Para nãos dispendiar energia durante o dia em
traçar algum programa cult pra fazer, decidi armazenar uma boa quantia para o
espetáculo da noite – "O topo da montanha", com Lázaro Ramos e Taís Araújo, no
Teatro da FAAP. Depois de ter lido a matéria que saiu no Caderno 2 do Estadão
e Segundo Caderno, do Globo, fiquei encantado com a história que envolveu esse
texto. Lázaro queria muito fazer o papel de Luther King, mas tinha encontrado
em seu caminho textos fracos e muito previsíveis. Se cansou e quis se envolver
em outro projeto. Um belo dia, Taís recebeu (ou comprou os direitos, não me
lembro bem) o texto de Katori Hall. Ofereceu a Lazáro, que recusou num primeiro
momento. Ela então decidiu ler e depois que terminou a leitura, quase o obrigou
a ler pela emoção impactante quer o texto lhe causou. Lázaro continuou
refutando, até ceder à pressão de nossa deusa Xica temporal. E o resto da
história, você já deduz em como terminou.
Quis assistir essa peça com um amigo de calibre.
Nada melhor do que chamar Nelson Valência. Fiquei tão empolgado que acabei
comprando para assistirmos juntos duas peças. É isso que dá ficar um bom tempo
sem ver um querido. Aí é obrigado a me engolir em overdose (risos).
A tarde estava agradável para fazer uma caminhada
pelo Higienópolis, estava nublado e um pouco abafado. Me joguei no Ipod, pra lá do Mundo de Alice e fui
visualizando pela calçada várias claves de sol, para poder abstrair o tempo
cinzento que passamos. E nada mais combinativo para ilustrar o clima.
Como sempre, fui bem recepcionado pelos meninos
que trabalham no bistrô Delapaix (bom atendimento, boa carta de vinhos e a lembrança de Paris. Se joga, Ariclê: http://delapaixbistro.com.br/ ) . Recebi um abraço carinhoso de Régis, que puxou minha
orelha por ter falado que iria passar por lá e já faz (risos) meses que disse
algo do tipo. Falei que não me lembrava. Quer dizer, (risos), mentira. Fingi que não me lembrava. Valmir me deu um abraço
apertado, Deus como ele é uma delicinha. Agora ele está como gerente do Delapaix. Fiquei do lado de fora, pois
estava um mormaço, mas ao mesmo tempo passava um vento refrescante. Atrás de
mim tinha uma mulher com um bando de crianças chatas. Bati o olho rapidamente e
me assustei, pois tive a impressão de que ela tinha escaras. Pedi uma salada
verde e um Filé a Prima Donna. E um vinho para harmonizar com a comida e o
clima. A surpresa foi ótima: Valmir veio com um vinho argentino branco, com
ingredientes cítricos. E foi impressionante a química feita com o prato.
Depois, para fechar com chave de ouro a insofismável torta de suspiro com
chocolate belga e creme de amoras por cima.
Antes de ser rebocado para casa, um ristretto
para sobreviver até a peça.
Caminhada até chegar em casa e pausa para um
descanso. Só que não. Lucas me mandou um whats querendo “dar um oi” em meu
apartamento. Pedi para vir, mas
sem atrasos. E haja energia para um atendimento. Gente jovem exige muito da
gente. No pós-after, fui tomar uma
ducha, me preparando pra colar com um ótimo som de macho, para manter a
testosterona em alta.
Queria que Paulo viesse me pegar, mas ele estava
longe, na Rebouças. Peguei um taxista no ponto da Veridiana, perto de casa. Era
uma graça, fomos conversando até o teatro da FAAP. Quando estava chegando ao
saguão do Teatro, não tinha me lembrado o quanto aquele espaço é enfadonho e
confuso. Quando descia as escadas, sem visualização por onde passar para pegar
meus ingressos, percebi que as pessoas não conseguiam se locomover. É muito
claustrofóbico. Cheguei na bilheteria, peguei os ingressos e mandei um whatsapp
para Nelson. Ele respondeu dizendo que estava “embaixo, do lado da entrada do
teatro”. Estranhei porque a entrada para o teatro fica bem longe. Decidi ligar
e quando ele atendeu perguntei onde ele estava. Ele respondeu que estava do
lado de fora do teatro....do Tucarena. Aí eu quase gritei: “meus sais, por
favor”. Ele estava no teatro certo, porém (risos) na data errada. Tinha mandado
mensagem avisando que “O topo...” seria no sábado. Falei para ele voar até a
FAAP. Por sorte, graças a boa vontade dos funcionários, pude deixar o convite
com o nome de Nelson para o orientador de público entregar. Entrei e fiquei
aguardando, torcendo para que ele conseguisse. Há um tolerância de até 20
minutos do início do espetáculo, em que você pode entrar na plateia. Fui
dar uma olhada nos e-mails e colocando o Google para trabalhar, oferecendo opções para comer depois da peça. E o
universo realmente estava a nosso favor: Nelson chegara a tempo para ver o
espetáculo.
Último discurso de Martin Luther King. Dê uma espiada
Para se chegar até o topo da montanha, é
necessário um tremendo esforço físico, mental e emocional que poucos seres têm a proeza de conseguir. Acredito que Lázaro Ramos deva ter se desgastado
muito, com direito a insônias, incertezas, inseguranças, para poder se doar de
tal modo a ponto de fazer doer nosso corpo, nossa mente e nossa alma. Imagino
ele, como ator, ter se despojado ao máximo para (tentar) chegar a uma perfeição
em sua composição e com uma finalidade: que o público saísse afetado pela perturbação levemente
imposta de sua interpretação como Martin Luther King. Todo esse caldeirão de
tópicos de ideias vem reforçar que além de atuar, Lázaro também dirige a
peça. Todo esse excesso de drama carregado nesse parágrafo não é em vão. E a entrada de Taís na
peça é a mola propulsora para Lázaro mostrar porque ele é um dos grandes jovens
promissores atores de sua geração. Por um ato reflexo rápido de meu cérebro, me
veio à mente sua atuação visceral na peça “A máquina”, junto com Wagner Moura e
Vladmir Brichta. E sua composição para “Madame Satã” no cinema é soberba. Mas a
grandiosidade de sua atuação como o utópico e conflituoso Luther King tem o
mérito de Taís, como a camareira do hotel. Ela, aliás, tem grande
responsabilidade em trazer o público para a história, criando um clima de
intimidade com a plateia com humor rápido em textos curtos. Ela realmente me
fez rir em momentos para amenizar a tensão. Neste caso, era totalmente
justificável. Tanto no início como no fim, há uma bela projeção visual
contextualizando grandes ícones negros e seu papel social na história. Foi
realmente emocionante.
Terminada a terapia lacaniana na qual assistimos,
fomos comer no Babbo Giovanni. Tinha pensado a princípio de levar Nel ao Prima
Donna, mas quando chegamos lá, o garçom nos informou que o restaurante “iria
fechar cedo, para dedetizar”. Quer dizer, em pleno sábado onde as pessoas
costumam sair de seus casulos para pegar uma cor, eles decidem fechar mais
cedo? Ele precisam de uma consultoria de gestão de negócios urgente.
Chegamos no Babbo e aquele clima de “festa de criança na laje”. Entramos e vi
que o ambiente tinha mudado drasticamente desde a última vez que passei por lá.
Muito popularesco. Fora a cara de coveiros dos garçons, pareciam que estavam oferecendo buffet no velório. Mas
abstraímos e pedimos uma pizza pois a peça nos desgastou e precisávamos repor
as energias. Nelson estava incomodado com uma dor que ele sentiu 3 dias antes
de voltar para o Brasil. Ele me disse que era consequencia de uma catapora que contraíra, quando criança. Na saída da
pizzaria, olhei para uma branquela gorda que estava ao telefone. Acho que ela
costuma me atender quando ligo para pedir delivery. Ela me cantou quando fiz um
pedido delivery, perguntando se eu não queria "companhia" e eu disse automaticamente “Você quer que eu vomite”? (risos). Nelson
me deixou em casa.
Aproveitei a madrugada para ler.