Estava no aguardo de minha diarista chegar para
passar a pauta de limpeza do dia. Fiquei olhando o quanto meu apê está
bagunçado desde minhas férias e eu ainda não fiz nada para resolver. De todos
os pecados capitais, a preguiça é realmente meu calcanhar de Aquiles. A estante
do meu quarto precisa ser arrumada urgente. Todos os meus cds estão empilhados
de forma bem porca até eu consertar o suporte para colocar todos os álbuns de
forma organizada. Meu pai já preparou todo o material para resolver a situação,
minha irmã ficou de ir em minha casa para fazer os reparos e eu estarei
acompanhando, (risos) supervisionando o trabalho dela. A organização mental desse
trabalho se dissipou com o barulho do interfone. Era o porteiro para avisar que
(risos) minha “secretária” tinha acabado de chegar. Regina,
minha diarista, valorizando seu passe.
Regina chegou e eu já fui logo passando o que eu
queria que ela fizesse. Falei de forma rápida para não dar espaço para ela
falar. Regina adora tagarelar. E eu odeio ficar jogando conversa fora pela
manhã. Fico impressionado como ela se liga no 220 volts e deslancha no contato
verbal. Para não ter que ser grosseiro com ela, faço uma espécie de exercício
audiovisual mental: enquanto ela fica falando pelos cotovelos, esvazio minha
mente até conseguir bloquear, em minha audição, sua voz. Aí eu olho pra cara
dela fingindo estar atento aos seus devaneios e começo a mentalizar uma cena de
novela, de preferência de época, para (risos) maltratá-la na cena. Coisas do
tipo: “por acaso eu te dei espaço para abrir a boca? Limpe logo minha
cristaleira, imprestável”! Ou outras pérolas, do tipo: “Você quer que eu use
sua língua para limpar os talheres? Assim você fecha essa boca”! E quando ela
quer dar dicas de saúde pra mim? É hilário. Fica comentando sobre eu me
alimentar bem e aí eu ligo o foda-se no “cerebral automatic mute”. O mais
curioso é ela falar que eu preciso fazer dieta porque ela está fazendo dieta e
que já perdeu alguns quilos. Eu olho pra ela e penso: perdeu...onde? (risos).
E o Brasil jogou ontem nas eliminatórias e eu
esqueci que tinha jogo. É que eu uso como termômetro, para saber que tem jogo, os
gritos de torcedores que invadem os vários bares na Santa Cecília. Mas não ouvi nenhum grito de euforia durante o
jogo. E olha que o Brasil enfiou 3 no
Peru. De uns tempos para cá, tem me dado muito prazer em assistir à transmissão
de jogos de futebol, mas acho que a gente sofre com a quantidade de péssimos
profissionais responsáveis pela locução. Procuro sempre me antenar com os novos
profissionais da área, assistindo os jogos na TV paga, mas...me causa
estranhamento ouvir o locutor narrar de forma tão estressada. Falam dessa forma
por quê? Por acaso eles estão com algum nabo enfiado no rabo? O que pretendem
fazer? Transformar o jogo numa soap opera?
O pior é que esse tipo de profissional se prolifera em forma de cascata.
Vivemos uma era mediana em se tratando de bons profissionais na cobertura de
jogos. Está mais do que na hora de inovar, concordam? Seria interessante colocar uma mulher
narrando uma transmissão, por exemplo. Mas sem aquela entonação de radialista que
fala parecendo estar com prisão de ventre. Meus tímpanos agradecem.