Aproveitei
o feriado para colocar o Teatro em dia. Nelson tinha chegado de recém viagem pela
Itália. Ficou uns 10 dias por lá. Ele tinha combinado de ir junto com Mônica,
uma amiga que temos em
comum. Já tinham viajado juntos por Portugal e a experiência
foi, segundo ele, “ótima”. Estava com saudades e querendo saber se ele estava a
fim de assistir “O topo da montanha” e “A tempestade” no fim de semana. Ele
topou e rapidamente comprei nossos ingressos pela Ingresso Rápido.
Antes,
porém, tinha reservado o começo do feriado para assistir “Vendo GRITOS e
palavras – um recital”, com Denise Stoklos, no Teatro Anchieta. Combinei com Alê Campos, um querido que
trabalhou comigo no SESC Vila Mariana. Hoje ele é coordenador de um grupo de
professores, em alguma escola estadual da vida. O que significa que..sim, ele é
um forte candidato a ser mártir (risos). Com a peça marcada para às 18h,
cheguei quinze minutos antes, afobado e suando litros. Mas Alê é tranquilo,
estava super de boa sentado, observando as perigosas passarem. Tinha muita
beasha por lá.
Cumprimentei
alguns colegas que trabalharam comigo, quando trabalhava no SESC Consolação. Vi
um baixinho que sempre é muito simpático, mas não lembro o nome dele. Vi
Franklin por lá. Nunca vi ele trabalhar em outro SESC que não
fosse lá. Acredito que (risos)
esteja tombado como patrimônio histórico
do Anchieta.
Entramos,
pegamos nossos lugares na fila D. Pedi licença para a senhora que estava na
quina e quando passei por ela, sem querer, me enrosquei em algo no chão e acabei
chutando longe o material. Quando me dei conta, vi que o material chutado era a
bolsa dela. Pedi desculpas e vi que ela continuou sorrindo pra nós,
então percebi que ela (risos) não se atentou a esse fato. Sorte a minha.
Antes
de começar o espetáculo, tricotei um pouco com Alê, perguntando a ele se
precisava ir de coletes para escola. Ele está bem como coordenador, mas disse
que sempre entra em conflito com a diretora porque ela “é muito burrinha”
(risos). Com o método criar gado de
educação que estamos vivendo, não é de estranhar as secretarias e
delegacias de ensino recrutarem gestores medíocres para o cargo. Nietzshe já
profetizava a respeito: ele já observava que os historiadores contemporâneos a
seu tempo vivenciaram grandes movimentos mas, na condição de interlocutores,
eles “maquiavam” a situação, trazendo à tona uma maneira das pessoas serem
educadas a não pensarem muito. Dado esse insight no texto, vamos voltar ao que
interessa. (risos)
Sempre
assisti Denise Stoklos por causa de Denise Stoklos. Sua persona um tanto quanto faustiana me causava
medo, quando a vi pela primeira vez na novela “Ninho da serpente”, da TV
Bandeirantes. E isso já tem um tempão (risos). Ela entrando no seu quarto, olhando para o espelho e tirando a
peruca, era aterrorizante (sorry pelo
excesso de gerúndio). Foi esse o fascínio que ela sempre causou. Vindo para São
Paulo, tive o privilégio de vê-la e também de produzi-la. Só que esta foi a
primeira vez em que fui assisti-la não por causa dela, mas sim, por causa de sua
grande referência e sustento na realização dessa peça, o escritor argentino
Júlio Cortázar. Tive essa percepção momentos antes de soar o terceiro sinal.
Fiquei na imaginação indagando se era um presságio.
Denise
entra em cena como o nada e, ao mesmo tempo, ocupando um bom espaço em nossa
concentração. O texto é brilhante, pulsante e corrosivo – característica
marcante do escritor. Denise vocifera em pouco tempo a banalidade da informação na qual somos escravizados e o quanto as pessoas se tornaram fúteis com o excesso da vaidade. Tudo para deleite de seus nobres capachos, sem piscar na
plateia. Mas por um pequeno descuido do tempo, o monólogo só me preencheu até a metade da peça. Tentei manter o foco para conseguir decodificar a
mensagem do texto, mas todo o esforço de Denise, para mim, foi em vão. Quando você usa
aquele mesmo “padrão teatro físico stoklos de ser” e sua memória passa, num
rápido flash seus últimos trabalhos e percebe que ela criou uma estável zona
de conforto, você começa a não se interessar mais. Quer dizer, se chega num
momento em que sua concentração consegue dar espaço a uma rápida ação de pensamento,
te cutucando com seu tridente e fazendo você questionar no meio da peça: “isso
não vai acabar logo”? (risos) é porque você sabe que esse angu não vai render
mais.
Final
de peça, depois de 1h30, fomos calibrar as energias na Bella Buarque e colocar o
papo em dia.