sexta-feira, 23 de outubro de 2015


Santarém. Para não ficarmos naquela sensação de termos aproveitado pouco, fomos novamente até o Centro Cultural João Fona. Nossas preces foram ouvidas. Pegamos o ônibus, descemos na praça e o museu estava aberto. Entramos para contemplarmos um pouco a arquitetura do lugar. E conhecer um pouco da história e memória cultural da cidade. A sala central possui quadros de todos os prefeitos da cidade, desde os primórdios da república velha, com seus hábeis coronéis. Notamos que havia uma mulher que administrou a cidade nos anos 40 – algo ousado para a época. Enquanto Juçara adentrava a sala das relíquias de escultura de Santarém, fui conhecer a parte mais contemporânea, com pinturas de artistas mais recentes da cultura local.  Nunca vi tanta natureza morta concentrada num só lugar. Já acho um porre ter que apreciar natureza morta. E pra ajudar, as obras eram de muito mal gosto, não dava pra salvar nenhum artista desse Juízo Final Pós-Moderno.

                                   Foto da cidade antiga de Santarém

Quando entrei na sala das relíquias e esculturas, entrou uma monitora que prontamente foi educada. E só. Comecei a perguntar sobre as pedras, de que época era e ela não sabia responder. Para mim, um tremendo deslize de quem quer trabalhar em museu. Eu até não incomodaria se tivesse nas placas de informação pelo menos o ano em que elas foram encontradas. Perguntei sobre quais povos foram responsáveis na criação dos vasos e ânforas expostas e a defunta cultural não soube me responder. Fiquei olhando ela com cara de merda e ela veio com a desculpa, colocando a mãozinha meio defeituosa na testa e se justificando que ela estava com a “cabeça variada” pois tinha feito “o concurso da Basa” no dia anterior (Basa é um banco do Estado do Pará). Que justificativa mais furada. E eu com isso? Juçara chegou no momento e leu meu pensamento, quando disse para a monitora que num centro cultural é primordial ter o ano das peças de exposição. A "cabeça variada" deu um sorriso amarelo, de quem tinha se lambuzado do caldo do tacacá. Para tentar compensar sua falta de atenção, nos levou a uma sala, dentro do centro cultural, onde está ambientada a sala do prefeito da cidade. Vários prefeitos cumpriam a gestão nessa sala. Nos contou que um dos prefeitos foi assassinado e naquela sala. Falou que a sala tinha acabado de passar por uma restauração e os pisos tiveram que ser retirados. Segundo a defunta, ainda há sangue do prefeito assassinado embaixo do piso. Juçara olhou para mim com aquela cara de (risos) “vamos cair fora”.


Assim que saímos da sala mal assombrada, paramos para tirar algumas fotos. E aí veio mais um deslize dos funcionários que realmente não sabem zelar por um patrimônio cultural. Alguém ou alguns deixaram uma porta aberta, com restos de café da manhã, baldes e vassouras. Essa sala ficava num ponto muito visível de qualquer lugar que você estivesse, dentro do museu. Juçara deu um toque, de forma bem (risos) cartesiana que achava muito deselegante a vassoura e o balde ficarem ali obstruindo passagem e a visão do belo lugar. A monitora deu um sorrisinho e concordou. Só que a defunta mor do baixo Tapajós não fez nada. Quer dizer, se eu fosse essa distinta, iria imediatamente retirar o que estava atrapalhando o visual e fecharia a porta, certo? Ela não fez nada, ficou estática feito um Aracu. Realmente, eu não dou conta de gente lerda.


Pegamos o ônibus de volta ao hotel. Recebi um whats de Eliana, dona da pousada Sombra do Cajueiro, avisando que seu marido Eduardo atrasaria um pouco para nos pegar no hotel. Mas nosso tempo era outro. Aliás, o tempo para nós, nem existia.