domingo, 6 de dezembro de 2015


Quando você pensa que o final de semana irá dar uma trégua no Mondo Cane de notícias, vem a notícia da morte de Marília Pêra, caindo como uma jaca em minha cabeça. Vi Nelson postando a notícia, me deixando sem chão e atordoado. Não tem como não vir em minha memória meu saudoso amigo Sérgio Pera, que morreu há 4 meses e era um escudeiro leal de Marília, afinal toda beasha que se preze tem uma diva para pajear. Coincidentemente, veio nessa semana que passou, no feed de lembranças do facebook, uma foto que tirei dele, quando o levei para conhecer o restaurante Feed Food. Ele adorava quando eu o levava para almoçar e conhecer lugares bem sofisticados, no perfil que ele gostava. Quando íamos almoçar eu, Nelson e ele, ficávamos ouvindo a beasha por horas falando de Marília. Às vezes, Nel e eu até comentávamos o quanto cansava (risos). Mas com essa notícia, me veio um aperto em ver que a ficha caiu e que eu jamais terei a oportunidade de ouvir Pêra falar de Pêra. E quanto à Marília, só lastimo com muita tristeza. Com Marília, acaba-se a era das grandes Atrizes.  Completa. Plural. Cantava, dançava, dirigia e atuava de maneira ímpar. Uma leoa no drama (sua Juliana, de Primo Basílio, foi demoníaca); uma camaleoa para comédia(de Rafaela, de Brega e Chique a Darlene, de Pé na Cova). Juro que gostaria de escrever mais a respeito, pois uma artista do calibre de Marília Pêra tem que ser reverenciado. Mas o momento é dolorido e não estou concentrado a falar mais sobre ela. Que ela descanse em paz. Irá fazer muita falta para nós. E para essas novas atrizes descartáveis que não sabem nem chorar.


Me colei e saí para dar uma respirada e distrair um pouco a cabeça. Café da manhã no Bella Buarque. Os meninos que me atendem são uma graça. Pedi o de sempre – brioche com ovos, suco anti-gripal e depois um café expresso puro concentrado. Dei uma lida no Guia e me interessei pelo concerto que iria acontecer no Theatro Municipal. No programa, Mendellson e Tchaikovsky. Caminhei até o teatro e garanti meu ingresso. Optei em ver a orquestra do Municipal no foyer. Aproveitei que estava perto, para dar  start no roteiro cultural do dia: a exposição Debret no Rio de Janeiro, no Centro Cultural Correios. Mas vá bem animado e disposto a passar pelo calçadão da Avenida São João. OU então fazer a Kátia, como eu fiz. É que tem um povo bem “linha de esquerda” por lá (risos).



Só pela arquitetura do prédio, já vale uma visita. Faça o teste de contemplar o espaço por todos os ângulos. Me deu até uma vertigem quando fiz uma vista aérea do lugar. Mas estava ansioso para ver que critério a curadoria se utilizou para escolher as peças do pintor. No texto de abertura da exposição há a informação de que Debret permaneceu por 15 anos para fazer um relatório, como testemunha ocular, para a coroa francesa. Vivia-se numa época em que os europeus, de forma geral, tinham interesse por povos de cultura, digamos, “exótica” (risos). E quando você começa a fazer seu tour cultural pelas obras, começa a viajar de tal forma, a ponto de se ter a pretensão de se colocar no lugar de Debret, para tentar adivinhar suas impressões sobre o Brasil, no século 18. Mas imagino que ele não deva ter se assustado muito. Ele acompanhou o processo de independência do Brasil. Começava a se ter alguns avanços na infraestrutura, como as transformações urbanísticas – iluminação pública, calçamento e aterros. Vendo suas aquarelas, nota-se a proeza de sua sensibilidade em conseguir retratar os costumes, a paisagem, a vida cotidiana e os tipos populares desse importante período da história brasileira. Foi uma brisa oportuna para suavizar um pouco o dia.