terça-feira, 8 de setembro de 2015


Depois de um período de hibernação necessária, começo aos poucos a retomar a vida no blog. Aliás, nada mais propício para colocar o blog em dia: estou de férias. E já na contagem regressiva para colocar a vida ao normal.

A hérnia nossa de cada dia, quem diria, acabou no Irajá do lixão do Samaritano.  Nem pra chouriço no açougue serviria, de tão pequenos que eram. No dia D, cheguei duas horas antes, conforme orientação do dr. Iron. E graças a minha amiga Claudia, toda a hora que pronunciava o nome dele, a música do Black Sabbath aparecia como um raio martelando meus neurônios. É que ela pronunciava o nome do dr. Iron como se falasse a pronúncia do substantivo em inglês. Aí já viu, duas pessoas bestas como nós começando a cantarolar o comecinho de “Iron Man” com direito a não sair mais de nossas mentes. Recebi muitos whats, mensagens de amigos, colegas, os P.A´s desejando sorte. Foi tanta gente escrevendo e ligando que por um instante achei que estava me preparando, em direção a meu enterro. Insights de neurose momentânea.  Fiz o cadastro na recepção do Samaritano e aguardei na luxuosa sala de espera do hospital. Esperei pouco, uns 10 minutos. Foi quando veio até mim um ser nanico que se apresentou e me informou que iria me levar até a sala de preparatório para a cirurgia. Seu nome é Yago. Uma gracinha de menino. Durante o trajeto até a pré cirurgia, ele foi me falando – já que adoro entrevistar as pessoas - que estava na faculdade, que fazia educação física, que estava em período de experiência no hospital. E eu pensei: Educação Física...com este tamanho... E fiquei pensando na minha mente inquieta que celebridade no mundo das artes teria o tamanho dele. Fiquei na dúvida se (risos) o Prince ou o Cândido Portinari se igualavam em medida com meu mini Rasputin Colorado. Pelo menos o tamanho dele me fez continuar relaxado. Na pré cirurgia, aqueles procedimentos básicos: mede pressão, pica o dedo para medir glicose, faz uma série de entrevistas, perguntando se tomo algum remédio, se tenho (risos) algum vício e depois que você responde a todas as perguntas, sai a enfermeira e entre uma médica que diz que precisa falar comigo. E faz a sabatina de perguntas. As mesmas que já tinha respondido.  E ainda de jejum de tudo, até de água. Quando terminamos o bate papo cirúrgico, ela vem com uma conversa que ainda não sabiam se iriam me aplicar a anestesia geral ou a rack, aquela que enfiam uma agulha imensa nas suas costas para você não sentir a parte inferior do seu corpo. Disse calmamente que o médico já tinha me dito que seria a anestesia geral. Quer dizer, eu não queria passar pela experiência de fazer a paralítica.


Recebi orientação para tirar minha roupa e colocar aquele trapo horroroso, junto com a touca e aguardei me levarem na ala cirúrgica. Chegou um enfermeiro bem guapo pra me levar no andar de cima, onde estavam me aguardando para minha “mudança de sexo”. Subi para a ala cirúrgica e aguardei até a enfermeira Rayane me levar para o “açougue”. Gentilmente ela pegou em minha maca, me levou até a sala de cirurgia e aí (risos) eu fiquei com a música do Amado Batista - "no hospital, na sala de cirurgia...". Mas foi entrar na sala cirúrgica, ver o dr. Iron vindo até mim para (risos) “Iron Man” do Black Sabbath nocautear mentalmente meus tímpanos, já que eu tinha tomado um remedinho para dar um barato. Ele ficou conversando comigo, sempre educado. Mas (risos) eu não prestei atenção em nada do que ele disse, já que Ozzy dava seu fá sustenido no meu cérebro.


Todos estavam a postos na sala, quando entra Bruno, o anestesista. Ele chegou em mim, me deu boa tarde. Eu gritei telepaticamente "cadê meus sais". Todo tatuado. Escandalosamente lindo. Quando me desejou boa tarde, do nada eu perguntei se ele curtia rock e a resposta foi positiva. Nesse instante, "Iron Man" tocava em uma caixa de som com potência turbo master plus no meu cérebro. Devia ser o efeito da droga. Começamos a conversar, enquanto ele perguntava ao médico o que ele iria “usar” para aplicar o mata leão. Perguntou se eu estava tranquilo e eu só sorri. Pensei: será que (risos) ele me quer? Virei ao lado e vi a ordinária da Rayane me observando. Aí a neura. Pensei: “será que eles se comem..." "Será que ela sacou que eu to dando em cima dele..." "Será que ela vai me matar por causa disso..."(risos). Enquanto trocava farpas de olhares com Rayane, Bruno ficou tateando as veias em meu braço e me disse que iria colocar o soro na veia da mão, por uma questão de segurança. Ele perguntou se tudo bem e eu apenas sorri, mentalizando para ele “botar o soro onde ele quisesse”. Assim que enfiou a agulha, dei um britânico grito de dor. Ele deu uma risadinha e começou a me falar que o meu grito o fez lembrar de um filme que tinha assistido. Quando eu fui perguntar qual o nome do filme, fiquei sem forças em abrir minha boca. Olhei rapidamente para Rayane e tive a certeza naqueles poucos segundos que me restavam, que ela deveria estar rindo maleficamente e fazendo a contagem regressiva para o nocaute. Apenas virei para outro lado e capotei.

Acordei tempos depois, com Gervásio, o enfermeiro, indo me buscar para me levar até o quarto. Me lembro de ter conversado com ele sobre o Espírito Santo, já que Gervásio era capixaba. Me deu várias dicas, que prontamente (risos) esqueci assim que cheguei no quarto. Só me lembrei, antes de apagar de vez que não teria a chance de bater um papo com aquele anestesista tatuado extremamente sedutor. Quem sabe não fica para  next. Como Godard bem colocou em seu último filme, "Adeus à linguagem": quem não tem imaginação, refugia-se na realidade.