quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015



Recebi algumas mensagens, a respeito do texto que escrevi da cerimônia do Oscar (se ainda não leu, é só clicar http://omundodelira.blogspot.com.br/2015/02/por-mais-cafona-que-seja-e-sempre-bom.html) indagando que eu não comentei nada a respeito da performance da atriz e cantora Jennifer Hudson em sua apresentação, fazendo uma homenagem àqueles que faleceram em 2014. Aí lembrei que durante o Oscar eu fiquei deveras irritado com o seu número.  Não sei por que ainda a convidam para se apresentar. De que adianta ter a potência vocal que ela tem, mas não sabe usar? Ela carrega demais no vibrato. Tive que abaixar o som da tv durante sua apresentação. No velório show de Michael Jackson, ela interpretou a música “Will you be there” e foi um tremendo fiasco. Ela conseguiu tornar a música insuportável de se ouvir. É muito estridente. Quem sabe não utilizam a técnica vocal dela para outras finalidades. Acho que ela ganharia uma boa grana em patentear sua voz como sirene de ambulância do Samu (risos).

Saí correndo ontem do expediente de trabalho para o show de Bethânia, no Sesc Pinheiros. Combinei com Jorge de nos encontrarmos às 20h30. Mas com o dilúvio que deu ontem a cidade, pra variar, mais uma vez fica refém da chuva, sem estrutura para suportar os estragos ocorridos na Pauliceia. O metrô funcionava com velocidade reduzida e pra ajudar o tempo de parada nas estações era maior. O maquinista dizia que “por questões de segurança pública (??) na estação Palmeiras Barra Funda”, o tempo de parada nas estações era maior. Pronto. Com a ansiedade corroendo em chegar a tempo, tentei me entreter com o 3G da Claro. Só que não funcionava. A partir da Sé, o metrô se normalizou e consegui chegar na linha amarela no tempo hábil para não me atrasar para o show.

Chegada no Sesc Pinheiros, fui pegar meus convites. Jorge já estava me aguardando. Ficamos num lugar bem bacana. Encontrei alguns colegas queridos, fiz um flash com eles e entrei no Teatro. Comecei um tricô básico com Jorge, que não via há tempos. Aliás, ficar num hiato sem ver os amigos é bastante saudável para amadurecer a relação.


As luzes se apagam após a gravação sobre as normas de segurança terminar. Dois músicos já estavam prontos no palco para recepcionar a Abelha Rainha. E alguns ilustres compondo a bancada de convidados para o evento. E quando se anuncia o show, Bethânia entra com seu terno branco, sua calça em tom púrpura e seus óculos para brincar com as palavras. Um colega que trabalha no Sesc Pinheiros me disse que ela pediu para colocar em seu camarim só móveis brancos. Apesar das apresentações acontecerem até domingo, ela não faz show nas sextas. É Bethânia em seu ritual exponencial.    


Para aqueles que procuraram um show para assistir, estejam preparados. O evento “Bethânia e as Palavras” nada mais é do que uma imersão da artista na literatura. Ela reverenciou seus grandes mestres através das declamações poéticas, escolhidas a dedo pela cantora. Entre uma poesia e outra, a narrativa era costurada por trechos de algumas canções.  Para mim, o projeto não passou de uma colcha de retalhos, onde Bethânia pincelou fragmentos de seus shows anteriores e condensou em um único evento. Não teve nada de ineditismo. Teve algumas escorregadas dos músicos que acompanhavam a baiana: entre um acorde e outro desafinado, Bethânia simplesmente dava uma olhada de quina, mas continuava o espetáculo. Fiquei pensando se ela daria algum piti, mas foi super tranquilo. Quando os músicos passeavam pelas notas musicais com mais empolgação, Bethânia apenas levantava a mão para eles abaixarem o volume. Por mais déjà vu que tenha sido, foi lindo ver a plateia toda saboreando o trovão que é a voz de Bethânia ecoar pelo Teatro.

No fim de sua apresentação, Bethânia agradeceu o público, se agaixou, deu duas batidas com a mão no palco e se retirou. O público foi todo abaixo, até a boca de cena do teatro aguardando a Abelha Rainha voltar. E Bethânia volta, agradecendo mais uma vez a todos que compareceram àquela conversa intimista. Como se não bastasse, uma beasha começou a gritar o nome dela, pedindo atenção. Ele gritava para ela realizar um sonho dele. Bethânia olhou para a criança em busca de luz na escuridão e com a mão na cintura perguntou: “Qual é o seu sonho, sonho meu (risos)”? E ele começou a falar seu nome – que era Josimar, o por quê dele ter tido esse nome e aí foi toda uma ladainha de Nossa Senhora das Drags. Tudo isso para dizer que ele queria tirar uma foto naquele momento. E Bethânia, numa sutileza herodiana disse: “você quer foto agora? Mas agora eu estou no palco!” Resumindo, pediu pra bee aguardar que ela tiraria foto com ele. Emendou “Reconvexo”, de Caetano e foi cumprimentar o público. Quando chegou em direção a Josimar, a beasha, muito afoita, já tirou a máquina para tirar a foto. E mais uma vez, Bethânia olhou fixamente para ele, estendeu sua mão e falou: “Como vai? Tudo bem?” (risos) Acho que a babanska freedom não se tocou que ela não foi educada com a cantora e que aquele não era o momento para tirar foto, como ela havia falado com ele. Mas ela aproveitou para pegar as flores brancas que a bee comprou pra ela. E como uma colombina contemporânea, lindamente se retirou.