sexta-feira, 9 de janeiro de 2015



Dias desses chegando em meu prédio, depois de um dia exaustivo de trabalho, passei pelo hall do condomínio e vejo em cima do centro de mesa algumas revistas. Me chamou a atenção uma edição da revista Higienópolis – um semanário do bairro e adjacências. Não sei se era uma edição nova, pois nem perdi meu tempo em folheá-la, mas me chamou a atenção ver a atriz Bete Coelho, na capa da revista fazendo cara de obra impressionista. Pelo que vi, acho que ela deve ter gostado de brincar de ser top model featuring diva. Mas o fato fez cócegas em minha memória e me fez recordar uma situação que eu diria um tanto contraditória.

Vou esclarecer: há alguns anos atrás – eu diria pelo menos uns 20 anos, passava na grade de programação da TV Cultura um programa chamado Fanzine, apresentado pelo escritor Marcelo Rubens Paiva. Esse programa foi criado para preencher uma lacuna deixada pelo Serginho Groissman, que apresentava o ótimo “Matéria Prima”, mas tinha acabado de assinar um contrato com o SBT. O mote do programa Fanzine, de uma certa forma, era o mesmo do programa de Serginho: gerava-se um assunto para ser debatido e discutido com convidados. Um dos temas, na ocasião em que estava assistindo, era se a beleza e o talento poderiam andar juntos. As convidadas? A grande e excepcional Nathalia Timberg e a musa dark do teatro paulistano, uma atriz não tão conhecida do público televisivo (seria tempos depois, na novela Vamp, da TV Globo) chamada Bete Coelho. Uma atriz fantástica, que já tinha em seu currículo peças como “Eletra Com Creta”, dirigida pelo purgante Gerald Thomas.

Pois bem. O tema em questão na época era muito comentado, pois tinha uma safra de modelos invadindo a televisão, com papéis de destaques em novelas, minisséries, programas de auditório e por aí vai. Como havia abertura da plateia em se manifestar e fazer seus questionamentos, em algum momento do programa foi perguntado para as duas atrizes o que elas achavam das modelos atuarem nas novelas. Bete Coelho não perdeu a chance e o tempo e disparou: “acho que elas deveriam voltar correndo para as passarelas”.

E olha o que a ironia do destino não faz: anos e anos mais tarde, nossa querida “diva dark” estampada numa capa de revista. Pelo que eu vi, não chega tanto a comprometer, mas, com a idade e as rugas aparecendo, pergunto: não seria melhor você voltar correndo para o palco, Bete?