sexta-feira, 30 de outubro de 2015


Alter do Chão. O sol escancarou a sua magnitude. Acordamos cedo para aproveitar o dia ao máximo. Até porque estávamos no fim de nossa viagem. O bom é que em nenhum momento teve aquela sensação de ficar deprimido pelo fato das férias terminarem. Apesar de ter aproveitado apenas 15 dias das minhas férias, estava com a sensação de ter conseguido gozar bem do meu período sabático, adicionado com a licença que tive. Enquanto tomava café com Juçara, comentei com ela sobre um e-mail que recebi de uma pousada em Santo Antônio de Pinhal, cidade situada no Vale do Paraíba. Na verdade eu tinha enviado uma mensagem há um tempo perguntando sobre disponibilidade de chalés, pois a pousada estava promovendo um festival de jazz que iria acontecer por lá. O problema é que só vi o e-mail 10 dias depois. Continuamos a conversar durante nosso breakfast e planejando o que fazer no roteiro do dia. Resolvemos então passar o dia na Ilha do Amor, cartão postal obrigatório em Alter do Chão. Eliana, dona da pousada do caju, chegou para nos dar bom dia. Fizemos um tricô básico com ela. Seu marido Eduardo também apareceu para continuarmos a prosa. O papo se estendeu até percebermos que já era hora de batermos em retirada. Nos despedimos sem antes falarmos do nosso interesse em fazer algum passeio no dia seguinte. 

Aproveitamos a disposição de Eduardo, que nos levou até a praça de carro. De lá, pegamos um “táxi” – um barco que nos atravessou até a Ilha do Amor. Perguntamos ao taxista o motivo do nome, mas, pra variar, ele não sabia dizer. Ficamos com essa incógnita até a nossa volta. O delinear da ilha é bem convidativo, não via a hora de entrar numa praia de rio. Com a ressaca da festa do Çairé, que tinha acabado de terminar quando chegamos, apenas dois quiosques estavam funcionando. O suficiente para atender a todos que ainda estavam por lá. Foi o que pensamos a princípio.


A água da praia estava muito atrativa, não dava vontade de sair dela. Apesar de ser uma praia fluvial, havia ondas fracas, sem colocar medo. Eu me desliguei totalmente de vãs preocupações, como voltar de férias. Estava na vibe de vivenciar aquele momento. 

                                 Praia da Ilha do Amor

Apesar do estado de contemplação, tudo que é bom vira pouco, conforme os ditos populares faz questão de apregoar. Enquanto Juçara tomava seu banho de sol, incorporando (risos) a índia Iracema, leve e solta na beira da praia, estava dentro da água observando as pessoas ao redor, quando de repente vejo uma senhora saindo de sua mesa e de seu guarda sol com seus amigos e com a cara marrenta anda em direção à praia. Ela usava um chapéu imenso e hediondo. Olhando seu perfil, questionei como uma pessoa com um certo poder aquisitivo teria tanto mal gosto para ir a qualquer ligar com aquele chapéu. Ela entrou na água com um imenso bico de ornintorrinco, muito mal humorada. Aí meu sétimo sentido bixístico me alertou para prestar atenção nela, pois eu iria (risos) me divertir muito. Assim que ela decidiu ficar em ponto morto, feito uma pata choca na água, seu suposto marido entrou no rio e perguntou a ela se estava tudo bem. Foi a deixa para ela incorporar alguma personagem de (risos) “As bacantes”: “Lógico que não está tudo bem. Olha onde nós estamos! Que lugar é esse? Tudo me incomoda. Essa areia, esse ‘mar’. Esses bichos todos por aqui. Aqui não tem civilização.” Fiquei olhando para aquela cena e pensei que o marido dela realmente era um mártir. Por aguentar uma pessoa tão desprovida de sensibilidade. Só fiquei na dúvida em saber de quais bichos ela se referia. Pessoas desse tipo deveriam ficar trancadas em algum Sheraton da vida, convivendo com o mofo desses hotéis. Uma deselegante com PhD. Voltei pra areia para relatar a Juçara sobre o ocorrido. Ela estava sentada na barraca atrás da gente. Inconveniências sempre irão existir e pessoas como ela serão necessárias para compor a contradição de algo, no pior sentido da palavra. Uma pena ela não se sentir bem e à vontade de ver uma natureza daquelas estampando uma beleza tão única! Uma imbecil em potencial em não aproveitar aquele momento.
   


Mas nós aproveitamos e bastante a Ilha do Amor. Tomamos nossa caipirinha, pedimos um petisco. Ah! E tiramos boas fotos. Voltamos à cidade no meio da tarde para almoçarmos. Comemos um ótimo tambaqui, com uma guaraná Tuchaua para acompanhar.