Eventos políticos são sofríveis.
Simplesmente cansativos. Mas acho praticamente impossível você ficar
indiferente a todo o mise en scène em volta desse circo. Se bem que, quando você
está disposto a entrar em cena, se torna pura diversão. Fui na cerimônia de
abertura da SPCine, órgão municipal de fomento a projetos audiovisuais, que
aconteceu há alguns dias na Praça das Artes, região central de Sampa, próximo à
prefeitura. Quando cheguei, vi uma fila imensa para entrar. Por sorte conhecia
a assessora de imprensa do evento e ela me colocou pra dentro. Mérito da Jô,
assessora de imprensa que trabalha comigo na TV. Entramos, junto com meus dois
chefes. Quando entramos na sala, aquele jogo de confetes com tudo e todos.
Políticos importantes, cineastas, produtores e, sim, muitos chupa-cabras
desesperados atrás de patrocínio. Vi alguns queridos por lá: Tadeu Jungle deu
um oi e perguntou para meu gerente o que ele tinha achado da gravação do piloto
que ele fez. Tadeu está com um projeto sobre
e para velhos, na TV Cultura. Meu gerente disse que tinha gostado e fez
algumas observações; Tata Amaral estava lá, junto com sua filha Caru, que
dirigiu um filme incrível ano passado – De menor. Foi sua estreia como
cineasta. Mas no caso dela não quis fazer grandes elogios. Afinal, tem muito o que
aprender nessa vida cinematográfica.
A cerimônia atrasou pouco mais de
uma hora. Estava um calor dos horrores! As trombetas tocaram, ao som do mestre
de cerimônias. Todos os pavões estavam a postos: o atual secretário municipal
de cultura Nabil Bonduki teve a honra de abrir o cerimonial. Pra variar, como a maioria dos
políticos, não foi assertivo. Fez um discurso inflado, mas pensei que ele
poderia estar um pouco nervoso, por causa da atenção do público. Que estavam
(risos) se abanando com o que tivessem na mão e dando a mínima para sua fala;
em seguida o ex secretário municipal de cultura e agora presidente da SP Cine,
Alfredo Manevy. Ele cumprimentou a todos na mesa, mas achei que ele foi um
pouco indelicado com o secretário estadual de cultura, Marcelo Araújo. É que
após mencionar os colegas de partido que estavam na mesa, criou-se um hiato e
aí, sim, ele cumprimentou o colega secretário. E eu não conseguia me concentrar
no que ele falava. É que toda a vez que eu o vejo, eu penso na hora no Alceu
Valença (risos).
Aí o pavão-mor, Manoel Rangel,
diretor da Ancine, teve seu momento de obra iluminista e começou a discursar. Ele
discursava como se estivesse no exército. Era uma fala de imposição. Parecia
Herodes. Com o dedo em
riste. Que filme será que ele imaginou estar naquele momento?
The Godfather? Como ele falava tudo e não falava nada, comecei a me distrair.
Fiquei olhando para a cara dos outros componentes da abertura. O Marcelo Araújo
devia estar em Plutão (risos). Estava com uma cara blasé segurando o corpo.
Porque o espírito estava com certeza em outro espaço sideral (risos). Aí eu
mirei no rosto do Haddad. Cara de menino mimado que não queria estar ali. Ele é
realmente muito charmoso. Marcelo Araújo foi breve, suscinto e objetivo. É uma
pessoa muito culta. Gosto de sua gestão como secretário estadual de Cultura. Minha
amiga Bruna trabalhou com ele e disse que ele é uma pessoa muito íntegra. Observei que a organização do evento estava um
pouco porca. Bem porca, eu diria.
Eles colocaram um telão ao lado do palco para mostrar o vídeo de abertura da SP
Cine. Mas toda hora passava a sombra de alguém atrás da tela. São pequenos
deslizes como esse que fazem um belo estrago em solenidades como essa.
O ministro Juca Ferreira
prosseguiu no discurso, mas ele se movimentava demais. Ficava toda hora saindo
do microfone e eu não entendia direito o que ele falava. Fiquei novamente olhando pro Haddad. Era uma
forma de me refrescar com o caldeirão de enxofre que estava aquela sala. Por
fim, o prefeito falou sobre a SP Cine. Fez uma relação do nosso cinema com o
cinema indiano, no aspecto de que os indianos tiram “leite de pedra’ e com
pouco recurso – leia-se: dinheiro, conseguem produzir ótimos filmes. Esse "ótimos" é por conta do Haddad (risos). E eu
matutei em minha mente, pensando que realmente é um projeto bem bacana. Quem sabe não surjam propostas
interessantes para o cenário audiovisual paulistano. Até para fazer um
contraponto com empresas como a Globo Filmes, que despeja seu lixo tóxico
audiovisual com comédias chulas, tratando a gente como dementes.