele respondeu que estava concorrendo com o documentário dele, “O que realmente somos”.  Aproveitou pra me cobrar, a dizer o que tinha achado do filme. E aí vem aquele momento “espero não cometer um faux pas”. Me cutucou perguntando se eu tinha visto. Eu assisti logo quando ele me entregou o material em DVD. Estávamos jantando no Alma Cozinha junto com Max, Mila e Jurandir Miller. Vi uma semana depois. É um documentário que mostra o dia a dia de refugiados africanos morando na Austrália e todo o processo de adaptação do grupo. No filme tem a presença de um professor de capoeira, brasileiro, tentando ensiná-los, além da capoeira, a não matar a identidade cultural deles. Paulo teve muita sensibilidade em dar a chance desses jovens protagonizarem uma história. Mas ele escorregou na sensibilidade ao tirar o protagonismo deles e passar a ele a condição de brilhar, como participação especial na história. Quase no final do filme, ele corta a cena da Austrália e num passe de mágica aparece ele e o namorado de mãos dadas, o que considerei desnecessário, pois a narrativa era outra. Então num rápido ato reflexo, falei tudo isso a ele. Ele quis saber, não é mesmo?


Fomos para o auditório e ficamos aguardando no foyer, fazendo caras e bocas com tudo e com todos. Vi um ator que sempre achei bonito mas não lembrava o nome dele – Filipe alguma coisa. Ele trabalhou na MTV junto com o Marcos Mion naqueles programas sonolentos de humor. Estava com aquele coque ridículo no cabelo, fazendo a Samurai. Ficamos nos perguntando se ele era gay e de samurai nos referíamos a ele como “gueixa” (risos). Alguns produtores vieram falar comigo, mas não me lembrava do nome deles. Acabei me perdendo das meninas que trabalhavam comigo.
   
Tatina Toffoli chegou e emendamos um tricô, junto com um amigo produtor dela, que estava concorrendo com a série Zé do Caixão. Eles se conheceram quando trabalhavam na MTV. Aí desembestei a falar do quanto a MTV foi importante pra minha vida, que minha bagagem musical se devia a tudo que consumia no canal. Mas achei melhor dar um breque no texto, pois notei a cara (risos) de desolação deles.


Fiquei com Paulo e seu namorado Egberto na premiação. O SescTV ganhou na categoria melhor realização artistica de documentário pelo filme Baré. Maurício de Sousa foi homenageado pelo conjunto da obra com a Turma da Mônica. Ele subiu ao palco, mas não estava andando direito, tinha o tamanho daquele anão do Games of Trones (risos). A série Arquiteturas não ganhou nenhum prêmio, mas valeu a indicação. Mas me deu a sensação de Sérgio Roizenblitz não ter digerido bem apenas a indicação. Saiu antes da cerimônia terminar.



quinta-feira, 19 de novembro de 2015


Fiquei no aguardo de minha irmã chegar para entregar alguns documentos meus que ela precisa para alugar uma casa. Depois de anos no processo contínuo com o casamento, ela irá se divorciar. Lógico que sempre torci pela felicidade dela, mas...o que fazer numa situação onde ela tinha uma jaca de homem que não tinha postura nenhuma de homem para assumir uma família. Só sabia reclamar e ocupar espaço. Sei que é um momento difícil, mas espero que ela não volte atrás na sua decisão de se separar. Assim que o fato ficar consumado, vou convidá-la para (risos) “beber o santo” pois esse ebó já ficou impregnado muito tempo na vida dela.

Com a véspera do feriado, aquela vontade de não fazer nada. Saí para almoçar com Val, no Moinho. Ela voltou recentemente de uma licença e ficamos meses sem nos falar, cada um com seu problema a resolver: eu com as finadas hérnias e ela com a mãe e com o dedo quebrado. Fomos caminhando e ao atravessar a rua vimos um motorista velho que bradou de dentro de sua carroça emergente: “filho da putaaa”! Pra que tanta nervosismo, se não tinha motivo nenhum pra xingar. O mais engraçado foi a perspicácia de Val, que olhou para o velho e se atentou a um pequeno detalhe: “como pode ter dinheiro para ter um carro desses e não ter dinheiro para colocar (risos) uma dentadura na boca”?! A ostentação se tornou o atual padrão de valor da classe mérdia. Ficamos rindo da situação escabrosa que passamos e ao mesmo tempo indignados com o padrão de valores que as pessoas andam angariando para si. E ainda querem fechar escolas, Deus Pai!

Com as barbáries praticadas pela Vale e pelo Estado Islâmico, fiquei me questionando, como uma boa alma inquieta, que todos esses atos são consequência de vários ações ocorridas em nossa História Mundial. Coincidentemente nesta semana, quis refletir a respeito desses acontecimentos procurando uma resposta e eis que surge, na minha leitura noturna, um trecho do livro “Escritos sobre História”, profetizado por Nietszhe bem apropriado para o momento e que desejo compartilhar:

.."não busqueis dissimular a justiça, se não experimentais a terrível vocação do ser justo"...

..."nenhuma época ou geração tem de fato o direito de se arvorar de juízes de todas as épocas e de todas as gerações anteriores"...

E pra fechar com chave de ouro: o governo Alckmin resolveu voltar atrás no fechamento das escolas. É para aplaudir de pé a postura dos estudantes que ocuparam as escolas como forma de protesto contra o fechamento delas. E pensar que esses estudantes serão os futuros eleitores para 2018, aconselharia Alckmin a pensar muito, caso ele queira se candidatar a presidente do Brasil. Mesmo com a omissão da mídia que adora blindar o tucano, o assunto repercutiu não só aqui, como em boa parte dos semanários de diversos países. Se Alckmin pensar numa possível candidatura, aconselho o “bom moço” de Pindamonhangaba estocar desde já caminhões pipa cheios de óleo de peroba. Ou então (risos) trocar de nariz para passar despercebido.
Se você não leu, segue alguns links para se informar:




E bom feriado pra nós. 

quarta-feira, 18 de novembro de 2015


Estava no aguardo de minha diarista chegar para passar a pauta de limpeza do dia. Fiquei olhando o quanto meu apê está bagunçado desde minhas férias e eu ainda não fiz nada para resolver. De todos os pecados capitais, a preguiça é realmente meu calcanhar de Aquiles. A estante do meu quarto precisa ser arrumada urgente. Todos os meus cds estão empilhados de forma bem porca até eu consertar o suporte para colocar todos os álbuns de forma organizada. Meu pai já preparou todo o material para resolver a situação, minha irmã ficou de ir em minha casa para fazer os reparos e eu estarei acompanhando, (risos) supervisionando o trabalho dela. A organização mental desse trabalho se dissipou com o barulho do interfone. Era o porteiro para avisar que (risos) minha “secretária” tinha acabado de chegar.   Regina, minha diarista, valorizando seu passe.


Regina chegou e eu já fui logo passando o que eu queria que ela fizesse. Falei de forma rápida para não dar espaço para ela falar. Regina adora tagarelar. E eu odeio ficar jogando conversa fora pela manhã. Fico impressionado como ela se liga no 220 volts e deslancha no contato verbal. Para não ter que ser grosseiro com ela, faço uma espécie de exercício audiovisual mental: enquanto ela fica falando pelos cotovelos, esvazio minha mente até conseguir bloquear, em minha audição, sua voz. Aí eu olho pra cara dela fingindo estar atento aos seus devaneios e começo a mentalizar uma cena de novela, de preferência de época, para (risos) maltratá-la na cena. Coisas do tipo: “por acaso eu te dei espaço para abrir a boca? Limpe logo minha cristaleira, imprestável”! Ou outras pérolas, do tipo: “Você quer que eu use sua língua para limpar os talheres? Assim você fecha essa boca”! E quando ela quer dar dicas de saúde pra mim? É hilário. Fica comentando sobre eu me alimentar bem e aí eu ligo o foda-se no “cerebral automatic mute”. O mais curioso é ela falar que eu preciso fazer dieta porque ela está fazendo dieta e que já perdeu alguns quilos. Eu olho pra ela e penso: perdeu...onde? (risos). 


E o Brasil jogou ontem nas eliminatórias e eu esqueci que tinha jogo. É que eu uso como termômetro, para saber que tem jogo, os gritos de torcedores que invadem os vários bares na Santa Cecília.  Mas não ouvi nenhum grito de euforia durante o jogo.  E olha que o Brasil enfiou 3 no Peru. De uns tempos para cá, tem me dado muito prazer em assistir à transmissão de jogos de futebol, mas acho que a gente sofre com a quantidade de péssimos profissionais responsáveis pela locução. Procuro sempre me antenar com os novos profissionais da área, assistindo os jogos na TV paga, mas...me causa estranhamento ouvir o locutor narrar de forma tão estressada. Falam dessa forma por quê? Por acaso eles estão com algum nabo enfiado no rabo? O que pretendem fazer? Transformar o jogo numa soap opera? O pior é que esse tipo de profissional se prolifera em forma de cascata. Vivemos uma era mediana em se tratando de bons profissionais na cobertura de jogos. Está mais do que na hora de inovar, concordam? Seria interessante colocar uma mulher narrando uma transmissão, por exemplo.  Mas sem aquela entonação de radialista que fala parecendo estar com prisão de ventre. Meus tímpanos agradecem.


segunda-feira, 16 de novembro de 2015


Saí atordoado da sessão do filme “O Clube”. Resolvi caminhar pela Paulista sem rumo, precisava respirar e meditar sobre a porrada angustiante que passei durante a exibição (clique para saber mais a respeito do filme "O Clube" - http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/11/depois-de-algumas-semanas-mantendo-vibe.html). Resolvi ir pra casa descansar um pouco.

Me colei e saí para pegar o subway  no horário combinado com Clau para ver “A pele de Vênus”. Como Polanski tem uma maneira visceral de construir a narrativa de seus filmes, achei que ter descansado me fez recuperar a energia para ter fôlego na próxima sessão. Saí  a caminho do metrô pra lá do Mundo de Alice. Assim que desci na estação República para pegar a linha 4 – amarela, fiquei olhando as pessoas, isoladas dentro do seu mundinho 3G e fiquei reparando nos olhares cansados, pesados, sofridos do cotidiano de suas vidas. Quer dizer, eu não sabia nada a respeito delas, mas o olhar entrega tudo, não? Subitamente veio em minha cabeça uma música do Fred Schneider chamada “Monster”, que fez relativo sucesso aqui no Brasil nos anos 80. O refrão pegajoso ficava repetindo a palavra “Monster” e reverberou em meu cérebro como se estivesse próximo de um alto falante. À medida que passava por essas pessoas e as olhava, seja na estação, ou dentro do vagão do metrô, o refrão “Monster” martelava minha mente e (risos) eu não conseguia parar de rir. Aí decidi adaptar a letra e acrescentar, de forma alternada no refrão a palavra “loser”. Em cada rosto que olhava, a palavra monster e loser saltitava pela minha mente. Sorte a minha não ter tido (risos) telepatas pelo caminho. Para não ser linchado em público.


Cheguei um pouco depois das 21h, comprei nossos ingressos e fiquei aguardando Clau chegar. Fiquei sentado na poltrona quando fui abordado por uma menina que estava pegando depoimentos para a Mostra de Cinema. Tinha ido na abertura com a exibição do filme novo do Hector Babenco, escolhido para abrir a edição do festival. O filme era tão bom que (risos) fui embora antes do término. Sofrível de dar dó. Nem o Willen Dafoe conseguiu salvar. Fora a mancada de colocar a Denise Weinberg no papel de mãe do Dafoe. Não sei o critério usado na escolha da atriz, mas Denise estava caracterizada de uma maneira que ela parecia (risos) a irmã do personagem do Dafoe.


Voltando à entrevista, fui abordado pela repórter se não queria ser entrevistado. Quis me esquivar, pois não me lembrava dos filmes que estavam passando na Mostra. Tinha lido, mas me esquecido dos nomes. Disse para ela não me perguntar de forma pontual, sobre qual filme ver e ela disse “sem problemas”. Começamos a entrevista e acabei me empolgando em falar sobre a mostra, a atual produção de filmes no cenário mundial, até ela me perguntar com sua cara de pau peculiar que filme eu iria assistir na mostra. Fiquei enfiando a cara dela na parede mentalmente várias vezes. Mas me saí bem, dizendo que o grande barato era você lidar com o “elemento surpresa” da mostra em ir às sessões sem se pontuar com a indicação dos críticos ou dos guias culturais. Terminada a entrevista, avistei Clau e entramos na sala de exibição. Estávamos ansiosos em começar o filme. Só fiquei lamentando da gente ver no Reserva Cultural. As salas possuem uma péssima acústica. Mas assim que começou o filme, desencanamos da qualidade do som e mergulhamos na narrativa da história.

E nem precisamos fazer força para esquecermos o som horrível da sala de exibição. O filme teve pra mim a sensação de estar numa sala cirúrgica sem direito a uma anestesia. Para começar, a obra é baseada no romance de Leopold von Sacher-Masoch, nome que deu origem ao termo “masoquista”. E isso não é uma mera coincidência no filme.  O diretor utilizou apenas dois personagens (reforçando: apenas dois). O cenário, uma sala de teatro. E durante quase duas horas, o diretor usou e abusou de todos os seus instrumentos cirúrgicos para deixar o espectador arrebatado de dor e ao mesmo, de intenso prazer. A trama narra um dia de testes para escolha da atriz principal da peça, com a presença do diretor da peça, que está debutando no Teatro com sua primeira peça na direção. Assim que a audição de testes termina, ele arruma suas coisas para ir ao encontro de sua esposa – que aparece apenas de forma sutil, pelo celular. Quando está prestes a sair do teatro, entra em cena uma aspirante a atriz, que chega atrasada para os testes. Tanto para o espectador como para o diretor do filme, há uma impressão de estranhamento na personagem-atriz, que chega toda molhada da chuva e demonstrando não ter o mínimo de classe, a começar pela forma chula e de baixo calão para estabelecer um diálogo. E ela se mostra insistente acreditando piamente que ela é a atriz ideal para o papel. Com um bom roteiro conduzindo a narrativa, o diretor acaba cedendo e faz uma audição com a atriz. E para surpresa dele e de todos dentro da sala de cinema, ela simplesmente arrasa no seu primeiro texto, incorporando de forma magistral a personagem, deixando todos nós atônitos diante da tela. A partir daí, o diretor conduz o filme com vários jogos de cena a ponto de nos fazer confundir sobre qual momento do filme de fato é ficção e “realidade”. E usando apenas dois atores e uma produção simples, sem grandes recursos. Polanski realmente mostrou sua maestria em conseguir nos transformar em reles masoquistas. Por mais que doesse em assistirmos a digladiação dos dois personagens, ficávamos mais envolvidos e ansiosos em saber o desfecho do filme. E detalhe: não se escutava nem a respiração das pessoas (risos), tamanho o clima de apreensão na sala. O final é espetacular.


Assim que saímos do Reserva, pedi a Clau para ficar uns instantes sem conversar. Caminhamos pela Paulista assombrados e ao mesmo tempo admirados pelo fato do diretor ter essa maneira de surpreender o público. Para quem é ator e quer ter boa inspiração para lapidar seu talento, é uma experiência doída, porém necessária, assistir e estudar a cinebiografia do diretor. Vá sem medo de ser perfurado. Neste filme Polanski expurga de forma crua o quanto a dor - seja na forma de desprezo e/ou subestimação, é importante para sobrevivência deles. E minha também. Com a cota de filmes cirúrgicos vistos no mesmo dia, fomos para casa tomar um vinho. E assistir Happy Tree Friends. Para relaxar (risos).


quarta-feira, 11 de novembro de 2015


Depois de algumas semanas mantendo a vibe pós-férias, achei que estava mais do que na hora de me inquietar um pouco. E nada mais propício do que aproveitar o roteiro cultural para algo mais...cirúrgico. Juçara tinha sugerido para que eu fosse assistir “A pele de Vênus”, do Roman Polanski. E Polanski sabe como ninguém incomodar o espectador.  Liguei para Clau para combinarmos em assistir e marcamos nos encontrar para a sessão das 21h30 no Reserva Cultural, apesar de eu detestar a sala de exibição de lá. O áudio é muito comprimido, fica muito abafado de se escutar o filme. Mas pela falta de opção, decidimos fazer o sacrifício de ir no Reserva. Como só nos veríamos à noite, me programei para fazer algo durante o dia e na procura por algo que me instigasse, escolhi dentre as opções que marquei no Guia da Folha em ver a produção chilena “O Clube”. Tudo bem de ser cinema também, assim eu aproveitei para colocar a o roteiro cinéfilo em dia. E para meu azar, só havia sessões no Reserva Cultural. O sacrifício nesse dia foi em dobro.


Cheguei 40 minutos antes para garantir o ingresso. E pra variar, o preço dos ingressos continua bem salgado. Peguei meu ticket e fui tomar café na boulangerie do Reserva. Os atendentes são até educados, mas muito lentos. Fora que você fica no balcão aguardando seu pedido e assistindo de camarote a troca de farpas entre eles. Pura commedia dell arte tupiniquim. Peguei meu pão de queijo e expresso e me sentei para observar a fauna em minha volta. É triste você se deparar com o mal gosto das pessoas para se portar de forma tão deselegante. Elas falam alto, quase gritando, sem necessidade de você se exaltar, afinal de contas o espaço da boulangerie é pequeno e eu não sou obrigado a ficar ouvindo mediocridades da modernidade tardia. E o figurino, então? A mulherada toda desfilando, umas parecendo que estavam no tapete vermelho do Oscar, o que acho over demais para ver “apenas” uma sessão de cinema. E outras pareciam que estavam vestidas para ir a um frigorífico. E tem gente que ainda tem esperança na evolução humana. Pit stop para o toilette.


Entrei na sala, direto para meu assento. Tenho o hábito de comprar sempre na quina, no canto das fileiras. A sala estava com um público considerável. Pelo que percebi olhando para a cara de alguns, estavam no pique de se torturarem um pouco.

E o filme começa dando a sensação de que não pretende criar nenhuma sensação de alívio para nós, estranhos “pacientes” à procura de um antidoto. O diretor, Pablo Larraín, afiado com seu bisturi, dissecou a vida de seus personagens sem direito a qualquer justificativa para a penitência de suas ações. A trama se passa num vilarejo ao sul do Chile, numa comunidade totalmente jogada e excluída do mapa, de sua existência. E é nesse vilarejo que convivem alguns padres em um casarão antigo, sob o zelo de Irmã Mônica. Apesar de não se ter ideia do que pode vir a acontecer, o diretor deixou pistas para termos uma noção do que aguardar. Para que eu chegasse à conclusão do desprezo impresso a essa comunidade, a fotografia do filme ajudou  bastante a revelar o que o enredo da história iria oferecer. O tempo nublado ampliou o tom cinzento e sombrio utilizado na composição fotográfica da trama. Aos poucos, foram apresentados os padres com suas aparências rancorosas, amargas e sem perspectiva alguma de vida. E a cirurgia veio logo no início do filme, quando chega um outro padre para se juntar ao grupo. No momento que estão conversando, eles escutam um homem do lado de fora aos gritos, proferindo algumas obscenidades envolvendo o padre que acabara de chegar. Com receio do casarão ser invadido, um dos padres já residente oferece uma arma (aqui a primeira questão: por que haveria uma arma com o grupo de padres no casarão?). O novo hóspede pega a arma e sai para fora, ao encontro do missiva. E algo inusitado acontece. A cirurgia pedida no começo desse texto veio mais cedo do que eu queria.


Com o acontecido que eu não irei falar, o espectador começa a descobrir as histórias que envolvem a vida de todos os padres e da freira zelosa, através de outro padre, do tipo Inquisidor da idade Média, que chega ao casarão para descobrir sobre o ocorrido e, sempre desconfiado, acaba fazendo uma investigação com todo o grupo. Foi uma bela sacada do diretor em colocar um ator lindo, daqueles que chamam a atenção, para fazer o papel do Inquisidor. Percebi que o diretor quis criar uma relação de proximidade entre o inquisidor e nós, reles mortais espectadores. E o resultado deu certo: à medida que o inquisidor ganhava espaço na trama, criava-se uma intimidade a ponto de acompanharmos juntos, na condição de meros ajudantes do terapeuta mor da Inquisição, a descoberta do real motivo que levou o grupo de padres a se isolar nesse vilarejo. Foi como você tomar um comprimido e ele entalar em sua garganta.  O bom roteiro também ofereceu pequenas subtramas no enredo para exercitar o lado negro da força de sadismo do diretor. 

Com o final do filme, as pessoas saíam da sala sem dar um pio. Saí com o corpo doído, tenso, por culpa do padre inquisidor galã, que me fez cair propositalmente nas suas garras para que eu o acompanhasse em suas intervenções cirúrgicas. Mérito do roteiro bem elaborado, do elenco bem entrosado e da direção minuciosa de Pablo Larraín, um jovem extremamente inquieto e provocador. Pra quem dirigiu filmes como “No”, de 2012, onde se cutucava com varas curtas a ditadura de Pinochet, merece toda a minha atenção e desejo de uma carreria promissora.


Depois dessa jaca caída em minha cabeça, decidi ir almoçar, refrescar a cabeça e guardar as energias para a próxima imersão: “A pele de Vênus”, de Roman Polanski. Acho que vou precisar de uma dose cavalar de Floral para aguentar.