Não sei se estava exigente demais, em achar que não
tinha opção no Guia da Folha (http://guia.folha.uol.com.br/) para fazer um roteiro bacana no domingo. Ouvindo Garbage
até o talo, me arrumei rapidamente pra sair, afinal o domingo me dá a sensação
de que ele não avisa que está indo embora. Fui bater perna e no meio do caminho
decidi ir na Iracema tomar meu café (http://www.iracemapaesedoces.com/). Lá, sentado no balcão, tracei o que
iria fazer. Estava no pique de fazer algo pela região mesmo. Li no Guia sobre a
exposição do Carybé, no Sesc Bom Retiro. Ótimo. Da padoca até o Sesc é um pulo.
Fui caminhando pelo decadente bairro de Campos Elíseos. É de dar náuseas. Prédios com uma
arquitetura tão bonita. E tão deteriorada. No caminho, vejo dois policiais
fazendo a ronda, colocando alguns moradores de rua na parede. Com a arma em
riste. Pelo contexto da cena, totalmente desnecessário.
Chegada no Sesc Bom Retiro. Uma unidade bem construída,
bem cuidada. Pena que o entorno não seja tão agradável. Me dá a impressão de
estar numa cidade de filmes de faroeste, sabe? Fora o liceu, que fica ao lado e
não funciona no fim de semana, não tem nada em volta. Entrei e fui direto para
a exposição. Para quem ainda tem um certo ranço com artes plásticas, é uma boa dica
para começar a perder o preconceito. O trabalho ilustrado de Carybé exposto na
unidade é inspirado na obra de Jorge Amado, “O compadre de Ogum”. Ele recria a
obra de Jorge Amado, “pintando” um recorte da história. Achei ok, mas eu
precisava de mais emoção. Pensando no critério estabelecido de ficar soltinho na região central,
fui em direção ao Centro Cultural Banco do Brasil. Segui à pé até o metrô Santa
Cecília, desci no Anhangabaú e fui caminhando pelo vale, até chegar no CCBB. Entrei
no centro cultural, sentei-me, antes de dar start na exposição. Não quis criar
expectativa. E pensar que eu não fazia ideia do que me aguardava.
O que dizer de Hans Hartung? Bem, eu não sou um exímio
conhecedor de artes plásticas, mas confesso que fazia um bom tempo que eu não
saía tão sensibilizado. Foi um mergulho de cabeça em sua obra. Ele foi um
homem muito bonito. Lutou na Segunda Guerra e teve sua perna amputada. E com
sua esposa casou, se separou, se reconciliou, se casaram novamente e juntos
ficaram até a morte dela. A exposição começa no 4º andar, com as
últimas obras feitas pelo artista. Depois da morte de sua esposa, em 1987, ele
trabalhou compulsivamente até sua morte, em 1989. Mas fora sua história rica em
situações, o que me deixou tocado foi o que o motivou a começar a pintar e a
traçar uma maneira peculiar de criação. Ele conta que situações que o
impressionaram quando criança o motivaram a traçar seu estilo de composição. O
desenho delineado dos relâmpagos, nas tempestades que o deixavam atônito, foi uma de suas inspirações para criar suas
pinturas. É só reparar bem nos seus quadros e ver a maneira ziguezagueante que
ele molda sua arte. Saí em estado de graça. Para quem deseja emoções fortes,
seja bem vindo à tempestade. A arte abstrata agradece.