Saí atordoado da sessão do filme “O Clube”.
Resolvi caminhar pela Paulista sem rumo, precisava respirar e meditar sobre a
porrada angustiante que passei durante a exibição (clique para saber mais a respeito do filme "O Clube" - http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/11/depois-de-algumas-semanas-mantendo-vibe.html). Resolvi ir pra
casa descansar um pouco.
Me colei e saí para pegar o subway no horário combinado
com Clau para ver “A pele de Vênus”. Como Polanski tem uma maneira visceral de
construir a narrativa de seus filmes, achei que ter descansado me fez recuperar
a energia para ter fôlego na próxima sessão. Saí a caminho do metrô pra lá do Mundo de Alice. Assim que desci na estação República para
pegar a linha 4 – amarela, fiquei olhando as pessoas, isoladas dentro
do seu mundinho 3G e fiquei reparando nos olhares cansados, pesados, sofridos
do cotidiano de suas vidas. Quer dizer, eu não sabia nada a respeito delas, mas
o olhar entrega tudo, não? Subitamente veio em minha cabeça uma música do Fred
Schneider chamada “Monster”, que fez relativo sucesso aqui no Brasil nos anos
80. O refrão pegajoso ficava repetindo a palavra “Monster” e reverberou em meu
cérebro como se estivesse próximo de um alto falante. À medida que passava por
essas pessoas e as olhava, seja na estação, ou dentro do vagão do metrô, o
refrão “Monster” martelava minha mente e (risos) eu não conseguia parar de rir.
Aí decidi adaptar a letra e acrescentar, de forma alternada no refrão a
palavra “loser”. Em cada rosto que olhava, a palavra monster e loser saltitava
pela minha mente. Sorte a minha não ter tido (risos) telepatas pelo caminho.
Para não ser linchado em público.
Cheguei um pouco depois das 21h, comprei nossos ingressos
e fiquei aguardando Clau chegar. Fiquei sentado na poltrona quando fui abordado
por uma menina que estava pegando depoimentos para a Mostra de Cinema. Tinha
ido na abertura com a exibição do filme novo do Hector Babenco, escolhido para
abrir a edição do festival. O filme era tão bom que (risos) fui embora antes do
término. Sofrível de dar dó. Nem o Willen Dafoe conseguiu salvar. Fora a
mancada de colocar a Denise Weinberg no papel de mãe do Dafoe. Não sei o
critério usado na escolha da atriz, mas Denise estava caracterizada de uma
maneira que ela parecia (risos) a irmã do
personagem do Dafoe.
Voltando à entrevista, fui abordado pela repórter
se não queria ser entrevistado. Quis me esquivar, pois não me lembrava dos
filmes que estavam passando na Mostra. Tinha lido, mas me esquecido dos nomes.
Disse para ela não me perguntar de forma pontual, sobre qual filme ver e ela disse “sem problemas”. Começamos a entrevista
e acabei me empolgando em falar sobre a mostra, a atual produção de filmes no
cenário mundial, até ela me perguntar com sua cara de pau peculiar que filme eu iria assistir na mostra.
Fiquei enfiando a cara dela na parede mentalmente várias vezes. Mas me saí bem,
dizendo que o grande barato era você lidar com o “elemento surpresa” da mostra
em ir às sessões sem se pontuar com a indicação dos críticos ou dos guias
culturais. Terminada a entrevista, avistei Clau e entramos na sala de exibição.
Estávamos ansiosos em começar o filme. Só fiquei lamentando da gente ver no
Reserva Cultural. As salas possuem uma péssima acústica. Mas assim que começou
o filme, desencanamos da qualidade do som e mergulhamos na narrativa da
história.
Assim que saímos do Reserva, pedi a Clau para
ficar uns instantes sem conversar. Caminhamos pela Paulista assombrados e ao
mesmo tempo admirados pelo fato do diretor ter essa maneira de surpreender o
público. Para quem é ator e quer ter boa inspiração para lapidar seu talento, é
uma experiência doída, porém necessária, assistir e estudar a cinebiografia do
diretor. Vá sem medo de ser perfurado. Neste filme Polanski expurga de forma crua
o quanto a dor - seja na forma de desprezo e/ou subestimação, é importante para
sobrevivência deles. E minha também. Com a cota de filmes cirúrgicos vistos no
mesmo dia, fomos para casa tomar um vinho. E assistir Happy Tree Friends. Para
relaxar (risos).