Combinei
com minha irmã de jantar em sua casa, num fim de semana. Pra chegar até sua
casa, na Vila Mazzei, é uma viagem expressa. Pega-se o metrô até a estação Tucuruvi e um ônibus. Uma pequena viagem de 40 minutos. Durante o percurso, me
joguei no Ipod para não ter que estabelecer relação com ninguém. Mas a três
estações antes de chegar no ponto final, sentou um menino bem interessante. Estilo Grahan Coxon, do Blur. Só que (risos) antes do alcoolismo. Com
uma criança a tiracolo. Nos olhamos rapidamente, mas fiquei na minha. Depois,
dentro daquele jogo de sedução em que você olha pra alguém jurando que a pessoa
não vai olhar e ela olha no mesmo timing, gelei e fiquei na minha, me
achando velho para estabelecer uma paquera.
Mas
o Cupido resolveu insistir para tentar fazer esta pequena criança aqui, em busca de
luz na escuridão, feliz. A uma estação, antes de chegar em meu destino, o
moleque deixou sua bolinha cair no chão. Eu olhei pra ele, que olhou pra
criança, que olhou pra mim, que me deixou sem graça e que me fez novamente
olhar e ver ele me olhando. Só que aí
todos que estavam próximos ficaram olhando para nós. Me fiz de rogado,
fiz a phyna, me levantei e peguei a
bolinha do menino. Só que (risos) o metrô deu uma brecada e eu fui parar longe.
Ainda bem que não caí. Ou não, afinal o jovem mancebo poderia ter me ajudado a
levantar. Acho que o Cupido estava em fase de experiência (risos). Quando entreguei o brinquedo a ele, novamente nos olhamos
e para quebrar o gelo perguntei se a criança era seu filho e ele respondeu que
sim, com um tímido sorriso. Tentei criar uma conexão com o menino, mas o
catarrento não quis papo. Perguntei o nome dele e o jovem pai respondeu que era
Arthur. Me levantei, pois estava agachado e tinha me esquecido que a maldita
hérnia inguinal estava criando uma situação de desconforto. Me levantei e
sentei em frente ao rapaz, que ficou fazendo graça, pedindo pro moleque me
agradecer. Só que a cria não me deu bola. Fiquei olhando para ele com ternura.
E o chibateando muito em praça pública no Irã, mentalmente.
O
vagão se abriu e não me despedi. Quando passei na catraca, dei uma olhada para
trás. O bofe estava me olhando. Saí pela esquerda, em direção ao terminal, mas
o guapo foi para outro lado. Fiquei um pouco deprimido, mas já estou calejado.
Em poucos segundos, entrando pelo shopping, vi as pessoas me olhando e
comentando a camiseta que estava vestindo. Eu usava uma bem transada, com
vários heróis e vilões da Marvel. Pelo jeito, a beasha da Thor botou o martelo
pra funcionar e levantar minha auto-estima.