sábado, 28 de novembro de 2015



Para nãos dispendiar energia durante o dia em traçar algum programa cult pra fazer, decidi armazenar uma boa quantia para o espetáculo da noite – "O topo da montanha", com Lázaro Ramos e Taís Araújo, no Teatro da FAAP. Depois de ter lido a matéria que saiu no Caderno 2 do Estadão e Segundo Caderno, do Globo, fiquei encantado com a história que envolveu esse texto. Lázaro queria muito fazer o papel de Luther King, mas tinha encontrado em seu caminho textos fracos e muito previsíveis. Se cansou e quis se envolver em outro projeto. Um belo dia, Taís recebeu (ou comprou os direitos, não me lembro bem) o texto de Katori Hall. Ofereceu a Lazáro, que recusou num primeiro momento. Ela então decidiu ler e depois que terminou a leitura, quase o obrigou a ler pela emoção impactante quer o texto lhe causou. Lázaro continuou refutando, até ceder à pressão de nossa deusa Xica temporal. E o resto da história, você já deduz em como terminou.

Quis assistir essa peça com um amigo de calibre. Nada melhor do que chamar Nelson Valência. Fiquei tão empolgado que acabei comprando para assistirmos juntos duas peças. É isso que dá ficar um bom tempo sem ver um querido. Aí é obrigado a me engolir em overdose (risos).


A tarde estava agradável para fazer uma caminhada pelo Higienópolis, estava nublado e um pouco abafado. Me joguei no Ipod, pra lá do Mundo de Alice e fui visualizando pela calçada várias claves de sol, para poder abstrair o tempo cinzento que passamos. E nada mais combinativo para ilustrar o clima.


Como sempre, fui bem recepcionado pelos meninos que trabalham no bistrô Delapaix (bom atendimento, boa carta de vinhos e a lembrança de Paris. Se joga, Ariclê: http://delapaixbistro.com.br/ ) . Recebi um abraço carinhoso de Régis, que puxou minha orelha por ter falado que iria passar por lá e já faz (risos) meses que disse algo do tipo. Falei que não me lembrava. Quer dizer, (risos), mentira. Fingi  que não me lembrava. Valmir me deu um abraço apertado, Deus como ele é uma delicinha. Agora ele está como gerente do Delapaix. Fiquei do lado de fora, pois estava um mormaço, mas ao mesmo tempo passava um vento refrescante. Atrás de mim tinha uma mulher com um bando de crianças chatas. Bati o olho rapidamente e me assustei, pois tive a impressão de que ela tinha escaras. Pedi uma salada verde e um Filé a Prima Donna. E um vinho para harmonizar com a comida e o clima. A surpresa foi ótima: Valmir veio com um vinho argentino branco, com ingredientes cítricos. E foi impressionante a química feita com o prato. Depois, para fechar com chave de ouro a insofismável torta de suspiro com chocolate belga e creme de amoras por cima.  Antes de ser rebocado para casa, um ristretto para sobreviver até a peça.



Caminhada até chegar em casa e pausa para um descanso. Só que não. Lucas me mandou um whats querendo “dar um oi” em meu apartamento. Pedi para vir, mas sem atrasos. E haja energia para um atendimento. Gente jovem exige muito da gente. No pós-after, fui tomar uma ducha, me preparando pra colar com um ótimo som de macho, para manter a testosterona em alta.



Queria que Paulo viesse me pegar, mas ele estava longe, na Rebouças. Peguei um taxista no ponto da Veridiana, perto de casa. Era uma graça, fomos conversando até o teatro da FAAP. Quando estava chegando ao saguão do Teatro, não tinha me lembrado o quanto aquele espaço é enfadonho e confuso. Quando descia as escadas, sem visualização por onde passar para pegar meus ingressos, percebi que as pessoas não conseguiam se locomover. É muito claustrofóbico. Cheguei na bilheteria, peguei os ingressos e mandei um whatsapp para Nelson. Ele respondeu dizendo que estava “embaixo, do lado da entrada do teatro”. Estranhei porque a entrada para o teatro fica bem longe. Decidi ligar e quando ele atendeu perguntei onde ele estava. Ele respondeu que estava do lado de fora do teatro....do Tucarena. Aí eu quase gritei: “meus sais, por favor”. Ele estava no teatro certo, porém (risos) na data errada. Tinha mandado mensagem avisando que “O topo...” seria no sábado. Falei para ele voar até a FAAP. Por sorte, graças a boa vontade dos funcionários, pude deixar o convite com o nome de Nelson para o orientador de público entregar. Entrei e fiquei aguardando, torcendo para que ele conseguisse. Há um tolerância de até 20 minutos do início do espetáculo, em que você pode entrar na plateia. Fui dar uma olhada nos e-mails e colocando o Google para trabalhar, oferecendo opções para comer depois da peça. E o universo realmente estava a nosso favor: Nelson chegara a tempo para ver o espetáculo.

                                 Último discurso de Martin Luther King. Dê uma espiada

Para se chegar até o topo da montanha, é necessário um tremendo esforço físico, mental e emocional que poucos seres têm a proeza de conseguir. Acredito que Lázaro Ramos deva ter se desgastado muito, com direito a insônias, incertezas, inseguranças, para poder se doar de tal modo a ponto de fazer doer nosso corpo, nossa mente e nossa alma. Imagino ele, como ator, ter se despojado ao máximo para (tentar) chegar a uma perfeição em sua composição e com uma finalidade: que o público saísse afetado pela perturbação levemente imposta de sua interpretação como Martin Luther King. Todo esse caldeirão de tópicos de ideias vem reforçar que além de atuar, Lázaro também dirige a peça. Todo esse excesso de drama carregado nesse parágrafo não é em vão. E a entrada de Taís na peça é a mola propulsora para Lázaro mostrar porque ele é um dos grandes jovens promissores atores de sua geração. Por um ato reflexo rápido de meu cérebro, me veio à mente sua atuação visceral na peça “A máquina”, junto com Wagner Moura e Vladmir Brichta. E sua composição para “Madame Satã” no cinema é soberba. Mas a grandiosidade de sua atuação como o utópico e conflituoso Luther King tem o mérito de Taís, como a camareira do hotel. Ela, aliás, tem grande responsabilidade em trazer o público para a história, criando um clima de intimidade com a plateia com humor rápido em textos curtos. Ela realmente me fez rir em momentos para amenizar a tensão. Neste caso, era totalmente justificável. Tanto no início como no fim, há uma bela projeção visual contextualizando grandes ícones negros e seu papel social na história. Foi realmente emocionante.

Terminada a terapia lacaniana na qual assistimos, fomos comer no Babbo Giovanni. Tinha pensado a princípio de levar Nel ao Prima Donna, mas quando chegamos lá, o garçom nos informou que o restaurante “iria fechar cedo, para dedetizar”. Quer dizer, em pleno sábado onde as pessoas costumam sair de seus casulos para pegar uma cor, eles decidem fechar mais cedo? Ele precisam de uma consultoria de gestão de negócios urgente. Chegamos no Babbo e aquele clima de “festa de criança na laje”. Entramos e vi que o ambiente tinha mudado drasticamente desde a última vez que passei por lá. Muito popularesco. Fora a cara de coveiros dos garçons, pareciam que estavam oferecendo buffet no velório. Mas abstraímos e pedimos uma pizza pois a peça nos desgastou e precisávamos repor as energias. Nelson estava incomodado com uma dor que ele sentiu 3 dias antes de voltar para o Brasil. Ele me disse que era consequencia de uma catapora que contraíra, quando criança. Na saída da pizzaria, olhei para uma branquela gorda que estava ao telefone. Acho que ela costuma me atender quando ligo para pedir delivery. Ela me cantou quando fiz um pedido delivery, perguntando se eu não queria "companhia" e eu disse automaticamente “Você quer que eu vomite”? (risos). Nelson me deixou em casa. Aproveitei a madrugada para ler.