sexta-feira, 6 de novembro de 2015



É clichê dizer, depois de um período de licença e férias, de que é duro voltar à realidade. Apesar de ter viajado apenas 15 dias, tive a sensação de ter aproveitado meu período todo de férias. Mas prometi a mim mesmo com esse choque anafilático da vida real, de não sucumbir logo na primeira semana de volta ao trabalho a pressões, stress, desconforto e irritação por perceber que a vida segue de maneira lenta, preguiçosa, sem resoluções concretas de pendências que estão há tempos para se resolver. Antigamente isso me deixava desolado e aquela energia pulsante, revigorante, que absorvi com a cultura de outro lugar se dissipava rapidamente. Minha estratégia foi simplesmente relaxar. Quer dizer, se ninguém foi capaz de resolver nada durante suas férias, não será com minha chegada que as coisas se resolverão, certo?  Minha tática foi não me preocupar, já que ninguém se preocupou durante esse tempo. E não pretendo ficar me acelerando em função dos outros.  Pro bem da minha saúde, não vale a pena.


Decidi botar as minhas pendências em pauta. Marquei mais um retorno com o Doutor Iron e ele me deu alta de tudo. Já posso dirigir e fazer atividade física. Peguei com Juçara o contato de um professor de Pilates que mora perto de casa. Ele já está me aguardando para agendarmos o dia e horário. Também vou retomar dar uma olhada em apartamento para venda. Conheci duas fofas que trabalham com consultoria imobiliária e que me darão uma ajuda em encontrar um apê bacana. Fora isso, voltar com o roteiro cultural de cada dia. Já estava com saudades de me jogar na vida cultural de Sampa.



E se por acaso o filme “Que horas ela volta?” ainda estiver em cartaz, não perca mais tempo e confira. Quando saí da sessão, me veio na lembrança uma observação feita por nada mais, nada menos que Chico Anysio há muito tempo atrás no Domingão do Faustão – quando ainda tinha saúde para assistir: “Regina Casé é o que ela quiser”. Muita gente associa Regina a uma comediante, apenas. Dentro da memória afetiva televisiva, a atriz contribuiu muito pela evolução da linguagem da televisão, em programas como “TV Pirata”, “Programa Legal” (tenho vários programas gravados em fitas de VHS) e um dos meus preferidos, o “Brasil Legal”. A inquietação de Regina Casé fez ela alçar outros vôos, como entrevistadora no confuso “Muvuca”; e apresentadora no delicioso “Um pé de quê”, no Canal Futura. Conseguir trazer ao público, de forma irreverente e divertida informações sobre diversos tipos de seres de nossa flora foi um aquecimento para Regina estrelar o bairrista “Esquenta”. Apesar dessa variedade de personas que poucas atrizes tem o calibre de ser, muitos esquecem de trabalhos densos e consistentes feitos pela atriz. “Eu, tu, eles”, de 2000, mostrou a tarimba, o talento de Regina em fazer um papel complexo. E em 2015, ela volta com outra personagem doída de se fazer. “Que horas ela volta” critica as desigualdades sociais ainda existentes em nossa sociedade. Imagino que para a expansiva Regina Casé, dever ter sido um trabalho árduo compor uma personagem com um sofrimento tão introspectivo e tão contido. Seria interessante as patroas levarem suas empregadas para verem juntas o filme. Para saber qual delas sairia viva no final da sessão (risos).