segunda-feira, 9 de novembro de 2015


Algo engraçado aconteceu enquanto eu estava me distraindo um pouco, no Facebook. Fazia tempo que eu não acompanhava essa mídia social com atenção. Li um ótimo artigo de Tim Vickery, do site da BBC, sobre os mitos que se criam a respeito do Brasil, mas o quanto esses mitos estão extremamente defasados. Falou sobre essa passividade dos brasileiros, essa omissão de não encarar de frente aos problemas. E usando com muita sagacidade uma ironia bem sutil. Bem britânica eu diria. Vale realmente a reflexão: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/10/151014_vickery_coluna_fd

Mas voltando ao que de fato quero escrever, vi no feed de notícias uma pergunta feita na página do Prince, que eu sigo no Facebook. Não sei se (risos) numa primeira leitura eu não entendi bem. Uma garota perguntou se alguém se lembrava em que fase o Prince estava usando (risos) um vestido rosa cintilante. Eu realmente comecei a rir porque..bem.., o Prince sempre fez a linha andrógina. Quer dizer, é muito difícil responder a isso, já que Prince nos áureos tempos de megastar sempre se vestia como mulher (risos). Aquela bem feminina, do tipo que eu até “quebraria uma louça” com ela. Adoraria poder ajudar a também fã do astro, mas nessas lembranças, pensando nas várias vezes que assisti o Prince, fica difícil de descobrir, já que Prince sempre se exibia vestido como uma (risos) prostituta sudanesa. 



Aproveitando o retorno a vida real, estou colocando meu roteiro cultural em dia. Fui na exposição Frida Kahlo – conexões ente mulheres surrealistas no México e foi de arrepiar. Lidar com a obra de Frida já requer uma dosagem de coragem e muitas disposição física e intelectual para entrar no seu mundo cortante. Agora imagina lidar, na mesma exposição, com as obras de conterrâneas e ou influenciadas por ela, com a mesma maneira de expor de forma indigesta as pinturas de Frida Kahlo. Quando cheguei no Tomie, tinha uma fila e perguntei a um dos seguranças que era (risos) a cara do Sméagol, do Senhor dos Anéis, quanto tempo era a demora para entrar na exposição. Ele foi muito simpático, disse que em torno e 20 minutos. Mas com o clima frio, bem agradável em São Paulo, dava para ficar no Ipod ouvindo muita música boa, como essa abaixo no vídeo, perfeita para o tempo nublado.


Com o som do Portishead preparando os neurônios para entrar dentro de um mundo surrealista extremamente dark, preferi guardar a ambientação musical e encarar a exposição de forma bem nua e crua. Como as obras de Kahlo. A curadoria foi competente em colocar nesse pacote quimeras satânicas de primeira qualidade. As pinturas de Remédios Varo é um convite irrecusável ao mundo sombrio. A obra “Dor de reumatismo” é de fazer ter nó na garganta. Foi de embargar os olhos. Fora uma pintura linda dela, em que trabalhou com madrepérola para ressaltar o rosto da persona retratada na tela. Os autoretratos de Maria Izquierdo, com um volume excessivo de texturas cinzentas e negras e aquele ar desolador das personagens utilizadas pela pintora. Com o tempo nublado e cinzento, isso se potencializou em mim. Outra provocadora, Leonora Carrington, a última do clã a morrer (faleceu em 2011), abusou, no bom sentido, da linguagem surrealista para realmente dar um tratamento de choque necessário para nossa sanidade. Saí sufocado.




Com a exposição de Frida e “amigas”  e o texto de Vickery, acho que cumpri bem minha (risos) cota de realidade. Cheguei em casa, me joguei numa bossa nova para relaxar.