segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015




Por mais cafona que seja, é sempre bom assistir a cerimônia do Oscar. Me programei para não perder esse espetáculo. Pode criticar o que for dos Estados Unidos, mas em matéria de entretenimento, eles são hours-concours. Tudo preparado para ver o show business da sétima arte: banho tomado, comida pedida por delivery, recados para ninguém me atrapalhar durante a premiação. E as mídias sociais a postos para os comentários.

E a diversão já começou no tapete vermelho. Bennedict Cumberbatch estava usando smoking branco, fugindo à regra do preto básico, mas se eu trombasse com ele na festa iria achar que era o copeiro; David Oielowo, injustiçado por não concorrer por sua atuação em Selma, foi o mais ousado com um terno incrível num tom sutil de vermelho; a Marion Cottilard estava ótima vestida, super original com seu vestido de plástico bolha (risos); Lupita Nyong'o simplesmente soberba com seu vestido bordado com apenas 6 mil pérolas. E olha a surpresa boa: foi confeccionado por um brasileiro, o mineiro Francisco Costa. Ele já foi assistente de Tom Ford na Gucci. Perguntada se as pérolas criavam incômodo no vestido, a atriz disse que a roupa era super confortável. Com 6 mil perólas, até eu faria ficar confortável. É o sacrifício pelo mundo fashion. E por mais esquisita que ela sempre quer ser, não entendi o conceito da roupa usada por Lady Gaga. Numa primeira impressão, achei que estava (risos) vestida de jardineira, por causa das luvas que ela usou como acessório. Mas durante sua entrevista no tapete vermelho, cheguei a conclusão de que sua vestimenta foi feita para homenagear as confeiteiras de bolo. Teve um momento saia justa no tapete. Uma atriz de tv – a protagonista da série Scandal que eu não sei o nome, foi cumprimentar a repórter que estava fazendo a cobertura do Oscar. Na verdade, ela queria era aparecer mesmo. A repórter deu uma olhada incineradora, pediu licença dizendo que conversaria com ela depois pois precisava andar pelo tapete para entrevistar outras celebridades, ou seja: queria falar com pessoas mais interessantes de se ver (risos).


Neil Patrick Harris conduziu de forma linear a cerimônia. O que significa que não houve deslize. Ele era protagonista da série “How i met your mother”. É uma série que fez sucesso na tv norte-americana. Tão interessante que eu nem perdi meu tempo em assistir. Abriu fazendo um número musical e não fez feio. Fez umas tiradas interessantes, principalmente enaltecendo os injustiçados do Oscar. Em um dos momentos de descontração, o mestre de cerimônia foi até a plateia e aproveitou para conversar com David Oielowo. Elogiou seu terno e todo mundo aplaudiu. Aí (risos) ele disse: “Agora vocês gostam dele, né?” Em outro momento, em que duas mulheres ganharam o Oscar – e eu não me lembro em qual categoria, ele disparou sobre o vestido de uma delas: “Tem que ter coragem pra usar”.


Os números musicais não fizeram diferença na premiação. Adam Levine, do Marron 5 cantou de forma sofrível em seu número musical. Ele já tem uma voz tão mínima. Ver sua performance só me fez reforçar que ele é apenas um guapo interessante. Desafinou demais. Ele é do tipo de cantor que é melhor ouvir na tecla “mute”. A performance de John Legend com Common, que deu a eles o troféu consolação de melhor canção por Selma, foi comovente. Uma apresentação digna de levar o prêmio. Mas sem dúvida nenhuma Lady Gaga roubou a cena. Ela interpretou clássicos do filme Noviça rebelde, que comemora 50 anos de idade. Para aqueles que tinham dúvida sobre o talento de Gaga, podem dar o braço a torcer. Elas mostrou técnica e personalidade em sua performance. Cantou com uma emoção ímpar. Eu fiquei impressionado. Com essa interpretação, Gaga mostrou sua evolução no meio musical. Foi ovacionada em pé por todos. E pra coroar de vez, Julie Andrews entrou no palco após a apresentação, muito emocionada, e agradeceu pela sua tocante interpretação. Vendo a cantora se apresentando, me deu até vontade de rever o filme. E olha que eu detesto Noviça Rebelde.  E que tipo de argamassa colocaram na cara do John Travolta no palco? Eu fiquei bem assustado em vê-lo (risos).


Fazendo um gancho com som, vale registrar que a transmissão da Globo era horrível. A imagem estava péssima, comprimida demais. E o aúdio estarrecedor. Fiquei vendo na TNT, apesar da falta de traquejo da Domingas Person em falar de cinema. Titubeava demais. Não sei se ela ficou nervosa em comentar sobre o Oscar ao lado do Rubens Ewald Filho. Agora, o mínimo que se espera de um crítico de cinema é que ele esteja afiado em falar sobre todos os envolvidos na disputa pela estatueta. E Rubens não viu vários filmes que concorriam. Ele tinha a obrigação de assistir. Fora os comentários preguiçosos, sem embasamento algum em suas análises.

Sobre a premiação: torcia para o Edward Norton ganhar a estatueta em vez de J.K.Simmons (minha opinião a respeito de Whiplash? É só clicar http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/acordei-no-ultimo-domingo-e-ja.html ). Achei o papel de Norton mais difícil, mais delicado na composição do personagem; Simmons fez uma boa atuação, mas com um texto tão cheio de clichê. E não acho que teve tanto esforço; Patrícia Arquette merecidamente conquistou a estatueta de melhor atriz coadjuvante. Nas boas surpresas, O Jogo da imitação ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Para quem não viu, aproveite que está em cartaz (quer que eu te convença a ver? Dê uma lida sobre minha opinião a respeito do filme - http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/abrindo-uma-excecao-regra-tive-uma.html). É uma trama muito bem costurada. Você entra achando que já sabe o desfecho, até porque é baseado em fato real, mas no decorrer você descobre que há uma outra trama, que começa a correr na paralela e vai descobrindo aos poucos que elas se “encontram” no final do filme. Mérito total do roteiro; Ida foi outra bela supresa, ganhando o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. É um filme bem doído de se ver, tanto na trama como no formato “quadrado” bem claustrofóbico utilizado pelo diretor na exibição do filme na tela, potencializando uma situação desconfortável no espectador.

Gostei dos 4 prêmios dado a Grande Hotel Budapeste, nas categorias técnicas; Julianne Moore, até que enfim, foi reconhecida como a melhor atriz. O filme dela ainda não estreou por aqui, mas pelo conjunto da obra, com 5 indicações no currículo, já estava mais do que na hora; e com toda a expectativa que estava em ver Michael Keaton ganhar seu troféu, o Oscar de Melhor Ator – na minha a opinião, a categoria mais concorrida, foi parar nas mãos de Eddie Redmayne. A Teoria de Tudo é um novelão bem feito. E só. Achei a interpretação desse menino um tremendo blefe. Só porque ele interpretou um tortinho? (risos). Postei minha indignação pelo seu prêmio. Betina concordou e escreveu; Trukiii (risos). Mauro escreveu que achou um “puta trabalho”. E eu complementei: trabalho de conclusão de curso de graduação, né (risos)?


Apesar do desrespeito a Keaton, Birdman se consagrou: Melhor Fotografia (aquele clima sombrio fantástico, na criação de um ambiente de desolação); Melhor Roteiro Original (uma bela sacada no culto à decadência); Melhor Diretor para o talentoso Alejandro Iñarritu, que teve a proeza de me fazer sequer piscar na condução da trama; e com todo esse conjunto mais a ousadia criada na construção narrativa, Birdman levou o Oscar de Melhor Filme (também escrevi a respeito de Birdman, dê uma olhada: http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/depois-da-caminhada-durante-tarde-e-um.html).

Final de premiação e minhas pálpebras caindo. O glamour ideal do fim de domingo sai de cena para a entrada da vida real. Mas nada que uma boa dose cavalar de Floral não ajude a colorir o cinza da vida moderna. And the Oscar goes to...bed!.