terça-feira, 6 de janeiro de 2015




O recesso de fim de ano foi fundamental. Foi o período que tive para desacelerar, esquecer de assuntos profissionais, problemas pessoais que você pode perfeitamente resolver no “ano do carneiro” e relaxar. Aproveitei São Paulo vazia para visitar alguns museus e exposições que estavam bem concorridos, com direito a filas intermináveis. É o preço da ostentação cultural.

Na pauta, Salvador Dalí (Da Vinci, Ron Muech e Mafalda também estavam na lista).  Fui alegre e confiante jurando que Sampa realmente estivesse tranquila, mas para minha surpresa, quando cheguei no Tomie Ohtake e vi a fila, pensei: “o apocalipse começou”. É a terceira vez que passo Natal e virada de ano na Pauliceia, mas pela primeira vez, notei que a cidade não estava tão calma como imaginava. Resolvi encarar a fila e fiquei 40 minutos para entrar no Tomie. E ainda tive que pegar senha. Quando entrei, primeira brochada: a exposição contemplava apenas duas salas do Tomie. Eu achava que todo o centro cultural estivesse tomado pelas obras de Dalí. Pra ajudar, uma perua que não parava de falar. E não parava de falar merda (risos). Nada como uma cara de quarta parede para deixa-la sem graça, se tocando que ela estava se portando de forma inconveniente. Me descolei dela pra me jogar no mundo surreal do artista. Depois ela me encontrou para (risos) combinarmos de ver outras exposições juntos. Eu disse: “quem sabe em agosto”. A gosto de Deus, que é nunca.

Sobre a exposição, para resumir, gostei da curadoria ter colocado obras da fase “pré-surrealismo” de Dalí. Muitos esboços das obras. E fotos e mais fotos do artista. Também não é pra menos, pois havia uma enorme “barriga” no trabalho curatorial da exposição. A solução foi encher duas paredes com fotos de Dalí. Muito over. Não me empolguei tanto como achava que deveria ficar.

Da Vinci: outro recorte mal feito para a exposição desse multifacetado e inquieto artista. Decidiram focar apenas nos inventos dele. O bacana é a interatividade de alguns trabalhos com o público. E só. Ron Muech ficará para 2015, já que estava concorrido para entrar. Como se tem poucas obras de Muech, achei que não valeria o sacrifício de pegar uma fila enorme, um sol insuportável e a espera de no mínimo duas horas para entrar. Fui pra next me jogar no cinema. Pelo menos ficaria sentado e com ar condicionado. Mafalda ficará para 2015 também.


No cinema, assisti alguns fiascos. O Senhor do Labirinto, por exemplo. Artur Bispo do Rosário e todo seu trabalho de criação foi resumido ao pó da loucura e nada mais. Além de uma composição muito caricata do personagem.  Aliás, vale aqui um parênteses: impressionante como a produção brasileira de cinema esteja desgastada de ideias interessantes. Tantos filmes ruins com seus roteiros fracos e impotentes. Depois reclamam do por quê das comédias fazerem sucesso. Só se produziu ideias ralas, homenagens um tanto forçadas só pra fazer bilheteria. Eu sinto falta de ver filmes brasileiros que realmente me incomodem, me façam refletir, me deixem inquieto na poltrona da sala de cinema. Tim Maia, por exemplo, mostrou para mim o que não  se deve fazer em um filme sobre a vida de um artista tão interessante, uma persona tão rica como Tim. A importância cultural desse incrível artista deu lugar apenas a um gordoidão que cheirava pó e tomava atitudes inconsequentes.  Eu até cheguei a esboçar um texto para colocar aqui no Blog, mas decidi não dar importância a algo tão pouco relevante; Trinta tem os seus deslizes de roteiro, é linear demais, o que cansa o saco de qualquer espectador. Matheus brilha em compor um personagem tão contido como Joãozinho Trinta. E interpretar personagens com essa característica é muito mais difícil. A safra de filmes bons brasileiros em 2014 não só caiu, como despencou no meu conceito. Na contramão de (vários) filmes brasileiros sofríveis, assisti Brincante e fiquei comovido com a saga de Antônio Nóbrega e sua trupe, contado de forma tão poética a sua trajetória artística, permeado pelos personagens criados pelo artista. E tem o brilhante O homem das multidões, esse sim um dos grandes filmes brasileiros (ou foi o único?) do ano passado. Mas isso é assunto para outra conversa. Para mim, é necessário fazer um balanço cultural do que foi 2014, dentro de cada vertente artística. Até porque eu adoro fazer lista de Top 5. Mas para isso, vou precisar fazer um levantamento de tudo que vi em teatro, cinema, dança, música e artes visuais. Espero que não demore tanto. Afinal, 2015 já entrou pronto para fazer a diferença. Assim espero.