quinta-feira, 7 de abril de 2016


Pra quem me conhece intimamente sabe que tenho horror a baratas. Horror é pouco, na verdade tenho hojeriza desse inseto pré-histórico que nem bomba atômica consegue dar um jeito. Sim, essa informação é séria, já foi comprovado cientificamente que a infeliz resiste bravamente. E eu fico me perguntando qual é o segredo. Só pra se ter uma ideia, numa matéria que li há um tempo atrás na Superinteressante, o repórter foi a fundo para detalhar o estrondo que uma bomba atômica causaria em uma cidade como São Paulo. Ele fez uma retrospectiva histórica no século passado, quando a ex-URSS - atual Rússia pra quem estuda em escola pública estadual (risos), em uma demonstração de poder em pleno início da Guerra Fria, jogou um desses “brinquedinhos” em plena Groenlândia, no Círculo Polar Ártico, próximo aos vizinhos norte-americanos. Foi um estardalhaço que chocou o mundo em plenos anos 1950. A relação entre as duas potências ficaram ainda mais estremecidas, aterrorizando o resto do mundo. Fiz essa “costura” só para constar que a barata é nossa “penitência” pelos nossos pecados.

O pânico por elas me muniu de algumas armas. Sou um sonar para sacar se há esse bicho nojento numa distância de quilômetros. Um Deezer em pessoa (risos). Decidi voltar para casa depois do almoço na Baronesa, para colocar a leitura em dia e fazer alguns textos para o blog. Fiquei na sala escutando um som e escrevendo, quando começo a ficar que nem gato escaldado, com meus pêlos arrepiados. E eu pensei: “Que não seja o que estou pensando”. Quando olho à minha esquerda, vejo atrás de minha imagem de São Jorge esse exu de encruzilhada subindo lentamente a parede de minha sala, atrás do rack. E lentamente. Pense num inseto cascudo e grande. Pois era duas vezes maior (risos). Não sei como tive forças para pular o notebook que estava numa mesa de apoio. Nunca abri tanto minha perna para conseguir pular feito uma salamandra. As aulas de Pilates estão realmente fazendo efeito (risos)


 Fui correndo pra sacada para pegar a vassoura. Volto lentamente para a sala e nessas horas até o cú tem visão de raio-X para saber onde a desgraçada está. Ela tinha sumido. Não sei de onde tirei energia para ter um breve insight, mas veio em minha mente “A paixão segundo G.H” da Clarice Lispector, onde a personagem estabelece, à sua revelia, uma relação com esse bicho asqueroso. Sem forças para matar a barata, que está presa e amassada na porta do guarda-roupa onde dormia sua empregada, ela começa a regurgitar toda sua loucura, se despojando de sua maquiada sensatez para vomitar todos os seus temores. Mas tive que voltar à Terra para resolver o impasse. Liguei na portaria para perguntar se tinha algum veneno e a resposta foi negativa. Interfonei para minha vizinha Ju, que estava em seu apê. Nunca agradeci tanto a Deus por aquele momento,a pesar de pedir ao mesmo tempo pressa para matar a Mata Hari dos bueiros. Perguntei a Ju se ela tinha algum SBP básico e ela disse que sim, iria pegar para me emprestar. Quando ponho o interfone no “gancho”, vejo ela desfilando com suas asas pela casa, dando um belo rasante. Dei um berro e fiz um “rolamento” – quer dizer, me joguei no chão (risos), para ela não me tocar. A bastarda inglória foi para o meu quarto. Acendi a luz e a vi fixada na parede. A porta da sacada estava aberta e eu fiquei na esperança dela ir embora. Ela deu outra pinta voando em direção para sair. Só que não. Quando penso que ela vai dar um respiro, a desgraçada simplesmente não aguenta o tranco e repousa na parte de cima de meu armário. Fiquei me perguntando o que Clarice faria nessas horas. Ficaria blasé, como seu alter ego? Não, acho que ela (risos) infartaria. Que falta faz um marido bofe nessas horas. Ele pegaria ela com o dedo. E nos humilharia depois (risos)


Aí a campainha toca e eu não queria de forma alguma tirar a vista da barata. São naqueles momentos que quando ela some nem pai de santo consegue achar. Peguei um tapete e joguei nela, na esperança dela não voar, pelo menos. Abri a porta para Ju me entregar o veneno. Nos abraçamos e perguntei a ela como estava. Só que (risos) ela começou a desabafar e eu comecei a ficar impaciente. Muito delicadamente fiz a linha psicóloga sincera e disse que o “tempo da sessão tinha expirado” (metáfora, ok?). Fica essa dica: nunca peça ajuda alguma a alguém quando esse alguém pedir emprestado um veneno (risos).


Voltei, entrei no quarto e percebo que a barata tomou um pó de pirlimpimpim e sumiu. Peguei o veneno, fiz a linha “raio gourmetizador” com ele e intoxiquei meu quarto todo. Tudo bem, era para uma boa causa. Tinha que achá-la de qualquer jeito. Quando a vejo, já meio tonta, entrando por debaixo da minha gaveta, na cama, dou um touchê nela e ela some mais uma vez. São muito rápidas. Em menos de 10 segundos, ela conseguiu atravessar a gaveta indo parar debaixo de uma mochila que estava no chão. Não é possível elas serem tão ágeis. Já não chega elas terem asas e ainda vem com um GPS? Num rápido ato reflexo desengonçado, corri e a acertei com a vassoura. E a peguei. Pernas e braços tremendo. Consegui deixá-la de barriga pra cima. Nesse momento, veio um acesso de raiva, me senti naquela primeira cena de Kill Bill – Volume I, quando a Uma Thurman vai se vingar da primeira vilã e a imagem (risos) congela na cara de ódio de Uma,  antes da briga das duas. Levantei a vassoura e fiz questão de gritar, enquanto passava um filminho de minha vida cheia de traumas: RADOUKEN! (risos). Eu bati muito nela, acho que dei umas (risos) vinte vassouradas nela. Mesmo assim, ela continuava mexendo suas perninhas peludas. Devia estar gargalhando na minha cara. Aí eu descarreguei quase (risos) meio litro de veneno em cima dela. Enquanto ela dava seus últimos suspiros, fui tomar uma ducha e me recompor. Depois de aliviada, pego a pá para levá-la em sua lápide, o lixo. Liguei para Ju e a convidei para bater um papo e pedir uma pizza. Me veio uma vontade louca de ser terapeuta (risos).