quarta-feira, 14 de outubro de 2015



Salinas. No último dia de diversão em Salinas, fiquei sabendo de um lugar que tinham me indicado a conhecer e que eu não me arrependeria: a Vila de Cuiarana. É uma vila de pescadores, como toda cidade praiana brejeira possui. Ficamos na porta aguardando algum ônibus para lá. A família de Manaus que também estava hospedada na “Fazendinha” iria também pegar o ônibus, mas para ir para a praia do Atalaia. Elas queriam pegar amizade fácil, mas não estava disposto. Juçara foi mais simpática e estreitou a relação. Estava a mãe, sua filha e seu neto – o tal Gabriel. O menino era um pentelho de chato. Nos dias anteriores quando chegávamos da praia, ele vinha correndo para conversar com a gente. Durante o café da manhã ele veio e sentou conosco à mesa. Ele voou em nossa melancia. A avó, uma mulher bem larga de folgada fazia a linha “Não pega Gabriel”, mas sem esforço. Resumindo, uma família açaí com purgante.~


  
Elas nos perguntaram se iríamos para o Atalaia e eu sorri dizendo que “não” (risos). O ônibus chegou e nos despedimos. Enquanto isso, Juçara estranhou a demora do ônibus para Cuiarana, quando um jovem maranhense parou o carro e perguntou “para onde vão?”. Só que ele jurava que falaríamos Atalaia. Quando dissemos Cuiarana, ele fez uma tremenda cara de desânimo. Aí ele disse “R$20 a corrida”. Entramos e ele nos levou até lá. Viemos conversando e ele, pra variar, nos contou toda sua história sofrida de vida. Dei um play mental no foda-se até que a conversa caiu para o assunto política. Impressionante ver pessoas que ganharam poder aquisitivo na era Lula e agora estarem contra o governo. Eu acho ótimo pra provar ao PT que as pessoas não só ganharam poder aquisitivo como aprenderam a pensar, mesmo que pouco.  Nos falou que trabalhou em empreiteiras e viu a corrupção gritar na sua frente. Ele foi bem crítico ao governo da Vilma.



Quando chegamos em Cuiarana, a decepção bateu na porta do carro e disse: não tem lazer. Beijoooos (risos). Acho que foi praga da amazonense. O motorista chegou a perguntar num boteco se tinha algum passeio ou estrutura para os “turistas” aproveitarem. A menina, com aquela peculiar feição de semende de bucha – popularmente conhecida como aquela cara de “hã”? não soube nos responder. Fiquei impressionado o quanto as pessoas em Salinas não sabem de absolutamente nada. Acho que é por isso que há tantas igrejas da Assembléia de Deus proliferando por lá. A lavagem cerebral fica bem mais fácil. Passamos pelo restaurante Marujos, que meu amigo Jorge Mendes, de Belém, tinha recomendado, mas estava fechado. Essa é uma das desvantagens de se conhecer uma cidade de porte pequeno na baixa temporada: muita coisa não funciona. Ficam em processo de hibernação.



Não nos restava outra alternativa a não ser de irmos no Atalaia. O moço nos deixou, pagamos R$ 40 pela corrida. Ele nos deixou dentro da praia, literalmente. É hábito deles. Naldo, o garçom que já tinha nos atendido nos viu e montou nossa mesa com guarda sol e cadeiras. Ao nosso lado, um grupo de Belém com seu carro aberto e aquele som bafônico de mal gosto. E para terminar com chave de ouro e não podia faltar para completar nosso dia: a família amazonense estava bem perto da gente.

Tomei um pouco de sol e decidi ir fazer a simpática para as amazonenses , afinal estava de férias, desacelerado e não tinha motivo algum para ser deselegante. Mas deveria ter ficado no meu lugar. A "Miss Asilo Partintins" nos usou como terapeutas, contando sua vida sofrida e a vida sofrida de sua filha, que já é viúva. Ela não parava de falar. Aí acabei fazendo aquela cara de paisagem da Disneylândia: você olha, fica sorrindo o tempo todo fingindo prestar atenção na conversa, mas seus olhos se direcionam para coisas mais interessantes de se ver. Santo óculos de sol.


Ficamos até às 15h, nos arrumamos e pegamos o ônibus de volta à pousada. Descansamos um pouco até o cair da noite, quando nos arrumamos para jantar na Orla do Maçarico. Em torno da pousada, muitas igrejas evangélicas com aquelas pastoras que não falam português direito esbravejando em nome de Deus e cantando muito mal. Nessas horas, pensei em rezar um terço por elas. Para perderem a voz.