quinta-feira, 17 de dezembro de 2015



Me recompondo, depois de um fim de semana moído. Fiquei sabendo, no sábado de manhã pelo Facebook que um querido tinha acabado de falecer. Fui mandando whatsapps para saber o que tinha acontecido. Só me restou ir prestar solidariedade ao marido. Combinei com Juçara de irmos juntos no velório. De tabela, descobri através de Keli, pelo whats, que uma colega de trabalho também tinha falecido. Há um ano e meio atrás. Tinha virado moradora de rua. Era tão inteligente. Tínhamos bons papos. Ela sofria de esquizofrenia. E quando ela surtava, ficava com a mesma cara que a Linda Blair fazia, em “O Exorcista”.


Com essas duas jacas caindo em minha cabeça, resolvi arejar a mente. Me colei e fui fazer um breakfast no Beluga Café, uma ótima pedida para você fazer um lanchinho num ambiente bem despojado. Os sócios são um charme, parecem que foram criados em cativeiro (risos). Mesmo estilo de roupa, barba comprida, óculos. E um charme peculiar. Para quem gosta de café, como eu, vale a pena fazer uma visita: eles servem versões gourmet da bebida. E o pão de queijo deles é um desbunde, feito com queijo da serra da canastra. Você sente o cheiro de Minas, harmonizando com o clima descontraído do café (http://vejasp.abril.com.br/estabelecimento/beluga/). Aproveitei para dar uma olhada no Guia, enquanto aguardava meu pedido chegar, para degustar. Pensei em pegar um cine e o escolhido foi “O Clã”, do magarefe Pablo Trapero.
  
Cheguei 30 minutos antes no Reserva Cultural para garantir meu ingresso (ingresso: R$30,00 – um roubo). Estou lendo compulsivamente o livro “Gente Independente” e carrego ele para qualquer lugar que vou. Aproveitei o tempinho para tomar mais um expresso e ler um pouco. Peguei um lugar ótimo na boulangerie do Reserva. Enquanto embarco na história da Casa Estival, sentam a meu lado duas senhoras super animadas. Estavam conversando, via celular, com outra amiga que não estava participando do programa. Elas ficaram curiosas para saber qual livro estava lendo. Começamos a tricotar e elas me disseram todo o roteiro do dia, o que haviam programado para fazer. Se eu tiver um terço do ânimo delas com a idade que elas têm, o pessimismo com certeza entrará em extinção (risos).

  
Eu jurando que iria arejar o espírito e o filme me deixou (risos) com as costas doídas, de tanta tensão. Estava tão distraído que não percebi que o filme retrata o período de chumbo da ditadura militar argentina que, segundo diz, foi mais violento que ditadura brasileira. Quer dizer, se é que se pode usar qualquer critério para definir essa barbárie. Mas a forma como Trapero conta a história, sem manual de boas maneiras, atiça o (nosso) lado inspirado por Masoch. Seu papel, como condutor dessa narrativa, é o do carniceiro, para estampar de forma a nos deixar atônitos a história de uma família tradicional argentina, capitaneada por um pai nacionalista, ligado a uma facção extremista responsável por organizar sequestros e por aí, a linha narrativa vai desenvolvendo sua história. Mas Trapero propõe um momento de trégua às avessas, recheando as fortes cenas com uma trilha venenosa e deliciosamente pop. Mesmo assim, saí com as costas enrijecidas, tenso. E eu ainda fiquei me perguntando como ainda existem pessoas que pedem a volta da ditadura no país.


Continuei tenso por um bom tempo. Resolvi almoçar e ir a uma exposição. Mais uma folheada no Guia e resolvi ir ao Museu Lasar Segall, na exposição Frontralismo, do fotógrafo Facundo de Zuvíria. Assim que saí da estação Santa Cruz, já caminhando pela avenida Domingos de Morais, começa a dar um chuvisqueiro necessário para abrir os brônquios. No Ipod, a melancolia conformiza-se com a chuva, enquanto eu caminhava sorridente, com as boas coincidências da vida.



E como eu não acredito em coincidências, cheguei ao Museu para ver a exposição e assim que entro na galeria e começo a ler o texto de abertura da exposição, me atento ao detalhe que as imagens retratam o período da........ ditadura argentina. Quase pensei em voz alta: “Pelo amor da luz elétrica!” (risos). Me veio um acesso de paranoia que cheguei a pedir a Deus: “por favor, não nos faça voltar a 1964”. Só tinha a (risos) segurança para fazer companhia. Saí rapidamente e decidi me jogar nos braços de Lasar Segall. A princípio não estava nos planos ver o material de acervo, mas precisava me desintoxicar do peso que estava o dia. E foi um tiro certeiro. Apesar de algumas obras densas, me concentrei mais na forma como Lasar devia pintar - nos traços e nas texturas. Me concentrei mais nas “camadas”, nas diversas tonalidades que o pintor consegue expressar. Tocante. O peso das costas deu trégua, saí relaxado. De subway até chegar em casa.