terça-feira, 27 de maio de 2014

Segunda-feira, 26 de maio de 2014. Acordei e fiquei olhando para o teto e me perguntando se de fato teria que ir trabalhar. Me lembrei que acabei não fazendo sexo com ninguém no fim de semana. Bela motivação para começar a segunda-feira nublada. Como ainda não vivo de renda, me levantei, coloquei Neil Young no meu set list, me montei e fui encarar a linha vermelha do metrô, em direção a Neverland, ou seja, zona leste da cidade. Comprei um novo Ipod. Sempre gosto de colocar no sistema randômico pra ver se o aparelho corresponde às minhas expectativas ou estado de espírito. Deu certo. Saí de casa ao som de “Midnight Lullabies”, do Tom Waits.



Cheguei no trabalho e vi uma foto minha, no facebook, que postei no sábado durante a exposição da Yayoy Kusama, ser bastante curtida e comentada pelos amigos. Isso me deixou feliz. Mas ficarei mais feliz ainda se as mais de 70 curtidas for prestigiar a exposição. Vendo as fotos que tirei da exposição no Tomie Ohtake, me lembrei de outra exposição que fui ver – Iberê Camargo, no CCBB. Realmente impressionante a amargura colocada pelo artista em suas obras, principalmente aquelas criadas no final dos anos 80 e começo dos anos 90. Saí tão atordoado que tive que trabalhar isso na minha terapia. Em uma de suas criações, ele nos provoca e faz um reflexão sobre todas os questionamentos que fazemos durante toda a vida, sem termos nenhuma resposta para nossas perguntas. É horrível sair com a sensação de que nossa vida é apenas um ponto de interrogação, sem nenhuma vírgula para ajudar. Almocei com Helô e comentei com ela que o garçom me dá um pouco de tesão. Detalhe: ele é, digamos,  feio. Mas simpático. Num rápido flash em minha cabeça, fiz um levantamento de quantas vezes fiz sexo por compaixão. Mas prefiro me abster em dar uma resposta (risos).
Depois de uma caminhada obtusa naquela região sofrível de se ver, que chamamos de Quarta Parada (meu complemento: respiratória), fomos tomar café na Margô. Estava passando Mudança de Hábito 2, com a Whoppi Goldberg. Acho filme dublado um porre. Mas pior que isso, foi assistir, no momento que uma dupla de rapazes-de-subúrbio-estudantes da escola que Whoopi – a freira disfarçada, ensina educação musical, eles começam a fazer um típico rap norte-americano. E a Globo DUBLOU o rap (risos malignos).   Nada melhor do quer rap norte-americano dublado, pra voltar ao expediente de trabalho.

 Fui resolver algumas coisas para não deixar para as meninas de minha equipe ter trabalho dobrado. Fiquei feliz com essa boa ação. E olha que nem tomei meu floral vespertino (risos). Como toda a segunda-feira que se preze – cinza, chata e o que é pior: extensa, fizemos uma reunião para definição de pautas para um evento de artes cênicas, que acontecerá em Santos, no mês de setembro. Ai, como o processo contínuo me cansa! Ter que ouvir a mesma pergunta, pela enésima vez, e dar a mesma resposta pela enésima vez.
Saí meia hora depois do expediente. Rogério já tinha me mandado vários whatsapps. Queria me encontrar em casa. Fui apressado para o metrô. Assim que desembarquei, caminhei até a padaria. Pedi dois pães para a atendente. Me atentei a uma torta muito bonita, onde eles cortam em forma de quadrado. Perguntei gentilmente o que tinha na torta e a cretina me  respondeu com aquele ar de que a resposta que ela ia dar já bastava: “frios”. Depois que a gente trata como uma reles serviçal, reclama. Então eu calmamente perguntei: "frios é uma resposta muito genérica, não acha darling? (me esqueci numa rápida fração de segundos que ela não saberia inglês). Pode ser queijo, pode ser presunto. Me diz o que tem?" Como desejei que ela fizesse companhia para as crianças escravas chinesas. A Zara deveria recrutar.







Cheguei no apartamento. Abri as correspondências. Só contas. Pedi um tempo para Rogério chegar, para tomar uma ducha. Cheguei bem cansado. Por mim, cancelaria a vinda dele, mas depois de ter dado um cano nele a semana passada toda, resolvi recebê-lo. Assim que chegou, vi os olhos vermelhos dele e perguntei se ele estava se divertindo no mundo de Alice (risos). Ele não entendeu absolutamente nada. (risos). Me mostrou seu capacete novo, estava muito feliz. Depois do “episódio a la Bruna Marquezine, em família”, foi tomar banho e ficou repetindo várias vezes que ele estava super-mega-hifi-plus-advantage feliz com o capacete novo, que ele comprara. Depois desse mantra anti-tântrico, me levantei rápido da cama e tratei de apressá-lo, dizendo que ele precisava acordar cedo na fábrica.   Dei uma entrada rápida  no face. Acabei encontrando, através da página de uma amiga, uma colega de faculdade, na qual não tinha mais notícias dela. A cara é a mesma, mas mais inchada. A idade nos trata como bolo de ceras. Me lembrei que ela era surda de um ouvido (risos). E eu, às vezes (foram poucas vezes mesmo), pra sacanear, falava com ela (risos) do lado do ouvido que ela não escutava, só para ouvir ela dizer: como? (risos).

Coloquei a torta numa travessa para esquentar. Liguei o forno e, depois de alguns minutos (acho que dez) escrevendo, me lembrei de não colocar a torta dentro do forno. Assim que ficou pronta, percebi em meu paladar que havia catupiry na torta. Aquela atendente não me falou.