Quando você pensa que o final de semana irá dar
uma trégua no Mondo Cane de notícias, vem a notícia da morte de Marília Pêra,
caindo como uma jaca em minha cabeça. Vi Nelson postando a notícia, me deixando
sem chão e atordoado. Não tem como não vir em minha memória meu saudoso amigo
Sérgio Pera, que morreu há 4 meses e era um escudeiro leal de Marília, afinal toda beasha que se preze tem uma
diva para pajear. Coincidentemente, veio nessa semana que passou, no feed de
lembranças do facebook, uma foto que tirei dele, quando o levei para conhecer o
restaurante Feed Food. Ele adorava quando eu o levava para almoçar e conhecer
lugares bem sofisticados, no perfil que ele gostava. Quando íamos almoçar eu,
Nelson e ele, ficávamos ouvindo a beasha por horas falando de Marília. Às vezes, Nel e
eu até comentávamos o quanto cansava (risos). Mas com essa notícia, me veio um
aperto em ver que a ficha caiu e que eu jamais terei a oportunidade de ouvir
Pêra falar de Pêra. E quanto à Marília, só lastimo com muita tristeza. Com Marília,
acaba-se a era das grandes Atrizes.
Completa. Plural. Cantava, dançava, dirigia e atuava de maneira ímpar.
Uma leoa no drama (sua Juliana, de Primo Basílio, foi demoníaca); uma camaleoa
para comédia(de Rafaela, de Brega e Chique a Darlene, de Pé na Cova). Juro que
gostaria de escrever mais a respeito, pois uma artista do calibre de Marília
Pêra tem que ser reverenciado. Mas o momento é dolorido e não estou concentrado
a falar mais sobre ela. Que ela descanse em paz. Irá fazer muita falta para nós. E para essas novas
atrizes descartáveis que não sabem nem chorar.
Me colei e saí para dar uma respirada e distrair
um pouco a cabeça. Café da manhã no Bella Buarque. Os meninos que me atendem
são uma graça. Pedi o de sempre – brioche com ovos, suco anti-gripal e depois
um café expresso puro concentrado. Dei uma lida no Guia e me interessei pelo
concerto que iria acontecer no Theatro Municipal. No programa, Mendellson e
Tchaikovsky. Caminhei até o teatro e garanti meu ingresso. Optei em ver a
orquestra do Municipal no foyer.
Aproveitei que estava perto, para dar start no roteiro cultural do dia: a
exposição Debret no Rio de Janeiro, no Centro Cultural Correios. Mas vá
bem animado e disposto a passar pelo calçadão da Avenida São João. OU então
fazer a Kátia, como eu fiz. É que tem um povo bem “linha de esquerda” por lá
(risos).
Só pela arquitetura do prédio, já vale uma
visita. Faça o teste de contemplar o espaço por todos os ângulos. Me deu até
uma vertigem quando fiz uma vista aérea do lugar. Mas estava ansioso para ver
que critério a curadoria se utilizou para escolher as peças do pintor. No texto
de abertura da exposição há a informação de que Debret permaneceu por 15 anos
para fazer um relatório, como testemunha ocular, para a coroa francesa.
Vivia-se numa época em que os europeus, de forma geral, tinham interesse por
povos de cultura, digamos, “exótica” (risos). E quando você começa a fazer seu
tour cultural pelas obras, começa a viajar de tal forma, a ponto de se ter a
pretensão de se colocar no lugar de Debret, para tentar adivinhar suas
impressões sobre o Brasil, no século 18. Mas imagino que ele não deva ter se
assustado muito. Ele acompanhou o processo de independência do Brasil. Começava
a se ter alguns avanços na infraestrutura, como as transformações urbanísticas
– iluminação pública, calçamento e aterros. Vendo suas aquarelas, nota-se a
proeza de sua sensibilidade em conseguir retratar os costumes, a paisagem, a
vida cotidiana e os tipos populares desse importante período da história
brasileira. Foi uma brisa oportuna para suavizar um pouco o dia.