terça-feira, 16 de agosto de 2016


                                

São Miguel dos Milagres. E mais um dia de instabilidade no clima pairou no ar. Tinha pré combinado com Johnny sobre o passeio e mandado um whatsapp para Elvis pedindo para liberar Johnny. Fui tomar meu café e ao entrar vi que não estava só. Tinha uma família vinda da Suiça. Quer dizer, uma família não-totalmente-genuína-vinda-da-Suiça (risos). Eu já os tinha visto de forma fragmentada.  Reconheci o menino que estava com eles, era filho mais velho da família. Eu o tinha encontrado no primeiro dia de praia. Eu o apelidei mentalmente de “mudinho”, featuring  Tonho da Lua (risos). Fiz várias perguntas a ele quando o vi na praia e ele só abanava a cabeça. Juro que achava que ele era um excepcional da Apae. Só quando perguntei o que fazia, ele respondeu rapidamente com um sotaque em duas escalas de tom musical (o que é a mudança na voz de um adolescente: extremamente sedutor) que era jogador de futebol. Já me apressando para saber para qual time torcia emendei na pergunta se ele torcia para o São Paulo e rapidamente ele concordou “que sim”.  E o primeiro faux-pas aconteceu justamente com ele. Dei meu bom dia a todos e olhei para o mudinho, já dando aquela pinta: “E aí, são paulino?”. E aquela cara de “É você, Satanás?” que a mãe dele fez foi constrangedor. Juro que li no olhar dela ela me desejando que eu queimasse na fogueira. Deve ter achado que eu tinha “atacado” sua cria. (risos).

                                               

Mas a relação ficou boa à medida que ia tomando meu café. Já tinha observado a sequência musical que todo o dia tocava no pen drive e fiquei matutando quem poderia ser a pessoa com tão bom gosto para fazer a seleção. Aí Henri apareceu para dar o seu bom dia e deixar o ambiente mais harmonioso:

                                 

Enquanto saboreava uma deliciosa tapioca, a família não-genuinamente-suiça resolveu esticar o dedo de prosa. Nos apresentamos com nossos nomes, mas confesso ter esquecido o nome de todos. Até do mudinho. O pai é suíço. Mas adora papear, um hábito bem típico brasileiro. A mãe me olhou e disse com muita convicção: “eu não sou suíça, sou brasileira”. Aí não teve como escapar: olhei para ela de cima embaixo, fiz a “Odette Roittman” e pensei: “Reaaaally?” (risos). Por curiosidade, eles não formalizaram na apresentação seus filhos. Fora o Tonho da Lua europeu, eles têm mais uma menina, mais nova. Fazia a pseudo-intelectualzinha o que significa que é um entojo. Quer dizer, ela tem a obrigação de ser inteligente, afinal de contas é gorda, feia e o destino a golpeou por (risos) pegar todos os genes ruins dos pais. Com uma vista maravilhosa ao meu redor, não fiz questão de dar atenção a ela. Mas os pais são muito simpáticos, conversamos bastante sobre vários assuntos, incluindo política. Como eu estava bem turn off de notícias, resolvi me levantar, pedir licença e cuidar da vida.

Chego na recepção e vou vendo, aos poucos, Elvis. Aí eu (risos) comecei a pensar em slow motion e imaginando eu, chegando devagar e nossos olhares se entrecruzarem e a gente sorrir com aquela cumplicidade de casal apaixonado. Mas é claro que essa cena de novela vespertina da tarde do SBT não aconteceu. Ele não me deu a mínima (risos). Fui pedir para que ele me liberasse o Johnny para fazer um roteiro cultural com ele. Ele ficou um pouco pensativo, mas deu ok. Só que ele já tinha chamado o jangadeiro para conversar. Decidi ficar por ali, aguardando (risos) “Roxo” chegar. Aí eu quis saber de Elvis quem tinha feito a trilha temática no restaurante da pousada e ele sem titubear respondeu: “eu”. Eu eu caí morto, feito São Sebastião (risos). Quer dizer, além de ser uma graça, bonito, simpático, sabe conversar e gosta de boa música?” Jesus me abane! Ele me contou que sempre gostou de escutar música por uma questão de curiosidade, de ouvir algo que ele considerava ser diferente. Sua mãe o ajudou, graças a Deus, a ter um gosto refinado. Fiquei indagando mentalmente a ele, como se estivesse refestelando em um sofá e me auto-flagelando, enquanto proseávamos, o bendito mantra “por favor, casa comigo?” (risos).
                                   

Foi quando Roxo chegou de mansinho na recepção e se apresentou. De roxo não tinha nada, mas para não dar outro faux-pas resolvi não perguntar. Expliquei ao jangadeiro que não queria mais o passeio. Ele ficou conosco conversando e a prosa estava muito boa. Principalmente na hora em que perguntei sobre as piscinas naturais. Ele começou a falar de cada uma delas e acabei mencionando a praia do Morro, em Camaragipe, onde queria muito ir. Ele se empolgou falando que lá se forma uma piscina natural linda, 'uma das mais bonitas". Quando eu o questionei sobre o que fazia dessa piscina a melhor de todas, ele responde com aquela sabedoria caiçara: "nessa piscina em especial, os pecados ficam boiando e você desce” (risos). Poesia malemolente de pescador. O templo nublou e o passeio com Johnny miou. 

segunda-feira, 15 de agosto de 2016



São Miguel dos Milagres. Olha só as coincidências boas da vida: chegando na pousada, acabo descobrindo que Jorge tinha passado por lá com sua irmã, Eunice. Falei a Johnny que um amigo estava em São Miguel e quando eu disse que meu amigo era (risos) do tamanho dele, ele comentou que um moreno do mesmo tamanho que ele tinha passado lá com  (risos) sua “esposa” para alugar caiaque. É que Johnny se referiu a eles como um “casal”.  Falei mais uma vez pelo whatsapp com Jorge e combinamos de dar uma volta à noite. Queria levá-los para o Manzuá. Aproveitei para ler revistas. Enquanto folheava a Superinteressante, deixei alguma besteira na tv ligada. Era a tal novela do momento, "Êta Mundo Bom!" Nem sei porque faz tanto sucesso. Novela requentada com uma história que já vi diversas vezes em outras tramas de roça. E eu estava sem saco para escutar sotaque caipira. Deixei na tecla mudo.


Jorge e sua irmã Eunice passaram para me pegar às 20h30. Estávamos realmente muito próximos. Eles desembarcaram em Aracaju, ficaram uns dias por lá e resolveram alugar um carro para chegar até São Luís, no Maranhão, passando por Milagres e Recife. Contei a eles que Johnny tinha achado que Jorge era “casado” com Eunice e caímos na risada. E admiti estar encantado pelos meninos de Milagres. Chegamos no Manzuá, os apresentei a Veloso e pedi para caprichar na caipirinha de limão, capim santo e manjericão. Eles me contaram que tinham amado a foz do rio São Francisco, em Sergipe. De fato, é um lugar para lavar a alma. Pedimos uma porção de camarão com um tempero caprichoso de Veloso. Ficamos no lado de fora do bar. Vários meninos passavam de bicicleta jogando todo charme que um bofe genuinamente alagoano tem. Eram muito abusados. Sugeri da gente ir até a Pousada do Sonho para ficarmos um pouco na praia e conversarmos de forma mais (risos) “aberta”.

Chegamos na pousada e fui apanhar duas cangas para sentarmos na areia da praia. A lua estava magnífica. Ela estava clareando e abençoando a boa vibe que estava conosco. Queria saber se tinha rolado alguma sacanagem com eles e Eunice começou a gaguejar pra responder (risos). Jorge deu a deixa para que ela contasse de uma ménage que tinha rolado em Aracaju. Estávamos pra lá do Mundo de Alice. Eunice criou coragem e contou que tinha conhecido um casal numa casa de forró, acho. Se conheceram e  começaram a conversar. Aí ela percebeu uma (risos) mão boba da mulher, se esfregando nela. Perguntei a Eunice se ela fez cú doce, mas ela resumiu falando que foi pro apê deles. Queria então saber quem comeu quem, quem se beijou, quem fez (risos) fio terra em quem e ela se recolheu na sua timidez. Vez ou outra, passava pela areia da praia um cachorro preto, querendo chegar perto. Como eu gritava “fica longe, inseto” ele não se aproximava. Começou a chorar pois queria passar por nós para continuar a sua caminhada noturna. Eu consenti (risos).



O papo com Eunice estava ótimo, dávamos muitas risadas, mas Jorge quis ter um momento para ficarmos a sós. E eu queria que Eunice ficasse justamente para não ficarmos a sós. Ela ficou sem jeito, mas Jorge insistiu para que ela fosse embora. Me despedi dela e ficamos nós dois a conversar. E aí o que eu previa, aconteceu: Jorge começou a falar de uns assuntos tão demodê para ambiente! Quer dizer, eu estaria na frente da praia, ouvindo o barulho do mar, contemplando a lua cristalina que estava brilhante, para falar de qualquer assunto, MENOS sobre crise existencial. E quando ele começou a falar do seu processo de auto aceitação (oi?) eu simplesmente olhei pra Lua e me “desliguei”. Até que chegou uma hora e eu delicadamente sugeri que ficássemos apenas canalizando nossa energia para contemplarmos todo o nosso entorno. Ficamos mais um pouco na praia, mas infelizmente me bateu o sono. Nos despedimos e Jorge foi caminhando pela praia. À medida que ia entrando na pousada, ia observando os passos de Jorge numa cena bucólica. Faltou acrescentar uma boa música do cancioneiro popular para trilhar os passos desse mini Rasputin. Combinamos da gente se ver no dia seguinte. E sem terapia.  


domingo, 14 de agosto de 2016


São Miguel dos Milagres. Fiquei na dúvida se faria o passeio de jangada para conhecer as piscinas naturais. O dia estava nublado e resolvi não fazer nada e ficar na pousada. Fiquei me debatendo do por quê de eu estar tão fascinado por "On the Road", do Jack Kerouac, se eu estava detestando as personagens. O alter ego de Jack – Sal, era subserviente demais ao limitado, porém esperto e oportunista Dean.   Achei melhor arejar a cabeça e fui tomar um mormaço. Fiz amizade com uma mulher, daquelas bem gostosas que nem precisa fazer força para ser bonita. Muito simpática, era de Brasília. Estava com um casal de amigos, acho.  O moço era uma graça, apesar de feio e gordo e a menina era a anti-social da turma. Como ela não tinha tamanho pra falar comigo e não havia nenhum banquinho para ela conversar de igual para igual, eu a ignorei. O papo estava ótimo com os dois e a imbecil resolveu se retirar. Adoro fazer a Maria de Fátima featuring  Downtown  Abbey (risos).



Elvis, o gerente charmoso, tinha ido resolver uns assuntos da pousada. Nildo, o cozinheiro tinha faltado e só estava Johnny. Começamos a papear. Falou que era casado e que tinha dois filhos. Aí olhei de cima embaixo o garoto e pensei “que energia esse baixinho tem pra fazer filho” (risos). Um menino daquele tamanho e já bem vivido. E sempre sorridente. Perguntei a ele o que o deixava triste, pois já tinha elogiado sua alegria espontânea. Resolveu titubear na resposta, mas não se esquivou por completo:  lógico que ele também sentia tristeza, mas sempre arranjava estímulo em alguma boa graça no decorrer do dia. Sempre encontrava algo que lhe fazia sorrir.E  Johnny tem um sorriso encantador.

Perguntei por Elvis o dia todo e Johnny queria me tranquilizar. Mas ele (risos) não conseguiu porque eu já estava com fome. Tinha dado uma caminhada pela praia e queria fechar o passeio. Foi aí que aconteceu o inusitado. Johnny disse sem interesse nenhum (isso não é uma ironia, ok?) que tinha sido guia em São Miguel. Aí meus problemas acabaram. Perguntei a Johnny se ele poderia ser o meu guia. Ficou com um sorriso estampado nos lábios e disse que topava, mas ele teria que falar com Elvis para trocar de folga, pois ele descansava às quintas e eu já não estaria mais em SMG. Como tudo dependia do charmoso Elvis, desencanei e fui almoçar. Antes de sair, a surpresa boa do dia: recebo um whatsapp de meu amigo Jorge, avisando que estava com a família em São Miguel dos Milagres. Estava me esperando no bar do Enildo. Como já tinha ido almoçar por lá, resolvi ir comer no Luna. Respondi que passaria por lá para dar um oi.


Almoço no Luna, restaurante com pinta de sofisticação, mas atitude de buteco de rodoviária. Falo mais na postura dos funcionários. No cardápio, por exemplo, eles não faziam meia porção, para uma pessoa comer. Isso porque todos os que eu tinha frequentado, tinha pratos individuais ou flexibilidade para preparar almoço para uma pessoa. Nilzete, a garçonete viu minha cara de  “filho de farmacêutico”  e sugeriu que eu pedisse um peixe com algumas guarnições (Peixe, arroz, salada e batata mais suco de laranja: R$69,30)


Fui caminhando, para fazer a digestão até o bar do Enildo. Mas Jorge não estava lá. Vi apenas os pais dele tomando aquela cerveja com nome de bebida  barata. Eu os cumprimentei. Senti que a mãe dele não ficou muito animada em me ver. Sempre achei que ela não simpatiza comigo. Talvez por me achar muito (risos) “fresco”.  Mas quem se importa? Bati um papo com eles e voltei à pousada. Fui caminhando pela praia, com a voz de Gal, contemplando a beleza do mar.




terça-feira, 2 de agosto de 2016



São Miguel dos Milagres. Assim que entrei, pela praia, para dentro da pousada, fui recepcionado pelo atendente do restaurante, o Johnny. Uma simpatia de ser. Um sorriso maroto, encantador. Fiquei olhando para ele, conversando sobre estar naquele lugar incrível. Enquanto proseávamos, fiquei observando ele e pensei: “Acho que Prince era desse tamanho” (risos). Apesar da aparência de moleque, disse que tinha 27 anos. Pegando aquele vício de notícia, fiquei entrevistando o gentil rapaz: já tinha descoberto que era um garoto Bombril: trabalhou em teatro, circo e dança. Percebi que ele era um tipo bem diferenciado da maioria dos caras da idade dele. Johnny mostrou ser super focado além de ficar num processo contínuo de receber informação na postura de aprendiz. Gosta de aprender, de escutar. Me despedi e fui me arrumar. Tinha combinado de receber Brenno na pousada, mas o bofe deu um "engate a ré" (risos). Decidi me colar para tomar um drink no Manzuá. Betina tinha comentado a respeito e decidi dar uma volta por lá.

Foi super fácil chegar, quase uma reta da pousada que estava hospedado. Entrei e fui recepcionado pela atendente, uma quase autista. Ela sofria de (risos) delay , tinha que perguntar a mesma pergunta duas vezes para ela entender. Mas eu estava desacelerado e relaxei. Foi bem simpática. Vi um moreno jambo na parte de dentro do balcão do restaurante e deduzi que era o tal Veloso, dono do Manzuá. Fui cumprimenta-lo dizendo que Betina tinha me indicado conhecer o bar e de uma hora para outra estampou um sorriso nos lábios. Coisa de gente fina, elegante e sincera. Ficou super feliz com a indicação e foi pessoalmente me atender. Ah, e perguntou por Betina. Um gentleman. Como estava aquele ar tropical, decidi sentar do lado de fora. Pedi uma dica do que beber e Veloso falou de sua especialidade: a caipirinha de limão com capim santo e manjericão. Além de um bom drink, servia também como um bom despacho de ebó (risos). Pedi uma carne de sol para petiscar (caipirinhas + carne de sol: R$64,35).


E quando eu penso que o clima estava agradável e que nada poderia atrapalhar aquele momento, escuto gritos raivosos quase em frente ao Manzuá. Achei que estavam depenando um porco no matadouro. Há uma igreja da Assembleia (fundamentalista) de Deus. Quando comecei a prestar atenção no “culto” dos irmãos, eles resolvem, sem nenhuma cadência e discernimento, a cantar um hino de louvor. Deus Pai, como eles desafinavam.  Fiquei pensando se Deus merecia tamanho desrespeito com Seu Nome. Me desculpem, mas afinação e boa voz é primordial em qualquer igreja, terrero, bar de idoso ou bordel. No meio da música, uma senhora começava a gritar, parecendo o diabo da Tasmânia. Juro que queria ser uma mosca para ver a cena. Com o louvor aos berros, deduzi que ela deveria, naquela emoção, estar cuspindo muito. Por isso que nunca fico na primeira fila (risos). Olhei para o céu e perguntei a Deus: Você pretende voltar quando? Juro que queria ter um terço naquela hora para rezar por eles. Para ficarem mudos. Perguntei a Veloso se Jesus usava algum aparelho de surdez, tamanho o barulho que os fiéis faziam. O jeito foi pedir mais uma caipirinha de capim santo com manjericão. Pra ver se o diabo saía de lá. E não é que deu certo?

 Voltei pra pousada, com uma travesti de terrêro me seguindo. Pelo jeito, eu teria um preço a pagar (risos). Só que não. Perereca pra mim, só no brejo.