quarta-feira, 30 de setembro de 2015


O dia amanheceu com um sol lindo e cortante em Algodoal. Deixei o ar condicionado ligado, para repelir qualquer inseto pré histórico a entrar. Passei pelo quarto de Ju e a chamei para ir tomar café. Ela comentou que se surpreendeu com uma barata na janela do seu quarto. Minha intuição estava certa sobre esses monstros pré históricos e a partir daí comecei a deixar o ar condicionado ligado quase o dia inteiro (risos).

Fomos tomar nosso café. Nossa dublê de mãe de santo, a Baiana, preparou um bom breakfast pra gente. Ficamos entretidos com a televisão. Estava passando aquela bobeira de dona de casa de primeira viagem, o É de Casa. Juçara fez uma ponderação a se pensar: como a Globo pode colocar um programa sobre casa se ela fala a semana toda em seus programas sobre o assunto? Quer dizer, de alguma forma, o Mais Você e o Bem Estar suprem essa carência, não? É uma enxurrada de programas com a mesma temática no mesmo canal. Fora o que não estou computando nos outros canais que passam a mesma coisa nos mesmos horários.  Fora a sucessão de absurdos que vimos nesta edição do programa. A propósito, para que ter tantos apresentadores? Ficamos nesse debate boca enquanto saboreávamos nossa tapioca, quando veio a primeira pérola do programa: numa cena externa, aquela apresentadora que come o Boninho, a Ana Surtada estava entrevistando um “educador”, que ensinava a fazer alguns jogos utilizando diversos tipos de papéis para produzir uma espécie de “basquete para autista”. Enquanto a surtada entrevistava o moço, tinha dois pentelhos no fundo jogando bolas de papel um no outro. Eles (risos) não estavam nem aí para o programa. Isso em pleno padrão Globo de qualidade. A uma certa altura, a Surtada chamou um dos meninos, perguntando a eles que tipo de material eles usaram para ajudar o “educador” a fazer o brinquedo, quando um deles diz em alto e bom tom que utilizaram uma (risos) “régua de triângulo”. Eu e Juçara ficamos pasmados em ver tamanha falta de informação passada em pleno programa matinal da Rede Globo. Quer dizer, desde quando ESQUADROS mudou de nome?


Com a besteira tamanha que estávamos vendo, incrédulos com tamanhá ignorância, nem percebemos que um casal estava tomando café ao nosso lado. Demos um bom dia, mas o bofe estava meio de mal humor. Foram embora e deram espaço a outro casal que estava chegando e nem nos cumprimentaram. Nem precisei ser adivinho para acertar que eles eram de Belém. É realmente gozado ver esse tipo de comportamento, nesse nível de arrogância. Do que adianta terem status e diploma, se não tem algo que considero primordial num ser humano: a educação?! Será que eles juram que fazem parte da aristocracia de Downtown Abbey? Seriam se fossem educados. Quem sabe, quando eu entender o que eles querem de fato, falar com você. Quer dizer, veja, por exemplo, o sotaque deles. Você não sabe se é carioca, ou maranhense, ou goiano. É uma autêntica (risos) torre paraense de Babel. Comentei com Juçara a respeito e tomei como base os vários belenenses que moram em meu prédio. São tantos que às vezes acho que estou (risos) numa verdadeira república de Belém em plena Pauliceia. E com esse mesmo tipo de comportamento. Mas pensando numa bela frase já dita pela Gisele Bunchen: CAGUEI. Nos levantamos e fomos  nos arrumar para o roteiro do dia.



O guia não passou para nos recepcionar e nos dar opções de passeios. Perguntei a Sávio se ele tinha o contato do guia e Sávio não estava com o celular dele. Aí perguntei se ele conhecia outro guia e Sávio respondeu negativamente. Em qualquer pousada que se preze, acho necessário o gerente nos orientar sobre o que fazer, ou pelo menos dar indicações de quem faça algum roteiro com os turistas. Mas não esquentei. Juçara e eu fomos até o porto. Ficamos comentando a respeito desse deslize, mas nada que mudasse nosso humor.

A sorte voltou a ficar ao nosso lado quando chegamos ao porto. Encontramos Alexandre, o rapaz que levou nossa malas até a pousada quando chegamos em Algodoal. Ao lado dele, estava um rapaz curioso com nossa chegada, usando óculos Ray Ban de armação lilás. Ficou nos observando quando perguntamos para Alexandre se ele conhecia algum guia para nos levar até a praia de Fortalezinha. Já tínhamos escutado a respeito dessa praia. Antes de Alexandre responder, o tal garoto entrou em minha frente e disse que nos levaria. E ficamos naquela cena de olhares, um para cara do outro. Perguntei o preço e ele deu o seu valor (Passeio: R$100 para 2 pessoas). Achei razoável, mas fechamos. O tempo passava rápido e a gente queria curtir.


Aperte o play e viaje com a gente

Começamos nossa caminhada, idealizando uma viagem sem rumo em minha mente. Frank estava na dele, nos observando, afinal de contas, não é todo dia que ele faz um passeio com duas “travas” (risos).  E eu estava bem pintosa, com um chapéu Dolce & Gabana e minha canga de mandala azul. Resolvemos quebrar o gelo, entrevistando o rapaz. Ele nos deu informações básicas sobre o roteiro do passeio. Nos falou que morava numa vilazinha ao lado de Algodoal. Apesar da conversa morna, quem realmente quebrou o gelo foi ele, quando nos falou que recentemente tinha levado um casal para curtir o passeio e que “eram dois homens”. A partir dali, Frank já tinha nos conquistado.  Com apenas 22 anos, já é pai de família: casado, tem 2 filhos. Elogiei o óculos Ray Ban que estava usando, disse que era bem estiloso. Ficou cheio de graça, dizendo que era pra atrair as menininhas da ilha. Juçara perguntou o tempo da viagem e Frank respondeu que levaria 40 minutos até a Praia de Mococa. De lá, deixaríamos o barco para caminharmos até a vila de Fortaleza, pegar outro barquinho para atravessarmos e chegarmos até a Praia de Fortalezinha.

Depois de um bom bate papo, ficamos em silêncio, casa um a sua maneira. Foi um momento de esvaziar totalmente a minha mente, sem pensar em nada, nem ninguém. Só queria ouvir o barulho da água batendo no casco do barco. Frank intervia para observarmos ao nosso redor: passou pelo mangue, apontou por onde os pescadores criam armadilhas para atrair os peixes e no fim de tarde, pegar o pequeno cardume que fica preso na emboscada; e por muitas vezes, graças a Deus, nos mostrou diversas espécies de pássaros, com destaque para o guará, um pássaro de penugem vermelha, um verdadeiro súdito imperial do mangue. Quando Frank terminava com sua intervenção, eu novamente entrava em alfa, sentindo a energia do sol, a força do vento em nossas caras, a suavidade refrescante do mar. E no mais profundo silêncio interior, em estado de contemplação com a natureza.


Depois de 40 minutos, chegamos em nosso primeiro destino, a Praia da Mococa. Tinha uma família brincando na água. A praia em si não é muito atraente. Do outro lado da praia, a cidadezinha bem bucólica de...Mococa. Frank nos disse que dessa cidade saía barcos para outras cidades litorâneas, incluindo Salinópolis, nossa próxima empreitada em nosso roteiro turístico. Junto com a gente, chegou outro barquinho, do mesmo tamanho que o nosso. E com dez pessoas. Quase obesas. Quer dizer, uma correção. Quase todas obesas (risos). Não sei como o barco não virou. Isso realmente me chamou a atenção.


Quando saímos do barco, senti dores na região onde operei, again, pelo fato de ter ficado na mesma posição durante a viagem. Juçara ficou preocupada, mas disse para irmos adiante. Estava um sol forte, mas nada que um chapéu Dolce & Gabana e um protetor La Roche-Posay não resolvesse a situação.  Fomos caminhando até a vila de Fortaleza. A Fat Family  do barquinho que chegou conosco resolveu pegar outra trilha, por dentro da vila de Fortaleza. Nós preferimos o atalho, mas Frank nos falou que levaria a gente na volta para conhecer melhor a região.

Assim que chegamos, um break no quiosque para nos refrescarmos com água de côco. Tirei meus óculos e ficamos vislumbrando a paisagem ao redor. A Praia de Fortalezinha estava a poucos metros de nós, mas era necessário aguardarmos algum caiçara para nos levar de barco até lá. Percebi que Frank não tirara seus óculos. Isso me atiçou uma certa curiosidade por um momento, quando o dono do quiosque colocou um system para escutarmos carimbó. Perguntei para Frank o que ele curtia de som. Foi enfático em dizer que gostava do som da sua terra. Nos falou também que seu pai tinha um grupo de dança em Algodoal, onde ele tocava tambor.  Nada mais prazeroso do que ouvir um garoto ter orgulho de sua cultura. Depois de um repertório de carimbó e ainda aguardando o caiçara chegar com seu barco, o set list do system mudou drasticamente de estilo, só com medalhões da MPB. Com direito a ouvir, em plena boa terra de ninguém, o zumbido de uma Abelha.


O caiçara chegou, embarcamos até Fortalezinha. Foi muito rápido a travessia, uns 7 minutos. Frank pediu para, caso entrássemos no mar, para ficarmos apenas até a água chegar em nossa cintura. Ju e eu  reverenciamos o mar, para colocarmos nossa pele a bronzear. Não ficamos muito tempo, pois Frank estava preocupado com a maré. Valeu pelo visual.



Na caminhada de volta até o barco, entrei em contato com Nelyssa, a taxista que nos levou até o Porto de MArudá, para acertar com ela o transfer até a cidade de Castanhal, de onde pegaríamos algums condução para Salinas. Naquele meio do nada, consegui me comunicar. Enquanto Ju caminhava com Frank, fiquei tirando fotos. E a Natureza me deu um tapa de luva de pelica por causa do desdém que tinha feito com a prainha de Mococa e que me presenteou com uma belíssima foto que me fez tombar.



Fiquei com dores até voltarmos a Algodoal. Assim que desembarcamos, uma boa supresa: encontramos Alexandre, que tinha levado nossas bagagens até a pousada. Nos perguntou do passeio e eu disse que o que mais tinha me emocionado era o trajeto de barco. Papeamos um pouco até saber que Alexandre tinha um apelido - Passarinho. Não entendi o motivo do apelido porque ele não parece em nada com um. Nos despedimos de Frank, que estava ansioso em também saber sobre o passeio. Agradecemos a ele pelo dia e principalmente pela sua companhia agradável. No caminho até a pousada, disse a Juçara que tinha descoberto o motivo de Frank não ter tirado seus óculos em momento algum: durante nosso descanso no quiosque, vi que Frank era cego de um olho.  Antes de nos despedirmos, ficamos de trocar contatos. Um menino sofrido, batalhador, responsável e que certamente terá sempre oportunidade de guiar os turistas com sua sensibilidade nata. É o que eu espero. 

terça-feira, 29 de setembro de 2015


Dê o play antes...e boa leitura


O sol já estava dando seus sinais de preguiça enquanto estávamos curtindo a brisa boa da praia da Princesa. Comemos um filé de pescada delicioso e fresquinho. E nos esbaldamos em tomar um refrigerante típico do Pará, o guaraná Cerpa. Achava que tinha apenas a cerveja dessa marca. E eu fiquei viciado nesse refri.  Apesar da preguiça de voltarmos caminhando até a pousada, nos arrumamos e despedimos de todos que cuidaram da gente durante o dia, na barraca de Leila. Na hora de nos despedirmos de Sanjaia, ela veio, pegou minha mão, apertou e olhos nos meus olhos, dizendo que “eu era porreta”. Ela quis me abraçar. Juro que pensei que ela queria (risos) quebrar uma louça comigo. Mas foi só impressão. A cada frase que falava, terminava sempre com um “em nome de Jesus”. “Eu adorei vocês, vocês são demais, em nome de Jesus”. Nos deu dicas do que curtir à noite em Algodoal. “Apareçam lá no Mopeua, vai ter apresentação de Carimbó. Em nome de Jesus, vocês têm que ir” (risos). E com nome de Jesus não se brinca. Confirmamos que iríamos nos encontrar no bar.



Voltamos bem devagar pela praia. A maré estava baixa e com isso, conseguimos atravessar a pé o local onde de manhã atravessamos de canoa. Entramos na rua da casa do IML, seguimos reto e passamos novamente pela imensa mangueira em formato V (dá uma olhada na foto que tirei dela no texto de ontem: http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/09/algodoal.html ). Imensa e magnífica.

Chegamos na pousada. Sávio nos avisou que um guia tinha passado e perguntado se não queríamos fazer algum passeio. Perguntei se ele voltaria e Sávio respondeu que sim. Disse então para falar ao guia que tínhamos interesse em passearmos nos dia seguinte.  Pedi uma água pet de 1,5l e fui tomar uma ducha. Por ser uma região bem quente, os chuveiros dos quartos eram frios. Frios até a página 2, pois a água descia de forma natural, quase morna. Só fiquei incomodado realmente com a cor rosa calcinha do meu quarto. Muito deglacê.

Descansamos um pouco para mais tarde chamar Juçara e darmos uma volta pela Ilha. Estávamos famintos e pedimos uma dica para Sávio, que nos falou do restaurante de Dona Ilza. Fomos caminhando pelas ruas de areia da vila quando nos encontramos com...Sanjaia. Acho que ela deve ter visão raio X porque nos avistou a quilômetros de distância. “Ah, eu não acredito que já encontrei vocês. (risos) Em nome de Jesus”. Nos indicou de comermos num PF ao lado da pousada onde estava sentada, mas declinamos. Queria comer algo mais caseiro. Assim que nos despedimos, Sanjaia nos repreendeu: “Como assim? Vamos nos ver no Mopeua, minha gente, em nome de Jesus”. Para não me indispor com Jesus, acenamos que nos encontraríamos lá.



Encontramos o restaurante de Dona Ilza. Pedimos um filé de peixe típico da ilha chamado Gó. Bem original para um peixe nativo de AlGOdoal (essa foi péssima...sorry). Um menino cor de jambo de nome Élisson nos atendeu. Dona Ilza é bem esperta. Coloca todos os filhos para trabalhar. Ótima gestão com a relação custo benefício. Nos infartamos de comer. O mais prazeroso é que além de você comer e se satisfazer super bem, tem a vantagem de pagar uma quantia pífia, simbólica, eu diria. (Filé de peixe com arroz, farofa, vinagrete e purê: R$40, para duas pessoas).

Passamos pelo Mopeua e não vimos Sanjaia por lá. Só tinha losers, quer dizer, velhos hippies que ainda acham que vivem a era de Woodstock. Só de vê-los já me cansa. Voltamos para a Estrela Sol, para guardarmos nossas energias para o dia seguinte.   




segunda-feira, 28 de setembro de 2015


Algodoal. A vila amanheceu com um calor daqueles, pior que mulher na menopausa. Acordamos um pouco tarde, por volta de 8h45. Chamei Juçara para tomarmos café. Nossos quartos ficavam perto da piscina, mas nem pensávamos em usufruir do espaço. A pousada tinha uns equívocos gritantes de ambientação. Meu quarto estava com a parede em formato degradê, nas cores branco e (risos) rosa calcinha de meretriz. Um horror. E com uma cor dessas, não conseguia fazer nenhum tipo de leitura no quarto. E com relação a piscina, eles (risos) colocaram uma estátua de boto cinza. E o boto ainda tinha um semblante feliz, sorrindo em frente à piscina. Eu não iria mesmo nadar ali. Até porque boto é parente de golfinho. E eu odeio golfinho.

Fomos tomar café. Sávio já estava a postos, junto com a nossa (risos) Lili Carabina de Algodoal, a Baiana. O café da manhã foi bem na linha da simplicidade, mas tudo feito com muito carinho, apensar de (risos) acharmos que Baiana poderia nos envenenar a qualquer momento. Bobagem da nossa parte. Fomos bem recepcionados com muita tapioca, ovos mexidos, café, leite e sucos de frutas da região. Ah, esqueci de mencionar: a pousada possui um lindo cajueiro, dá pra sentir de longe o cheiro da fruta. E lógico que não poderia faltar um suco de caju na mesa, apesar de terem nos servido no primeiro dia suco de manga. Aproveitamos para Sávio nos sabatinar sobre os points de Algodoal. A ilha não tem tantas atrações como imaginávamos e batemos o martelo em conhecer nosso primeiro destino: a Praia da Princesa.

Terminado o café, fui ao quarto, preparar meu kit proteção solar facial, corporal, labial e para cabelo. Levei revistas, como a última edição da Super Interessante e meu livro Gente Independente. Óculos de sol, óbvio que não poderia faltar. Pronto. Sacolinha na mão como todos esses pertences em direção à praia da Princesa.



Saímos tarde e tomamos uma direção sem rumo. As ruas de Algodoal são de areia, não se pode andar de carro por lá. A locomoção para qualquer lugar da ilha é de charrete. Ou de barco, se for muito longe. Queria ter contato com os moradores da ilha. E eles não fizeram feio. Foram educadíssimos. Todos sorridentes, nos davam bom dia. E muito pró ativos em nos ajudar. Fomos entrando pelas ruas, como num labirinto, até avistarmos uma ponta verde no final de uma viela. Era a praia dando seu olá. Seguimos a ruazinha até o seu final. Ficamos olhando a arquitetura de algumas pousadas, passamos por uma enorme mangueira em formato de “V” (vide foto abaixo), fora as casinhas dos habitantes da ilha. Simples, mas bem acolhedoras. Quando estávamos chegando ao final as rua, já com a vista da praia, vimos um enorme casarão. Disse para Juçara de alugarmos para levarmos nossas famílias e passarmos juntos  uma temporada de verão. Na frente do casarão, tinha uma espécie de complemento do casarão, uma casa suspensa linda. Falei sem titubear que ali seria meu aposento e que não dividiria com ninguém. Quando chegamos bem perto da casa suspensa, Juçara avistou uma  placa pregada no fundo da casa e me perguntou se eu realmente queria ficar com aquela parte do casarão. Olhei para o cartaz, que continha a singela informação: IML (risos).


Caminhamos pela praia da vila até chegarmos a um riacho. Para chegar até a praia da Princesa, precisamos atravessar de canoa (R$2 a passagem, por pessoa). Atravessamos e ainda caminhamos por mais uns 15 minutos até chegarmos a uma placa com os dizeres: Bem vindos a Praia da Princesa. O visual era especial.


 Como a praia tinha quase 2 km de extensão, decidimos ficar na barraca mais próxima. Estava tendo um leve incômodo por causa da pós cirurgia e precisava descansar. Passamos primeiro por uma espécie de casa fantasma de madeira, onde funcionava um restaurante com o nome de (risos) Mata Broca. E antes que pensem qualquer sacanagem, “Mata Broca” para os habitantes da ilha nada mais é do que matar a fome.


Paramos na barraca de Leila. Juçara pediu mesa e cadeiras. Queria também uma cadeira de sol para pegar um bronze. Apesar da demora – algo que se deve relevar, já que as pessoas do lugar têm outra noção de tempo, fomos compensados com um tempo incrível. O que eu achei peculiar da Praia da Princesa e esse é um charme que nenhuma outra tem, é que antes de se entrar na praia propriamente dita, você tem que passar por lagunas formadas em função da maré e do assentamento de areia, o que significa que se você tiver receio de pegar uma onda, pode ficar se banhando nessas lagunas, sem se preocupar em se afogar. Decadeance avec  elegance.


Conhecemos uma pseudo-hippie querendo fazer, adivinhe: vender bijouterias para Juçara. Seu nome é Sanjaia. Ela nos falou o significado de seu nome, mas eu confesso não me lembrar o que ela falou. Coincidentemente, Sanjaia era amiga de Leila e acabou ficando na barraca, ajudando Leila a servir as mesas. De início, a barraca tinha colocado uma radiola, pois a ilha inteira gosta de curtir um reggae. A radiola nada mais é que transformar qualquer tipo de música – principalmente a pop, numa versão reggae. É até interessante a idéia, mas ao mesmo tempo estranho. Imagine ter, por exemplo, que escutar uma música da Britney numa versão dub. E no caso de Britney, a versão ficar (risos) melhor que a música original. Milagres da tecnologia pop. Mas o melhor, Sanjaia deixou para o final. Imagine num momento bem relax, pegando um bronze e você começar a escutar a voz magistral de Caetano Veloso, ecoando pela praia da Princesa. E depois uma seleção com as divindades da MPB (só pra matar sua curiosidade, o set list foi recheado com: Elis, Jorge Ben, Tom Jobim). Com essa grata surpresa, inesperada, tomei emprestado os versos de uma música de Caê pra mim, “tomei a canção como um beijo”, reverenciei o céu e agradeci pela sublime harmonia daquele momento.  

          

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

                                     

Porto de Marudá - Algodoal. Ficamos aguardando o último barco que nos levaria a nosso primeiro destino turístico, Algodoal. Uma doçura de nome. Talvez porque me lembre em minha memória afetiva de algodão doce, um doce que era bem sofrido de comer, de tão grudento que ficava na mão e na roupa. Ficamos contemplando a luz do sol se por aos poucos. Juçara estava toda serelepe, tirando fotos do celular de Sofia. Eu fiquei tomando minha água de côco, curtindo preguiça, afinal estávamos viajando desde a madrugada. Mas Ju me deixou na vontade e acabei fazendo umas fotos também.

Adriano, o caiçara vesgo, descarregou nossa bagagem no barco. Entramos, demos nosso ticket ao capitão da embarcação. A princípio, nos sentamos na parte de cima, ao fundo do barco. Começamos a conversar com dois moradores da pequena vila. Mas fiquei apenas cinco minutos por lá e resolvi ficar na parte de baixo porque aonde estávamos, fedia óleo. É que o motor ficava justamente onde decidimos ficar. Mudei de ideia e fiquei na parte de baixo. Sentei em frente a um casal, mas não sabia se eles eram mesmo um casal. O menino tinha pinta de gay, porque não parava de me olhar. Como estava de óculos de sol, obviamente ele não percebeu que eu estava de olho nele me olhando. Quando a gente quer, óculos de sol vira uma arma infalível num jogo de paquera. Você faz a linha esfinge, olhando para outro lado, mas seu olho de quina está fixado na sua caça. Mas não me interessei por ele. Percebi que era namorada mesmo quando ela percebeu que ele estava olhando para mim. Ficou utilizando da mesma arma, fazendo a esfinge, mas me fuzilando. O formato do rosto dela parecia uma semente de bucha. E eu não estava nem aí pra ela. Minha atenção voltou-se rapidamente para o capitão do barco, que andava rapidamente de um lado para outro, prestes a içar a vela e dar o pontapé inicial à nossa derradeira viagem, quando me atentei a seus pés, ou melhor, a seu pé. Quer dizer, ele só tinha um, era manco do outro e forrou o toco de seu pé com um pedaço de garrafa pet, acho.  E para quem acha que pirata é puro folclore, quero deixar registrado que (risos) fui presenteado com um.
                                
 
A travessia durou quase 40 minutos, mas tudo foi muito rápido. Por um instante fechei meus olhos e curtindo a melodia que o mar nos oferecia. Num certo trecho, o barco começou a balançar muito a ponto de respingar água do oceano sobre nós. Perfeito para refrescar o corpo e lavar nossa alma.

Chegamos em Algodoal às 18h15. Não via a hora de chegar na pousada e tomar uma bela ducha. Estava muito quente. Assim que descemos do barco, fomos abordados por um nativo da ilha para levar nossas bagagens até onde quiséssemos. Seu nome é Alexandre. Um miúdo de gente. Saímos do porto, em direção a pousada. Ele ficou feliz quando dissemos que era nossa primeira vez na ilha. Estava realmente empolgado. Fiquei pensando que queria ter um terço da empolgação dele para deixar o mundo da procrastinação da vida real. Ah, mas quem se importa em papo cabeça naquele momento, com o sol se pondo diante dos nossos olhos. No carregador de malas de Alexandre, o emblema do Corinthians. Disse que ele não iria mais levar nossas bagagens. Caminhando por quase 10 minutos, chegamos na pousada Estrela Flor Hotel, um nome digamos, pretensioso para a estrutura.



Fomos apresentados ao Sr. Oliveira e sua esposa Carmelita, donos da pousada. Nos perguntaram se tínhamos feito boa viagem. Queriam conversar conosco, naquela linha de pegar amizade fácil, mas estava sem energia para dar atenção. Fomos apresentados à equipe da pousada – o menino moço Sávio, uma espécie de gerente da pousada; outro rapaz que até agora não descobri o que ele de fato fazia no “hotel”, de nome Kerleson (risos); e a cozinheira chamada carinhosamente de Baiana. Uma cara assustadora. Juçara comentou que a Baiana, pela cara dela, parecia ser aquele tipo de gente que devia ter matado o marido na ladeira do Pelô, desossado o coitado e fugido para alguma terra de ninguém. Fomos para nossos quartos, tomei uma ducha e me encontrei logo depois com Juçara para jantarmos. Ela estava muito cansada para dar pinta pela ilha e concordei em jantarmos por lá mesmo. Dei uma olhada no whats, facebook e voltei para o quarto. Preferi recuperar a energia para o dia seguinte.   

terça-feira, 22 de setembro de 2015



São Paulo – Belém – Porto de Marudá. Pegamos uma táxi em direção à rodoviária de Belém (trajeto aeroporto – rodoviária: R$45). Mesmo com a cidade encoberta com nuvens, Belém estava insuportavelmente quente. Entramos no carro, com aquele cheiro aromático horroroso. Mas o taxista era uma simpatia. Seu nome é (risos) Pacheta. Tanto eu como Juçara ficamos conversando sobre nossa última incursão pela cidade. Belém é uma cidade agradável. Quando a conheci, fiquei surpreso com a região bem arborizada, com árvores imponentes com aquele verde imperial. Culturalmente, é uma cidade muito rica. E tem que continuar sendo, pois ela já foi considerada capital cultural do país, na época em que era bem mais magistral, geograficamente falando, conhecida como Grão-Pará no Brasil Império. Possui belos museus históricos e espaços para acolher diversos artistas renomados. O primeiro cinema montado no país – o cinema Olympia, está em Belém e já serviu de inspiração para Caetano Veloso escrever uma canção sobre ela. A interpretação na voz de Elis é imbatível. Fora a arquitetura do Teatro da Paz, onde já vi uma de minhas ópera favoritas: La Traviatta.


Apesar de toda essa reverência, ficamos um pouco assustados com a situação de descaso que a cidade se encontra. Pra começar, Belém está muito suja. Pelo menos, no percurso que fizemos até a rodoviária, que fica no bairro de São Brás. Perguntamos para Pacheta o motivo do descaso e ele apenas respondeu o que já sabíamos: interesse político por trás. Passamos pelo bosque e pelos estádios do Paysandu e do Remo, dois dos principais times de futebol do Estado. Pacheta mostrou orgulho pelos times, mas tratei com desdém. Perguntei se eles estavam em alguma série do Brasileirão. Pacheta me respondeu que o menos pior, o Paysandu, está na série B. Já o Remo está remando contra a maré, se esforçando para (risos) entrar na série C.



Pacheta nos deixou na rodoviária, no meio de um bairro que parecia uma cidade sitiada. Pra piorar, rodoviária em reforma. Pacheta nos orientou a pegar uns carrinhos para colocarmos nossas malas, mas não achamos. Enquanto Juçara dava uma pausa para descansar, fui atrás de comprar nossas passagens para o Porto de Marudá. Fui no guichê  da Viação Sucesso. Quanta pretensão no nome. Comprei as passagens, mas decidi aproveitar para comprar os tickets de Salinas, nosso destino após Algodoal, até Belém. Tudo comprado, pausa para descansar a pele.


Precisamos esperar duas horas para viajarmos até Marudá. Duas horas convivendo com vários poltergeists em nossa volta. Jesus, como tem gente feia em Belém. Enquanto passava para ir ao guichê para comprar passagem de Salinas a Belém, um sujeito extremamente freak me abordou, pedindo dinheiro, mas eu não entendi nada do que ele falou. Além de ter lábio leporino, tinha “um” dente, apenas.  Ele parecia ter saído da temporada Freak Show, de American Horror Story (risos). Não dei bola, fiz a Kátia e fui comprar o restante das passagens. Aliás, nunca vi ter tanto pedinte por metro quadrado numa rodoviária. Mal sentei e veio um outro ser pedir dinheiro. Como Juçara tem um coração mais sensível, ela deu atenção. Mas não demos nada.



Para chegarmos até a plataforma que estava o ônibus, outro trabalho de parto. Precisamos descer uma escada imensa, sem corrimão e com todas as nossas bagagens. Não havia nenhum serviço para levar nossas malas. Quando descemos, tivemos que subir em outra escada. Beeeeem estreita. E ainda de brinde, (risos) uma versão cubista de uma barata imensa, totalmente amassada. A rodoviária de Belém estava um albergue em formato de cortiço. 

Subimos nos ônibus com nossas bagagens e o primeiro revés: a região onde fiz a cirurgia começou a doer muito por causa do esforço físico que não devia fazer. Juçara prontamente colocou minhas malas na parte de cima do ônibus e me deu um dorflex. Foi o momento certo para tombar novamente durante boa parte da viagem, que foi extremamente cansativa. O ônibus era do tipo de parar em várias cidades, um tremendo porre. Quando as pessoas desciam, eu me aliviava, mas ficava apreensivo com quem ia subir. Pensava que iria me deparar com (risos) pessoas subindo no ônibus com galinhas e esse tipo de coisa, mas foi menos pior: entrou bastante vendedor ambulante, vendendo (risos) “laranjas geladas” e “coxinhas caseiras”. Pensei que a vendedora estava com salgados de ontem, mas foi puro preconceito mental de minha parte. Ainda bem que não dividi com Juçara a respeito.

Depois de 4 horas intermináveis, chegamos na rodoviária de Marudá. O local parecia um galpão daqueles que você vai prestigiar aquelas brigas de galo. Por sorte, vi um táxi logo na frente para nos levar ao Porto. Ju e eu estávamos muito cansados e preocupados em não conseguir pegar o último horário do barco, às 17h30, para Algodoal. Quando chegamos no carro, saiu uma taxista para nos levar, com o singelo nome de Nelyssa. Ela era a cara da Keith Marroney, do seriado Dama de Ouro. Nelyssa foi super simpática e nos levou ao Porto. Falamos que a viagem tinha sido cansativa e ela nos indagou por que não pegamos as vans que também saíam do aeroporto. Quer dizer, não pegamos as vans porque não sabíamos que elas existiam. Fizemos algumas perguntas a ela sobre como ir de Algodoal a Salinas e ela nos deu algumas dicas. No final, peguei seu cartão, nos despedimos e fomos em direção ao porto. Um caiçara vesgo de nome Adriano nos recepcionou e pegou nossas bagagens. Foi um amor. Nos ofereceu água de côco (água de côco: R$2). Mesmo exaustos, ficamos contemplando a paisagem rústica e bucólica do Porto de Marudá, observando os pescadores descarregarem as encomendas, cansados e ansiosos para terminar o dia, em contraste com a suavidade e tranqüilidade do mar, que serviu de passagem para nosso primeiro destino de férias, Algodoal. 


#notadelira: acho importante reforçar que vale muito mais a pena pegar carona na dica de Nelyssa. As vans são um meio de transporte mais rápido e prático que a eventual linha de ônibus de Belém a Marudá. Elas também saem da rodoviária de Belém com o mesmo trajeto. A diferença é que elas não possuem a obrigatoriedade de parar nas cidades vizinhas. #ficadica

E se você era um lactante nos anos 80 e nem sabe quem foi  Keith Mahoney, te dou uma ajuda.







domingo, 20 de setembro de 2015


Com a ansiedade comendo minha alma pelas beiradas, me despedi de Lucas, minha mais nova aquisição de P.A e dei uma checada no meu whatsapp. Tinha uma mensagem de Paulo, o taxista que tinha fechado o traslado até o aeroporto de Cumbica (quer saber quem são os moçoilos? Dê uma olhada no texto de ontem. Se joga, Ariclê: http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/09/tudopronto-para-viagem-rumo-ao-litoral.html ). Ele gravou uma mensagem de voz. E que voz. Quis confirmar o horário para me pegar e darmos início na viagem. Fiquei aguardando Juçara me ligar de seu celular. Sim, depois de várias reencarnações, Ju sucumbiu, até que enfim, a ter um celular. Sua filha Sofia e eu ficamos no seu pé para ter um aparelho e Sofia – a quem eu gentilmente chamo de “estagiária dos doutorandos” (risos), emprestou o seu para Juçara se desfrutar. Como ela não tinha ligado, confirmei o horário com Paulo, mas nem atrevi a gravar mensagem gravada. Ainda mais com essa voz de travesti de terreiro que tenho (risos).

Estava ansioso e decidi ficar pra lá do Mundo de Alice para aguardar o taxista. Me colei e fiquei aguardando ele chegar. Foi pontual. Me avisou que já estava em frente a meu prédio. Desci com uma pequena mala e uma mochila, até porque precisava levar o mínimo possível de coisas, para não ter que me esforçar fisicamente. Recomendações médicas de Dr. Iron que terei que seguir à risca na viagem.

Saí do prédio, dei um tchau para David, o porteiro de meu prédio e me encontrei, até que enfim, com Paulo. Como sempre, super educado. Pegou minhas malas e colocou no porta mala de seu táxi. Pronto: a viagem, de fato, começava naquele momento.



Fomos conversando durante o trajeto para pegar Juçara. No caminho, falei para ele sobre a primeira vez que peguei uma corrida com ele. E ele se lembrou. E eu fiquei feliz e comecei a falar que nem maritaca, dizendo até que no dia que eu o conheci, resolvi arriscar um taxista no aplicativo da 99 Táxis. Tentei contactar dois, mas como eles eram (risos) monstruosos na foto, resolvi arriscar a pegar na rua. E bingo: meu jovem Rasputin apareceu.

Entramos na região do Brás e nos perdemos para buscar Juçara. Ele me perguntou novamente o endereço dela, eu passei e ele jogou no aplicativo do seu celular, que deu a informação que Juçara morava no Belém e não no Brás. Fiquei apreensivo, pois sou péssimo em geografia e achava que o Belém ficava bem longe. Depois de “quebrar a esquerda” por duas vezes, Paulo conseguiu achar o prédio que Ju morava. No momento que chegamos, Juçara apareceu na sacada de seu apartamento e sinalizou que estava descendo. Ela desceu, foi ajudada por Paulo a colocar sua bagagem e entrou no carro. Pronta para abafar. Começamos a tagarelar muito, fazendo o que mais gostamos de fazer: falar mal de pessoas vãs (risos). Ela já queria saber de uma história que sabia sobre um “quem come quem”, mas fiz de difícil pois não queria que Paulo ouvisse. Mentira!  Fiz charme para ele ouvir, sim. E ele se divertiu muuuuuito com a conversa. 

Chegamos prontamente às 3h30 em Cumbica. Foi muito rápido e chegamos super adiantados. Paguei a corrida (Táxi: R$130) e me despedi de meu doce Rasputin. Paulo realmente é uma joia rara, porque além de tudo que falei a seu respeito, esqueci de mencionar o rapaz educado de coração generoso que ele possui. Combinamos de nos falar para ele nos buscar na volta da viagem. Mas até lá, muito chão vai ser percorrido.



Entramos para fazer o check in na TAM. Fiquei na neura se despacharia minha bagagem. Encontrei um funcionário da empresa com uma cara horrível de castor com rubéola. Perguntei a ele o que deveria fazer e ele foi ótimo em ter a iniciativa de pegar minha mala e levar para pesar. Foi super rápido. Mas ele me informou que eu deveria sim despachar, pois a mala estava com 8kg . Fiz o check in e despachei a bagagem. Depois fui com Juçara na Pizza Hut, pois estava com vontade de comer uma pizza. Comemos, conversamos, tomamos um café para dar uma despertada. Quando entramos na entrada de acesso aos portões para pegar o vôo, ficamos numa fila que virou duas filas e não entendemos nada. Um bando de gente feia, com cara de refugiados, ficou num lado e nós do outro. Aí tinha (risos) uma segurança que parecia que estava num frigorífico, jogando as pessoas num abatedouro. “Vai, passa logo, fila 1! NÃO, ainda não te chamei! Fila 2. VAMOS,  rápido!” (risos). E eu não estava sonhando. Mas fiquei entretido com um moço que estava atrás de mim. Uma graça de pessoa marrenta. Me lembrei na hora do goleiro Bruno.



Entramos no avião, pegamos nossos acentos. O marrento ficou atrás da gente. Mas nem dei tanta bola. O vôo saiu pontualmente às 5h45. E eu apaguei. Dormi o tempo inteiro no avião. Nem tomei o café horrendo que servem no trajeto. Fiquei na janela, pois é menos pior para dormir, dá para se encostar na janelinha. Mas é desumano o tamanho do assento dos vôos, ainda mais de um vôo que vai direto a Belém.  Durante a viagem, acordei apenas duas vezes, mas pelo mesmo motivo: um cheiro de flatulência horroroso. Na segunda vez, não me fiz de rogado e dei uma olhada atrás e vi que o menino marrento era responsável pelo pum apocalíptico. Quer dizer, o que será que ele resolveu comer antes de viajar? Chouriço com ovos?

Para minha alegria, o avião da TAM chegou 30 minutos adiantado. Segundo o comandante do vôo, o tempo em Belém estava quente, com nuvens. Saímos rápido do avião, mas demorei para  pegar minha mala. Nada que fizesse tirar nosso bom humor, mesmo sem dormir. Pensei num breve insight uma frase parafraseada por minha professora de filosofia Carmem Gameiro, nos áureos tempos de minha faculdade: o tempo não existe. Pronto. Nosso lema já estava traçado, em direção a Algodoal.



sábado, 19 de setembro de 2015



Tudo pronto para a viagem, rumo ao litoral do Pará. Deixei para organizar a mala dois dias antes para não ter aquele stress básico do que não esquecer. Organizar o roteiro de viagem me desgasta bastante. Principalmente quando a viagem terá outra pessoa para te acompanhar. E Juçara, mais uma vez, irá se aventurar comigo. Depois de Inhotim, ficamos muito mais próximos do que já estávamos e combinamos de fazer algo no meu período de férias. Mas quase achei que não iria acontecer, já que tive que retirar a hérnia. Mesmo com o tempo curto para fechar, consegui comprar as passagens por um preço até razoável. No caso da hospedagem, me joguei no site da Trip Advisor para fazer toda a pesquisa. Lógico que intuição nessas horas ajuda muito. Pelo menos para desempatar caso você esteja num dilema sobre qual pousada escolher. Depois das escolhas de hospedagem e passagens, acrescentei alguns tranfers, gastos com alimentação, com souvenirs e.....pronto: vou gastar bem menos do que esperava. Tem valido mais a pena pesquisar e fechar por conta própria. Por mais trabalhoso que seja,  é muito mais prazeroso. Principalmente para o meu bolso. 

(Nota delira: pra quem deseja fazer um roteiro por conta própria, mas ainda se sente inseguro, entre no site da Trip Advisor. Ele faz todo apanhado da cidade que você quer conhecer. Lista pousadas, o que conhecer no lugar, restaurantes, tudo sob a ótica de quem já foi e deu sua avaliação. Vale realmente a pena. Se joga, Ariclê: http://www.tripadvisor.com.br/)


Com tudo pronto, ou melhor, que eu achava que estava tudo pronto, Juçara me liga para saber do horário do vôo. Se bem que (risos) ela me ligava todos os dias para saber do roteiro. Estava ansiosa. Mas ela me alertou para um pequeno detalhe: me perguntou se já tinha fechado um táxi. Deu um alerta vermelho em meu cérebro. Ainda não tinha resolvido esse impasse. Como o vôo estava marcado para 5h45, precisávamos estar lá pelo menos uma hora e meia antes da decolagem. E de madrugada não dá para ir com qualquer taxista. Como tenho a neura de que tudo tem que dar certo na viagem, fiquei pensando em algum taxista bacana para nos levar. Dei uma olhada em minha agenda e me lembrei de um que me atendeu há alguns meses, quando fui jantar na casa de André. Aliás, abrindo um breve parênteses: ainda irei escrever a respeito desse dia. Foi sublime.

Vi o nome do taxista: Paulo. O nome dele ficou vagando pelo meu whatsapp por meses porque ele não tinha colocado nenhuma foto. E você acaba se perguntado em algum momento quem é a pessoa que está em sua agenda. Como a foto dele apareceu, me lembrei da graciosidade que ele me atendeu no dia que nos conhecemos. Sabe aquele tipo de rapaz quase perfeito? Aquele tipo que tem uma pele linda, um olhar bonito, que te olha sem qualquer tipo de preconceito, tem um sorriso escandalosamente encantador, uma voz macia que mistura malícia com ingenuidade? E aquele corpo....quer dizer (risos), aquele corpo eu não vi e não posso falar nada a respeito. Mas um sujeito que te faz sentir bem. Batido o martelo com (risos) todas  as justificativas aprovadas, mandei um whats pra ele. Me apresentei dizendo que ele já tinha me levado em uma corrida. Ele prontamente respondeu, sempre educado, “agradecendo a preferência” (risos). Achei demais já entrar com esse texto e fiquei tentado a perguntar se ele se lembrava de mim, mas aí achei melhor não perguntar porque se ele dissesse que não eu iria ficar bem puto. E ele (risos) perderia a corrida. Marcamos o horário para ele me pegar às 2h30.


Como eu não iria sequer tirar um cochilo, já que a ansiedade não iria ajudar, liguei para Lucas passar em casa. Nos conhecemos numa padaria perto de casa. Ele estava com uma garota, se sentou e me viu olhando pra ele. Quando a moçoila foi se servir com “uma” salada, quer dizer (risos) com “uma” folha de alface no prato, ele ficou me olhando com uma cara de safado. Resolvi arriscar e pedi para uma garçonete cúmplice dar meu whtas para ele. Demorou para acontecer, pois tive que ir embora. No dia seguinte, um whatsap dele. E aí, é só a sua imaginação se permitir fantasiar.


Lucas passou em casa depois do trabalho. Ficamos juntos até um pouco mais de meia noite.  Queria que eu emprestasse um livro para ele ler durante minha viagem. Perguntei que tipo de leitura ele queria ler e aí me respondeu que queria algo para se pensar na vida. Eu virei e respondi que não era fã de livro de auto ajuda. Sugeri um livro de poesia, da Adélia Prado. Pediu para eu separar, que ele levaria. No final das contas, conforme previsto, ele foi embora sem levar o livro. O azar é só o dele.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015



Nunca pensei que 15 dias de licença passassem tão rápido. Quer dizer, foi necessário um breve intervalo para me recuperar da cirurgia. Foi ótimo ficar incubado no meu apê, pois fiz muitas coisas que sempre vinha adiando em resolver, além de (risos) não ter que ver ser vivo nenhum. Na verdade quase, pois minha irmã cuidou de mim durante o repouso. Pra começar, cataloguei os mais de 1000 cds que comprei até hoje. Já tinha feito uma planilha organizada da seguinte forma: nome do artista ou banda; país de origem; quando foi a primeira vez que ouvi ou vi esse artista; quais os singles de sucesso do disco; qual minha música preferida, ano de produção do álbum; e para finalizar, qual foi o destaque do álbum nas principais paradas de música pop. Para quem, como eu, que adora Top 5 de qualquer coisa, foi um prato feito. Uma terapia caseira (risos). Mas eu apenas dei start. Tem muito o que trabalhar ainda.

Aproveitei a mente desacelerada para me atualizar sobre o lamaçal da nossa política brasileira. Não sei se foi efeito dos remédios que eu tomava, mas cheguei a acompanhar em tempo integral a acareação feita entre o doleiro Alberto Youssef e o ex diretor de abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto da Costa, sobre o esquema da Lava-Jato. É impressionante o talento dos parlamentares que nos representam criar um misancene digno de fazer Gilberto Braga ter inveja. Ele bem que poderia ter assistido esse “programa” para inspirá-lo a escrever a reta final do fiasco de Babilônia. Porque a Babilônia do mundo real estava na minha frente, com cada parlamentar fazendo sua interpretação digna de uma commedia dell arte. E eles nem precisam de máscara para fingir (risos). Aí um parlamentar fazia uma pergunta em forma de dissertação que demorava alguns quinze minutos, para chegar na vez do doleiro responder e ele dizer: “mantenho meu direito em não responder a essa pergunta”. Quer dizer, já se sabe que ele aprontou e ainda tem direito a não falar nada? Somos um país de vigésima quinta quando o assunto é lei. Ah, e vi também a sabatina de 60 horas do Ministro Janot com os senadores. Ver Collor dando piti, xingando Janot por duvidar da sua índole, para quem renunciou por ter se envolvido em um lamaçal de corrupção quando era presidente, põe qualquer programa de humor no chinelo. Parafraseando Ângela Ro Ro , foi “a vida é mesmo assim” ao vivo. E foi hilário.


Coloquei a leitura em dia. Retomei Nietzsche, Padre Antônio Vieira e comecei a lei um livro de ficção. Senão eu ficaria (risos) louco só de ficar lendo esses instigantes e demoníacos pensadores. Comecei a ler "Gente Independente", de um escritor islandês chamado Halldór Laxness. Ele foi ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1955. Ganhei de presente de Betina. O curioso foi que, ao abrir o livro, vi um cartão da beasha pelo presente que ela me deu, datado de 2004. E eu fiquei (risos) perplexo comigo. Como assim, um livro esperar 11 anos para começar a ser lido? E já estou devorando o livro, pela narrativa despojada utilizada pelo autor para contar uma história comum. Vai ser o único livro que levarei na viagem de férias.


Depois dos 15 dias, retornei ao Dr. Iron. Minha irmã que ficou comigo durante toda a recuperação, me levou ao consultório. Quando entrei, cumprimentei dr. Iron, nos sentamos e começamos a conversar. Pela primeira vez, o vi como outra coisa que não fosse apenas médico. Quer dizer...(risos)...vocês entenderam. Me examinou, ficou feliz com o resultado da cicatrização que está caminhando bem, me deu autorização para viajar, mas para ter ainda alguns cuidados, como não fazer esforço físico, não andar na garupa de moto, não (risos) abrir tanto as pernas. Tudo escrito e armazenado, como um “salvar como”. E com o roteiro de viagem já matutando em meu cérebro. 


terça-feira, 8 de setembro de 2015


Depois de um período de hibernação necessária, começo aos poucos a retomar a vida no blog. Aliás, nada mais propício para colocar o blog em dia: estou de férias. E já na contagem regressiva para colocar a vida ao normal.

A hérnia nossa de cada dia, quem diria, acabou no Irajá do lixão do Samaritano.  Nem pra chouriço no açougue serviria, de tão pequenos que eram. No dia D, cheguei duas horas antes, conforme orientação do dr. Iron. E graças a minha amiga Claudia, toda a hora que pronunciava o nome dele, a música do Black Sabbath aparecia como um raio martelando meus neurônios. É que ela pronunciava o nome do dr. Iron como se falasse a pronúncia do substantivo em inglês. Aí já viu, duas pessoas bestas como nós começando a cantarolar o comecinho de “Iron Man” com direito a não sair mais de nossas mentes. Recebi muitos whats, mensagens de amigos, colegas, os P.A´s desejando sorte. Foi tanta gente escrevendo e ligando que por um instante achei que estava me preparando, em direção a meu enterro. Insights de neurose momentânea.  Fiz o cadastro na recepção do Samaritano e aguardei na luxuosa sala de espera do hospital. Esperei pouco, uns 10 minutos. Foi quando veio até mim um ser nanico que se apresentou e me informou que iria me levar até a sala de preparatório para a cirurgia. Seu nome é Yago. Uma gracinha de menino. Durante o trajeto até a pré cirurgia, ele foi me falando – já que adoro entrevistar as pessoas - que estava na faculdade, que fazia educação física, que estava em período de experiência no hospital. E eu pensei: Educação Física...com este tamanho... E fiquei pensando na minha mente inquieta que celebridade no mundo das artes teria o tamanho dele. Fiquei na dúvida se (risos) o Prince ou o Cândido Portinari se igualavam em medida com meu mini Rasputin Colorado. Pelo menos o tamanho dele me fez continuar relaxado. Na pré cirurgia, aqueles procedimentos básicos: mede pressão, pica o dedo para medir glicose, faz uma série de entrevistas, perguntando se tomo algum remédio, se tenho (risos) algum vício e depois que você responde a todas as perguntas, sai a enfermeira e entre uma médica que diz que precisa falar comigo. E faz a sabatina de perguntas. As mesmas que já tinha respondido.  E ainda de jejum de tudo, até de água. Quando terminamos o bate papo cirúrgico, ela vem com uma conversa que ainda não sabiam se iriam me aplicar a anestesia geral ou a rack, aquela que enfiam uma agulha imensa nas suas costas para você não sentir a parte inferior do seu corpo. Disse calmamente que o médico já tinha me dito que seria a anestesia geral. Quer dizer, eu não queria passar pela experiência de fazer a paralítica.


Recebi orientação para tirar minha roupa e colocar aquele trapo horroroso, junto com a touca e aguardei me levarem na ala cirúrgica. Chegou um enfermeiro bem guapo pra me levar no andar de cima, onde estavam me aguardando para minha “mudança de sexo”. Subi para a ala cirúrgica e aguardei até a enfermeira Rayane me levar para o “açougue”. Gentilmente ela pegou em minha maca, me levou até a sala de cirurgia e aí (risos) eu fiquei com a música do Amado Batista - "no hospital, na sala de cirurgia...". Mas foi entrar na sala cirúrgica, ver o dr. Iron vindo até mim para (risos) “Iron Man” do Black Sabbath nocautear mentalmente meus tímpanos, já que eu tinha tomado um remedinho para dar um barato. Ele ficou conversando comigo, sempre educado. Mas (risos) eu não prestei atenção em nada do que ele disse, já que Ozzy dava seu fá sustenido no meu cérebro.


Todos estavam a postos na sala, quando entra Bruno, o anestesista. Ele chegou em mim, me deu boa tarde. Eu gritei telepaticamente "cadê meus sais". Todo tatuado. Escandalosamente lindo. Quando me desejou boa tarde, do nada eu perguntei se ele curtia rock e a resposta foi positiva. Nesse instante, "Iron Man" tocava em uma caixa de som com potência turbo master plus no meu cérebro. Devia ser o efeito da droga. Começamos a conversar, enquanto ele perguntava ao médico o que ele iria “usar” para aplicar o mata leão. Perguntou se eu estava tranquilo e eu só sorri. Pensei: será que (risos) ele me quer? Virei ao lado e vi a ordinária da Rayane me observando. Aí a neura. Pensei: “será que eles se comem..." "Será que ela sacou que eu to dando em cima dele..." "Será que ela vai me matar por causa disso..."(risos). Enquanto trocava farpas de olhares com Rayane, Bruno ficou tateando as veias em meu braço e me disse que iria colocar o soro na veia da mão, por uma questão de segurança. Ele perguntou se tudo bem e eu apenas sorri, mentalizando para ele “botar o soro onde ele quisesse”. Assim que enfiou a agulha, dei um britânico grito de dor. Ele deu uma risadinha e começou a me falar que o meu grito o fez lembrar de um filme que tinha assistido. Quando eu fui perguntar qual o nome do filme, fiquei sem forças em abrir minha boca. Olhei rapidamente para Rayane e tive a certeza naqueles poucos segundos que me restavam, que ela deveria estar rindo maleficamente e fazendo a contagem regressiva para o nocaute. Apenas virei para outro lado e capotei.

Acordei tempos depois, com Gervásio, o enfermeiro, indo me buscar para me levar até o quarto. Me lembro de ter conversado com ele sobre o Espírito Santo, já que Gervásio era capixaba. Me deu várias dicas, que prontamente (risos) esqueci assim que cheguei no quarto. Só me lembrei, antes de apagar de vez que não teria a chance de bater um papo com aquele anestesista tatuado extremamente sedutor. Quem sabe não fica para  next. Como Godard bem colocou em seu último filme, "Adeus à linguagem": quem não tem imaginação, refugia-se na realidade.