Quando a água respinga no rabo, você cria vergonha na cara e volta a se
apegar com benefícios que um dia deram certo em sua vida. Por exemplo, a
homeopatia. Quando eu era pequeno, eu era uma criança bem problemática, cheia
de problema de saúde. Tive uma bronquite terrível durante minha fase lactante e
primeira infância. Era infernal ter que passar em várias mãos médicas para
saber a solução para o impasse da crise broncorespiratória. Depois de eu quase
matar minha mãe de cansaço para tentar descobrir o santo antídoto para aliviar
meus brônquios, ela descobriu a homeopatia. Me tratei por anos, até porque a
homeopatia é lentamente processual. Tem que persistir na cura. E depois de
anos, me senti curado. Lembro me disso e fico pensando o quanto fiz minha mãe sofrer, desesperada
com minha situação. Se bem que (risos) pensando melhor, ela até que mereceu.
Com os períodos de instabilidade emocional - que se instala
em meu corpo como uma pneumonia, resolvi injetar ânimo nos meus pulmões para
criar resistência ao vírus. Marquei consulta com a Dra. Letícia no último sábado.
Um dia atípico para ir ao médico, vamos combinar. Cheguei melecado de suor por
causa do sol mesclado com vento, o que significou que eu não podia tirar a
blusa por prevenção para virar um tostex no consultório. Cheguei pontualmente
no horário da consulta marcada, às 11h40. Cumprimentei a secretária, uma dessas
meninas estilo “pervas”, mas muito educada. Deixei meus documentos e fui
urgente ao toilette. Lavei o rosto
com água fria, mas nem adiantava. Detesto parecer um refugiado do Afeganistão. Voltei,
sentei-me no sofá, incomodado com o suor se esparramando pelo meu rosto, mas sem perder a pose e por lá fiquei um bom chá de cadeira. Tinha uma fulana do
meu lado que, pra variar, não se relacionava, só ficava se conectando com seu "controle remoto" da Samsung. Fiquei na leitura, me auto flagelando com o livro
do Zygmunt Bauman, “Amor Líquido”. A perva secretária me chamou para pagar a
consulta (consulta médica R$200,00) e aproveitou para me oferecer um capuccino. Tomei um sabor “suíço” e
estava uma delícia. Também me informou que consulta homeopática geralmente
demora, “dependendo da pessoa”. O interfone tocou e a secretária que não me
lembro o nome abriu para entrar uma mulher extremamente gripada. Pronto, minha tranquilidade
se anulou, fiquei morrendo de medo dela me passar algo. Pra ajudar, era bem
arrogante. E tinha uma postura toda torta, parecia uma anfíbia dissecada
(risos). Pela cara acho que sofre de prisão de ventre. Deve sair cimento do
rabo dela, coitada. Perguntei a ela sobre a notícia que estávamos acompanhando
no SPTV com aquele gostoso do César Tralli e ela deu uma resposta como se
tivesse fazendo um favor em conversar com o “mortal” aqui. Aí eu cheguei a
conclusão de que iria demorar muito na consulta (risos). Imagina se ela fosse
antes de mim? Acho que encontraria a Dr.a Letícia (risos) enforcada, de tanta energia
perdida com a infeliz.
E foi ótimo vê-la. Trabalhamos juntos no SESC. Foi ela que me orientou
a fazer terapia e me indicou a terapeuta com quem estou até hoje. Conversamos muito,
demos muitas risadas, essa descontração foi importante para me abrir com ela e colocar
na pauta tudo o que anda me incomodando, tanto físico quanto emocional. Falamos
da perda do Bowie e daí me deu um clic
de chamá-la para ir em casa para uma
audição do Camaleão, ao lado de um bom vinho. E ela topou. Me examinou e ficou feliz
pelo meu pulmão ter saído do estágio terminal. Me receitou dois remédios em glóbulos,
uma versão turbo advanced plus de Floral e uma caralhada de exames, entre eles
a polissonografia. Ter que dormir com aquela infinitude de fios pelo corpo é de
dar uma sensação estranha. Fico me sentindo uma cobaia abduzida pelos ET´s para "estudos"(risos). Ah, e tem também a nasofibro..alguma
coisa, que desconfio que seja um exame desconfortável de fazer. Vão colocar um
micro filme pelo nariz para ver a que ponto eu estou cagado por dentro para
tratamento de ronco e apneia.
Cumpri minha meta e fiquei duas horas em consulta. Me despedi
de Letícia, saí de sua sala, dei um tchau para a secretária perva, já imaginando em qual “pancadão”
ela iria se divertir à noite. Quanto à anfíbia, estava lá já mimetizada com o sofá. De
tanta raiva que estava em esperar (risos).