São Miguel dos Milagres. Fiquei feliz com a acolhida dada pelos habitantes de Milagres. Os meninos da pousada não queriam que eu passasse por nenhum tipo de problema ou situação que não fosse resolvido. Antes de caminhar em direção a praia do Toque fui conversar com Elvis sobre algumas dicas de passeio e demonstrar minha preocupação em como chegar a praias mais distantes, mas ele me tranquilizou. Adorei a sacada rápida em me responder com aquela malemolência charmosa alagoana: "problema, a gente desenrola" (risos). Preparei minha sacola com o kit de protetor solar - para o rosto, corpo e labial. Me arrumei e iniciei as mesas de trabalho, rumo ao Toque.
A caminhada estava atrativa: caiçaras retornando de seus trabalhos, com uma leva considerável de peixes e dando aquela olhada de quina, inquietos e desconfiados. Dei meu bom dia festivo e eles retribuíram, rindo entre eles da "gazela saltitante" pela praia. Quase na metade do caminho, me lembrei que anda não tinha passado protetor nenhum, mas me lembrei de uma reportagem que li que dizia que o corpo deve ficar pelo menos 15 minutos exposto ao sol, para depois passar o protetor. Parei para o "retoque na maquiagem".
Assim que entrei na praia do Toque, fiquei me lembrando na tranquilidade do vôo para Maceió, até porque fico um pouco apreensivo quando permaneço mais de duas horas dentro de um avião. E me lembrei de relatar ao Diário um, digamos, pequeno inconveniente. Eu fiquei a maior parte do tempo lendo "On the Road" e nem prestei atenção no meu entorno, até passar por mim uma senhora muçulmana. Quer dizer, deduzo que seja por estar com uma semi-burca colorida. Ela passou por todos para ir ao toilette na dianteira do avião. Enquanto aguardava o banheiro ser desocupado, ela ficou conversando com o comissário de bordo. Fiquei observando sua relativa elegância, quando percebo os olhares dos passageiros em direção a ela. Achei graça a princípio, pois infelizmente as pessoas de um modo geral não possuem mais o hábito de se informarem a respeito de outras culturas. Vi que os passageiros ficaram ressabiados com a muçulmana, cochichando entre eles na possibilidade dela (risos) ser "elemento de risco" ao vôo. Quando ela entrou, senti um frenesi deles. "Será que eles acham que ela vai explodir o vôo?" pensei. Depois de uns minutos, ela saiu e acredito que todos relaxaram o esfíncter (risos).
Mas a saga jihadista não parou por aí. A muçulmana continuou conversando com o comissário na qual ela tinha desenrolado um papo. Eu me atentei novamente a leitura, quando ela (risos) decide voltar ao toilette. E aí eu senti minhas mãos suarem de desespero. "Meu Deus, será que ela tem uma bomba no corpo"? "Será que ela é do Estado Islâmico e nos fará de refém"? "Sim, com certeza acontecerá algo, está calmo demais pra ser verdade". Todos esse lamaçal mental saindo da minha mente. E nessas horas, eu apelei a Deus, a Alah e até a Abraão, afinal de contas ele é o culpado de tudo, não acham? E sabem o pior? Ela demorou ainda mais no banheiro. Quando vi a luz do marcador ficar verde, informando que o banheiro havia sido desocupado, suspirei de alívio e mirei no toilette, vendo a tenra madame sair, com (risos) todos os pedaços do corpo intactos. Passou por mim com a cara fechada, como se fosse telepata e me dissesse: "Eu sei muito bem o que você pensou, infiel" (risos). Exatamente nesse tom, como um belo tapa de luva pelica. Ou de burca, se preferir.