quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015


Depois da caminhada durante à tarde e um jantar regado a um bom vinho, achei que teria uma inana preguiça, mas continuei animado e resolvi pegar um cine. Só tinha duas opções no horário e eu acabei escolhendo Birdman.



Após o término do filme, me conscientizei de uma coisa: de que devia ter guardado mais energia e disposição para assisti-lo. O culto à decadência. A fotografia me fez ter a sensação de asco do ambiente da trama: um teatro da Broadway, marcando o retorno de uma "celebridade". Lembrem-se dessa palavra quando for assistir, na cena em que o protagonista - ou seria antagonista?  se degladia com a crítica de teatro em um pub. Ela é uma espécie de Bárbara Heliodora com botox e respirando o 1º Mundo. Gostei muito da “sensação” de ver o desenrolar da trama, tudo num lindo plano sequencia. Mas há um truque de efeito que nos faz pensar que é plano sequencia e, na verdade, não é (ou eu estou louco?). Eu confesso ter ficado com uma certa tontura, pela forma que a câmera se deslizava no sair de um personagem para entrada de outro. Garanto que Michael Keaton será lembrado por um filme de verdade. E não com aquelas bobeiras de Bettlejuice e Batman. Foi o Batman mais sem testosterona que presenciei. Até Adam West (risos) coloca esse franguinho no bolso. Aliás, o crédito de ter assistido esse bom filme é primeiramente do diretor, o visceral Alejandro Iñarratu. Quer ver o que o bonito já fez? Espia:

                                          Trailer do filme 21 gramas

Se ainda não viu, aproveite a dica. Se joga, Ariclê!

Voltando ao diretor, ele conseguiu retirar do elenco toda uma angústia necessária para eles exorcizarem seus anjos. Os demônios foram essenciais para compor a corrosão necessária aos atores com suas técnicas de relevância. Stanislavski que o diga. Eu vi angústia na fotografia. Naomi Watts foi um elixir. Apesar do pouco destaque da personagem no filme, ela consegue ter seu momento de arrebatamento. Prestem atenção numa cena em que ela contracena com Edward Norton, em um ensaio aberto que acontece antes do dia da estréia. A “deixa” é a ereção do personagem do Norton. Naomi passeia com destreza em suas nuances. Consegue o ponto exato de interpretação nas alterações de humor da moça. Ela foi soberba. E a forma bem trabalhada de Michael trabalhar seu tormento com seu alter ego, o super-heroi Birdman. O diretor soube mesclar momentos de fantasia da Disney com a amargura de Magnólia. Ele soube dar chance para todos brilharem. Emma Stone está ótima como a filha, que também é assistente de seu pai, vivido por Keaton. Bem afiada no humor ardiloso. Norton mostra que realmente é um dos melhores de sua geração. Aliás, o Oscar está bem mais disputado na categoria de ator e ator coadjuvante, feito quase inédito na história da Academia. Norton, Keaton e Emma mereceram a indicação. E Iñarritu, por enquanto, estou torcendo por você.