terça-feira, 2 de dezembro de 2014


A ressaca de fim de semana começando, meu floral de Saint Germain terminando. E a sirene do meu mal humor começa a reverberar em volta.  Fico pensando se minha vida ficaria melhor com a segunda-feira sem a cara de segunda-feira. Eu a incluiria como fim de semana.  Três dias para relaxar. Daria até para fazer uma viagem, por exemplo. Mas nessa ocasião, a segunda teria cara de domingo. E domingo também é um dia péssimo (risos). Porque é um dia que, mesmo você tendo vontade de curtir sua casa, tem a obrigação de sair.  A não ser que você queira colocar seu lado masoquista para assistir todos os programas de auditório que passam na tv aberta. Eu me mataria.


Tomei uma ducha e saí tarde de casa para tomar café. Resolvi almoçar sem passar pelo breakfast. Tinha pedido 1 par de convites para assistir Preto no Branco, em cartaz no Sesc Bom Retiro. Era o último dia da apresentação do espetáculo. Resolvi chamar Raquel para ir comigo. Fomos caminhando até o Bom Retiro, com alguns pingos de chuva caindo sobre nossas cabeças. Me encontrei com um colega de firma que também foi assistir a peça. Naquela troca de cordialidades, perguntei como estava a vida e ele já começou com aquele texto "crtl c crtl v" de que estava trabalhando muuuito, que nunca tinha trabalhado taaanto como agora. E falando como se ele fosse o único a se exceder no expediente. Aí eu bocejei mentalmente, pedi licença a ele e fui pegar os convites. Nos encontramos novamente depois no café com a Meilin, uma amiga querida  com quem trabalhei no Sesc Vila Mariana e que atualmente trabalha no Sesc Bom Retiro.  Ela foi muito gentil em nos oferecer o café.

O espetáculo durou uma hora e meia, com a seguinte conclusão: todos se corrompem de alguma forma. A peça mostrou de forma curta e grossa o quanto as pessoas maquiam um estado de perfeição dos bons costumes e, na paralela, tratam seu lado pérfido (sim, todos nós temos) com a mais pura normalidade para o interlocutor – a plateia, no caso, digerir com a espontaneidade de uma obra renascentista (risos). Para se ter uma ideia, um casal de namorados que se sentou na minha frente ficaram  extremamente incomodados com uma cena de incesto na peça. Achei que eles iriam sair no meio do espetáculo. Assistindo Preto no Branco me deu a sensação de que a interpretação estava muito fake, mas entendi depois que essa sensação de ver um elenco fazendo um trabalho não muito consistente (segundo minha opinião),  foi proposital para a concepção desse projeto.  E demonstrar esse falso naturalismo requer um belo trabalho de ator. Não é a toa que tanto o diretor – José Henrique de Paula, quanto a atriz – Clara Carvalho estão indicados para o prêmio APCA. Humor negro com um texto corrosivo e indigesto mostrando a hipocrisia e amargura da vida moderna em tempo real. Do jeito que o Diabo gosta. E eu também.