terça-feira, 8 de dezembro de 2015



Peguei um subway até a avenida Paulista, para assistir Ausência, filme dirigido por Chico Teixeira.  Tinha lido uma matéria no Caderno 2 e me interessado em ver. Cheguei em tempo, no Reserva Cultural, de comprar um bom lugar, fiquei na quina da fila F. Passada rápida no toilette. Quando entrei na sala, já tinham deixado ela à meia luz. Puxei rapidamente pela memória que meu interesse pelo filme partiu da direção e fiquei tentando me lembrar qual outro filme que Chico tinha feito. Pena que só fui me lembrar depois. Ele fez o ótimo “Casa de Alice”. 


Com Ausência, Chico quis propor ao público uma aquietação, no sentido do diretor conseguir propor uma discussão sobre o descaso e a falta de afetividade com o outro, com pequenas cenas onde o silêncio e o detalhe se tornam armas com rápido impacto, sem tempo pra você lacrimejar. Chico imprime sua forma de causar introspecção no filme, onde ele abusa da linguagem para fazer com que nós nos sensibilizemos com a cena como um todo, principalmente com o espaçamento entre os diálogos estabelecidos na ação.  A história se passa em Sampa, lugar propício para Chico Teixeira escancarar, como linha condutora da narrativa do filme, a Pauliceia como cidade purgatório do caos e da vida do menino Serginho, que após o abandono do pai, carrega para si a responsabilidade de cuidar da mãe - uma boleira alcólatra e seu irmão mais novo. Para conseguir uma grana para ajudar nas despesas da casa, Serginho tem que trabalhar na feira com seu tio. Logo no começo do filme, há um leve incômodo de ver Serginho anulando seus sonhos em prol de uma emancipação imposta. E mesmo ele tendo essa consciência de não se colocar como prioridade, Serginho acaba achando uma maneira de (tentar) suprir essa carência através de seu professor. O filme tem a proeza de tocar profundamente na alma, nos tornando cúmplices dos anseios e desejos do garoto. Nota-se o trabalho do diretor na composição do elenco, em atuar dentro de um universo sensível e extremamente delicado. Fiquei encantado com a atuação de Matheus Fagundes na pele desse menino melancólico, carente e cheio de ideal. Assim que terminou o filme, tive que sair para a rua e me recompor. Em Ausência, há intensidade de sobra. Decidi caminhar, almoçar e voltar para casa, na expectativa de lavar a alma, com o concerto no Municipal.