Depois de um
período de hibernação necessária, começo aos poucos a retomar a vida no blog.
Aliás, nada mais propício para colocar o blog em dia: estou de férias. E já na contagem regressiva para colocar a
vida ao normal.
A hérnia nossa de
cada dia, quem diria, acabou no Irajá do lixão do Samaritano. Nem pra chouriço no açougue serviria, de tão
pequenos que eram. No dia D, cheguei duas horas antes, conforme orientação do
dr. Iron. E graças a minha amiga Claudia, toda a hora que pronunciava o nome
dele, a música do Black Sabbath aparecia como um raio martelando meus neurônios.
É que ela pronunciava o nome do dr. Iron como se falasse a pronúncia do substantivo em inglês. Aí já viu, duas pessoas
bestas como nós começando a cantarolar o comecinho de “Iron Man” com direito a
não sair mais de nossas mentes. Recebi muitos whats, mensagens de amigos,
colegas, os P.A´s desejando sorte. Foi tanta gente escrevendo e ligando que por
um instante achei que estava me preparando, em direção a meu enterro. Insights de neurose
momentânea. Fiz o cadastro na recepção do Samaritano e
aguardei na luxuosa sala de espera do hospital. Esperei pouco, uns 10 minutos.
Foi quando veio até mim um ser nanico que se apresentou e me informou que iria
me levar até a sala de preparatório para a cirurgia. Seu nome é Yago. Uma
gracinha de menino. Durante o trajeto até a pré cirurgia, ele foi me falando –
já que adoro entrevistar as pessoas - que estava na faculdade, que fazia
educação física, que estava em período de experiência no hospital. E eu pensei: Educação Física...com este tamanho... E
fiquei pensando na minha mente inquieta que celebridade no mundo das artes
teria o tamanho dele. Fiquei na dúvida se (risos) o Prince ou o Cândido
Portinari se igualavam em medida com meu mini Rasputin Colorado. Pelo menos o
tamanho dele me fez continuar relaxado. Na pré cirurgia, aqueles procedimentos
básicos: mede pressão, pica o dedo para medir glicose, faz uma série de
entrevistas, perguntando se tomo algum remédio, se tenho (risos) algum vício e
depois que você responde a todas as
perguntas, sai a enfermeira e entre uma médica que diz que precisa falar
comigo. E faz a sabatina de perguntas. As mesmas
que já tinha respondido. E ainda de
jejum de tudo, até de água. Quando terminamos o bate papo cirúrgico, ela vem
com uma conversa que ainda não sabiam se iriam me aplicar a anestesia geral ou a
rack, aquela que enfiam uma agulha imensa nas suas costas para você não sentir
a parte inferior do seu corpo. Disse calmamente que o médico já tinha me dito
que seria a anestesia geral. Quer dizer, eu não queria passar pela experiência
de fazer a paralítica.
Recebi orientação
para tirar minha roupa e colocar aquele trapo horroroso, junto com a touca e
aguardei me levarem na ala cirúrgica. Chegou um enfermeiro bem guapo pra me
levar no andar de cima, onde estavam me aguardando para minha “mudança de sexo”.
Subi para a ala cirúrgica e aguardei até a enfermeira Rayane me levar para o “açougue”.
Gentilmente ela pegou em minha maca, me levou até a sala de cirurgia e aí
(risos) eu fiquei com a música do Amado Batista - "no hospital, na sala de cirurgia...". Mas foi entrar na sala cirúrgica, ver o dr. Iron vindo até mim para (risos) “Iron
Man” do Black Sabbath nocautear mentalmente meus tímpanos, já que eu tinha
tomado um remedinho para dar um barato. Ele ficou conversando comigo, sempre
educado. Mas (risos) eu não prestei atenção em nada do que ele disse, já que
Ozzy dava seu fá sustenido no meu cérebro.
Todos estavam a postos na sala,
quando entra Bruno, o anestesista. Ele chegou em mim, me deu boa tarde. Eu gritei telepaticamente "cadê meus sais". Todo tatuado. Escandalosamente lindo. Quando me desejou boa
tarde, do nada eu perguntei se ele curtia rock e a resposta foi positiva. Nesse
instante, "Iron Man" tocava em uma caixa de som com potência turbo
master plus no meu cérebro. Devia ser o efeito da droga. Começamos a conversar, enquanto ele
perguntava ao médico o que ele iria “usar” para aplicar o mata leão. Perguntou
se eu estava tranquilo e eu só sorri. Pensei: será que (risos) ele me quer? Virei
ao lado e vi a ordinária da Rayane me observando. Aí a neura. Pensei: “será que
eles se comem..." "Será que ela sacou que eu to dando em cima dele..." "Será que ela
vai me matar por causa disso..."(risos). Enquanto trocava farpas de olhares com
Rayane, Bruno ficou tateando as veias em meu braço e me disse que iria colocar
o soro na veia da mão, por uma questão de segurança. Ele perguntou se tudo bem
e eu apenas sorri, mentalizando para ele “botar o soro onde ele quisesse”.
Assim que enfiou a agulha, dei um britânico grito de dor. Ele deu uma risadinha
e começou a me falar que o meu grito o fez lembrar de um filme que tinha
assistido. Quando eu fui perguntar qual o nome do filme, fiquei sem forças em
abrir minha boca. Olhei rapidamente para Rayane e tive a certeza naqueles
poucos segundos que me restavam, que ela deveria estar rindo maleficamente e fazendo a contagem regressiva para o nocaute. Apenas
virei para outro lado e capotei.
Acordei tempos
depois, com Gervásio, o enfermeiro, indo me buscar para me levar até o quarto. Me lembro de ter
conversado com ele sobre o Espírito Santo, já que Gervásio era capixaba. Me deu
várias dicas, que prontamente (risos) esqueci assim que cheguei no quarto. Só
me lembrei, antes de apagar de vez que não teria a chance de bater um papo com
aquele anestesista tatuado extremamente sedutor. Quem sabe não fica para next. Como Godard bem colocou em seu último filme, "Adeus à linguagem": quem não tem imaginação, refugia-se na realidade.