Pra quem me conhece intimamente sabe que tenho horror a baratas. Horror
é pouco, na verdade tenho hojeriza desse inseto pré-histórico que nem bomba atômica
consegue dar um jeito. Sim, essa informação é séria, já foi comprovado
cientificamente que a infeliz resiste bravamente. E eu fico me perguntando qual
é o segredo. Só pra se ter uma ideia, numa matéria que li há um tempo atrás na
Superinteressante, o repórter foi a fundo para detalhar o estrondo que uma
bomba atômica causaria em uma cidade como São Paulo. Ele fez uma retrospectiva
histórica no século passado, quando a ex-URSS - atual Rússia pra quem estuda em escola pública estadual (risos), em uma demonstração de poder em
pleno início da Guerra Fria, jogou um desses “brinquedinhos” em plena Groenlândia ,
no Círculo Polar Ártico, próximo aos vizinhos norte-americanos. Foi um
estardalhaço que chocou o mundo em plenos anos 1950. A relação entre as duas
potências ficaram ainda mais estremecidas, aterrorizando o resto do mundo. Fiz essa “costura”
só para constar que a barata é nossa “penitência” pelos nossos pecados.
O pânico por elas me muniu de algumas armas. Sou um sonar para sacar se
há esse bicho nojento numa distância de quilômetros. Um Deezer em pessoa
(risos). Decidi voltar para casa depois do almoço na Baronesa, para colocar a leitura em
dia e fazer alguns textos para o blog. Fiquei na sala escutando um som e
escrevendo, quando começo a ficar que nem gato escaldado, com meus pêlos arrepiados.
E eu pensei: “Que não seja o que estou pensando”. Quando olho à minha esquerda,
vejo atrás de minha imagem de São Jorge esse exu de encruzilhada subindo
lentamente a parede de minha sala, atrás do rack. E lentamente. Pense num inseto cascudo e grande. Pois era
duas vezes maior (risos). Não sei como tive forças para pular o notebook
que estava numa mesa de apoio. Nunca abri tanto minha perna para conseguir
pular feito uma salamandra. As aulas de Pilates estão realmente fazendo efeito
(risos)
Fui correndo pra sacada para
pegar a vassoura. Volto lentamente para a sala e nessas horas até o cú tem visão
de raio-X para saber onde a desgraçada está. Ela tinha sumido. Não sei de onde tirei energia para ter um breve insight, mas veio em minha mente “A paixão segundo G.H” da Clarice Lispector, onde a personagem
estabelece, à sua revelia, uma relação com esse bicho asqueroso. Sem forças
para matar a barata, que está presa e amassada na porta do guarda-roupa onde dormia sua empregada, ela começa a regurgitar toda sua loucura, se despojando de
sua maquiada sensatez para vomitar todos os seus temores. Mas tive que voltar à
Terra para resolver o impasse. Liguei na portaria para perguntar se tinha algum
veneno e a resposta foi negativa. Interfonei para minha vizinha Ju, que estava
em seu apê. Nunca agradeci tanto a Deus por aquele momento,a pesar de pedir ao
mesmo tempo pressa para matar a Mata Hari dos bueiros. Perguntei a Ju se ela tinha
algum SBP básico e ela disse que sim, iria pegar para me emprestar. Quando
ponho o interfone no “gancho”, vejo ela desfilando com suas asas pela casa,
dando um belo rasante. Dei um berro e fiz um “rolamento” – quer dizer, me
joguei no chão (risos), para ela não me tocar. A bastarda inglória foi para o
meu quarto. Acendi a luz e a vi fixada na parede. A porta da sacada estava
aberta e eu fiquei na esperança dela ir embora. Ela deu outra pinta voando em
direção para sair. Só que não. Quando penso que ela vai dar um respiro, a
desgraçada simplesmente não aguenta o tranco e repousa na parte de cima de meu
armário. Fiquei me perguntando o que Clarice faria nessas horas. Ficaria blasé, como seu alter ego? Não, acho que ela
(risos) infartaria. Que falta faz um marido bofe nessas horas. Ele pegaria ela
com o dedo. E nos humilharia depois (risos)
Aí a campainha toca e eu não queria de forma alguma tirar a vista da
barata. São naqueles momentos que quando ela some nem pai de santo
consegue achar. Peguei um tapete e joguei nela, na esperança dela não voar,
pelo menos. Abri a porta para Ju me entregar o veneno. Nos abraçamos e
perguntei a ela como estava. Só que (risos) ela começou a desabafar e eu
comecei a ficar impaciente. Muito delicadamente fiz a linha psicóloga sincera e
disse que o “tempo da sessão tinha expirado” (metáfora, ok?). Fica essa dica: nunca peça ajuda
alguma a alguém quando esse alguém pedir emprestado um veneno (risos).
Voltei, entrei no quarto e percebo que a barata tomou
um pó de pirlimpimpim e sumiu. Peguei o veneno, fiz a linha “raio gourmetizador”
com ele e intoxiquei meu quarto todo. Tudo bem, era para uma boa causa. Tinha
que achá-la de qualquer jeito. Quando a vejo, já meio tonta, entrando por
debaixo da minha gaveta, na cama, dou um touchê
nela e ela some mais uma vez. São muito rápidas. Em menos de 10 segundos,
ela conseguiu atravessar a gaveta indo parar debaixo de uma mochila que estava
no chão. Não é possível elas serem tão ágeis. Já não chega elas terem asas e
ainda vem com um GPS? Num rápido ato reflexo desengonçado, corri e a
acertei com a vassoura. E a peguei. Pernas e braços tremendo. Consegui deixá-la de barriga pra cima. Nesse momento,
veio um acesso de raiva, me senti naquela primeira cena de Kill Bill – Volume I,
quando a Uma Thurman vai se vingar da primeira vilã e a imagem (risos) congela
na cara de ódio de Uma, antes da briga
das duas. Levantei a vassoura e fiz questão de gritar, enquanto passava um
filminho de minha vida cheia de traumas: RADOUKEN! (risos). Eu bati muito nela,
acho que dei umas (risos) vinte vassouradas nela. Mesmo assim, ela continuava
mexendo suas perninhas peludas. Devia estar gargalhando na minha cara. Aí eu
descarreguei quase (risos) meio litro de veneno em cima dela. Enquanto ela dava
seus últimos suspiros, fui tomar uma ducha e me recompor. Depois de aliviada,
pego a pá para levá-la em sua lápide, o lixo. Liguei para Ju e a convidei para
bater um papo e pedir uma pizza. Me veio uma vontade louca de ser terapeuta
(risos).