segunda-feira, 10 de novembro de 2014


A máxima santificante do fim de semana é: o tempo não existe. Acordei e fiquei curtindo muita preguiça, antes de me levantar. Fui ao banheiro, passei pela sala, peguei o guia da Folha e voltei para a cama. Já tinha mais ou menos anotado o que eu queria fazer, mas sempre tenho o hábito de dar mais uma olhada para ver se fiz o serviço bem feito. Com várias possibilidades, decidi que só iria definir o que fazer tomando um belo breakfast. Antes do ritual da vaidade, um som com cara de ficar solto na rua.

O bom de se morar na minha região é que tem muita opção de padaria. E boas. A escolhida da vez foi a padaria Gêmel (http://www.gemel.com.br/). Sempre a achei decadente, além de ouvir muitas bixas reclamarem do atendimento, fazendo a linha que o atendimento é homofóbico. Mas como toda a bixa que se preze tem transtorno de déficit atencional e ficam nesse discurso repetido de que se alguém as trata com indelicadeza, já taxam que  a pessoa é homofóbica, fui sem receio. Tenho ido ocasionalmente e não tive até agora nenhum problema. Cheguei na padoca, passei pela atendente e disse bom dia. Ela não deu muita bola. Respirei, pensei no azul, me sentei e educadamente pedi o cardápio. Chamei a defunta para perguntar se a omelete tinha acompanhamento. Ela me respondeu que vinha salada e batatas fritas. Muito over para o horário. Perguntei a ela se eu poderia pedir apenas omelete. Aí ela, com aquela cara “prendi minha língua na porta” me perguntou por que não ter as “batatinha” para acompanhar. Eu a fitei nos olhos e por um flash de momento mentalizei ela entrando num processo de auto combustão e se queimando toda. Passado o flash, eu respondi com a paciência de um Jedi que eu não iria querer “as batatinha” para não ter enfeites de esteatose hepática no meu fígado. Aí eu sorri, sabendo que ela faria um cara de “não sei o que é esteatose hepática”. Bingo (risos).Com o Guia na mão, comecei a folhear para traçar o roteiro do dia.

Vi algo bem interessante na parte de exposição do Guia e que não tinha destacado como opção. Exposição Movimento, uma mescla de obras de artistas plásticos, fotógrafos e estilistas numa nova galeria, aberta recentemente em Pinheiros, a New Creators.  Aí joguei no Google Map o trajeto até chegar lá. Para minha sorte, passava um ônibus próximo a padoca que me deixaria na Rebouças, próximo ao espaço cultural. E por que não conhecer? Afinal, o dia estava na propício para conhecer lugares novos, certo?

O ônibus não tardou a chegar. Sentei no fundo do bumba e comecei a ler Os Sermões, do Padre Antônio Vieira. Com um prefácio sofrível de 20 páginas, antes de chegar aos sermões, propriamente dito. Eu não estava com saco pra ler, mas como tenho o costume de ler dentro de uma ordem cronológica, não tive coragem de pular o prefácio. Pra minha sorte, o trajeto até a Rebouças foi breve. Quando desci do ponto, fui até o próximo semáforo para atravessar e para minha felicidade, o sinaleiro não funcionava. Num rápido devaneio mental de minha parte, pensei: “será isso um presságio? Será que não é para ir na galeria”?  E nenhum motorista de carro com boa vontade para deixar o pedestre aqui atravessar. Não me fiz de rogado: fiz a linha “assaltada”, me jogando no primeiro quarto da avenida e simulei um escorregão. O primeiro motorista freou e os outros automaticamente pararam para eu passar. Só faltou o cetro, o aceno a la Lady Di e o sorriso simpático de uma rainha para agradecer. Mas eu estava com pressa. E eles não fizeram mais do que a obrigação.

Entrei na arborizada e simpática rua Lisboa, em direção ao New Creators. Era o último dia da exposição. Quando cheguei na porta, veio a primeira trombeta do apocalipse: estava fechada. Chegou um casal para também conhecer o lugar. Apertamos a campainha e nada. Liguei no telefone da galeria e ninguém atendeu. Pela informação do Guia, o horário de funcionamento era até às 17h. Eu cheguei às 14h30. E não deixaram nenhum aviso na porta do atelier. Quer dizer, se o artista ou atendente tivesse que sair, almoçar, enfim, fazer algo, deixaria uma informação, como todo profissional eficiente faz. “Galeria sem água. Fui dar um cagão na vizinha. Volto logo (risos)”. Simples assim. Tirei umas fotos da região e voltei pra Rebouças. Enquanto aguardava o bumba, folheei rapidamente o guia. Plano B, ativar.