Por mais cafona que seja, é sempre bom assistir a
cerimônia do Oscar. Me programei para não perder esse espetáculo. Pode criticar
o que for dos Estados Unidos, mas em matéria de entretenimento, eles são hours-concours. Tudo preparado para ver o
show business da sétima arte: banho tomado, comida pedida por delivery, recados
para ninguém me atrapalhar durante a premiação. E as mídias sociais a postos para
os comentários.
E a diversão já começou no tapete vermelho. Bennedict
Cumberbatch estava usando smoking branco, fugindo à regra do preto básico, mas se eu trombasse
com ele na festa iria achar que era o copeiro; David Oielowo, injustiçado por
não concorrer por sua atuação em Selma, foi o mais ousado com um terno incrível num tom sutil de vermelho; a Marion Cottilard estava ótima vestida, super original com
seu vestido de plástico bolha (risos); Lupita Nyong'o simplesmente soberba com
seu vestido bordado com apenas 6 mil pérolas. E olha a surpresa boa: foi
confeccionado por um brasileiro, o mineiro Francisco Costa. Ele já foi
assistente de Tom Ford na Gucci. Perguntada se as pérolas criavam incômodo no
vestido, a atriz disse que a roupa era super confortável. Com 6 mil perólas,
até eu faria ficar confortável. É o sacrifício pelo mundo fashion. E por mais
esquisita que ela sempre quer ser, não entendi o conceito da roupa usada por
Lady Gaga. Numa primeira impressão, achei que estava (risos) vestida de
jardineira, por causa das luvas que ela usou como acessório. Mas durante sua
entrevista no tapete vermelho, cheguei a conclusão de que sua vestimenta foi
feita para homenagear as confeiteiras de bolo. Teve um momento saia justa no
tapete. Uma atriz de tv – a protagonista da série Scandal que eu não sei o nome,
foi cumprimentar a repórter que estava fazendo a cobertura do Oscar. Na
verdade, ela queria era aparecer mesmo. A repórter deu uma olhada incineradora,
pediu licença dizendo que conversaria com ela depois pois precisava andar pelo tapete para entrevistar outras celebridades, ou seja:
queria falar com pessoas mais interessantes de se ver (risos).
Neil Patrick Harris conduziu de forma linear a
cerimônia. O que significa que não houve deslize. Ele era protagonista da série
“How i met your mother”. É uma série que fez sucesso na tv norte-americana. Tão
interessante que eu nem perdi meu tempo em assistir. Abriu fazendo um número
musical e não fez feio. Fez umas tiradas interessantes, principalmente
enaltecendo os injustiçados do Oscar. Em um dos momentos de descontração, o
mestre de cerimônia foi até a plateia e aproveitou para conversar com David
Oielowo. Elogiou seu terno e todo mundo aplaudiu. Aí (risos) ele disse: “Agora
vocês gostam dele, né?” Em outro momento, em que duas mulheres ganharam o Oscar
– e eu não me lembro em qual categoria, ele disparou sobre o vestido de uma
delas: “Tem que ter coragem pra usar”.
Os números musicais não fizeram diferença na premiação.
Adam Levine, do Marron 5 cantou de forma sofrível em seu número musical. Ele já
tem uma voz tão mínima. Ver sua performance só me fez reforçar que ele é apenas
um guapo interessante. Desafinou
demais. Ele é do tipo de cantor que é melhor ouvir na tecla “mute”. A
performance de John Legend com Common, que deu a eles o troféu consolação de
melhor canção por Selma, foi comovente. Uma apresentação digna de levar o
prêmio. Mas sem dúvida nenhuma Lady Gaga roubou a cena. Ela interpretou
clássicos do filme Noviça rebelde, que comemora 50 anos de idade. Para aqueles
que tinham dúvida sobre o talento de Gaga, podem dar o braço a torcer. Elas
mostrou técnica e personalidade em sua performance. Cantou com uma emoção
ímpar. Eu fiquei impressionado. Com essa interpretação, Gaga mostrou sua
evolução no meio musical. Foi ovacionada em pé por todos. E pra coroar de vez,
Julie Andrews entrou no palco após a apresentação, muito emocionada, e
agradeceu pela sua tocante interpretação. Vendo a cantora se apresentando, me
deu até vontade de rever o filme. E olha que eu detesto Noviça Rebelde. E que tipo de argamassa colocaram na cara do
John Travolta no palco? Eu fiquei bem assustado em vê-lo (risos).
Fazendo um gancho com som, vale registrar que a
transmissão da Globo era horrível. A imagem estava péssima, comprimida demais.
E o aúdio estarrecedor. Fiquei vendo na TNT, apesar da falta de traquejo da
Domingas Person em falar de cinema. Titubeava demais. Não sei se ela ficou
nervosa em comentar sobre o Oscar ao lado do Rubens Ewald Filho. Agora, o
mínimo que se espera de um crítico de cinema é que ele esteja afiado em falar
sobre todos os envolvidos na disputa pela estatueta. E Rubens não viu vários
filmes que concorriam. Ele tinha a obrigação de assistir. Fora os comentários
preguiçosos, sem embasamento algum em suas análises.
Sobre a premiação: torcia para o Edward Norton ganhar a
estatueta em vez de J.K.Simmons (minha opinião a respeito de Whiplash? É só clicar http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/acordei-no-ultimo-domingo-e-ja.html ). Achei o papel de Norton mais difícil, mais
delicado na composição do personagem; Simmons fez uma boa atuação, mas com um
texto tão cheio de clichê. E não acho que teve tanto esforço; Patrícia Arquette
merecidamente conquistou a estatueta de melhor atriz coadjuvante. Nas boas
surpresas, O Jogo da imitação ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Para
quem não viu, aproveite que está em cartaz (quer que eu te convença a ver? Dê uma lida sobre minha opinião a respeito do filme - http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/abrindo-uma-excecao-regra-tive-uma.html). É uma trama muito bem costurada.
Você entra achando que já sabe o desfecho, até porque é baseado em fato real,
mas no decorrer você descobre que há uma outra trama, que começa a correr na
paralela e vai descobrindo aos poucos que elas se “encontram” no final do
filme. Mérito total do roteiro; Ida foi outra bela supresa, ganhando o Oscar de
Melhor Filme Estrangeiro. É um filme bem doído de se ver, tanto na trama como no
formato “quadrado” bem claustrofóbico utilizado pelo diretor na exibição do filme
na tela, potencializando uma situação desconfortável no espectador.
Gostei dos 4 prêmios dado a Grande Hotel Budapeste, nas categorias
técnicas; Julianne Moore, até que enfim, foi reconhecida como a melhor atriz. O
filme dela ainda não estreou por aqui, mas pelo conjunto da obra, com 5
indicações no currículo, já estava mais do que na hora; e com toda a expectativa
que estava em ver Michael Keaton ganhar seu troféu, o Oscar de Melhor Ator – na
minha a opinião, a categoria mais concorrida, foi parar nas mãos de Eddie
Redmayne. A Teoria de Tudo é um novelão bem feito. E só. Achei a interpretação
desse menino um tremendo blefe. Só porque ele interpretou um tortinho? (risos).
Postei minha indignação pelo seu prêmio. Betina concordou e escreveu; Trukiii
(risos). Mauro escreveu que achou um “puta trabalho”. E eu complementei:
trabalho de conclusão de curso de graduação, né (risos)?
Apesar do desrespeito a Keaton, Birdman se consagrou: Melhor
Fotografia (aquele clima sombrio fantástico, na criação de um ambiente de
desolação); Melhor Roteiro Original (uma bela sacada no culto à decadência); Melhor
Diretor para o talentoso Alejandro Iñarritu, que teve a proeza de me fazer
sequer piscar na condução da trama; e com todo esse conjunto mais a ousadia criada
na construção narrativa, Birdman levou o Oscar de Melhor Filme (também escrevi a respeito de Birdman, dê uma olhada: http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/depois-da-caminhada-durante-tarde-e-um.html).
Final de premiação e minhas pálpebras caindo. O glamour
ideal do fim de domingo sai de cena para a entrada da vida real. Mas nada que
uma boa dose cavalar de Floral não ajude a colorir o cinza da vida moderna. And
the Oscar goes to...bed!.