São Miguel dos Milagres. Assim
que entrei, pela praia, para dentro da pousada, fui recepcionado pelo atendente
do restaurante, o Johnny. Uma simpatia de ser. Um sorriso maroto, encantador.
Fiquei olhando para ele, conversando sobre estar naquele lugar incrível. Enquanto proseávamos, fiquei observando ele e pensei: “Acho que Prince era desse tamanho” (risos). Apesar da
aparência de moleque, disse que tinha 27 anos. Pegando aquele vício de notícia,
fiquei entrevistando o gentil rapaz: já tinha descoberto que era um garoto Bombril: trabalhou em teatro, circo e dança. Percebi que ele era um tipo bem
diferenciado da maioria dos caras da idade dele. Johnny mostrou ser super
focado além de ficar num processo contínuo de receber informação na postura de
aprendiz. Gosta de aprender, de escutar. Me despedi e fui me arrumar. Tinha
combinado de receber Brenno na pousada, mas o bofe deu um "engate a ré" (risos). Decidi me colar para
tomar um drink no Manzuá. Betina tinha comentado a respeito e decidi dar uma
volta por lá.
Foi super fácil chegar, quase uma
reta da pousada que estava hospedado. Entrei e fui recepcionado pela atendente,
uma quase autista. Ela sofria de (risos) delay
, tinha que perguntar a mesma pergunta duas vezes para ela entender. Mas eu estava desacelerado e relaxei. Foi
bem simpática. Vi um moreno jambo na parte de dentro do balcão do restaurante e
deduzi que era o tal Veloso, dono do Manzuá. Fui cumprimenta-lo dizendo que
Betina tinha me indicado conhecer o bar e de uma hora para outra estampou um
sorriso nos lábios. Coisa de gente fina, elegante e sincera. Ficou super feliz
com a indicação e foi pessoalmente me atender. Ah, e perguntou por Betina. Um gentleman. Como estava aquele ar tropical,
decidi sentar do lado de fora. Pedi uma dica do que beber e Veloso falou de sua
especialidade: a caipirinha de limão com capim santo e manjericão. Além de um
bom drink, servia também como um bom despacho de ebó (risos). Pedi uma carne de
sol para petiscar (caipirinhas + carne de sol: R$64,35).
E quando eu penso que o clima
estava agradável e que nada poderia atrapalhar aquele momento, escuto gritos
raivosos quase em frente ao Manzuá. Achei que estavam depenando um porco no
matadouro. Há uma igreja da Assembleia (fundamentalista) de Deus. Quando comecei
a prestar atenção no “culto” dos irmãos, eles resolvem, sem nenhuma cadência e discernimento, a cantar um hino de louvor. Deus
Pai, como eles desafinavam. Fiquei
pensando se Deus merecia tamanho desrespeito com Seu Nome. Me desculpem, mas
afinação e boa voz é primordial em qualquer igreja, terrero, bar de idoso ou
bordel. No meio da música, uma senhora começava a gritar, parecendo o diabo da
Tasmânia. Juro que queria ser uma mosca para ver a cena. Com o louvor aos berros, deduzi que ela deveria, naquela emoção, estar cuspindo muito. Por isso que nunca fico na primeira fila (risos). Olhei para o céu e perguntei a Deus: Você pretende voltar quando? Juro que queria ter um terço naquela hora para rezar por eles. Para ficarem mudos. Perguntei a Veloso se Jesus usava algum aparelho de surdez,
tamanho o barulho que os fiéis faziam. O jeito foi pedir mais uma caipirinha de
capim santo com manjericão. Pra ver se o diabo saía de lá. E não é que deu
certo?
Voltei pra pousada, com uma travesti de terrêro me seguindo. Pelo jeito,
eu teria um preço a pagar (risos). Só que não. Perereca pra mim, só no brejo.