Na
correria para os preparativos da viagem a Portugal, esqueci de mencionar que
tive um domingo bem produtivo. Me encontrei com Clau para irmos ver a exposição
A Inusitada. Pegamos a linha amarela
em direção à Paulista e caminhamos em direção ao MASP. A feirinha
de antiguidades, embaixo do museu, é uma atração à parte. Vimos vários tipos de
telefones antigos, analógicos e fiquei tentado a comprar um modelo de cor
lilás. Esse impulso compulsivo de comprar algo durou poucos segundos. Entramos
no museu. A ascensorista, com uma verruga perto da boca e de mal humor, nos deu
a informação errada sobre o andar da Inusitada.
Sem problemas. Nos deixamos levar pela condição de que o tempo não existia
naquele momento. Incluímos no programa A
Paris do século XIX e o acervo do MASP.
Só para mencionar, a Paris
reúne apenas obras de Modigliani,
Renoir, Monet, entre outros. Descemos para ver
a Inusitada, uma coleção de obras compradas pelo marchand belga-brasileiro Sylvio Perlstein. O que é interessante na história é que Sylvio comprou obras que na época o mercado de arte não apostava que faria sucesso. Que vida
interessante ele deve ter tido. Imagino o processo conceitual dele, os
critérios que ele deve ter criado, para adquirir quadros de Marcel Duchamp, Keith Haring, Roy Lichtenstein, Andy Warhol. Foi como tocar o dedo de Deus. Em um dos estados de contemplação de uma das obras, vi o
ator Sérgio Marone, contemplando um dos quadros. Ele estava com um amigo vendo a exposição. Muito discreto,
aliás. E de um charme encantador. Almoçamos depois no Zeffiro, próximo ao
shopping Frei Caneca. Tomamos um carmenére
chileno, ficamos bem altos e
fomos em direção ao teatro Oficina, ver Walmor
Y Cacilda. Ditadura, Tropicália, candomblé, Cacilda Becker, Walmor Chagas e
Zé Celso - incorporado como um Zé Pilintra contemporâneo, foram elementos que compuseram o mote da peça.
O desfecho do espetáculo se deu com a participação do público, fazendo uma gira pelo teatro, passando pelo quintal
do Oficina e saindo pela rua, invocando o deus Tupi. Foi uma sessão de
exorcismo. Era tudo que eu precisava ver antes de viajar. Saímos anestesiados.
No ponto de ônibus, enquanto conversávamos sobre o impacto visual e dramatúrgico
da peça, um rapaz se aproximou da gente, querendo puxar conversa. Ele tinha ido
assistir e eu já tinha reparado nele durante o espetáculo. Ele estava bem
assustado (risos). Disse que tinha ido pela primeira vez ver a trupe de Zé
Celso e saiu bem impressionado, gostou muito. Foi o batismo de Clau também,
debutando numa peça do Oficina. No final, me passou o whatsapp dele para mantermos contato. Ele é bem interessante.
Embarquei
às 18h, com vôo atrasado, na terça. Fiz o check-in na TAP na ala nova do
aeroporto. Está bonito. Porém percebe-se que os desdobramentos foram
construídos dentro de uma cultura de remendo. Isso significa que ele foi
inaugurado com algumas partes da obra a concluir. O caminho a Portugal foi bem tranqüilo. Para
uma pessoa apreensiva, como eu, é um bem necessário. Lógico que tive um preço a
pagar. Fiquei sentado na última poltrona da classe econômica. Além do assento
não ter a inclinação devida, ficou próximo dos toiletes. Imagine a
quantidade de bundas passando pela minha cara. Fora o cheiro de naftalina do
banheiro. O bom é que deu para eu ver um filme francês, que está em cartaz no
circuito de cinemas em São Paulo. Mas
ele é tão insuportavelmente chato que nem vou me dar o trabalho de mencionar. Me joguei numa
maratona de Big Bang Theory, Modern Family e Downton Abbey. Luxo.
Cheguei
em Lisboa aproximadamente às 8h30. O avião parecia uma pluma na aterrisagem.
Fora que praticamente não tivemos turbulência durante o vôo. Fiz o check in no
hotel e já fui desbravar a cidade, que é encantadora. E a viagem está apenas
começando.