Sábado,
24 de maio de 2014. Acordei com uma vontade de não querer sair
da cama. O frio, finalmente, chegou em Sampa, pra dar uma amenizada no clima
seco da cidade. Depois de uma eternidade pensando no roteiro do dia, pensei em
sair um pouco da dieta e me jogar numa bela feijoada. Quis escutar um disco num
volume bem alto e o escolhido foi Neil Young. É impressionante o quanto o tenho
escutado com mais frequência e o quanto tenho ficado mais fascinado pela obra
dele. Ao mesmo tempo, faço um autoflagelo, me questionando por que eu não o conheci
e o escutei há mais tempo e só agora – de 2 anos pra cá, tenho redescoberto
suas composições. Liguei para Clóvis, um amigo querido que não via há tempos.
Nosso último encontro tinha sido ano passado...numa feijoada. Também está
fazendo dieta, para continuar (parecendo) jovem. Combinamos de nos encontrar no
Chopp Escuro. Vi Clóvis e Angel aguardando uma mesa. O restaurante tem como
público habitual as bichas velhas que moram por perto. Era muita concentração
de naftalina por metro quadrado. Angel está com um bigode, agora. Disse a ele
que estava mais jovial. Ele disse que os amigos não gostaram, mas Clovis tinha
curtido. Então eu disse: fodam-se os amigos. Em meio a algumas batidas de
maracujá, que tomamos compulsivamente enquanto a feijoada – que demorou muito,
diga-se de passagem – não chegava, colocamos a prosa em dia. Angel comentou que
enquanto estavam aguardando do lado de fora uma mesa, três pedreiros – daqueles
bem rústicos – passaram pelo restaurante e um deles, olhando para meus amigos,
disse: “nossa, hoje está um dia perfeito para fazer um filho”. Gargalhei e
complementei que, se estivesse junto, diria: “me engravida!” (risos).
Me encontrei com Clau às 16h no metrô Faria Lima, para
vermos a exposição da Yayoy Kusama, no Tomie Ohtake. Precisava urgente de um
café expresso, mas ao redor da estação, não tinha opção de boas cafeterias.
Fomos na comedoria do Sesc Pinheiros. De lá, caminhamos ao Tomie. Estava cheio.
Bem cheio. Me deu um desânimo na hora que entrei. Mandei todos à merda,
mentalmente. Apesar do início de desânimo, acabamos vendo quase toda a
exposição. Tive até uma relativa felicidade de ver bastante gente por lá. Mas
pegamos fila em dois galpões onde se concentrava as obras de mais impacto da
Yayoy. Vendo sua obra, pensei o quanto Andy Warhol bebeu de sua fonte. Louca,
insana e genial. O que me chamou a atenção foi o fato dela ter ido
voluntariamente morar em um hospital psiquiátrico, desde 1977. Quero muito
voltar, para terminar de ver. Suas pinturas, feitas no pós-guerra, na década de
1940 são de arrepiar. Para passar o tempo na fila, ficamos tirando sarro de algumas
figuras que aguardavam também a entrada. Tinha um ser que era a cara daquele
produtor musical, o Carlos Eduardo Miranda. Numa tecla de repetição, comecei a
fazer uma versão de Ciranda, cirandinha, para Miranda, Mirandinha.
Cheguei em casa cansado. Tinha uma festa para ir na Blue
Velvet de uma colega de trabalho. Mas, fui informado que a festa tinha sido
transferida para outro lugar, bem mais longe. Pedi um sinal a Deus, se iria ou
não encarar o frio e o trânsito, e Ele me deu: estava passando o documentário
sobre os Titãs, no GNT. Na sequência, reprise de Downton Abbey – meu elixir
aúdiovisual, atualmente - que não tinha assistido na quinta passada. Aliás, um
breve parênteses: o mesmo documentário tinha passado na mesma semana, em outro
canal. Até a tv paga está sucumbindo a uma programação repetida. Há tempos.
Depois do episódio eletrizante, fui me jogar na obra de García Márquez, que
aliás, não paro de ler.