E Maria Bethânia está com tudo e não está prosa. A Abelha
Rainha, que comemora 50 anos de carreira, fará shows em São Paulo. Um deles
será no Sesc Pinheiros a semana que vem. Serão 4 apresentações no Teatro Paulo
Autran. Programar um artista do porte de Bethânia, teve-se todo cuidado com a
venda de ingressos. Cientes da procura, o Sesc liberou uma semana antes, ou
seja, ontem, o sistema de ingressos pra
venda dos shows. Na correria, acabei me lembrando tardiamente da venda e fui
correndo, feito um dragão da Tasmânia, para comprar. Quando entrei no saguão da
Administração Central do Sesc, a fila tinha acabado e eu fiquei a ver navios.
Num estalo, vendeu-se tudo. Não sobrou uma sombra de lugar como fio de esperança.
Com Maria Bethânia é 8 ou 80. Quem ama, a idolatra. Quem
odeia, a trata como um boneco de vodu. Tenho amigos nas duas situações. Alguns
que a amam fazem declamações que beiram o insuportável. Já ouvi dizeres do tipo
“ela é tão maravilhosa, tão mesopotâmica”! Fazer uma relação da artista com um
dos berços da civilização é para poucos. Mas o que me diverte são os
comentários maldosos dos que a detestam. Dizem que ela tem o pé cascudo
(risos), que ela deve entrar pro Guiness como a artista com mais tipos de
piolhos no cabelo, tamanha é a quantidade de cabelo que ela tem. Já falaram que
o cabelo dela parece fio de alumínio. E Bethânia é pura lenda urbana. Os pitis
que ela dá no palco se tornaram sucesso na internet.
A última vez, pelo que me lembro, que a cantora fez show
no Sesc foi em 1999, no Sesc Pompeia. Dizem as más línguas que a caminho do
Teatro do Sesc, ela infernizou o motorista para que ele não passasse próximo ao
cemitério. Dando asas à imaginação dessa possível lenda urbana, o motorista não
só passou próximo, como passou em frente a um. Acho que Bethânia nesse momento
devia estar fazendo escova em sua cabeleira (risos) e não se atentou a isso.
Durante o show, a cantora estava super à vontade, passeando como sempre na
ponta dos pés, feito Nureyev, quando de repente ela tombou no palco. O acidente
foi rápido, pois a artista deu uma cambalhota e voltou a ficar em pé e
cantarolando com cara de paisagem, como se nada tivesse acontecido (risos).
Ritualística como ninguém, ela se recusa até hoje a pisar no palco do Sesc
Pompeia. Um colega meu do Sesc Belenzinho me informou que ela praticamente
tinha fechado o show pela zona leste, quando ela descobriu que atrás do Sesc Belenzinho
tem....bingo, o cemitério da Quarta Parada. Respiratória (risos). E ela
declinou o convite.
Sou suspeito para falar dela. Minha primeira referência
da Abelha Rainha foi em um programa infantil produzido pela Globo nos anos 80,
chamado Plunct Plact Zumm. Ela aparecia no programa como uma entidade, vestida
toda de branca, cantando uma música que se tornou um clássico e toda a vez que
ouço, reverbera em minha memória afetiva bons momentos de minha infância. Eu me
lembro que ela me dava um pouco de medo (risos) quando a via em algum programa
de televisão. Tinha a sensação de que ela era intocável, que poucos apenas
conseguiam chegar perto dela. Com o gosto pela música clássica, depois o jazz
e o rock na minha pré-adolescência, a MPB ficou um pouco de lado de minha audição. Só fui resgatar os
discos de Bethânia no meio dos anos 90, quando saíamos eu, Eliane e meu finado
e amado amigo Valmir – Mima, para os íntimos, de carro pelas adjacências de
Ribeirão, escutando numa fita cassete (sim, ainda existia nessa época) as
canções do disco “Âmbar” e “Imitação da Vida” . O melhor eram as performances
que fazíamos a cada canção, lindamente interpretada por ela.
Tive o privilégio de assistir mais de uma vez o show
dessa grande artista da música brasileira. Tudo em Bethânia se transforam em
Arte. Até o seu temperamento iansãniano (risos). Para os que apreciam um show
bem produzido, tem a obrigação de assistir um show dela. Àqueles que
conseguiram o ingresso, ficarei aqui, com a minha inveja cazuziana, torcendo
para que vocês consigam entrar nesse universo tão particular, tão intenso de
Maria Bethânia. É pra lavar a alma de qualquer um.