Dias desses chegando em meu prédio, depois de um dia
exaustivo de trabalho, passei pelo hall do condomínio e vejo em cima do centro
de mesa algumas revistas. Me chamou a atenção uma edição da revista Higienópolis – um semanário do bairro e
adjacências. Não sei se era uma edição nova, pois nem perdi meu tempo em
folheá-la, mas me chamou a atenção ver a atriz Bete Coelho, na capa da revista
fazendo cara de obra impressionista. Pelo que vi, acho que ela deve ter gostado
de brincar de ser top model featuring
diva. Mas o fato fez cócegas em minha memória e me fez recordar uma situação
que eu diria um tanto contraditória.
Vou esclarecer: há alguns anos atrás – eu diria pelo
menos uns 20 anos, passava na grade de programação da TV Cultura um programa
chamado Fanzine, apresentado pelo escritor Marcelo Rubens Paiva. Esse programa
foi criado para preencher uma lacuna deixada pelo Serginho Groissman, que
apresentava o ótimo “Matéria Prima”, mas tinha acabado de assinar um contrato
com o SBT. O mote do programa Fanzine, de uma certa forma, era o mesmo do
programa de Serginho: gerava-se um assunto para ser debatido e discutido com
convidados. Um dos temas, na ocasião em que estava assistindo, era se a beleza
e o talento poderiam andar juntos. As convidadas? A grande e excepcional
Nathalia Timberg e a musa dark do teatro paulistano, uma atriz não tão conhecida
do público televisivo (seria tempos depois, na novela Vamp, da TV Globo) chamada Bete Coelho. Uma atriz fantástica, que
já tinha em seu currículo peças como “Eletra Com Creta”, dirigida pelo purgante
Gerald Thomas.
Pois bem. O tema em questão na época era muito
comentado, pois tinha uma safra de modelos invadindo a televisão, com papéis de
destaques em novelas, minisséries, programas de auditório e por aí vai. Como
havia abertura da plateia em se manifestar e fazer seus questionamentos, em
algum momento do programa foi perguntado para as duas atrizes o que elas
achavam das modelos atuarem nas novelas. Bete Coelho não perdeu a chance e o
tempo e disparou: “acho que elas deveriam voltar correndo para as passarelas”.
E olha o que a ironia do destino não faz: anos e anos
mais tarde, nossa querida “diva dark” estampada numa capa de revista. Pelo que
eu vi, não chega tanto a comprometer, mas, com a idade e as rugas aparecendo,
pergunto: não seria melhor você voltar correndo para o palco, Bete?