quinta-feira, 22 de outubro de 2015


Santarém. Se o inferno tivesse um nome, por ironia do destino, se chamaria Santarém. Fiquei impressionado com a panela de pressão que as pessoas vivem na cidade. Como agradeci a Deus em ter um potente ar condicionado no quarto. Juçara e eu ficamos hospedados no Hotel Açay. Na verdade, Santarém foi uma escolha no roteiro por pura logística. A idéia inicial era ficarmos 5 dias em Alter do Chão, mas a pousada que fechei só tinha disponibilidade para 4 dias. Como as boas pousadas de Alter estavam todas ocupadas, e eu já tinha comprado a passagem Belém-Santarém jurando que iria conseguir fechar Alter por completo, não tive escolha em ficar um dia em Santarém.


Quando chegamos no hotel de madrugada, com a temperatura na casa dos 30º,  só pensávamos em dormir para aproveitar o dia. Acho que o gerente que fez as nossas reservas devia estar um pouco de mal humor, pois ficamos em andares diferentes: eu fiquei no 4º andar, com direito a uma sacada e Juçara ficou no 5º andar, com uma vista melhor que a minha. Dormimos, para levantarmos às 8h. Cheguei primeiro para tomar café e pedi para a recepcionista chamar Ju. O serviço de café estava muito bom, com tudo que tínhamos direito. E se quiséssemos, poderíamos pedir tapioca feita na hora. Estava uma delícia curtir preguiça, sem pensar em nada, em ninguém, curtindo um certo silêncio. Sim, para mim em algum momento do dia, silêncio é essencial. Acho sadio, principalmente para você não se incomodar ou se irritar com o outro. Imaginei, em algum momento do café, que Ju poderia achar estranho esse tipo de comportamento, mas não dei tanta bola. Até porque Juçara é uma camaleoa nata. Se adapta fácil ao habitat do momento.

Fui ao quarto para me banhar em protetor. Todos possíveis. Não sei que louca que me deu em querer passear num calor daqueles. Chegando à recepção, encontrei Beto, com quem tinha conversado e fechado nossa estadia. Ele nasceu no Sul, mas não me lembro onde. Veio para Santarém por causa de uma mulher e acabou se casando. O que uma “chave de buça” não faz, não? Perguntei a ele quais eram os atrativos que a cidade oferecia e ele nos falou que naquele momento, só haveria a orla de interessante e o mirante da cidade. Dei uma olhada na Trip Advisor e vi uns Museus que queria conhecer. Assim que saímos do hotel, aquele vapor barato de calor insuportável. Levei em minha bolsa protetor e fiquei passando toda a hora, para não perder o bronze que peguei em Salinas. Uma funcionária saiu junto conosco e nos explicou onde era o ponto. Assim que atravessamos a avenida, chegava uma linha de ônibus, que nos levaria até a orla. E o motorista foi amável, nos esperou enquanto chegávamos do outro lado da avenida.

Depois de uns 10 minutos, descemos numa praça. Sem verde nenhum, sem nenhum cuidado. A Casa de Cultura João Fona – uma das dicas da Trip, estava fechada. Como assim, em pleno domingo, numa cidade de 300 mil pessoas e o Museu fechado? Sem ter muito que fazer, caminhamos até o Mirante. Uma vista bacana do rio Tapajós. Quando chegamos no Mirante, depois de se ter subido uma epopeia de escadas, tinha um menino que estava lá tirando foto. Quando o vi, disse “Bom dia” e ele me olhou e não me respondeu. Deve ter se assustado (risos) com a fauna que acabava de chegar. Novamente desejei bom dia e ele me respondeu. Enquanto contemplávamos a paisagem, outro bofe subira até o Mirante e Juçara demonstrou insegurança no momento. Quer dizer, acho que ela pensou que seríamos violentados pelos dois, mas o que me incomodou foi o fato dela não ter disfarçado muito o seu medo. O bofe sacou que ela teve medo. Aí eu fiz a linha “To 10 pra ficar louca” e disse para Juçara descer comigo. Mas precisei ficar em silêncio e ignorá-la um pouco, pois tinha achado uma indelicadeza da parte dela desconfiar do moço, que queria apenas tirar uma foto. Pausa para retocar o make up.


Passamos num bar, compramos água. Ah, e guaraná Tuchaua, típico refrigerante do Pará. Paramos numa Igreja com uma árvores tortas, mas que contrastou super bem com a igreja para tirar fotos. Andamos mais um pouco até chegarmos numa espécie de point de pescaria onde vimos vários bofes se divertindo, pegando peixes. Demos um pouco de pinta e decidimos voltar para nosso ponto de chegada. Dei uma olhada em alguma indicação de restaurante e para nossa sorte, a poucos metros de onde estávamos, ficava o restaurante Piracema. E o sol nos transformando em ceras. A fome chegou junto com nossa chegada. Entramos, nos alojamos e ficamos analisando a decoração do lugar. E uma matuta santista apareceu de manso para colocar sua voz instigante em ação, na programação musical do restaurante.


Pedimos de entrada croquetes de aviú com geleia de cupuaçu picante. Enquanto a gente tricotava, uma mulher nos observava querendo pegar amizade fácil. Quando elogiei o set list de músicas que estava tocando, ela entrou no papo concordando. Seu nome é Marilena e tinha acabado de se mudar para Santarém. Ela é de Campinas. Sua filha tinha sido transferida para trabalhar em Altamira – cidade que eu chamo carinhosamente de “Terra de Ninguém”. Marilena estava com a filha e seu neto – bem gordo pra idade dele, por sinal, mas simpático. Estavam pagando a conta e nos despedimos. Depois da entrada, para nos enfartarmos de vez, costela no tambaqui com crips de jambu, com tudo que tínhamos direito. E tudo muito bem acompanhado de uma bela caipirinha.

Comemos, pagamos, pedimos para chamar um táxi. Não demorou muito para chegar. Quando entramos, pedi para ele deixar o ar condicionado ligado no turbo hi fi plus advantage. Um menino absurdamente lindo. Seria um ótimo modelo se quisesse.

À noite, um presente para brindar a vibe boa da viagem: a visão imponente da super lua, meio eclipsada e beeeem vermelha. Fiquei com os pêlos de meu corpo em riste, tamanha a energia que estava radiando naquele momento. Que sorte não ter tido ninguém por perto para devorar (risos). Me contentei em ver, da vista do hotel, algumas putas, na beira da estrada, ralando para garantir o pão suado de cada dia.