terça-feira, 16 de agosto de 2016


                                

São Miguel dos Milagres. E mais um dia de instabilidade no clima pairou no ar. Tinha pré combinado com Johnny sobre o passeio e mandado um whatsapp para Elvis pedindo para liberar Johnny. Fui tomar meu café e ao entrar vi que não estava só. Tinha uma família vinda da Suiça. Quer dizer, uma família não-totalmente-genuína-vinda-da-Suiça (risos). Eu já os tinha visto de forma fragmentada.  Reconheci o menino que estava com eles, era filho mais velho da família. Eu o tinha encontrado no primeiro dia de praia. Eu o apelidei mentalmente de “mudinho”, featuring  Tonho da Lua (risos). Fiz várias perguntas a ele quando o vi na praia e ele só abanava a cabeça. Juro que achava que ele era um excepcional da Apae. Só quando perguntei o que fazia, ele respondeu rapidamente com um sotaque em duas escalas de tom musical (o que é a mudança na voz de um adolescente: extremamente sedutor) que era jogador de futebol. Já me apressando para saber para qual time torcia emendei na pergunta se ele torcia para o São Paulo e rapidamente ele concordou “que sim”.  E o primeiro faux-pas aconteceu justamente com ele. Dei meu bom dia a todos e olhei para o mudinho, já dando aquela pinta: “E aí, são paulino?”. E aquela cara de “É você, Satanás?” que a mãe dele fez foi constrangedor. Juro que li no olhar dela ela me desejando que eu queimasse na fogueira. Deve ter achado que eu tinha “atacado” sua cria. (risos).

                                               

Mas a relação ficou boa à medida que ia tomando meu café. Já tinha observado a sequência musical que todo o dia tocava no pen drive e fiquei matutando quem poderia ser a pessoa com tão bom gosto para fazer a seleção. Aí Henri apareceu para dar o seu bom dia e deixar o ambiente mais harmonioso:

                                 

Enquanto saboreava uma deliciosa tapioca, a família não-genuinamente-suiça resolveu esticar o dedo de prosa. Nos apresentamos com nossos nomes, mas confesso ter esquecido o nome de todos. Até do mudinho. O pai é suíço. Mas adora papear, um hábito bem típico brasileiro. A mãe me olhou e disse com muita convicção: “eu não sou suíça, sou brasileira”. Aí não teve como escapar: olhei para ela de cima embaixo, fiz a “Odette Roittman” e pensei: “Reaaaally?” (risos). Por curiosidade, eles não formalizaram na apresentação seus filhos. Fora o Tonho da Lua europeu, eles têm mais uma menina, mais nova. Fazia a pseudo-intelectualzinha o que significa que é um entojo. Quer dizer, ela tem a obrigação de ser inteligente, afinal de contas é gorda, feia e o destino a golpeou por (risos) pegar todos os genes ruins dos pais. Com uma vista maravilhosa ao meu redor, não fiz questão de dar atenção a ela. Mas os pais são muito simpáticos, conversamos bastante sobre vários assuntos, incluindo política. Como eu estava bem turn off de notícias, resolvi me levantar, pedir licença e cuidar da vida.

Chego na recepção e vou vendo, aos poucos, Elvis. Aí eu (risos) comecei a pensar em slow motion e imaginando eu, chegando devagar e nossos olhares se entrecruzarem e a gente sorrir com aquela cumplicidade de casal apaixonado. Mas é claro que essa cena de novela vespertina da tarde do SBT não aconteceu. Ele não me deu a mínima (risos). Fui pedir para que ele me liberasse o Johnny para fazer um roteiro cultural com ele. Ele ficou um pouco pensativo, mas deu ok. Só que ele já tinha chamado o jangadeiro para conversar. Decidi ficar por ali, aguardando (risos) “Roxo” chegar. Aí eu quis saber de Elvis quem tinha feito a trilha temática no restaurante da pousada e ele sem titubear respondeu: “eu”. Eu eu caí morto, feito São Sebastião (risos). Quer dizer, além de ser uma graça, bonito, simpático, sabe conversar e gosta de boa música?” Jesus me abane! Ele me contou que sempre gostou de escutar música por uma questão de curiosidade, de ouvir algo que ele considerava ser diferente. Sua mãe o ajudou, graças a Deus, a ter um gosto refinado. Fiquei indagando mentalmente a ele, como se estivesse refestelando em um sofá e me auto-flagelando, enquanto proseávamos, o bendito mantra “por favor, casa comigo?” (risos).
                                   

Foi quando Roxo chegou de mansinho na recepção e se apresentou. De roxo não tinha nada, mas para não dar outro faux-pas resolvi não perguntar. Expliquei ao jangadeiro que não queria mais o passeio. Ele ficou conosco conversando e a prosa estava muito boa. Principalmente na hora em que perguntei sobre as piscinas naturais. Ele começou a falar de cada uma delas e acabei mencionando a praia do Morro, em Camaragipe, onde queria muito ir. Ele se empolgou falando que lá se forma uma piscina natural linda, 'uma das mais bonitas". Quando eu o questionei sobre o que fazia dessa piscina a melhor de todas, ele responde com aquela sabedoria caiçara: "nessa piscina em especial, os pecados ficam boiando e você desce” (risos). Poesia malemolente de pescador. O templo nublou e o passeio com Johnny miou. 

segunda-feira, 15 de agosto de 2016



São Miguel dos Milagres. Olha só as coincidências boas da vida: chegando na pousada, acabo descobrindo que Jorge tinha passado por lá com sua irmã, Eunice. Falei a Johnny que um amigo estava em São Miguel e quando eu disse que meu amigo era (risos) do tamanho dele, ele comentou que um moreno do mesmo tamanho que ele tinha passado lá com  (risos) sua “esposa” para alugar caiaque. É que Johnny se referiu a eles como um “casal”.  Falei mais uma vez pelo whatsapp com Jorge e combinamos de dar uma volta à noite. Queria levá-los para o Manzuá. Aproveitei para ler revistas. Enquanto folheava a Superinteressante, deixei alguma besteira na tv ligada. Era a tal novela do momento, "Êta Mundo Bom!" Nem sei porque faz tanto sucesso. Novela requentada com uma história que já vi diversas vezes em outras tramas de roça. E eu estava sem saco para escutar sotaque caipira. Deixei na tecla mudo.


Jorge e sua irmã Eunice passaram para me pegar às 20h30. Estávamos realmente muito próximos. Eles desembarcaram em Aracaju, ficaram uns dias por lá e resolveram alugar um carro para chegar até São Luís, no Maranhão, passando por Milagres e Recife. Contei a eles que Johnny tinha achado que Jorge era “casado” com Eunice e caímos na risada. E admiti estar encantado pelos meninos de Milagres. Chegamos no Manzuá, os apresentei a Veloso e pedi para caprichar na caipirinha de limão, capim santo e manjericão. Eles me contaram que tinham amado a foz do rio São Francisco, em Sergipe. De fato, é um lugar para lavar a alma. Pedimos uma porção de camarão com um tempero caprichoso de Veloso. Ficamos no lado de fora do bar. Vários meninos passavam de bicicleta jogando todo charme que um bofe genuinamente alagoano tem. Eram muito abusados. Sugeri da gente ir até a Pousada do Sonho para ficarmos um pouco na praia e conversarmos de forma mais (risos) “aberta”.

Chegamos na pousada e fui apanhar duas cangas para sentarmos na areia da praia. A lua estava magnífica. Ela estava clareando e abençoando a boa vibe que estava conosco. Queria saber se tinha rolado alguma sacanagem com eles e Eunice começou a gaguejar pra responder (risos). Jorge deu a deixa para que ela contasse de uma ménage que tinha rolado em Aracaju. Estávamos pra lá do Mundo de Alice. Eunice criou coragem e contou que tinha conhecido um casal numa casa de forró, acho. Se conheceram e  começaram a conversar. Aí ela percebeu uma (risos) mão boba da mulher, se esfregando nela. Perguntei a Eunice se ela fez cú doce, mas ela resumiu falando que foi pro apê deles. Queria então saber quem comeu quem, quem se beijou, quem fez (risos) fio terra em quem e ela se recolheu na sua timidez. Vez ou outra, passava pela areia da praia um cachorro preto, querendo chegar perto. Como eu gritava “fica longe, inseto” ele não se aproximava. Começou a chorar pois queria passar por nós para continuar a sua caminhada noturna. Eu consenti (risos).



O papo com Eunice estava ótimo, dávamos muitas risadas, mas Jorge quis ter um momento para ficarmos a sós. E eu queria que Eunice ficasse justamente para não ficarmos a sós. Ela ficou sem jeito, mas Jorge insistiu para que ela fosse embora. Me despedi dela e ficamos nós dois a conversar. E aí o que eu previa, aconteceu: Jorge começou a falar de uns assuntos tão demodê para ambiente! Quer dizer, eu estaria na frente da praia, ouvindo o barulho do mar, contemplando a lua cristalina que estava brilhante, para falar de qualquer assunto, MENOS sobre crise existencial. E quando ele começou a falar do seu processo de auto aceitação (oi?) eu simplesmente olhei pra Lua e me “desliguei”. Até que chegou uma hora e eu delicadamente sugeri que ficássemos apenas canalizando nossa energia para contemplarmos todo o nosso entorno. Ficamos mais um pouco na praia, mas infelizmente me bateu o sono. Nos despedimos e Jorge foi caminhando pela praia. À medida que ia entrando na pousada, ia observando os passos de Jorge numa cena bucólica. Faltou acrescentar uma boa música do cancioneiro popular para trilhar os passos desse mini Rasputin. Combinamos da gente se ver no dia seguinte. E sem terapia.  


domingo, 14 de agosto de 2016


São Miguel dos Milagres. Fiquei na dúvida se faria o passeio de jangada para conhecer as piscinas naturais. O dia estava nublado e resolvi não fazer nada e ficar na pousada. Fiquei me debatendo do por quê de eu estar tão fascinado por "On the Road", do Jack Kerouac, se eu estava detestando as personagens. O alter ego de Jack – Sal, era subserviente demais ao limitado, porém esperto e oportunista Dean.   Achei melhor arejar a cabeça e fui tomar um mormaço. Fiz amizade com uma mulher, daquelas bem gostosas que nem precisa fazer força para ser bonita. Muito simpática, era de Brasília. Estava com um casal de amigos, acho.  O moço era uma graça, apesar de feio e gordo e a menina era a anti-social da turma. Como ela não tinha tamanho pra falar comigo e não havia nenhum banquinho para ela conversar de igual para igual, eu a ignorei. O papo estava ótimo com os dois e a imbecil resolveu se retirar. Adoro fazer a Maria de Fátima featuring  Downtown  Abbey (risos).



Elvis, o gerente charmoso, tinha ido resolver uns assuntos da pousada. Nildo, o cozinheiro tinha faltado e só estava Johnny. Começamos a papear. Falou que era casado e que tinha dois filhos. Aí olhei de cima embaixo o garoto e pensei “que energia esse baixinho tem pra fazer filho” (risos). Um menino daquele tamanho e já bem vivido. E sempre sorridente. Perguntei a ele o que o deixava triste, pois já tinha elogiado sua alegria espontânea. Resolveu titubear na resposta, mas não se esquivou por completo:  lógico que ele também sentia tristeza, mas sempre arranjava estímulo em alguma boa graça no decorrer do dia. Sempre encontrava algo que lhe fazia sorrir.E  Johnny tem um sorriso encantador.

Perguntei por Elvis o dia todo e Johnny queria me tranquilizar. Mas ele (risos) não conseguiu porque eu já estava com fome. Tinha dado uma caminhada pela praia e queria fechar o passeio. Foi aí que aconteceu o inusitado. Johnny disse sem interesse nenhum (isso não é uma ironia, ok?) que tinha sido guia em São Miguel. Aí meus problemas acabaram. Perguntei a Johnny se ele poderia ser o meu guia. Ficou com um sorriso estampado nos lábios e disse que topava, mas ele teria que falar com Elvis para trocar de folga, pois ele descansava às quintas e eu já não estaria mais em SMG. Como tudo dependia do charmoso Elvis, desencanei e fui almoçar. Antes de sair, a surpresa boa do dia: recebo um whatsapp de meu amigo Jorge, avisando que estava com a família em São Miguel dos Milagres. Estava me esperando no bar do Enildo. Como já tinha ido almoçar por lá, resolvi ir comer no Luna. Respondi que passaria por lá para dar um oi.


Almoço no Luna, restaurante com pinta de sofisticação, mas atitude de buteco de rodoviária. Falo mais na postura dos funcionários. No cardápio, por exemplo, eles não faziam meia porção, para uma pessoa comer. Isso porque todos os que eu tinha frequentado, tinha pratos individuais ou flexibilidade para preparar almoço para uma pessoa. Nilzete, a garçonete viu minha cara de  “filho de farmacêutico”  e sugeriu que eu pedisse um peixe com algumas guarnições (Peixe, arroz, salada e batata mais suco de laranja: R$69,30)


Fui caminhando, para fazer a digestão até o bar do Enildo. Mas Jorge não estava lá. Vi apenas os pais dele tomando aquela cerveja com nome de bebida  barata. Eu os cumprimentei. Senti que a mãe dele não ficou muito animada em me ver. Sempre achei que ela não simpatiza comigo. Talvez por me achar muito (risos) “fresco”.  Mas quem se importa? Bati um papo com eles e voltei à pousada. Fui caminhando pela praia, com a voz de Gal, contemplando a beleza do mar.




terça-feira, 2 de agosto de 2016



São Miguel dos Milagres. Assim que entrei, pela praia, para dentro da pousada, fui recepcionado pelo atendente do restaurante, o Johnny. Uma simpatia de ser. Um sorriso maroto, encantador. Fiquei olhando para ele, conversando sobre estar naquele lugar incrível. Enquanto proseávamos, fiquei observando ele e pensei: “Acho que Prince era desse tamanho” (risos). Apesar da aparência de moleque, disse que tinha 27 anos. Pegando aquele vício de notícia, fiquei entrevistando o gentil rapaz: já tinha descoberto que era um garoto Bombril: trabalhou em teatro, circo e dança. Percebi que ele era um tipo bem diferenciado da maioria dos caras da idade dele. Johnny mostrou ser super focado além de ficar num processo contínuo de receber informação na postura de aprendiz. Gosta de aprender, de escutar. Me despedi e fui me arrumar. Tinha combinado de receber Brenno na pousada, mas o bofe deu um "engate a ré" (risos). Decidi me colar para tomar um drink no Manzuá. Betina tinha comentado a respeito e decidi dar uma volta por lá.

Foi super fácil chegar, quase uma reta da pousada que estava hospedado. Entrei e fui recepcionado pela atendente, uma quase autista. Ela sofria de (risos) delay , tinha que perguntar a mesma pergunta duas vezes para ela entender. Mas eu estava desacelerado e relaxei. Foi bem simpática. Vi um moreno jambo na parte de dentro do balcão do restaurante e deduzi que era o tal Veloso, dono do Manzuá. Fui cumprimenta-lo dizendo que Betina tinha me indicado conhecer o bar e de uma hora para outra estampou um sorriso nos lábios. Coisa de gente fina, elegante e sincera. Ficou super feliz com a indicação e foi pessoalmente me atender. Ah, e perguntou por Betina. Um gentleman. Como estava aquele ar tropical, decidi sentar do lado de fora. Pedi uma dica do que beber e Veloso falou de sua especialidade: a caipirinha de limão com capim santo e manjericão. Além de um bom drink, servia também como um bom despacho de ebó (risos). Pedi uma carne de sol para petiscar (caipirinhas + carne de sol: R$64,35).


E quando eu penso que o clima estava agradável e que nada poderia atrapalhar aquele momento, escuto gritos raivosos quase em frente ao Manzuá. Achei que estavam depenando um porco no matadouro. Há uma igreja da Assembleia (fundamentalista) de Deus. Quando comecei a prestar atenção no “culto” dos irmãos, eles resolvem, sem nenhuma cadência e discernimento, a cantar um hino de louvor. Deus Pai, como eles desafinavam.  Fiquei pensando se Deus merecia tamanho desrespeito com Seu Nome. Me desculpem, mas afinação e boa voz é primordial em qualquer igreja, terrero, bar de idoso ou bordel. No meio da música, uma senhora começava a gritar, parecendo o diabo da Tasmânia. Juro que queria ser uma mosca para ver a cena. Com o louvor aos berros, deduzi que ela deveria, naquela emoção, estar cuspindo muito. Por isso que nunca fico na primeira fila (risos). Olhei para o céu e perguntei a Deus: Você pretende voltar quando? Juro que queria ter um terço naquela hora para rezar por eles. Para ficarem mudos. Perguntei a Veloso se Jesus usava algum aparelho de surdez, tamanho o barulho que os fiéis faziam. O jeito foi pedir mais uma caipirinha de capim santo com manjericão. Pra ver se o diabo saía de lá. E não é que deu certo?

 Voltei pra pousada, com uma travesti de terrêro me seguindo. Pelo jeito, eu teria um preço a pagar (risos). Só que não. Perereca pra mim, só no brejo.

sábado, 30 de julho de 2016



São Miguel dos Milagres – Praia do Toque. Comecei a ler compulsivamente “On the Road”, na praia. Sempre amei ler livro na praia ou embaixo de um coqueiro. Entrar na história de outras pessoas, ouvindo o barulho do mar e se permitir ao menos servir de figuração na trama, sem aparecer. O problema é que essa obra prima de Kerouac – apesar de vários críticos defender de que On The Road não é “A” grande obra do autor, me deixa um tanto quanto irritado. Mas confesso estar careta demais para entrar no desfiladeiro que é a relação de Sal e Dean, dois amigos com nenhuma preocupação a demonstrar com as adversidades da vida. Se aventuram às vezes no rumo de nada só pelo simples ato de inconsequência necessária na vida daquela juventude pós-(segunda)guerra, em pleno desolamento em torno da falta de perspectiva de vida.

O problema é que desde o princípio, quando o autor decide protagonizar a figura de Dean e descrevê-lo como ele é – um rato oportunista, interesseiro que só se preocupa com o próprio umbigo, decide criar atrativos para que você seja seduzido por esse peculiar ser: uma figura ímpar, sendo referência a todos os seus amigos, incluindo o escritor - subserviente demais ao tal truqueiro Dean. Quer dizer, esse é um tipo de perfil – o tal Dean, que me faria já ficar como gato escaldado. Eu tenho evitado esse tipo de gente. Odiei Dean desde o primeiro parágrafo. E eu não consigo entender o que faz as pessoas amigas desse lunático e lacônico ser ficarem tão reverenciadas a ele. É um tipo de gente que não me acrescentaria em nada. Mas só para terminar, a narrativa condutiva de Kerouac te dá uma sensação de ouvir, mentalmente falando, um jazz sincopado. Não tem como ler o livro, sem escutar um bom jazz. E a vibe estava ótima para adentrar, com certa resistência, ao estranho mundo on the road.


Pausa para mais um mergulho, agora sem dar pinta (sim, eu dei pinta, dêem uma olhada: http://omundodelira.blogspot.com.br/2016/07/sao-miguel-dos-milagres-praia-do-toque.html). Me enxuguei e fui continuar a ler a saga de Kerouac. Enquanto ficava compenetrado com a leitura, levei um susto ao ouvir uns “esfregas” atrás dos pequenos arbustos que há na praia. Era voz de mulher. Quando resolvi me atentar a ver o que estava vindo em minha direção, vi saindo o “casal” – eram duas sapatonas. Tinha a macha caminhoneira recém entrada na classe média, com short amarelo limão e top verde limão. Achei que era a atendente da pousada (risos) dando uns amassos na amada. A outra estava mais comportada, se despedindo da macha para cair na água. A sapa macha ficou me olhando e eu fingi não olhar pra ela. Continuei lendo a revista. Estava mais interessante.


 Depois de algum tempo, vejo sair do arbusto uma criança, correndo em direção ao mar. Rebolava muito, mas ignorei, afinal praia é um lugar livre. A outra sapa saiu da água e se encontrou com o “marido”. Ficaram namorando ao  meu lado. Só no momento que ouço alguma criatura gritar: “Maaiiiiiinha”! Aí vejo o menino, saindo saltitante do mar, dando uma pinta linda e deixando os casais “normais” perplexos. Gritava de forma bem afetada: “A senhora exxxxxtá lascada, vice”? (risos). Impressionante como “elas” têm se iniciado mais cedo. Adorei a linha “nem tô” que ela fez.  E o que você faz numa ora dessas? Gargalha, oras. (risos)


Depois de horas apreciando a praia, Brenno se despede, avisando que tiraria uma hora de folga. Agradeci a ele pela acolhida e perguntei o preço do côco que eu queria acertar e p jovem galante simplesmente responde: “Fica por minha conta”. Decidi retribuir a gentileza e convidá-lo para tomar um drink na Pousada do Sonho. Ele disse que passaria por lá.  Não é ´pra casar de véu e grinalda? Me despedi e fui caminhando de volta a Porto de Rua, bairro de São Miguel onde estava hospedado. Parada para comer no bar do Enildo (peixe ao molho de camarão mais suco de maracujá: R$53,90). Fiquei sentado contemplando a orla e aguardando meu prato, quando fiquei escutando com meu ouvido de tuberculoso alguns seres nulos enaltecendo a ditadura militar. Pela cara deles, deduzi terem trabalhado na era de chumbo da nossa política. Nada muito diferente aos dias de hoje. A energia ficou um pouco pesada, mas de repente, com aquele mar na minha direção, respirei fundo para entrar na história de Dean e Sal novamente. Estava precisando de um pouco de loucura naquele momento. Me matei de comer um suculento peixe ao molho de camarão e segui meu trajeto, rumo à pousada. 

quinta-feira, 28 de julho de 2016




São Miguel dos Milagres – Praia do Toque. Que sensação boa ao colocar os pés nas águas da Praia do Toque. Branda, cristalina. Tinha me esquecido do quanto o litoral alagoano é uma relíquia. Fui entrando na praia, até ficar revestido com o manto do mar em meu peito. E quis, sim fazer a linha Isadora Ribeiro (risos) dando altos mergulhos, como se estivesse sendo fotografada para o clipe da Garota do Fantástico. Meu processo de desaceleração foi realmente ao entrar nesse mar azul esmeralda. Não sei o por quê, mas de repente passou por mim a música “Nem um Toque”, da Rosana, em minha mente.


Soltinho no mar, pra lá do Mundo de Alice, quando avisto três frangas com uma prancha enorme entrando na orla. Uma delas resolveu “ensinar” as outras duas a surfar. Sempre tem que ter uma pavoa no meio da turma, não é mesmo?. Quando ela , aos poucos, resolveu entrar na prancha, primeiro ajoelhada e levantando devagar para tentar pegar o equilíbrio, as (risos) perninhas delas começaram a estremecer. E aí veio uma musiquinha na minha cabeça. Quer dizer, o Hino Nacional Brasileiro como música incidental, compondo minha mente permissiva, enquanto aproveitava o embalo da música do hino e cantava: ”Tomara que caia, tomara que caia, tomara que caiaaaaa” (risos). Mas com aquele sol escandaloso, decidi não sabotá-la mentalmente e desencanei de observar as rachas. Continuei nadando, observando o lugar, o entorno, as pessoas. Por um instante até pensei que o ser humano  ainda tem salvação. Mas foi um breve momento de devaneio. Voltei à Terra para pegar um bronze. Assim que cheguei em direção das meninas, a esportista estava feliz de estar firme na prancha e gritava para as colegas a façanha que tinha tido. Pena uma onda bater sem querer na prancha e a dileta menina cair de bunda na água. Pelo jeito, Iemanjá não estava a fim de dividir o brilho dela com ninguém (risos).

Assim que saí do mar, Brenno me aguardava ao lado do meu guarda sol. E olha a grata surpresa inusitada do dia.: estava com uma água de côco gelada, me aguardando chegar da praia. Lógico que eu iria pagar, mas  é sempre bom fantasiar uma cena romântica, não acham? Aí reparei os traços lindos que ele tem. Feições de um belo guapo do Oriente Médio com aquela rustidez peculiar de um bom macho nordestino. Batemos um longo papo, mas ele teve que atender os hospedes do hotel. Bonito, charmoso, simpático e gayfriendly. Não é pra casar?


Fui folheando a revista Superinteressante, que  trazia em sua matéria de capa o assunto Smart Food, o guia inteligente de cozinha. Antes fui ler uma reportagem sobre a dura jornada de um sanduíche em seu organismo. Confesso que desanimei em ficar comendo um saboroso cheese bacon, depois do processo desgastante de digestão dele. Tinha também uma matéria sobre pratos feitos com insetos. Quase que a água de côco não desceu essa hora. Mas o que me chamou a atenção foi o assunto dieta. Num determinado momento da matéria, que focava o excesso de comida que ingerimos, não para saciar nosso apetite, mas por uma simples questão de consumir e eu fazendo aquela cara de conteúdo, concordando com a opinião do jornalista, veio aquele chá de realidade, quando a reportagem nos dá um pé no freio e nos alerta sobre as expectativas, dizendo que não dá para ser a Fernanda Lima quando o espelho sempre mostrou uma (risos) silhueta de Preta Gil. Parei nesse exato momento, para fazer um breve flash do meu corpo, com uma barriga com uma pseudo esquistossomose e me entristeceu um pouco. Mas confesso que depois que vi ao meu redor as mulheres cheias de celulite e gordura daquelas que dá pra fazer toucinho na banha frita, olhei para o céu e agradeci imensamente a Deus. Por fazer a minha autoestima voltar (risos).  


terça-feira, 26 de julho de 2016



São Miguel dos Milagres. Fiquei surpreso com o tamanho do recuo que o mar fazia com a maré baixa, durante a caminhada até a praia do Toque. Até me animei em andar um pouco para ver o mar lá adiante, mas a preguiça bateu e decidi seguir meu rumo.  Corpo protegido pelo protetor solar nosso de cada dia e ansioso para chegar a meu destino final.

Assim que pisei na praia, aquela decepção de ver o recuo do mar também por lá. Caminhei mais um tanto, atravessando um pouco mais da metade do Toque. Decidi levantar acampamento, deixar minhas coisas na canga e adentrar mar adentro para um “meio” mergulho.



Quando voltei para pegar um bronze e retocar a maquiagem com o protetor, surge a primeira boa surpresa do dia: percebi que vinha caminhando um menino uniformizado, acenando em minha direção. Fiz a linha Kátia –“ não tô vendo nada”, aproveitando o escudo do meu óculos de sol a la Bono Vox, vermelho. Beeeeem discreto (risos). Quando ele chegou perto gritou: “’seu’ Lira, tudo bem?” Era Brenno, um garoto que tinha conhecido no dia anterior. Era amigo de Elvis, o gerente da pousada do Sonho, onde estava hospedado. Disse que já tinha me avistado e acenou para que eu o visse, mas sinceridade, não prestei atenção. Ele trabalha em uma das pousadas, que ficam em frente à praia do Toque. Foi gentil e me ofereceu uma cadeira da pousada para poder me refestelar como um calango no sol. Fiquei com receio e perguntei se não iria trazer problemas a ele, mas Brenno insistiu para que eu aceitasse o convite. E nessas horas, o importante é não se fazer de rogado. Aceitei e fui caminhando até a cadeira e o guarda sol. E Brenno estava uma graça com seu uniforme. Estava parecendo o guarda florestal do desenho do Ze Colmeia misturado com Tatoo, da Ilha da Fantasia. (risos)

 

Quando começo a entrar em estado alfa para pegar o bronze, a primeira provação-para-me-tornar-um-ser-melhor-e-garantir-meu-latifúndio-no-céu: um jovem senhor de idade estava com um grupo de crianças na água. Ficava repreendendo os meninos com qualquer coisa que faziam no mar. Aos berros. Era a família dó-ré-mi-fá-sol-lá...stimavel. Quer dizer, não havia necessidade de ficar gritando feito uma lavadeira de rio, como ele estava fazendo. Devia dar exemplo, concordam? O mais gozado era ele chamando os meninos com aqueles típicos nomes que só tem no nordeste: “Para de ficar jogando água no Joeldson, Adejanílson!” (risos); “Olha aqui, Claíslon, se continuar com essa palhaçada, te afundo os ‘zolhos’”. Um chilique desnecessário. Já estava até visualizando o destino dessas crianças, como (risos) bombas humanas do Estado Islâmico. Com essa cena de barraco de favela, só me restou adentrar ao “Mundo Encantado de Alice”. E a partir daí, a brisa começou a ficar realmente boa.


Chamei Brenno para perguntar por que o hóspede estava tão agitado e ele respondeu que o senhor estava bêbado. Também me corrigiu, informando que o jovem senhor era morador de São Miguel dos Milagres. Enquanto Brenno me explicava, comecei a ter um acesso mental de riso, me lembrando de todos os nomes que tinha escutado, mas desconfio que Brenno sacou algo. Quando dei por mim, estava de verdade sorrindo com aquele sarcasmo peculiar. Comecei a ficar mega-pra-lá do Mundo de Alice, pedi licença a Brenno e me levantei para mergulhar. A maré já estava alta e o mar estava cheio.  E eu comecei a ter uma vontade absurdamente louca de entrar naquela água, como se estivesse naqueles clipes “Garota do Fantástico”. O mar realmente não estava só pra peixe. Mas a praia ainda iria me reservar bons momentos, com mais histórias e personagens pra lá de interessantes.

sexta-feira, 22 de julho de 2016



São Miguel dos Milagres. Fiquei feliz com a acolhida dada pelos habitantes de Milagres. Os meninos da pousada não queriam que eu passasse por nenhum tipo de problema ou situação que não fosse resolvido. Antes de caminhar em direção a praia do Toque fui conversar com Elvis sobre algumas dicas de passeio e demonstrar minha preocupação em como chegar a praias mais distantes, mas ele me tranquilizou. Adorei a sacada rápida em me responder com aquela malemolência charmosa alagoana: "problema, a gente desenrola" (risos). Preparei minha sacola com o kit de protetor solar - para o rosto, corpo e labial. Me arrumei e iniciei as mesas de trabalho, rumo ao Toque.

A caminhada estava atrativa: caiçaras retornando de seus trabalhos, com uma leva considerável de peixes e dando aquela olhada de quina, inquietos e desconfiados. Dei meu bom dia festivo e eles retribuíram, rindo entre eles da "gazela saltitante" pela praia. Quase na metade do caminho, me lembrei que anda não tinha passado protetor nenhum, mas me lembrei de uma reportagem que li que dizia que o corpo deve ficar pelo menos 15 minutos exposto ao sol, para depois passar o protetor. Parei para o "retoque na maquiagem".

Assim que entrei na praia do Toque, fiquei me lembrando na tranquilidade do vôo para Maceió, até porque fico um pouco apreensivo quando permaneço mais de duas horas dentro de um avião. E me lembrei de relatar ao Diário um, digamos, pequeno inconveniente. Eu fiquei a maior parte do tempo lendo "On the Road" e nem prestei atenção no meu entorno, até passar por mim uma senhora muçulmana. Quer dizer, deduzo que seja por estar com uma semi-burca colorida. Ela passou por todos para ir ao toilette na dianteira do avião. Enquanto aguardava o banheiro ser desocupado, ela ficou conversando com o comissário de bordo. Fiquei observando sua relativa elegância, quando percebo os olhares dos passageiros em direção a ela. Achei graça a princípio, pois infelizmente as pessoas de um modo geral não possuem mais o hábito de se informarem a respeito de outras culturas. Vi que os passageiros ficaram ressabiados com a muçulmana, cochichando entre eles na possibilidade dela (risos) ser "elemento de risco" ao vôo. Quando ela entrou, senti um frenesi deles. "Será que eles acham que ela vai explodir o vôo?" pensei. Depois de uns minutos, ela saiu e acredito que todos relaxaram o esfíncter (risos). 

Mas a saga jihadista não parou por aí. A muçulmana continuou conversando com o comissário na qual ela tinha desenrolado um papo. Eu me atentei novamente a leitura, quando ela (risos) decide voltar ao toilette. E aí eu senti minhas mãos suarem de desespero. "Meu Deus, será que ela tem uma bomba no corpo"? "Será que ela é do Estado Islâmico e nos fará de refém"? "Sim, com certeza acontecerá algo, está calmo demais pra ser verdade". Todos esse lamaçal mental saindo da minha mente. E nessas horas, eu apelei a Deus, a Alah e até a Abraão, afinal de contas ele é o culpado de tudo, não acham? E sabem o pior? Ela demorou ainda mais no banheiro. Quando vi a luz do marcador ficar verde, informando que o banheiro havia sido desocupado, suspirei de alívio e mirei no toilette, vendo a tenra madame sair, com (risos) todos os pedaços do corpo intactos. Passou por mim com a cara fechada, como se fosse telepata e me dissesse: "Eu sei muito bem o que você pensou, infiel" (risos). Exatamente nesse tom, como um belo tapa de luva pelica. Ou de burca, se preferir.

terça-feira, 19 de julho de 2016



São Paulo-Maceió-São Miguel dos Milagres. Estava bastante cansado com a viagem. Cheguei por volta de meia noite e meia em Maceió. João Carlos, o motorista, junto com seu assistente que esqueci o nome,  me aguardava no aeroporto. O percurso até São Miguel levaria mais duas horas para chegar. Pedi para ele passar no posto para comprar água e petiscar besteira. No caminho, falamos de vários assuntos e política não poderia ficar de fora.  Num flash rápido, ele me contou que quem manda realmente em Alagoas é o Renan Calheiros. Aquele coronelismo básico que todos sabemos como é. Perguntei sobre a morte de PC Farias, porque dia desses saiu uma reportagem dizendo que ainda não havia indícios do mandante do crime, mas João Carlos pontuou que “todos em Alagoas sabem quem matou, mas o dono de Alagoas abafou o caso”. Perguntei sobre Lula e a opinião se dividiu: João Carlos defendeu o ex-presidente e seu pupilo assistente criticou o populismo de Lula e a ganância do PT. Aí eu vi que o menino assistente resolveu existir. E (risos) não parava mais de tagarelar. Achei ótimo. Ele acabou me falando que iria casar, que seu filho já estava pra nascer e que ele se sentia bem com responsabilidade de cuidar de uma família. Aos 20 anos, apenas. Disse no meu ponto de vista que nessa idade ele deveria mais era curtir a vida. Espero não tê-lo desanimado.

Chegada na Pousada do Sonho às três da manhã (http://www.pousadadosonhoalagoas.com/). Fui recebido pelo vigia. Me despedi de João Carlos agradecendo o papo. Quando estava prestes a entrar em meu quarto, ouvi um barulho de mar e o vigia percebendo minha euforia avisou que a praia estava logo atrás da pousada. Pedi para ele me levar até o mar e o visual me arrebatou. Com a Lua banhando as águas de Milagres, fui dormir, ansioso para chegar o dia.


Acordei bem disposto e fui tomar meu café. A pousada tem uma maneira peculiar de servir o breakfast. Há um cardápio com várias opções. A atendente chega, marca seu pedido e vai providenciar o desjejum. Achei interessante essa maneira de servir o café. Pensei que seria uma dinâmica de não se desperdiçar comida. Ponto pra eles. Me apresentei para o gerente da pousada, o Elvis. Tem apenas 23 anos e extremamente responsável, uma graça de menino arisco. Pedi dicas do que fazer pelo dia nas proximidades da pousada. Ouvindo ele falar, veio um sorriso em minha mente, me encantando com o sotaque peculiar alagoano. Um charme escutar. Acabei optando por caminhar até o rio Tatuamunha, que acaba desembocando no mar. No caminho, vi um menino fazendo um treino e fui me dirigir a ele para perguntar se estava perto do rio. Ele me olhou com olhar desconfiado e percebi que ele não era da região. Não soube me responder. É jogador de futebol e estava treinando na areia. Tinha um leve sotaque europeu. Me despedi e fui até o rio me banhar.


Fiquei horas tomando sol, curtindo preguiça e dando início ao processo de desaceleração. A cabeça ainda estava um pouco ligada com algumas questões que preciso resolver quando voltar, a ponto de mentalizar situações corriqueiras de como resolver alguns impasses. Aí me levantei da canga, dei um belo mergulho para desovar problemas, stress e vãs preocupações. Estava mais do que na hora de me dar o direito de aquietar. Na volta, decidi estender a caminhada até chegar no restaurante Eco para almoçar (caipirinha, água com gás mais entrada e prato principal: R$92,00). Voltei pela praia com a grata surpresa de ser presenteado com um pôr de sol maravilhoso.




segunda-feira, 18 de julho de 2016




Já estava com a lista de tudo que eu precisava na mala. Só que não. Me atentei só no momento que estava esperando Richard, o novo taxista muso, me levar até Congonhas. Isso porque eu só tinha descoberto que era Congonhas no dia D. Juarava que seria em Cumbica. Entreguei a Deus e desencanei. Fui tomar uma ducha com o vinil de hits do Paul Maccartney. No máximo!


Richard mandou um whatsapp avisando que já estava me aguardando. Como me restava 10 minutos para o horário combinado, dei meu grito de guerra ao som de Clara Nunes. E pra lá do Mundo de Alice



Com uma camiseta linda que comprei de Nossa Senhora de Guadalupe, me colei e desci com minha bagagem featuring mochila e bolsinha a tiracolo para levar todas as minhas bugigangas. Levando 3 livros a tiracolo: “Consciência Planetária”, que ganhei de meu tio Mauro e aborda questões sobre espiritualidade, sob a visão espírita; “Ilusões Perdidas”, do Balzac: comprei há um bom tempo e já está mais que na hora de encarar uma história de 600 páginas; e terminando de ler “On the road”, do Jack Kerouac. E me degladiando com as personagens que, numa situação real, preferiria que fossem gansos para eles engolirem ração até morrerem e virarem foie gras. Estou em discussão sobre essa obra na terapia. Mas o livro eu comento durante as férias.

Cheguei na frente do prédio e... cadê o táxi preto? Sim, aderi agora ao táxi preto. Não sei por quê, mas não me sinto muito à vontade ainda com o Uber. Descobri o táxi preto justamente com Richard, que parou quase em frente minha casa, um dia desses, para me encontrar com Nelson Valência na praça Vilaboim. Super simpático, me ofereceu água, caso quisesse e fomos batendo um papo até o destino final da corrida. Queria ver se era (risos) “bem apessoado”. Trocamos contato. E vi que na foto ele era uma graça. Percebi que o carro estava um pouco distante e Richard estava me aguardando do lado de fora. Como ele não me via, fui em direção a ele. Só quando nos aproximamos e ele percebeu que “eu” era o Lira, ele se pegou de surpresa. “Nossa, achei que o prédio era esse” e eu retruquei “E você percebeu agora que não, né”? Começpou mal, com um ponto negativo (risos). Ele prontamente pegou minhas bagagens. Quis marcar às 18h como precaução. O vôo partia às 21h25. Com o trânsito de sexta, deduzi que chegaria em uma hora e meia. Colocamos o cinto e Richard deu a largada. Rumo ao mar de Milagres.


O trânsito estava um pouco carregado e comecei a me estressar. Ele tomava iniciativa de jogar algum assunto, mas eu não queria papo. Só fui relaxar quando saímos da 23 de maio. Aí a conversa fluiu. Por mais que você não conheça, você acaba meio que forçosamente, a estabelecer um clima de intimidade a ponto de dividir assuntos de sua vida pessoal. Falei com ele que estava de saco cheio da novela angolana que era minha família e que estava no “mode off” sem estabelecer contato com nenhum deles. Tive a sensação quando ele me olhava de que ele estava desaprovando, quando ele fita meus olhos e diz: “Tô a fim de fazer a mesma coisa com a minha”. Não é pra casar? (risos).

Cheguei às 19h30 em Congonhas (táxi centro até aeroporto: R$50,00). Do lado de fora, Richard foi tirando minhas bagagens. E foi aí que eu vi que o muso tem um conjunto completo: charmoso, muy guapo,  bom papo, não tem medo de te olhar no olho e (risos) sistemático como eu. Semelhante realmente atrai semelhante nesse mundo. Sem essa de que os opostos se atraem.


Fiz o check-in no totem eletrônico da Gol. Quer dizer, você tem que fazer isso primeiro, antes de despachar sua mala.  Aí ele pede para você escolher o assento, mas se você escolher o assento, a Gol vem com uma punheta de papo de que a escolha faz parte do “Gol conforto” e para isso você precisa “apenas” desembolar mais  R$49,00. Como não queria ir para o fundo da aeronave, que é onde realmente te mandam caso você não pague a módica quantia para esse desgosto de companhia aérea, paguei para ficar no corredor da fila 5. 


Fui comer na Casa do Pão de Queijo (dois paninis, pastel de forno e chocolate quente grande: R$18,00). Comprei revistas – a edição especial da Superinteressante sobre comida e a Lounge, com o Ney Matogrosso na capa. Entrei na sala de embarque para passar pelo” triturador de carnes” do raio x de bagagens. Foi rápido dessa vez. O portal de metal não deu nenhuma pinta comigo.

Aguardei no piso inferior no portão 18 um bom tempo para ouvir, depois de meia hora que o vôo iria atrasar e que o embarque seria feito no portão 7, andar superior. Eu estava bem colocada para ficar reclamando (risos). Vi aquele monte de gente cheirando Seiva de Alfazema, no desespero para subir. Pareciam um bando de refugiados no Mediterrâneo (risos).

Demoramos mais um pouco para embarcar e decolar. Na fila 5 estava um senhor que não parava de conversar com a esposa. Quer dizer, brigar com a distinta. Não sei como homem tem paciência para aturar mulher, que na essência é um bicho neurótico. Ficava pensando novamente no ganso virando foie gras. Seria tudo tão prático não?




Duas horas e meia depois, devorando as revistas e o mundo insano de Kerouac, o avião chegou num vôo super tranquilo. João Carlos, o motorista da pousada, me aguardava junto com outro fofo que não perguntei o nome. Tinha terminado de chover. Mas só de respirar outros ares, minha cabeça se conectou facilmente com o ambiente de acolhida que recebi. A viagem já estava com outra cor, outro cheiro. E pronto para aguardar o que São Miguel dos Milagres me reservava.     

sábado, 16 de julho de 2016



É sempre bom poder voltar às raízes e retomar o contato e relação com amigos. Amigos com A maiúsculo, mesmo. Digo que os grandes amigos fazem parte da família que eu escolhi. E graças a Deus, sei que são para uma longa caminhada na minha vida.

Me encontrei com Betina para colocar os assuntos em dia e para ela me contar sobre sua estadia em São Miguel de Milagres, um dos destinos que já tinha escolhido como sugestão para tirar o stress do couro. Nos falamos pelo whatsapp e dei a ideia de jantarmos no Delapaix. Pensei no bistrô para rever uns queridos que trabalham por lá. Betina passou no condomínio, desci e fomos caminhando pela Alameda Barros, pra dar uma refrescada na cabeleira e afiar a língua.

Fomos andando tranquilamente e Betina falando o quão maravilhoso foi ficar em São Miguel dos Milagres. Enquanto percorríamos nosso trajeto, vinha passando a passos largos um “cara” juro-que-sou-hetero. Quando nos aproximamos e entrecruzamos nossos olhares, ele nos olhou com uma cara fechada. Assim que ele passou por nós, Betina, sempre atenta às personagens do cotidiano, parou imediatamente de falar o que estava conversando, olhou pra mim e abriu um parênteses dizendo: bixa, né? (risos). Eu fico impressionado porque essas beashas juram que  enganam fazendo essa linha hetera, mas no fundo a gente sabe que elas amam engatar a ré sem vaselina (risos).



Chegamos no Delapaix e reencontramos Janice, ex-gerente do bistrô. Estava dando uma força por lá porque os meninos – Régis e Valmir, saíram de lá. Ficamos um pouco decepcionados porque estávamos com saudades. Digamos que vê-los por lá é um atrativo a mais (risos). Janice nos contou que os dois abriram negócio próprio.  Betina quis abrir o coração e disse a Janice que tinha uma queda por Valmir. Perguntamos a ela se ela tinha tesão em algum deles e ela disse que não. Ficamos em devaneios dizendo que a gente queria casar com eles, cada uma de nós com um. Sem brigas. Eu emendei e falei que adoraria ter tido a oportunidade de fazer DP com eles e ela disse: o que é DP? (risos). Ficamos gargalhando um bom tempo, mas explicamos a ela o significado das iniciais.


Com o bloco de notas a tiracolo, fui pegando todas as dicas de Betina. Pronto. Informações, contatos, preços dos passeios, tudo no caldeirão turístico necessário para o início de minha desaceleração. E minha viagem tinha dado início. Na paisagem da minha mente.

sábado, 16 de abril de 2016


                       

Num bate rebate rápido que tive agora pouco com Julia, a filha dos meus amigos Mauro e de Rosita, pelo Facebook, me veio uma reflexão. A Julia postou no facebook que esta “escutando aos berros no celular, no ônibus, ‘não interessa Michele, eu sou o homem da casa!’ (risos) 
Ela complementou: ‘Como não sentir aquela coceirinha de dar na cara dele?’ E aí eu comentei, de forma rasputiniana o seguinte: ‘ eu tive foi tesão, isso sim’ (risos). Jogar energia na boca de lobo à toa pra que¿ É tão simples administrar. Você faz o bofe acreditar que ele realmente manda na relação. E, no meu caso, a gente simplesmente manipula. Como um fantoche. Garanto que (risos) gente recebe o que ele tem de melhor pra dar quanto fica com o ego inflado.

                             

Semana bem agitada.  Na sexta passada, recebi a visita de minha amiga Bruna. Trabalhamos juntos no SESC, mas agora ela encontrou a luz como (risos) Caroline em Poltergeist e está dando aula no SENAC. Não nos víamos há um bom tempo. Tricotamos horrores sobre vários assuntos, entre eles a política. Eu disse a ela que tinha parado de ler e comentar sobre o assunto nas redes sociais porque as pessoas andam muito violentas. Chegam a fazer comentários extremamente calcados na ignorância. Isso é para ambos os lados. Você não sabe em quem acreditar por causa de um certo radicalismo, de ambas as partes. E um certo “extremismo”.  Por um lado, temos a incompetência da “Vil e má” que não consegue sustentar o seu governo, com uma recessão econômica, digamos, preocupante. Fora ter dado o azar de governar num momento em que há um ódio explícito ao PT, dadas a todas as circunstâncias de escândalos, começadas no governo Lula; por outro lado, o impeachment está sendo manipulado por uma quadrilha de pelo menos “um” bandido que já é RÉU e que nada se fala a respeito dele. Aliás, o PMDB é a puta mãe de todos nós da política brasileira. Pena o PT ter feito pacto com o Diabo. Agora está pagando por isso. Graças a Deus que Bruna e eu falamos de outras coisas tomando um bom vinho rose francês. Pedimos pizza. Elogiei seu filho mais novo, Miguel, que é uma graça. 




                                     

No sábado, ao acordar, meu celular tinha falecido. Nem meu carregador ajudou. Pra piorar, a fonte do carregador do meu paleozóico notebook também tinha cometido um suicídio. Fui ligar em alguma assistência técnica e o telefone (risos) estava descarregado. Ilhado em meu próprio apartamento. Isso porque eu estava disposto a fazer uma maratona Netflix (risos). Aí você tem que se apressar para ir trocar o seu aparelho em pleno sábado de sol.  Me colei e fui de subway até o Shopping Paulista. Tinha uma loja da Claro lá que te atendem razoalvelmente bem.  Entrei e a maquininha da senha estava no “pause” . Quer dizer, quebrada (risos).  O vendedor me abordou e perguntou o que eu queria. Falei que iria trocar de celular. Seu nome é...whatever!. E  aquela ladainha capitalista de me oferecer um aparelho mais moderno, essas bobagens que me dão estafa emocional. Como estava com pressa perguntei as opções. Quando fechei o que queria, ele foi consultar o sistema, que “demorava alguns minutinhos”. Depois de quinze minutos, veio com o papo de que havia um débito no sistema. Perguntei qual era o débito e ele respondeu que “o sistema não conseguia localizar de onde”. Que sistema mais estúpido é esse? (Nessas horas eu penso em agradecer a Deus pela existência de Freud. Só a terapia salva). Saí puto para ficar uma semana em definir se mandava arrumar na assistência técnica, se dava truque em (risos) ir na 25 de março ou se comprava outro. O jeito foi relaxar. Comi um “quilão” e voltei para casa. Para espetar uma navalha na carne, lendo “Amores Líquidos”.

quinta-feira, 7 de abril de 2016


Acho que os remédios homeopáticos estão começando a fazer efeito. Acordei às 9h e bem disposto, animado. Me arrumei e tratei de pegar o rumo do trabalho, indo ao metrô. Geladeira vazia, não tinha nem um iogurte. Preciso fazer compras com urgência.

Um calor insuportável pedia passagem na rua. Estamos mesmo no outono? Entendo que no outono o clima fica mais seco, mas a ponto de vir um verão tardio não há pulmão que aguente. Passei no banco para desbloquear meu cartão novo. Tive que bloquear o antigo porque uma ratazana que mora em algum buraco no Rio de Janeiro usou o número do cartão para fazer uma compra. Depois de passear por dois caixas eletrônicos, consegui desbloqueá-lo. Me apressei para pegar o metrô, estava muito abafado. E quando se entra no vagão, aquele choque térmico com um ar condicionado que me remeteu a algum lugar na Sibéria, de tanto frio que fazia. E lá vou eu colocar minha jaqueta para proteger os pulmões. Sorte minha que tinha um lugar para sentar.



Assim que o metrô saiu da estação Santa Cecília, em direção à estação República, mal coloquei o Ipod no ouvido quando escuto um ogro berrando e andando de forma descompassada, sem rumo. Tirei meus fones para ver do que se tratava, era apenas um ambulante vendendo suas porcarias genéricas. Tinha pensando que se tratava de um (risos) assalto. Esses ambulantes devem ter tantos traumas para resolver, coitados. São muito feios. Eles têm o perfil de ser daqueles tipos que misturam (risos) banana para comer com arroz e feijão (aliás, se você também faz esse tipo de mistura, interne-se. Isso não é natural). Quando eles entram no metrô (já cheguei a contemplar 3 no mesmo vagão), olham de quina dos dois lados para ver se não tem nenhum segurança e dão o start já nos 220 volts metralhando informações às pessoas naquele português chulo. Me vem na cabeça uma cena de filme de horror. Como se eu estivesse em um (risos) baile de máscaras. Passado o susto do ogro, me recolho a meu mundo interior de dentro de mim mesmo com a ajuda do Ipod e começo a prestar atenção em uma moça desfilando pelo vagão, com a camiseta escrita “Faça Yoga”. Ela com certeza precisa reforçar em dobro as suas aulas. Junto com os seus 220 kilos (risos).

Pra quem me conhece intimamente sabe que tenho horror a baratas. Horror é pouco, na verdade tenho hojeriza desse inseto pré-histórico que nem bomba atômica consegue dar um jeito. Sim, essa informação é séria, já foi comprovado cientificamente que a infeliz resiste bravamente. E eu fico me perguntando qual é o segredo. Só pra se ter uma ideia, numa matéria que li há um tempo atrás na Superinteressante, o repórter foi a fundo para detalhar o estrondo que uma bomba atômica causaria em uma cidade como São Paulo. Ele fez uma retrospectiva histórica no século passado, quando a ex-URSS - atual Rússia pra quem estuda em escola pública estadual (risos), em uma demonstração de poder em pleno início da Guerra Fria, jogou um desses “brinquedinhos” em plena Groenlândia, no Círculo Polar Ártico, próximo aos vizinhos norte-americanos. Foi um estardalhaço que chocou o mundo em plenos anos 1950. A relação entre as duas potências ficaram ainda mais estremecidas, aterrorizando o resto do mundo. Fiz essa “costura” só para constar que a barata é nossa “penitência” pelos nossos pecados.

O pânico por elas me muniu de algumas armas. Sou um sonar para sacar se há esse bicho nojento numa distância de quilômetros. Um Deezer em pessoa (risos). Decidi voltar para casa depois do almoço na Baronesa, para colocar a leitura em dia e fazer alguns textos para o blog. Fiquei na sala escutando um som e escrevendo, quando começo a ficar que nem gato escaldado, com meus pêlos arrepiados. E eu pensei: “Que não seja o que estou pensando”. Quando olho à minha esquerda, vejo atrás de minha imagem de São Jorge esse exu de encruzilhada subindo lentamente a parede de minha sala, atrás do rack. E lentamente. Pense num inseto cascudo e grande. Pois era duas vezes maior (risos). Não sei como tive forças para pular o notebook que estava numa mesa de apoio. Nunca abri tanto minha perna para conseguir pular feito uma salamandra. As aulas de Pilates estão realmente fazendo efeito (risos)


 Fui correndo pra sacada para pegar a vassoura. Volto lentamente para a sala e nessas horas até o cú tem visão de raio-X para saber onde a desgraçada está. Ela tinha sumido. Não sei de onde tirei energia para ter um breve insight, mas veio em minha mente “A paixão segundo G.H” da Clarice Lispector, onde a personagem estabelece, à sua revelia, uma relação com esse bicho asqueroso. Sem forças para matar a barata, que está presa e amassada na porta do guarda-roupa onde dormia sua empregada, ela começa a regurgitar toda sua loucura, se despojando de sua maquiada sensatez para vomitar todos os seus temores. Mas tive que voltar à Terra para resolver o impasse. Liguei na portaria para perguntar se tinha algum veneno e a resposta foi negativa. Interfonei para minha vizinha Ju, que estava em seu apê. Nunca agradeci tanto a Deus por aquele momento,a pesar de pedir ao mesmo tempo pressa para matar a Mata Hari dos bueiros. Perguntei a Ju se ela tinha algum SBP básico e ela disse que sim, iria pegar para me emprestar. Quando ponho o interfone no “gancho”, vejo ela desfilando com suas asas pela casa, dando um belo rasante. Dei um berro e fiz um “rolamento” – quer dizer, me joguei no chão (risos), para ela não me tocar. A bastarda inglória foi para o meu quarto. Acendi a luz e a vi fixada na parede. A porta da sacada estava aberta e eu fiquei na esperança dela ir embora. Ela deu outra pinta voando em direção para sair. Só que não. Quando penso que ela vai dar um respiro, a desgraçada simplesmente não aguenta o tranco e repousa na parte de cima de meu armário. Fiquei me perguntando o que Clarice faria nessas horas. Ficaria blasé, como seu alter ego? Não, acho que ela (risos) infartaria. Que falta faz um marido bofe nessas horas. Ele pegaria ela com o dedo. E nos humilharia depois (risos)


Aí a campainha toca e eu não queria de forma alguma tirar a vista da barata. São naqueles momentos que quando ela some nem pai de santo consegue achar. Peguei um tapete e joguei nela, na esperança dela não voar, pelo menos. Abri a porta para Ju me entregar o veneno. Nos abraçamos e perguntei a ela como estava. Só que (risos) ela começou a desabafar e eu comecei a ficar impaciente. Muito delicadamente fiz a linha psicóloga sincera e disse que o “tempo da sessão tinha expirado” (metáfora, ok?). Fica essa dica: nunca peça ajuda alguma a alguém quando esse alguém pedir emprestado um veneno (risos).


Voltei, entrei no quarto e percebo que a barata tomou um pó de pirlimpimpim e sumiu. Peguei o veneno, fiz a linha “raio gourmetizador” com ele e intoxiquei meu quarto todo. Tudo bem, era para uma boa causa. Tinha que achá-la de qualquer jeito. Quando a vejo, já meio tonta, entrando por debaixo da minha gaveta, na cama, dou um touchê nela e ela some mais uma vez. São muito rápidas. Em menos de 10 segundos, ela conseguiu atravessar a gaveta indo parar debaixo de uma mochila que estava no chão. Não é possível elas serem tão ágeis. Já não chega elas terem asas e ainda vem com um GPS? Num rápido ato reflexo desengonçado, corri e a acertei com a vassoura. E a peguei. Pernas e braços tremendo. Consegui deixá-la de barriga pra cima. Nesse momento, veio um acesso de raiva, me senti naquela primeira cena de Kill Bill – Volume I, quando a Uma Thurman vai se vingar da primeira vilã e a imagem (risos) congela na cara de ódio de Uma,  antes da briga das duas. Levantei a vassoura e fiz questão de gritar, enquanto passava um filminho de minha vida cheia de traumas: RADOUKEN! (risos). Eu bati muito nela, acho que dei umas (risos) vinte vassouradas nela. Mesmo assim, ela continuava mexendo suas perninhas peludas. Devia estar gargalhando na minha cara. Aí eu descarreguei quase (risos) meio litro de veneno em cima dela. Enquanto ela dava seus últimos suspiros, fui tomar uma ducha e me recompor. Depois de aliviada, pego a pá para levá-la em sua lápide, o lixo. Liguei para Ju e a convidei para bater um papo e pedir uma pizza. Me veio uma vontade louca de ser terapeuta (risos).