quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


Abrindo uma exceção à regra, tive uma companhia no sábado de carnaval para perambular pela cidade em busca de um atrativo cultural. Não que eu não goste de uma companhia para ir ao cinema, ou teatro, mas tenho adorado curtir a solitude. De vez em quando é saudável ficarmos no nosso mundo, sem a necessidade de  compartilhar algo com alguém. Não é egoísmo e, sim, estado de espírito. Minha mãe veio para São Paulo ficar uns dias e quis me ver. Sugeri de nos encontrarmos no último sábado e marcamos horário para darmos start no nosso roteiro. Depois que nos falamos, fiquei me perguntando se teria paciência de andar com ela. Será que deveria aumentar a dose do floral?

O resultado foi mais agradável do que eu esperava. Foi um belo tapa na minha face. Minha mãe chegou pontualmente às 11 horas, conforme combinado. Estava terminando de preparar meu café da manhã. Ela perguntou o que eu estava preparando, pois o cheiro estava ótimo. Fiz ovos mexidos, com tomate, azeitona, cebola, manjericão, orégano, queijo ralado e quase nada de sal. Preparei o centro de mesa para colocar o ovo mexido, junto com as torradas. Ficamos proseando um pouco. Minha mãe estava com um vestido bem pop, alegre, festivo. Bem moderno, eu diria. 
Começamos a “bater salto” pegando um táxi com destino à FAAP. Dei algumas sugestões e ela escolheu ver “Retratos da Brasilidade”, na FAAP. Continuamos o gancho da conversa em casa. O taxista achou gentil de minha parte levar minha mãe para passear. Assim que descemos, para entrar na FAAP agradeci o elogio, que me respondeu com um belo sorriso. Pena que ele era banguelo de dois dentes.


Entramos e mostrei à minha mãe algumas obras expostas nos vitrais do saguão do Museu. Fomos orientados pela guia de deixarmos nossas bolsas no guarda volume. Minha mãe começou a fazer perguntas para a moça que estava no guarda volumes e percebi que ela não respondia nada. Ela começou a fazer alguns acenos e aí eu saquei que ela realmente não iria falar. Era uma atendente muda (risos). Guardamos as bolsas e fomos degustar a exposição.


Quando iniciamos nossa caminhada pela exposição, dei uma olhada dinâmica no espaço com as obras e me deparei na riqueza que a nossa cultura possui. Ou a riqueza de recursos que temos para atiçar a capacidade de criação dos artistas empenhados em mostrar essa multiculturalidade. Minha admiração foi mais com as pinturas geradas pela percepção de artistas estrangeiros, que vieram à convite do Brasil Império para diluir em sua criatividade artística a visão deles a respeito do País. Minha mãe ficou maravilhada de ver a precisão e os detalhes da flora, da fauna e da cultura popular, ilustradas como um belo recheio, nas gravuras de Johann Moritz Rugendas; nas telas de Lasar Segall e Emilio Di Cavalcanti; nas fotos emblemáticas de Pierre Verger. O que eu achei genial foi ver minha mãe analisando as diferentes formas de pintura. Mesmo tendo apenas a educação básica, ela demonstrou ter muita sensibilidade e com o pouco de informação que adquiriu, conseguiu decodificar as diversas maneiras de pinturas existentes na exposição. O que confirma minha teoria que a Arte é para todos. Você não precisa ser Phd em pintura. Precisa estar disposto a colocar a sua sensibilidade para trabalhar.


Da FAAP, fomos para a Avenida Paulista, assistir O Jogo da Imitação. Um filme de suspense baseado em fatos reais. A história retrata o período da 2ª Guerra Mundial, no momento em que os alemães estão no controle da situação. Com a desvantagem, os britânicos decidem montar uma equipe com a responsabilidade de desmembrar o Enigma, o famoso código que os alemães usam para enviar mensagens aos seus campos de ataque. Dentro dessa equipe está o matemático Alan Turing, um rapaz extremamente calculista e focado. No decorrer da história, você vai acompanhando todo o processo de destrinchar o sistema alemão, achando que esse é o único assunto a ser tratado no filme até que o filme começa também a compartilhar sobre a vida pessoal de Alan, que acaba se transformando numa trama paralela, junto com o processo de decodificação da máquina alemã. A partir do instante que ambas as tramas ficam atreladas no filme, comecei a ficar sem chão, pois comecei a achar, de forma intuitiva, que uma das histórias não teriam finais felizes. O roteiro foi pontual em saber trabalhar de forma impecável nas duas histórias, o que, a meu ver, é um risco. Benedict Cumberbatch está soberbo na construção do personagem Alan. Dos indicados ao Oscar, foi o personagem que mais quis me solidarizar. E graças a sua esplêndida atuação. Foi um filme doído de se ver. Quis chorar muito. Até gostaria de falar mais sobre o enredo, mas estragaria a surpresa do desfecho final. Para os desavisados, é bom levar um lenço Kleenex. Vocês vão precisar.

Saímos da sala de cinema. Mesmo sem chão, decidi não demonstrar a forma que o filme me deixou. Precisava respirar e jogar conversa fora. E nada mais propício irmos degustar um belo galeto, regado a um bom Pinot Noir. 


Informações sobre a exposição Retratos da Brasilidade, é só acessar: http://www.faap.br/hotsites/retratos_da_brasilidade/