Alter
do Chão. Acordamos em nosso último dia de suspiro em nossa "ilha da fantasia" com a notícia de que o passeio que tínhamos programado foi cancelado
por falta de quórum. Tive vontade de gritar mentalmente, mas pensei: “Querido,
relaxa. Lembre-se: você está de férias”. Enquanto tomava meu suco de cajá, fui
perguntando a Eduardo se havia um plano B. Ele deu a sugestão de conhecermos de
lancha os Igarapés dos Macacos e outras boas surpresas próximas aos igarapés.
Ju e eu topamos fazer o passeio, já que (risos) era a única opção. Depois de um
banho de protetor solar, fomos nos encontrar com Eduardo na praia. Entramos na
lancha, prontos para aproveitar nosso último dia por Alter.
Primeiro destino do roteiro, os igarapés são uma atração
à parte. Não sei por que, mas quando vi diversos tipos diferentes de igarapés,
quase imersos pela água, pensei em tantas obras de arte! Imaginei que Dario
Escobar, Marepe e Sean Scully adorariam a ideia de pintar ou esculpir obras
inspiradas nessas telas naturais a céu aberto. Juçara perguntou o por quê do
nome “Igarapés dos Macacos” e Eduardo respondeu que há muitos macacos na
região. Mas nós não vimos nenhum. Whatever.
Dos igarapés, fomos em direção a “Ponta da Valéria”.
Eduardo também não soube nos dizer o motivo do nome, mas o lugar é incrível.
Aproveitei para dar um belo mergulho. E tirar uma bela foto de lá.
Ponta da Valeria
Mas a boa surpresa do dia foi conhecermos a Escola da
Floresta, no meio da mata amazônica. Eduardo “estacionou” a lancha próxima à
trilha de acesso do lugar. Assim que chegamos, fomos apresentados a uma equipe
de professores que nos explicaram o objetivo de se ter uma escola nesses moldes
aos moradores de Santarém e região: a ideia é aproximar as crianças às
florestas e à cultura ribeirinha. E elas aprendem muitas coisas legais e
divertidas no espaço verde e arborizado do lugar. Fizemos uma pequena trilha
para a monitora nos mostrar um pouco do trabalho do corpo docente. Passamos por
um apiário e tivemos que fazer silêncio para não sermos atacados. Fiquei rindo
mentalmente de Juçara porque ela estava se borrando de medo e nessas horas ela
(risos) não sabe nem disfarçar. Depois dessa boa surpresa até tive uma ponta de
esperança no ser humano.
Após o passeio, pedi a Eduardo nos deixar numa praia
em frente ao Hotel Beloalter. Foi perfeito, não havia uma alma por lá. Ou
melhor, quase não havia uma alma por lá. Mas comparado a Ilha do Amor,
estávamos no Paraíso, sem nenhuma muvuca. Aproveitamos para tomar nosso
último dia de sol. Nos alojamos e enquanto tomávamos mais uma ducha de
protetor, vi uma senhora com sua filha tagarelando sobre a vida. Ou sobre os
problemas que a vida nos dá. A velha falava muito alto, era bem deselegante. E
adorava ficar escutando nossa conversa. Fora que ela só falava em dinheiro, que
tem que economizar, em dívidas, em investimentos. Quer dizer, se eu estou num
lugar paradisíaco como aquele eu falaria sobre vários assuntos, menos sobre dinheiro e problemas. Quando
entramos na água, ela aproveitou para entrar junto conosco. Estava com um
cajado para entrar no rio. Ela nos alertou de que tinha várias arraias por ali,
que eram perigosas, que elas matavam e por aí vai. Não sei de que hospital
psiquiátrico ela saiu, mas a que ponto chega a neurose de uma pessoa. Quer
dizer, a arraia vai atacar se alguma idiota em potencial mexer com o bicho, não
é verdade? Se eu fosse uma arraia e fosse cutucado por um pedaço de pau, é
óbvio que eu iria pra cima. Vai mexer com a arraia a troco de que? Sorte que a
arraia não sai da água. Pra dar uma voadora nessa ignorante.
Aproveitamos o serviço do hotel, comemos uma porção de
camarão à milanesa e depois almoçamos. Conversamos com uma inglesa que estava
hospedada no hotel e pediu dicas de pousadas para ficar em Alter. Ela comentou
que gostava de uma ambiente mais rústico e falamos da pousada que estávamos.
Percebemos a preocupação dela frente ao ambiente um tanto frio dos funcionários
do hotel. Nem precisamos comentar nada pois a inglesa criticou muito o
Beloalter. Depois do almoço, uma caminhada mais que necessária até a Sombra do
Cajueiro, para enfim, arrumarmos nossa mala.