segunda-feira, 28 de setembro de 2015


Algodoal. A vila amanheceu com um calor daqueles, pior que mulher na menopausa. Acordamos um pouco tarde, por volta de 8h45. Chamei Juçara para tomarmos café. Nossos quartos ficavam perto da piscina, mas nem pensávamos em usufruir do espaço. A pousada tinha uns equívocos gritantes de ambientação. Meu quarto estava com a parede em formato degradê, nas cores branco e (risos) rosa calcinha de meretriz. Um horror. E com uma cor dessas, não conseguia fazer nenhum tipo de leitura no quarto. E com relação a piscina, eles (risos) colocaram uma estátua de boto cinza. E o boto ainda tinha um semblante feliz, sorrindo em frente à piscina. Eu não iria mesmo nadar ali. Até porque boto é parente de golfinho. E eu odeio golfinho.

Fomos tomar café. Sávio já estava a postos, junto com a nossa (risos) Lili Carabina de Algodoal, a Baiana. O café da manhã foi bem na linha da simplicidade, mas tudo feito com muito carinho, apensar de (risos) acharmos que Baiana poderia nos envenenar a qualquer momento. Bobagem da nossa parte. Fomos bem recepcionados com muita tapioca, ovos mexidos, café, leite e sucos de frutas da região. Ah, esqueci de mencionar: a pousada possui um lindo cajueiro, dá pra sentir de longe o cheiro da fruta. E lógico que não poderia faltar um suco de caju na mesa, apesar de terem nos servido no primeiro dia suco de manga. Aproveitamos para Sávio nos sabatinar sobre os points de Algodoal. A ilha não tem tantas atrações como imaginávamos e batemos o martelo em conhecer nosso primeiro destino: a Praia da Princesa.

Terminado o café, fui ao quarto, preparar meu kit proteção solar facial, corporal, labial e para cabelo. Levei revistas, como a última edição da Super Interessante e meu livro Gente Independente. Óculos de sol, óbvio que não poderia faltar. Pronto. Sacolinha na mão como todos esses pertences em direção à praia da Princesa.



Saímos tarde e tomamos uma direção sem rumo. As ruas de Algodoal são de areia, não se pode andar de carro por lá. A locomoção para qualquer lugar da ilha é de charrete. Ou de barco, se for muito longe. Queria ter contato com os moradores da ilha. E eles não fizeram feio. Foram educadíssimos. Todos sorridentes, nos davam bom dia. E muito pró ativos em nos ajudar. Fomos entrando pelas ruas, como num labirinto, até avistarmos uma ponta verde no final de uma viela. Era a praia dando seu olá. Seguimos a ruazinha até o seu final. Ficamos olhando a arquitetura de algumas pousadas, passamos por uma enorme mangueira em formato de “V” (vide foto abaixo), fora as casinhas dos habitantes da ilha. Simples, mas bem acolhedoras. Quando estávamos chegando ao final as rua, já com a vista da praia, vimos um enorme casarão. Disse para Juçara de alugarmos para levarmos nossas famílias e passarmos juntos  uma temporada de verão. Na frente do casarão, tinha uma espécie de complemento do casarão, uma casa suspensa linda. Falei sem titubear que ali seria meu aposento e que não dividiria com ninguém. Quando chegamos bem perto da casa suspensa, Juçara avistou uma  placa pregada no fundo da casa e me perguntou se eu realmente queria ficar com aquela parte do casarão. Olhei para o cartaz, que continha a singela informação: IML (risos).


Caminhamos pela praia da vila até chegarmos a um riacho. Para chegar até a praia da Princesa, precisamos atravessar de canoa (R$2 a passagem, por pessoa). Atravessamos e ainda caminhamos por mais uns 15 minutos até chegarmos a uma placa com os dizeres: Bem vindos a Praia da Princesa. O visual era especial.


 Como a praia tinha quase 2 km de extensão, decidimos ficar na barraca mais próxima. Estava tendo um leve incômodo por causa da pós cirurgia e precisava descansar. Passamos primeiro por uma espécie de casa fantasma de madeira, onde funcionava um restaurante com o nome de (risos) Mata Broca. E antes que pensem qualquer sacanagem, “Mata Broca” para os habitantes da ilha nada mais é do que matar a fome.


Paramos na barraca de Leila. Juçara pediu mesa e cadeiras. Queria também uma cadeira de sol para pegar um bronze. Apesar da demora – algo que se deve relevar, já que as pessoas do lugar têm outra noção de tempo, fomos compensados com um tempo incrível. O que eu achei peculiar da Praia da Princesa e esse é um charme que nenhuma outra tem, é que antes de se entrar na praia propriamente dita, você tem que passar por lagunas formadas em função da maré e do assentamento de areia, o que significa que se você tiver receio de pegar uma onda, pode ficar se banhando nessas lagunas, sem se preocupar em se afogar. Decadeance avec  elegance.


Conhecemos uma pseudo-hippie querendo fazer, adivinhe: vender bijouterias para Juçara. Seu nome é Sanjaia. Ela nos falou o significado de seu nome, mas eu confesso não me lembrar o que ela falou. Coincidentemente, Sanjaia era amiga de Leila e acabou ficando na barraca, ajudando Leila a servir as mesas. De início, a barraca tinha colocado uma radiola, pois a ilha inteira gosta de curtir um reggae. A radiola nada mais é que transformar qualquer tipo de música – principalmente a pop, numa versão reggae. É até interessante a idéia, mas ao mesmo tempo estranho. Imagine ter, por exemplo, que escutar uma música da Britney numa versão dub. E no caso de Britney, a versão ficar (risos) melhor que a música original. Milagres da tecnologia pop. Mas o melhor, Sanjaia deixou para o final. Imagine num momento bem relax, pegando um bronze e você começar a escutar a voz magistral de Caetano Veloso, ecoando pela praia da Princesa. E depois uma seleção com as divindades da MPB (só pra matar sua curiosidade, o set list foi recheado com: Elis, Jorge Ben, Tom Jobim). Com essa grata surpresa, inesperada, tomei emprestado os versos de uma música de Caê pra mim, “tomei a canção como um beijo”, reverenciei o céu e agradeci pela sublime harmonia daquele momento.