quarta-feira, 8 de outubro de 2014





Passei 3 meses em constante choque anafilático, logo após meu período de férias. Com o período de aniversário chegando e o inferno astral em forma de nuvem, jogando seus relâmpagos sobre meu jugo, me propus a fazer alguns questionamentos. Em conversa com minha amiga Raquel, regado a um bom vinho, ela me presenteou com uma ótima sabatina sobre o Yom Kipur – o Dia do Perdão, dentro da tradição judaica. Um exame de consciência para você rever seus erros através de seus atos, pensamentos e omissões. E a coincidência não poderia ser melhor: o Yom Kippur foi celebrado no final de semana que completaria mais um ano de vida. Como é bom o universo conspirar a favor. Fui me informar, pesquisar e me preparar para uma profunda imersão espiritual. O resultado foi assustador e surpreendente. Esse mergulho foi tão denso que essas chagas começaram a sair pelo meu corpo. 10 dias doente, mas colocando toda essa sujeira pra fora. Mágoa, ressentimento, tudo se esvaindo. E como doeu. Mas o mais irônico nisso tudo é que no dia do meu aniversário, comemorado no último sábado, fui parar no pronto socorro do Samaritano.  



Imagine uma cena de curta-metragem: você entra no hospital, fica olhando o tempo todo no visor para aguardar sua senha ser chamada porque você não está com humor para estabelecer contato com ninguém à sua volta. De repente, com sua imunidade baixa, vem em sua mente, como um zumbido, uma música pop deliciosamente descartável que não sai da sua cabeça e ao mesmo tempo você para e fixa seu olhar de zumbi para a tv, que está passando jogo. Na tecla mudo. E você questiona mentalmente, com o restinho de força que lhe resta: cadê o closed caption? (risos). Foi surreal.



Sua senha é chamada e você vai numa cabine estreita (cabine 4, se não me falha a memória). Você é atendido por uma recepcionista polida, que te recebe de uma maneira distante inicialmente - afinal,  ela quer ir embora, com aquela cara de indiferença pensando: “foda-se você e essa merda toda. Quero ter ostentação” (risos). Ela pega sua carteirinha do plano de saúde, seus dados, olha para o computador, tenta disfarçar sua cara de espanto, continua séria e solta em tom sério a seguinte frase, seguida de um sorriso: “Feliz aniversário!” (risos). Eu realmente fiquei sem ação. Não sabia se agradecia ou se mantinha minha cara de quarta parede.
Passei por uma pré consulta para medir pressão e colocar o termômetro para saber se estava com febre e o enfermeiro super simpático olha pra sua ficha e solta: “putz, é seu aniversário. Meus pêsames!” (risos). Aí eu perguntei se os pêsames era pelo fato de estar doente ou pelo fato de existir. Ele não conseguiu depois disso construir sua linha de raciocínio.  Ficou gaguejando. Mas foi um gentleman.
O resultado dessa epopeia foi ficar de molho em casa em companhia de são Levofloxaxino. E muito líquido. Pode parecer que não, mas o Yom Kippur foi essencial para essa minha limpeza. Agora estou pronto, soltinho para mais um ciclo de vida. Será que eu chego?

  E como sou uma nova pessoa, sigo o mantra de Margo Channing: