Depois da caminhada durante à tarde e um jantar regado a um bom vinho, achei que teria uma
inana preguiça, mas continuei animado e resolvi pegar um cine. Só tinha duas
opções no horário e eu acabei escolhendo Birdman.
Após o término do filme, me
conscientizei de uma coisa: de que devia ter guardado mais energia e disposição
para assisti-lo. O culto à decadência. A fotografia me fez ter a sensação de
asco do ambiente da trama: um teatro da Broadway, marcando o retorno de uma "celebridade". Lembrem-se dessa palavra quando for assistir, na cena em que o
protagonista - ou seria antagonista? se degladia com a crítica de
teatro em um pub. Ela é uma espécie de Bárbara Heliodora com botox e respirando o 1º Mundo. Gostei
muito da “sensação” de ver o desenrolar da trama, tudo num lindo plano
sequencia. Mas há um truque de efeito que nos faz pensar que é plano sequencia
e, na verdade, não é (ou eu estou louco?). Eu confesso ter ficado com
uma certa tontura, pela forma que a câmera se deslizava no sair de um
personagem para entrada de outro. Garanto que Michael Keaton será lembrado por
um filme de verdade. E não com
aquelas bobeiras de Bettlejuice e Batman. Foi o Batman mais
sem testosterona que presenciei. Até Adam West (risos) coloca esse franguinho
no bolso. Aliás, o crédito de ter assistido esse bom filme é primeiramente do diretor, o visceral Alejandro
Iñarratu. Quer ver o que o bonito já fez? Espia:
Trailer do filme 21 gramas
Se ainda não viu, aproveite a dica. Se joga, Ariclê!
Voltando ao diretor, ele
conseguiu retirar do elenco toda uma angústia necessária para eles exorcizarem
seus anjos. Os demônios foram essenciais para compor a corrosão necessária aos
atores com suas técnicas de relevância. Stanislavski que o diga. Eu vi angústia na fotografia. Naomi Watts
foi um elixir. Apesar do pouco destaque da personagem no filme, ela consegue
ter seu momento de arrebatamento. Prestem atenção numa cena em que ela
contracena com Edward Norton, em um ensaio aberto que acontece antes do dia da
estréia. A “deixa” é a ereção do personagem do Norton. Naomi passeia com
destreza em suas nuances. Consegue o ponto exato de interpretação nas alterações de humor da moça. Ela foi soberba. E a forma
bem trabalhada de Michael trabalhar seu tormento com seu alter ego, o super-heroi
Birdman. O diretor soube mesclar momentos de fantasia da Disney com a amargura de Magnólia. Ele soube dar chance para todos
brilharem. Emma Stone está ótima como a filha, que também é assistente de seu
pai, vivido por Keaton. Bem afiada no humor ardiloso. Norton mostra que
realmente é um dos melhores de sua geração. Aliás, o Oscar está bem mais
disputado na categoria de ator e ator coadjuvante, feito quase inédito na
história da Academia. Norton, Keaton e Emma mereceram a indicação. E Iñarritu,
por enquanto, estou torcendo por você.