quinta-feira, 24 de setembro de 2015

                                     

Porto de Marudá - Algodoal. Ficamos aguardando o último barco que nos levaria a nosso primeiro destino turístico, Algodoal. Uma doçura de nome. Talvez porque me lembre em minha memória afetiva de algodão doce, um doce que era bem sofrido de comer, de tão grudento que ficava na mão e na roupa. Ficamos contemplando a luz do sol se por aos poucos. Juçara estava toda serelepe, tirando fotos do celular de Sofia. Eu fiquei tomando minha água de côco, curtindo preguiça, afinal estávamos viajando desde a madrugada. Mas Ju me deixou na vontade e acabei fazendo umas fotos também.

Adriano, o caiçara vesgo, descarregou nossa bagagem no barco. Entramos, demos nosso ticket ao capitão da embarcação. A princípio, nos sentamos na parte de cima, ao fundo do barco. Começamos a conversar com dois moradores da pequena vila. Mas fiquei apenas cinco minutos por lá e resolvi ficar na parte de baixo porque aonde estávamos, fedia óleo. É que o motor ficava justamente onde decidimos ficar. Mudei de ideia e fiquei na parte de baixo. Sentei em frente a um casal, mas não sabia se eles eram mesmo um casal. O menino tinha pinta de gay, porque não parava de me olhar. Como estava de óculos de sol, obviamente ele não percebeu que eu estava de olho nele me olhando. Quando a gente quer, óculos de sol vira uma arma infalível num jogo de paquera. Você faz a linha esfinge, olhando para outro lado, mas seu olho de quina está fixado na sua caça. Mas não me interessei por ele. Percebi que era namorada mesmo quando ela percebeu que ele estava olhando para mim. Ficou utilizando da mesma arma, fazendo a esfinge, mas me fuzilando. O formato do rosto dela parecia uma semente de bucha. E eu não estava nem aí pra ela. Minha atenção voltou-se rapidamente para o capitão do barco, que andava rapidamente de um lado para outro, prestes a içar a vela e dar o pontapé inicial à nossa derradeira viagem, quando me atentei a seus pés, ou melhor, a seu pé. Quer dizer, ele só tinha um, era manco do outro e forrou o toco de seu pé com um pedaço de garrafa pet, acho.  E para quem acha que pirata é puro folclore, quero deixar registrado que (risos) fui presenteado com um.
                                
 
A travessia durou quase 40 minutos, mas tudo foi muito rápido. Por um instante fechei meus olhos e curtindo a melodia que o mar nos oferecia. Num certo trecho, o barco começou a balançar muito a ponto de respingar água do oceano sobre nós. Perfeito para refrescar o corpo e lavar nossa alma.

Chegamos em Algodoal às 18h15. Não via a hora de chegar na pousada e tomar uma bela ducha. Estava muito quente. Assim que descemos do barco, fomos abordados por um nativo da ilha para levar nossas bagagens até onde quiséssemos. Seu nome é Alexandre. Um miúdo de gente. Saímos do porto, em direção a pousada. Ele ficou feliz quando dissemos que era nossa primeira vez na ilha. Estava realmente empolgado. Fiquei pensando que queria ter um terço da empolgação dele para deixar o mundo da procrastinação da vida real. Ah, mas quem se importa em papo cabeça naquele momento, com o sol se pondo diante dos nossos olhos. No carregador de malas de Alexandre, o emblema do Corinthians. Disse que ele não iria mais levar nossas bagagens. Caminhando por quase 10 minutos, chegamos na pousada Estrela Flor Hotel, um nome digamos, pretensioso para a estrutura.



Fomos apresentados ao Sr. Oliveira e sua esposa Carmelita, donos da pousada. Nos perguntaram se tínhamos feito boa viagem. Queriam conversar conosco, naquela linha de pegar amizade fácil, mas estava sem energia para dar atenção. Fomos apresentados à equipe da pousada – o menino moço Sávio, uma espécie de gerente da pousada; outro rapaz que até agora não descobri o que ele de fato fazia no “hotel”, de nome Kerleson (risos); e a cozinheira chamada carinhosamente de Baiana. Uma cara assustadora. Juçara comentou que a Baiana, pela cara dela, parecia ser aquele tipo de gente que devia ter matado o marido na ladeira do Pelô, desossado o coitado e fugido para alguma terra de ninguém. Fomos para nossos quartos, tomei uma ducha e me encontrei logo depois com Juçara para jantarmos. Ela estava muito cansada para dar pinta pela ilha e concordei em jantarmos por lá mesmo. Dei uma olhada no whats, facebook e voltei para o quarto. Preferi recuperar a energia para o dia seguinte.