terça-feira, 20 de janeiro de 2015



Já estava com saudades de se fazer um roteiro cultural em Sampa. Aproveitar o fim de semana, ficar soltinho pela cidade, aguentando o calor infernal, mas sem perder o ânimo de otimizar meu tempo para curtir o que a cidade tem bastante para oferecer. Acordei ainda com tempo de curtir uma preguicinha na cama. Peguei o Guia para dar mais uma folheada sobre o que fazer. Me levantei e decidi colocar um som com muita testosterona para manter meu ânimo durante o dia.


Estava tão melado de suor que a salvação foi tomar uma bela ducha, ao som dos riffs de guitarra clássicos de Angus Young e sua trupe. E dá-lhe flan de açaí, da Boticário para deixar a pele macia e refrescante para se soltar na rua. Não, isso não é uma propaganda da marca (risos).

Pra dar um start, um belo café da manhã na Padaria Bella Buarque. Já estou virando cliente assíduo de lá. São bons no atendimento, além da rapidez com os pedidos. Com o estômago forrado, criei coragem para ir caminhando até a Praça das Artes, na exposição da Mafalda.


Eu amo perambular pelo centro da cidade de São Paulo. Ver os prédios antigos, alguns intactos, mas a maioria deles em condições deploráveis. É impressionante ver que até a decadência torna a paisagem urbana da cidade um tanto peculiar. Eu consigo ver beleza nesses prédios, de alguma forma. No labirinto da cidade grande acabei saindo no Teatro Municipal de Sampa. Como nada se vem ao acaso, vi um banner imenso informando a programação de óperas. Entrei rapidamente para me informar a respeito. Para minha grata surpresa, ainda estava à venda alguns pacotes de assinatura. Não me fiz de rogado e comprei um pacote que me dá direito a ver 6 obras, incluindo peças de Tchaikovsky, Mozart e Wagner. E eu sou fraca?

E antes de chegar ao meu primeiro destino culturete de ser, me delicio com uma obra de street art em pleno Vale do Anhangabaú:


O que dizer sobre a exposição Mafalda? Primeiro, que foi um acerto se fazer a exposição da Praça das Artes. Adoro a arquitetura do espaço. A exposição em si é ok: algumas ambientações feitas, permeadas sempre por várias tirinhas da personagem. Mas, de uma certa forma, a exposição me tocou muito, pois vários elementos contidos nas obras serviram para me sensibilizar sob o aspecto da nostalgia da memória afetiva. Complicado? Nem tanto. Logo na entrada do espaço cultural, você já vê, logo de cara, um carro Citröen e dentro deles a família da questionadora personagem. Era um veículo de modelo popular, muito usado na Argentina nos anos 70 – período nebuloso da economia na América Latina. Minha memória me levou, por uns instantes, aos meus anos 70. Me lembrei de meu pai com sua Variant – nosso Citröen da vez, de cor vinho e toda nossa dificuldade financeira. “Nossa” que eu digo é de uma forma geral. Contentávamos com o pouco que podíamos (man)ter. Me fez lembrar que comíamos o trivial durante a semana, o básico, mas o almoço de domingo era mais pomposo. Tínhamos direito, neste dia, por exemplo, de degustarmos uma garrafa litro de Pepsi. E eu sou totalmente solidário com Mafalda, quando a subversiva criança se debate de nojo por causa da “sopa no jantar diário nosso de cada dia”. Isso um dia foi real nas famílias sul-americanas. Minha mãe tinha que se esforçar criativamente para me tapear em tomar sopa no jantar. E só para esclarecer: a ostentação nossa de cada dia, nos anos 70 e 80 era acesso restrito. Para poucos. Mafalda me deixou bem reflexivo, principalmente pela força político-social que a personagem possui. Não a subestimem!


Próximo dali, na avenida São João, tem o Espaço Lâmina. Tinha lido no Guia sobre uma exposição por lá. Como pensei em visitar lugares que ainda não conhecia, decidi bater perna por lá. É bem próximo da Praça das Artes. Atravessando o Vale, pela São João, um grupo de pagode bem animado numa roda de samba, cantando “Tristeza”, de Vinícius de Morais. O público do bar estava um pouco caído, afinal o calor no meio da tarde estava beirando o insuportável. Achei o número 108, já com um certo estranhamento do local. Na porta minúscula de entrada um cartaz com os dizeres: aprenda a atirar. Até pensei que era alguma intervenção artística, mas me enganei. Era um anúncio para curso de vigilantes. No mínimo curioso. E o lugar era bem estranho, tudo estava fechado e eu não sabia pra que lado ficava o Espaço Lâmina. Só o subsolo estava aberto, mas como o cartaz indicava que o curso acontecia “lá embaixo” preferi não arriscar. De repente, um senhor japonês apareceu do nada, saindo de alguma dimensão. Eu perguntei a ele sobre a exposição. Ele me informou que para entrar no espaço cultural, teria que agendar antes. Como essa informação não tinha no Guia, decidi sair de lá. Aliás, o senhor japonês foi muito simpático. Ele me fez lembrar do Mestre Ancião de Libra, dos Cavaleiros do Zodíaco (risos).