terça-feira, 22 de setembro de 2015



São Paulo – Belém – Porto de Marudá. Pegamos uma táxi em direção à rodoviária de Belém (trajeto aeroporto – rodoviária: R$45). Mesmo com a cidade encoberta com nuvens, Belém estava insuportavelmente quente. Entramos no carro, com aquele cheiro aromático horroroso. Mas o taxista era uma simpatia. Seu nome é (risos) Pacheta. Tanto eu como Juçara ficamos conversando sobre nossa última incursão pela cidade. Belém é uma cidade agradável. Quando a conheci, fiquei surpreso com a região bem arborizada, com árvores imponentes com aquele verde imperial. Culturalmente, é uma cidade muito rica. E tem que continuar sendo, pois ela já foi considerada capital cultural do país, na época em que era bem mais magistral, geograficamente falando, conhecida como Grão-Pará no Brasil Império. Possui belos museus históricos e espaços para acolher diversos artistas renomados. O primeiro cinema montado no país – o cinema Olympia, está em Belém e já serviu de inspiração para Caetano Veloso escrever uma canção sobre ela. A interpretação na voz de Elis é imbatível. Fora a arquitetura do Teatro da Paz, onde já vi uma de minhas ópera favoritas: La Traviatta.


Apesar de toda essa reverência, ficamos um pouco assustados com a situação de descaso que a cidade se encontra. Pra começar, Belém está muito suja. Pelo menos, no percurso que fizemos até a rodoviária, que fica no bairro de São Brás. Perguntamos para Pacheta o motivo do descaso e ele apenas respondeu o que já sabíamos: interesse político por trás. Passamos pelo bosque e pelos estádios do Paysandu e do Remo, dois dos principais times de futebol do Estado. Pacheta mostrou orgulho pelos times, mas tratei com desdém. Perguntei se eles estavam em alguma série do Brasileirão. Pacheta me respondeu que o menos pior, o Paysandu, está na série B. Já o Remo está remando contra a maré, se esforçando para (risos) entrar na série C.



Pacheta nos deixou na rodoviária, no meio de um bairro que parecia uma cidade sitiada. Pra piorar, rodoviária em reforma. Pacheta nos orientou a pegar uns carrinhos para colocarmos nossas malas, mas não achamos. Enquanto Juçara dava uma pausa para descansar, fui atrás de comprar nossas passagens para o Porto de Marudá. Fui no guichê  da Viação Sucesso. Quanta pretensão no nome. Comprei as passagens, mas decidi aproveitar para comprar os tickets de Salinas, nosso destino após Algodoal, até Belém. Tudo comprado, pausa para descansar a pele.


Precisamos esperar duas horas para viajarmos até Marudá. Duas horas convivendo com vários poltergeists em nossa volta. Jesus, como tem gente feia em Belém. Enquanto passava para ir ao guichê para comprar passagem de Salinas a Belém, um sujeito extremamente freak me abordou, pedindo dinheiro, mas eu não entendi nada do que ele falou. Além de ter lábio leporino, tinha “um” dente, apenas.  Ele parecia ter saído da temporada Freak Show, de American Horror Story (risos). Não dei bola, fiz a Kátia e fui comprar o restante das passagens. Aliás, nunca vi ter tanto pedinte por metro quadrado numa rodoviária. Mal sentei e veio um outro ser pedir dinheiro. Como Juçara tem um coração mais sensível, ela deu atenção. Mas não demos nada.



Para chegarmos até a plataforma que estava o ônibus, outro trabalho de parto. Precisamos descer uma escada imensa, sem corrimão e com todas as nossas bagagens. Não havia nenhum serviço para levar nossas malas. Quando descemos, tivemos que subir em outra escada. Beeeeem estreita. E ainda de brinde, (risos) uma versão cubista de uma barata imensa, totalmente amassada. A rodoviária de Belém estava um albergue em formato de cortiço. 

Subimos nos ônibus com nossas bagagens e o primeiro revés: a região onde fiz a cirurgia começou a doer muito por causa do esforço físico que não devia fazer. Juçara prontamente colocou minhas malas na parte de cima do ônibus e me deu um dorflex. Foi o momento certo para tombar novamente durante boa parte da viagem, que foi extremamente cansativa. O ônibus era do tipo de parar em várias cidades, um tremendo porre. Quando as pessoas desciam, eu me aliviava, mas ficava apreensivo com quem ia subir. Pensava que iria me deparar com (risos) pessoas subindo no ônibus com galinhas e esse tipo de coisa, mas foi menos pior: entrou bastante vendedor ambulante, vendendo (risos) “laranjas geladas” e “coxinhas caseiras”. Pensei que a vendedora estava com salgados de ontem, mas foi puro preconceito mental de minha parte. Ainda bem que não dividi com Juçara a respeito.

Depois de 4 horas intermináveis, chegamos na rodoviária de Marudá. O local parecia um galpão daqueles que você vai prestigiar aquelas brigas de galo. Por sorte, vi um táxi logo na frente para nos levar ao Porto. Ju e eu estávamos muito cansados e preocupados em não conseguir pegar o último horário do barco, às 17h30, para Algodoal. Quando chegamos no carro, saiu uma taxista para nos levar, com o singelo nome de Nelyssa. Ela era a cara da Keith Marroney, do seriado Dama de Ouro. Nelyssa foi super simpática e nos levou ao Porto. Falamos que a viagem tinha sido cansativa e ela nos indagou por que não pegamos as vans que também saíam do aeroporto. Quer dizer, não pegamos as vans porque não sabíamos que elas existiam. Fizemos algumas perguntas a ela sobre como ir de Algodoal a Salinas e ela nos deu algumas dicas. No final, peguei seu cartão, nos despedimos e fomos em direção ao porto. Um caiçara vesgo de nome Adriano nos recepcionou e pegou nossas bagagens. Foi um amor. Nos ofereceu água de côco (água de côco: R$2). Mesmo exaustos, ficamos contemplando a paisagem rústica e bucólica do Porto de Marudá, observando os pescadores descarregarem as encomendas, cansados e ansiosos para terminar o dia, em contraste com a suavidade e tranqüilidade do mar, que serviu de passagem para nosso primeiro destino de férias, Algodoal. 


#notadelira: acho importante reforçar que vale muito mais a pena pegar carona na dica de Nelyssa. As vans são um meio de transporte mais rápido e prático que a eventual linha de ônibus de Belém a Marudá. Elas também saem da rodoviária de Belém com o mesmo trajeto. A diferença é que elas não possuem a obrigatoriedade de parar nas cidades vizinhas. #ficadica

E se você era um lactante nos anos 80 e nem sabe quem foi  Keith Mahoney, te dou uma ajuda.